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14 | II Série A - Número: 132 | 2 de Março de 2012

Com o 25 de abril criaram-se condições para uma nova política açucareira, baseada no aproveitamento de solos nacionais, designadamente dos vários regadios existentes e do próprio empreendimento de Alqueva, então apenas em projeto.
Mas, logo em 1977, já iniciado o processo de recuperação capitalista, latifundista e imperialista, o governo PS/Mário Soares determinou a suspensão do projeto de introdução da cultura de beterraba, o que o PCP denunciou, nomeadamente na Conferência «A Saída da Crise», realizada em junho de 1977.
Desde então a eventual adesão à CEE foi usada como pretexto para travar todos os projetos de uma nova política açucareira.
2 — As vicissitudes de um processo onde prevaleceram, contra os interesses nacionais, os lucros dos capitais privados das duas refinarias: A adesão à CEE, em 1986, e todos os desenvolvimentos posteriores, comprovaram, inteira e infelizmente, as análises e os avisos do PCP sobre as consequências da integração de Portugal na CEE para o sector do açúcar (conferência do PCP «Portugal e o Mercado Comum», maio de 1980).
O problema começou com a má negociação da adesão relativamente a esta cultura estratégica. O Ato de Adesão fixou a quota mínima e insuficiente de 60 000 toneladas de açúcar branco (554545,5 de base A e 5454,5 de base B), representando 0,4% da quota comunitária. Mas nem assim arrancou a produção de açúcar em Portugal a partir da beterraba sacarina! O baixo nível da quota e o protelamento de sucessivos governos do PS e do PSD, com ou sem CDS-PP, levaram a que só em 1996 se procedesse a alguma reconsideração da situação portuguesa (via reforma da OCM do açúcar), com o aumento da quota global em 10 000 toneladas, permitindo assim a rentabilização e finalização do projeto de construção de uma indústria açucareira.
Os 10 anos de atraso na concretização da unidade industrial para transformação de beterraba sacarina representaram um enorme prejuízo para o País e um grosso acumular de lucros para as duas refinarias (Tate & Lyle e RAR), que continuaram a importar ramas e açúcar dos países ACP. As margens de lucro por tonelada das duas refinarias rondaram os 302 dólares. Ou seja, cada ano de atraso na construção da nova refinaria correspondia a cerca de 20 milhões de dólares nos cofres daquelas empresas. Dez anos, 200 milhões de dólares! Isto sem contar com o dinheiro que entregámos a Espanha, que ia transformando nas suas refinarias, a beterraba que, entretanto, se ia produzindo em Portugal! E extraordinário foi a «abertura» de sucessivos governos à entrada no capital da entidade/empresa encarregue de desenvolver o projeto da unidade industrial, de capitais das empresas titulares das duas refinarias, que sempre se opuseram ao projeto, RAR e Tate & Lyle! Isto é, tudo fizeram para meter as raposas na capoeira! E quando, em junho de 1997, entra em funcionamento a unidade industrial na DAI, Sociedade de Desenvolvimento Agroindustrial, SA, onde domina o Grupo Açucareiro Italiano SPIR (60%), continuam presentes a RAR e Tate & Lyle (posteriormente Alcântara)! A concretização do projeto acabou por se fazer com um apoio do Estado (fundos comunitários e nacionais) que rondou os 50 milhões de euros, num investimento global de 80 milhões de euros, ou seja, 60% do total investido! A construção da refinaria em Coruche e a sua entrada em funcionamento em 1997 foi, mesmo assim, com todos os percalços, uma importante vitória da agricultura portuguesa, apesar da sua produção corresponder apenas a cerca de 20% do consumo nacional de açúcar.
3 — A liquidação da produção de beterraba sacarina pelo governo PS, em 2006/2007, pondo o País a importar novamente todo o consumo nacional de açúcar: Mas a história da produção de açúcar em Portugal não podia acabar bem. Durou apenas 10 anos! Em 2006 a União Europeia reabre o debate sobre a OCM do açúcar no sentido de reduzir a produção europeia de açúcar em 6 milhões de toneladas até à campanha de 2009/2010. Refira-se que a Alemanha e a França têm, por si só, mais de 50% da produção total de açúcar a partir de beterraba na Comunidade! E, neste contexto, o Ministro da Agricultura de Portugal, Jaime Silva, com o acordo do seu governo PS/José Sócrates, permitiu a liquidação da produção em Portugal, ao aceitar a imposição da Comissão Europeia de uma redução da quota portuguesa, em 2007, das 70 000 toneladas para 34 000 toneladas, e em 2008 para 15 000 toneladas, assim acabando com a produção de beterraba sacarina em Portugal.