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Quinta-feira, 20 de abril de 2017 II Série-A — Número 97
XIII LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2016-2017)
S U M Á R I O
Projeto de deliberação n.º 14/XIII (2.ª):
Constituição de uma Comissão Eventual de Avaliação do
Endividamento Público e Externo (PCP).
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PROJETO DE DELIBERAÇÃO N.º 14/XIII (2.ª)
CONSTITUIÇÃO DE UMA COMISSÃO EVENTUAL DE AVALIAÇÃO DO ENDIVIDAMENTO PÚBLICO E
EXTERNO
A enorme dimensão da dívida pública portuguesa constitui um sério problema que não pode ser
escamoteado. Partindo de valores próximos de 50% do PIB no final do século passado, não parou de crescer,
atingindo, no terceiro trimestre de 2016, o seu valor mais elevado de sempre, 133,4% do PIB, correspondendo
a 244 mil milhões de euros. Apesar de sucessivos governos, assim como diversas organizações nacionais e
internacionais, apresentarem periodicamente projeções que preveem que a dívida pública entrará, a curto prazo,
numa trajetória descendente, a verdade é que todas essas projeções falharam redondamente e a dívida
manteve-se em níveis insustentáveis.
Os juros e encargos anuais com a dívida pública consomem recursos que o país precisa desesperadamente
para o seu desenvolvimento económico e social. São mais de 8 mil milhões de euros que, anualmente, são
engolidos pelo serviço da dívida. São mais de 8 mil milhões de euros que se perdem para o investimento público,
para a melhoria dos serviços públicos e das funções sociais do Estado, para a promoção do crescimento
económico e do emprego e para o combate à pobreza e às desigualdades. De 2011 a 2016, o Estado pagou em
juros perto de 50 mil milhões de euros, o dobro do que Portugal recebe em fundos estruturais no atual quadro
comunitário 2014-2020 ou o equivalente a cerca de um quarto do PIB de 2016.
Contrariamente ao que alguns querem fazer crer, a enorme dimensão da dívida pública não se deve a gastos
excessivos do Estado. Nem os trabalhadores e o povo português viveram acima das suas possibilidades. As
causas do problema são outras: o abandono do aparelho produtivo, a desproteção do mercado interno, as
privatizações, a financeirização da economia, o favorecimento do grande capital e da especulação financeira e,
claro, a integração no Euro.
Os trabalhadores, a povo e o país sacrificam-se para pagar, anualmente, um tributo de milhares de milhões
de euros a agiotas e especuladores, sem que o valor da dívida se reduza. A dívida é, pois, um mecanismo de
extorsão de recursos públicos e nacionais, maioritariamente para o estrangeiro, que ameaça perpetuar-se.
A dívida externa portuguesa, dada pela posição de investimento internacional do país, era, no terceiro
trimestre de 2016, de 104% do PIB, quando no final do século passado era apenas de 34% do PIB. A dívida
externa está intimamente relacionada com a dívida pública; reduzir substancialmente a dimensão uma significa
reduzir simultaneamente a dimensão da outra.
Há seis anos, no dia 5 de abril de 2011, o PCP apresentou uma proposta de renegociação da dívida.
Articulada com medidas que visavam o crescimento económico e o progresso social, a proposta do PCP
constituía-se como uma alternativa patriótica e de esquerda ao Programa da Troica que, na altura, PS, PSD e
CDS negociavam com a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu.
Infelizmente, a proposta do PCP não teve acolhimento na Assembleia da República e o país foi conduzido
para o desastre pelo Programa da Troica, tão diligentemente aplicado pelo anterior Governo PSD/CDS. Um
Programa com consequências dramáticas, traduzidas em níveis insuportáveis de desemprego, em baixos
salários, na emigração maciça, no alastramento da pobreza e da miséria e no agravamento das injustiças e
desigualdades sociais.
A derrota do Governo PSD/CDS nas eleições legislativas de outubro de 2015 permitiu iniciar um processo
de reposição de direitos e rendimentos, o qual, apesar de limitado e insuficiente, deu resposta a alguns dos
problemas mais urgentes dos trabalhadores e do povo português. Mas, nesta nova fase da vida política nacional,
o problema da dívida persiste.
É uma perigosa ilusão pensar que o problema da dívida está controlado e que os múltiplos fatores externos
que condicionam a sua evolução terão sempre um desenvolvimento favorável. Não é possível garantir que a
dívida soberana portuguesa não será novamente sujeita a um ataque especulativo, assim como não é possível
garantir que as taxas de juro praticadas pelos mercados não voltarão a disparar, levando a um crescimento
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ainda maior da dívida pública. Na verdade, Portugal continua tão vulnerável, hoje como no passado, aos
caprichos dos mercados e à ação devastadora dos especuladores.
É uma perigosa ilusão pensar que, sem atacar as causas estruturais da estagnação e do bloqueio ao
desenvolvimento nacional, se pode prosseguir indefinidamente a política de reposição de direitos e rendimentos.
Em determinadas situações, conjunturais, a dívida pública pode descer ligeiramente em percentagem do PIB,
mas qualquer pequena perturbação externa, que o nosso país não controla, atira a dívida para uma trajetória
ascendente.
O problema da dívida pública é um problema gravíssimo, que condiciona profundamente o presente e o futuro
do nosso país. É um problema que não pode ser varrido para baixo do tapete. É um problema que não se
resolverá por si só. Exige o escrutínio das suas causas profundas, o diagnóstico da situação atual e da evolução
futura e, naturalmente, a análise das soluções.
Pelo exposto, o Grupo Parlamentar do PCP, nos termos do artigo 178.º da Constituição e do artigo 37.º do
Regimento propõe a adoção da seguinte
Deliberação
Artigo 1.º
Objeto
É constituída uma Comissão Eventual de Avaliação do Endividamento Público e Externo com o objetivo de
analisar as causas do endividamento do país, fazer o diagnóstico da situação atual, perspetivar a evolução futura
e debater as soluções para a redução substancial dos encargos com a dívida pública e externa.
Artigo 2.º
Mandato
1 - A Comissão Eventual delibera sobre as diligências a efetuar para prosseguir o seu objeto e elabora um
relatório conclusivo dos seus trabalhos até ao final da 3.ª sessão legislativa da XIII Legislatura.
2 – O relatório da Comissão Eventual deve ser objeto de debate em plenário até ao final de 2018.
Assembleia da República, 19 de abril de 2017.
Os Deputados do PCP: Paulo Sá — Miguel Tiago — João Oliveira — Bruno Dias — Carla Cruz — António
Filipe — Ana Mesquita — Jorge Machado — Paula Santos — Diana Ferreira — Rita Rato.
A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.