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Segunda-feira, 2 de Outubro de 2006 II Série-C — Número 3
X LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2006-2007)
SUMÁRIO Comissões parlamentares: Comissão de Assuntos Económicos, Inovação e Desenvolvimento Regional: — Relatório da visita efectuada pela Subcomissão de Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas à fileira do kiwi na Região de Entre Douro e Minho, no dia 8 de Maio de 2006.
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COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONÓMICOS, INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Relatório da visita efectuada pela Subcomissão de Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas à fileira do kiwi na Região de Entre Douro e Minho, no dia 8 de Maio de 2006
Programa
8 de Maio de 2006:
9h00 — Sessão de abertura e apresentação da Associação. Definição dos objectivos da visita no Auditório Municipal de Marco de Canavezes. Participação dos Srs. Presidente e Vice-Presidente da Câmara Municipal de Marco de Canavezes.
9h30 — Visita à construção do Entreposto PROSA — Produtos e Serviços Agrícolas, SA. Unidade para Conservação e Preparação de Kiwis.
AGRO — Medida 2 Projecto N.º 2005.11.0011599 Valor de investimento — 4 838 281,72€ Local: Zona industrial de Marco de Canaveses — Tuias
12h00 — Apresentação da empresa e visita às instalações da Frutas Douro ao Minho.
«Um sucesso na exportação de kiwis».
Local: Lugar da Gandra — Briteiros de Santo Estevão — Guimarães
13h30 — Almoço.
15h30 — Visita ao pomar de kiwis de 16 hectares.
Kiwi Plus — Sociedade Agrícola, Lda.
AGRO — Medida 1 Projecto N.º 2004.12.0011574 Valor de investimento — 449 954,24€ Local: São Martinho do Campo — Póvoa de Lanhoso
17h00 — Apresentação da empresa e visita às instalações da KiwiGreen Sun — Conservação e Comercialização de Fruta, Lda.
AGRO — Medida 2 Projecto N.º 2002.11.0026545 Valor de investimento — 2 732 427,3€ Local: Briteiros de São Salvador — Guimarães
18h00 — Encerramento da visita.
Relatório da visita
Dia: 8 Maio de 2006 Hora de saída: 9.00H Locais: Marco de Canaveses/Póvoa de Lanhoso/Guimarães
A delegação da Subcomissão de Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas teve a seguinte constituição:
PS — Srs. Deputados Nuno Antão, Lúcio Ferreira, Ricardo Gonçalves, Isabel Coutinho e Isabel Jorge, do círculo eleitoral de Braga PSD — Srs. Deputados Jorge Tadeu Morgado (Presidente em exercício), José Manuel Ribeiro, José Raul dos Santos, Ricardo Martins e Luís Carloto Marques
O objectivo foi o de efectuar uma visita de trabalho à fileira do kiwi, tendo em vista a recolha de informações uma vez que nesta altura está a proceder-se à definição das regras dos apoios do próximo QRN 2007-2013, para além do contacto directo com os agricultores.
A fileira do kiwi está organizada para fornecer o mercado nacional, mas sobretudo tem capacidade para exportar de forma competitiva com os concorrentes directos (Itália, França e Espanha).
Esta visita veio na sequência de um convite da APK — Associação Portuguesa de Kiwicultores —, uma associação de âmbito nacional, a qual representa 247 kiwicultores que representam 600 hectares de
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plantações de kiwis das Regiões da Beira Litoral e Entre Douro e Minho e cinco entrepostos de conservação em câmaras frigoríficas, calibragem, embalagem e comercialização, os quais trabalham 90% da produção portuguesa.
Acompanharam esta visita Lagido Domingos, director do IFADAP na Região do Entre Douro e Minho, e António Ramalho, Director Regional de Agricultura do Entre Douro e Minho.
A APK tem organizado diversas acções de demonstração em campo de novas técnicas culturais, visitas de estudo, participação em exposições para promover a superior qualidade dos kiwis portugueses. Desta forma foi aprovado o programa de visita acima referenciado.
— De acordo com o programa, o dia de trabalho iniciou-se com uma sessão de abertura e apresentação da Associação, bem como a definição dos objectivos da visita no Auditório Municipal de Marco de Canavezes, com a participação dos Srs. Presidente e Vice-Presidente da Câmara Municipal de Marco de Canavezes; — Apresentação da empresa e visita às instalações da Frutas Douro ao Minho; — Visita ao pomar de Kiwis de 16 hectares.
