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23 DE MARÇO DE 2020

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informação divulgada pela autoridade de saúde e pela comunicação social.

Em grande parte dos Agrupamentos de Centros de Saúde do País, existe um médico especialista de

Saúde Pública no ativo, por cada 80 000 a 100 000 pessoas, quando por lei deveria haver pelo menos 1

destes profissionais por cada 25 000 habitantes. O mesmo acontece no caso dos Enfermeiros de Saúde

Pública. Este rácio demonstra a necessidade de recursos humanos especializados, insuficiente em períodos

normais, quanto mais num cenário de pandemia. Os médicos de Saúde Pública que desempenham as funções

de Autoridades de Saúde, são responsáveis pela identificação, controlo e investigação epidemiológica dos

casos de doença de notificação obrigatória de doença na comunidade. São ainda por inerência, os

especialistas que prestam aconselhamento em termos de Saúde Pública, aos decisores políticos, gestores

intermédios, câmaras municipais, instituições civis e comunidade.

O conhecimento científico existente, no âmbito do controlo deste tipo de surtos é abundante e decorre tanto

da experiência adquirida de situações passadas, como da evidência científica já publicada na sequência dos

surtos nas províncias de Wuhan e Hubei, na China, e mais tarde, pelos primeiros países asiáticos afetados. A

comunidade científica era no final do mês de janeiro de 2020, unanime ao apontar como caminho, soluções

preventivas, e não reativas como as que vivemos agora. As medidas preventivas foram identificadas

atempadamente por muitos especialistas, mas que por razões de diversa ordem, não tiveram eco na estratégia

de contingência encetada, desde que a entrada do SARS-CoV-2 em Portugal se tornou inevitável.

O SARS-CoV-2 tem características que o tornam muitíssimo perigoso: (1) tem uma capacidade de

sobreviver por muito tempo no ambiente (3 horas até 3 dias); (2) a sua transmissão acontece até 3 dias antes

da apresentação dos sintomas, (3) é relativamente resistente às variações térmicas, perspetivando-se que

aumentos de temperatura e humidade não afetem significativamente a sua capacidade de reprodução e

sobrevivência em superfícies, (4) tem características muito equilibradas entre sobrevida e letalidade, o que

significa que consegue estabelecer-se e multiplicar-se na comunidade sem se destruir a ele próprio. Com

estas características, este é um vírus com elevada capacidade de sobrevivência na comunidade e elevada

capacidade de transmissão.

A evidência científica existente demonstra de forma inequívoca, que a estratégia de contingência instituída

em Portugal, em conjunto com as mais recentes medidas de mitigação que visam impedir a propagação do

SARS-CoV-2, são responsáveis por impedir um cenário catastrófico, em que o crescimento de casos, nesta

primeira fase do surto, seria até 67 vezes superior. Contudo, a mesma evidência demonstra, que se estas

medidas tivessem sido instituídas antes, 66% dos casos de doença teriam sido evitáveis. E se tivessem sido

instituídas 3 semanas antes, teriam sido evitáveis até 95% dos casos que Portugal terá durante os próximos

meses.

Tivemos bons exemplos com que devíamos ter aprendido melhor e mais rápido. A Coreia do Sul e Taiwan

são dois casos de estudo de sucesso. Taiwan apostou num apertado controlo de entradas nas fronteiras e não

se limitou a atuar no controlo de sintomas. Sabendo-se que a doença é transmissível até 3 dias antes dos

sintomas surgirem e, que pelo menos 17% dos casos podem não ter sintomas e contudo transmitir a doença,

era fundamental terem sido implementadas medidas de rastreio serológico da doença, e instituídos

procedimentos que facilitassem a rastreabilidade destas pessoas e possíveis contactos, para isolamento e

corte de cadeias de transmissão, no mais curto espaço de tempo. Esta sempre foi considerada pela

comunidade científica internacional, como a medida preventiva e com menos custos pessoais, sociais,

políticos e econômicos, tanto a médio como a longo prazo. Por seu turno, a Coreia do Sul, continua

atualmente a apostar em apertadas medidas de higiene, e formas inovadoras de comunicação e

acompanhamento da população, sendo a atual situação de redução acentuada no número de novos casos, o

resultado da implementação de uma estratégia de supressão de casos com a massificação dos testes junto da

comunidade.

Esta pandemia trouxe novos desafios técnicos e científicos, obrigou a novas abordagens no domínio da

saúde, colocando à prova a capacidade dos países de combaterem este problema, seja do ponto de vista

político, dos serviços de saúde, ou da sociedade no seu todo.

Se em Portugal tivéssemos agido mais cedo, rastreado os casos de doença de forma mais efetiva à

entrada, dando informação séria desde o início e usando como estratégia primordial, a prevenção de

ocorrência de casos de transmissão na comunidade, é plausível dizer que a situação atual seria muito