Kiwi Plus — Sociedade Agrícola, Lda.
Do programa fez parte uma visita um pomar da Sociedade Kiwí Plus na Póvoa da Lanhoso, recentemente plantado, o qual recorre a novos sistemas de condução.
— Apresentação da empresa e visita às instalações da KiwiGreen Sun —Conservação e Comercialização de Fruta, Lda.
— Encerramento da visita
Os Srs. Deputados concluíram que a fileira está bem organizada, dinâmica, exportadora e que se for apoiada pelo Estado de forma eficaz pode incrementar a criação de riqueza, emprego e desenvolvimento no meio rural. Os membros da fileira presentes ficaram muito sensibilizados pela abertura, interesse e disponibilidade para conhecer demonstrados pelos Deputados presentes. Estes, por sua vez, ficaram melhor apetrechados para um melhor desempenho do seu trabalho parlamentar. Diversos são os factores determinantes na evolução da fileira. Por um lado, a globalização que se faz sentir através de acordos preferenciais e da Organização Mundial do Comércio, das regras comunitárias e da universalização dos novos valores ambientais, promovendo uma concorrência horizontal. Por outro, a massificação da produção, a urbanização e a alteração do consumo tem levado à concentração da distribuição, provocando uma concorrência vertical. Uns e outros impulsionam no sentido da desazonalização e da diversificação. Todos estes movimentos pressionam no sentido da reorganização estrutural da oferta, tornam imperativas as inovações estratégicas (qualidade, especificidade, territorialidade e marca) e, consequentemente, as respectivas inovações tecnológicas (produção, conservação, logística e transportes).
Estas pressões que já se vêm fazendo sentir têm exigido a adaptação do sector no sentido de responder aos requisitos da grande distribuição (cadernos de especificações, gestão total da qualidade, acrescentar serviço), de organizar a comercialização (concentração, planificação e coordenação da oferta, melhorar a eficiência das estruturas de base, aumentar o poder contratual).
É preciso ir mais longe autodisciplinando a produção (cadernos de especificações próprios, surpreender o mercado, diferenciar, diversificar e valorizar o produto, retomar o controlo dos circuitos por parte da produção), mas sobretudo implementar políticas de marca de forma a definir estratégias de marketing.
As condições estão quase todas criadas: existe um trabalho em rede que envolve os agricultores, os técnicos, as organizações e os serviços; a produção e suas organizações tendem a estar organizadas em torno de uma entidade agregadora.
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A fileira deve promover uma estratégia integrada para o sector, onde toda a produção se reveja, que privilegie intransigentemente a defesa da qualidade como elemento claramente diferenciador.
A criação de uma marca que permita dar visibilidade aos atributos desse produto de qualidade, associandolhe uma imagem que o coloque no espaço concorrencial de modo a ser claramente reconhecido como distinto pelo consumidor, é fundamental.
Há, no entanto, que manter coesa a organização do sector assegurando que o apoio técnico à kiwicultura passe obrigatoriamente pelas organizações que estão na fileira do kiwi: aquelas que vivem do seu valor. O divórcio entre o apoio técnico e a comercialização seria o primeiro passo para a desarticulação do sector.
A pecha da falta de ordenamento, a pequena dimensão, a dispersão e a fragmentação das explorações continuarão a ser um grave obstáculo dificilmente ultrapassável que é necessário superar. O bom senso aconselha, no entanto, a não esperar que alguém o resolva: estando o sector bem estruturado, também aqui as organizações podem dar contributos muito positivos.
Trata-se claramente de uma actividade de empreendedores, abertos à inovação. Alguns curiosos que acreditaram no bom desempenho da cultura, instalaram alguns pés e de lá para cá a cultura tem-se desenvolvido: os fundos comunitários permitiram fazer investimentos em plantações, instalações e equipamentos; o resto foi obra do entusiasmo dos agricultores e de alguns técnicos ligados a uma ou outra organização, que numa atitude pró-activa têm mantido sempre um esforço no sentido de aumentar o nível técnico dos produtores, mesmo que em acções informais.
A natureza recente e inovadora da cultura do kiwi, que ninguém dominava há 30 anos atrás e que também ninguém vendia a um qualquer intermediário ditaram a esta fileira um destino: ser organizada quanto baste para saber produzir e conseguir vender.
Pode dizer-se que quase desde o início o sector está relativamente bem estruturado: os produtores contam com as suas organizações que além de lhes escoar a produção também lhes garantem o fornecimento de alguns bens e serviços e o apoio técnico.
Esta integração, além de permitir um apoio técnico de melhor qualidade (adequado às condições de conservação e ao mercado), favorece uma relação de proximidade entre o agricultor e a organização, reforçando o espírito associativo. Facilitando, a leitura da produção por parte da organização possibilita ainda um planeamento estratégico adequado.
O que esperam do Governo, quais os apoios:
— Aos investimentos em infra-estruturas rurais (caminhos, electrificação, regadio); — À instalação de novos pomares (melhoramentos fundiários, plantação, rega, equipamento; — À modernização tecnológica da central fruteira (frio, processamento, instalações, transportes); — Na promoção e diversificação de produtos à base de kiwi; — Na promoção do rejuvenescimento e instalação de jovens empresários; — Na valorização da imagem do produto.
O que se torna importante:
— Tornar mais eficientes os serviços de apoio do Estado acabando com a burocracia; — Formar grupos fortes de agricultores de modo a favorecer o associativismo e a troca de experiências.
Muitas vezes as explorações estão distantes umas das outras; — Favorecer a exportação; — Definir o caderno de encargos com o Governo, no sentido de expandir a fileira.
Anexo
Alguns dados sobre kiwis
Colheita — Os kiwis devem ser colhidos em dias sem chuva para diminuir a incidência das doenças de conservação. A colheita deve ser feita com cuidado, de modo a evitar feridas ou que os frutos caiam com força nas caixas. Os frutos do chão e os que tenham feridas devem ser separados no campo. Etileno — O kiwi é um fruto que produz etileno à temperatura ambiente em cerca de 15 dias após a sua colheita. A temperatura inferior a 10º C o kiwi não produz etileno. É por isso muito importante a eliminação das fontes de etileno no armazenamento, assim os frutos que chegam do campo devem ser colocados no frio separadamente, e calibrados e seleccionados o mais rápido possível. Amadurecimento rápido — O kiwi também amadurece rapidamente se armazenado com frutos que produzem etileno como maças e bananas. Amostras de terra — É fundamental que se faça a análise da terra antes da instalação do pomar e, de quatro em quatro anos, nos pomares já instalados.
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Amostras de água de rega — A colheita de amostras de água dever ser efectuada de quatro em quatro anos, antes de se iniciar a época de rega, desde que no 1.º ano os valores não excedam os limites máximos recomendados. Amostras de folhas — É fundamental que se faça a colheita de amostras de folhas para avaliar o estado de nutrição de plantas, de modo a efectuar a fertilização racional. Lenha da poda — Após a poda do Inverno e respectiva empa, o kiwicultor deverá retirar do pomar a madeira de poda velha, grossa e doente. A madeira de poda nova e sã deverá ficar no pomar, procedendo-se ao seu destroçamento com ou sem incorporação. Rega — A cultura do kiwi não pode ter sucesso se não tiver à sua disposição água em quantidade suficiente. É indispensável possuir uma rede de rega em toda a plantação. Em média cada planta precisa de 50 a 80 litros de água por dia destinados a suprir as suas necessidades hídricas e à manutenção de um ambiente húmido e favorável.
— O Entre Douro e Minho (80%) e a Beira Litoral (20%) são as zonas de «excelência» da fileira do kiwi, que regista cerca de 400 produtores para uma produção estimada de 12 mil toneladas por ano, 20% virada para a exportação.
Ciência: Descoberto poderoso antioxidante em kiwis de polpa vermelha
Investigadores neozelandeses e italianos descobriram que uma nova variedade de kiwi de polpa vermelha contém antocianina, um poderoso antioxidante, indica um estudo publicado pela Sociedade Americana de Química.
A estes antioxidantes, que dão também a cor vermelha a outros frutos, como a maçã, são atribuídas funções de protecção contra a doença cardíaca e o cancro. Todavia, a quantidade de anticionima presente na polpa é diminuta, segundo Mirco Montefiori, da Universidade de Bolonha.
«O principal benefício das anticioninas nos frutos de polpa vermelha parece ser estético, o que aumenta o seu apelo comercial», comentou.
A maioria dos kiwis disponíveis no mercado têm polpa verde ou amarela e são desenvolvidos a partir das espécies Actinidia deliciosa e Actinidia chinensis, respectivamente. A variedade vermelha foi encontrada nas províncias chinesas de Hubei e Henan, estando a sua comercialização apenas no início.
Esta variedade vermelha de kiwi — um fruto já conhecido pelo seu elevado conteúdo em nutrientes, nomeadamente vitamina C — tem o mesmo tamanho da verde, mas distingue-se desta pela casca, que é macia.
O estudo, que se julga ser o primeiro a analisar o conteúdo em anticioninas do kiwi vermelho, vem publicado no Journal of Agricultural and Food Chemistry, da American Chemical Society.
Breve caracterização do sector
O kiwi, sendo uma cultura de introdução relativamente recente, tem vindo a ganhar importância estando actualmente numa fase de crescimento sustentado…
Perspectivas para o sector
Segundo a IKO fez saber na 23.ª Conferência Internacional das Organizações de Kiwicultores (Setembro de 2004), o mercado mundial tem uma dimensão de cerca de 1,4 milhões de toneladas… O kiwi, sendo uma cultura de introdução relativamente recente, tem vindo a ganhar importância, estando actualmente numa fase de crescimento sustentado. A área de produção na Beira Litoral centra-se na região da Bairrada e nos vizinhos: Oliveira do Bairro, Anadia, Cantanhede, Mealhada, Aveiro, Ílhavo, Montemor-o-Velho, Águeda e Vagos.
Em 1999, segundo o Recenseamento Geral Agrícola, foi referenciada a plantação na região de 173 ha e 343 agricultores: 5044 m
2 por produtor.
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Em Dezembro de 2000 iniciou-se na região agrária um projecto de expansão da área da cultura — ao abrigo do programa Agro — Medida 1, tendo-se plantado na BL mais de 100 ha com o objectivo de colmatar o deficit de produção nacional e optimizar a utilização da capacidade de frio instalada no passado ao abrigo de programas comunitários.
Quase toda a produção é comercializada pela KIWICOOP que presta também o apoio técnico aos produtores: hoje esta organização conta com cerca de 248 produtores detendo uma área de 243 ha, situandose a área média da exploração em 9165 m
2
.
Uma outra entidade recentemente criada é a APK — Associação Portuguesa de Kiwicultores. Trata-se de uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos que tem por objectivos gerais a defesa dos interesses sócio-profissionais e económicos dos kiwicultores a nível nacional e internacional, nomeadamente junto da IKO — International Kiwifruit Organization.
Por outro lado, em resposta às preocupações do consumidor, começa-se a sentir por parte da grande distribuição a exigência do cumprimento de normas (nomeadamente EUREPGAP), começando os operadores a sentir dificuldades na negociação por via da desregulamentação da cultura.
Pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 58/2003 publicada no Diário da República n.º 86, I-B Série, de 11 de Abril de 2003, foi considerado o alargamento à cultura do Kiwi dos modos de produção biológica e de protecção e produção integradas. No seguimento deste diploma foi, nesse mesmo ano proposta à unidade de gestão do programa AGRO uma candidatura a financiamento do projecto «Demonstração e promoção DE Práticas agrícolas que assegurem a qualidade e segurança alimentar e que minimizem o impacto ambiental da cultura da actinídea», tendo sido aprovada. No âmbito da parceria desse projecto, e em colaboração estreita com a APK está actualmente em curso a preparação das normas de produção integrada para a cultura de forma a permitir o usufruto da inclusão desta cultura nas medidas agro-ambientais do programa RURIS.
Perspectivas para o sector
Estatísticas da produção e do consumo: Segundo a IKO fez saber na 23.ª Conferência Internacional das Organizações de Kiwicultores (Setembro de 2004), o mercado mundial tem uma dimensão de cerca de 1,4 milhões de toneladas, destacando-se como grandes produtores a Itália e a Nova Zelândia, com, respectivamente, 415 e 280 mil toneladas. Seguem-se a China e o Chile com, respectivamente, 300 e 120 mil toneladas. A nível europeu, a França e a Grécia, embora a grande distância da Itália, ainda assumem alguma importância.
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O mercado europeu constitui o grande destino das exportações da Itália (70%) e da Nova Zelândia (52%).
Em Portugal a cultura ocupa cerca de 1000 ha que, em média, produzem 10 t/ha. O mercado de kiwi representa aproximadamente 20 000 toneladas, das quais apenas cerca de metade são de origem nacional (80% EDM e 20 % BL). O período de maior oferta de produto de origem nacional inicia-se na 2.ª quinzena de Novembro e pode estender-se até Maio, dependendo do volume da colheita e das condições de conservação.
Atendendo às estatísticas publicadas, as importações, concentradas no período de Março a Junho, são provenientes sobretudo da Itália (35%), Espanha (31%), Chile (12%). No entanto, as proveniências atribuídas à Alemanha, Bélgica e Holanda e, eventualmente, parte das procedentes de Espanha e Itália, serão na realidade originárias da Nova Zelândia, que detém plataformas logísticas nestes países. Nesta acepção, a fruta Neozelandeza corresponderá a pelo menos 20 a 25% do total das importações. As exportações coincidem com a época da colheita (finais de Novembro), mas não são expressivas.
A crescente agressividade comercial, sobretudo dos operadores italianos, reflecte-se na tendência de decréscimo do preço de venda. Enquanto que as importações da Nova Zelândia e de outros países do hemisfério Sul como o Chile visam suprir a carência de oferta entre Junho e Outubro, já aquelas com origem em Itália, que ocorrem entre Dezembro e Maio, são necessárias para colmatar a falta da produção nacional.
Mais de metade da produção destina-se fundamentalmente a satisfazer as necessidades da grande distribuição.
Ameaças e oportunidades do mercado
Ameaças: Alta concorrência, principalmente pelo preço, por produto estrangeiro com especial relevância para a Itália que abastece o mercado numa época coincidente e que o tende a fornecer também na pré-época.
Previsão de ambiente macroeconómico tendencialmente recessivo, que poderá levar a alguma retracção do consumo.
Rumo das actuais negociações da Organização Mundial do Comércio vai no sentido de facilitar a penetração dos produtos oriundos de países terceiros onde os custos de produção são significativamente mais baixos e/ou existem apoios suplementares à exportação Crescente concentração da distribuição com cada vez maior poder negocial.
Oportunidades: Os dados do INE apontam para um reforço da dieta alimentar dos portugueses em frutos, tendo o consumo aumentado 20% entre 1993 e 2003, atingindo nesse ano 126,1 Kg por habitante e por ano.
Crescente preocupação dos consumidores mais esclarecidos e com maior poder de compra com a segurança alimentar.
Fruto associado a uma alimentação equilibrada e saudável, com baixo valor calórico, elevada fibra e riqueza em vitamina C.
A crescente preocupação dos consumidores por questões relacionadas com a origem dos produtos e o seu modo de produção vem induzindo alguma apetência do consumidor por produtos agrícolas de origem nacional, que associam a uma agricultura menos intensiva.
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Nas condições nacionais o kiwi é obtido com relativamente baixa incorporação de químicos pelo que, com relativa facilidade, ainda se pode explorar a sua faceta de produto «verde».
A área de produção coincide em boa parte com a Bairrada, cuja imagem de marca está associada a produtos reconhecidos pela sua qualidade e, sobretudo pela sua tipicidade (vinho, espumante e leitão).
Tendência evolutiva dos apoios comunitários privilegiará cada vez mais a agricultura ecologicamente responsável, em detrimento da vertente produtiva.
Pontos fortes e pontos fracos do sector
Pontos fortes: A localização no centro do país, em região com excelentes acessibilidades aos principais centros de consumo.
Quase toda a produção da região é concentrada por um único operador que pelo facto de processar apenas o kiwi, mantendo-o ao abrigo de elevadas concentrações de etileno, permite-lhe obter um fruto com maior poder de conservação no linear que lhe confere uma imagem de qualidade junto dos clientes.
Tem sido fornecido apoio técnico aos produtores e têm sido desenvolvidas actividades de DE&D que têm por objectivo melhorar a qualidade (calibre e conservação), aumentar a produtividade e diminuir os custos (fertilização racional) e promover as práticas agrícolas que assegurem a qualidade e segurança alimentar e minimizem o impacte ambiental da cultura.
A elevada capacidade de armazenagem na região, que permite suportar o aumento da produção e das vendas, justificou recentemente um forte reforço da área produtiva e do número de associados bem como investimentos recentes na melhoria do equipamento de processamento e de transporte.
Sendo uma cultura nova cativou de início a adesão de agricultores jovens ou mais abertos à inovação e dispostos a aprender.
Face à média nacional os produtores são relativamente jovens, esclarecidos, abertos à inovação e dispostos a aprender. Além disso, desde o início tem havido um esforço no sentido de aumentar o nível técnico dos produtores.
Pontos fracos: A pequena dimensão das explorações e a sua dispersão e fragmentação, elevam os custos de produção e recolha, contribuem para uma baixa produtividade e não facilitam a implementação de um apoio técnico eficaz.
Não existindo identificação explícita do produto da região, o consumidor não o identifica claramente no ponto de venda nem após a compra.
A produção tem assumido uma atitude reactiva face ao mercado, dependendo demasiado de um produto que encara como uma commodity e para o qual ainda não desenvolveu uma política de diferenciação.
Factores críticos de sucesso
Confrontando as ameaças e oportunidades de mercado com os pontos fracos e fortes do sector identificámos os seguintes factores críticos de sucesso:
1) Falta de identificação clara do produto da região nos lineares da distribuição, junto do consumidor; 2) Possibilidade de reforçar a sua faceta de produto verde, saudável, associado a um modo de produção próximo do natural e explorar as qualidades distintivas das imagens de marca da região; 3) A concorrência pelo preço e capacidade de oferta da Itália de Janeiro a Maio e que ameaça fazer na préépoca; 4) Crescente concentração da distribuição que tenderá a esmagar os preços num produto encarado como uma commodity; 5) Assistiu-se recentemente a um notável aumento da área de produção e do número de produtores.
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Apostas para o futuro
Aproveitando os incentivos financeiros existentes à modernização do sector os esforços devem centrar-se nos seguintes aspectos:
— Aumentar o volume de produção própria de modo a substituir as importações Italianas de Janeiro a Maio através do aumento da área de pomares com boas produtividades de frutos de qualidade e com boa capacidade de conservação; — Valorizar o produto, associando-o às características positivas da região e tornando-o facilmente identificável junto do consumidor; — Aumento da capacidade técnica e profissional dos produtores através da formação profissional e de acções de acompanhamento; — Redução dos custos de produção através da aposta em pomares bem instalados e dimensionados e do recursos a novas tecnologias, tais como: novas formas de condução, racionalização de fertilizações, mondas, etc; — Opção por modos de produção não agressivos para o meio ambiente e atractivos para o consumidor, nomeadamente a produção integrada e a produção biológica. Notícias
A produção portuguesa de kiwis deverá crescer 12 por cento em 2005, relativamente a 2004, para 12 000 toneladas, depois de uma boa colheita com frutas de calibre superior, disse hoje à Agência Lusa a associação do sector.
Segundo Fernão Veloso, da direcção da Associação Portuguesa de Kiwicultores (APK), «este ano os kiwis vão ser maiores, devido à chegada mais tardia do tempo frio e chuvas, e de boa qualidade».
Desta forma, estimou, espera-se um aumento da procura interna.
A decorrer desde o início de Novembro, e neste momento em fase final, a colheita portuguesa de kiwis temse mantido estável nos últimos quatro anos, nas 10 000 toneladas.
Até agora muito voltados para o mercado interno, explicou Fernão Veloso, os produtores portugueses de kiwi têm necessariamente que se virar para o exterior, já que, segundo a APK, a produção começa a superar a procura.
De acordo com Fernão Veloso, nos últimos anos tem já sido feito algum esforço exportador, justificado quer pela maior qualidade da produção quer pela valorização superior do fruto nos mercados externos, em especial no Brasil, Espanha e Holanda.
Para o responsável da APK, o kiwi português apresenta como vantagens face aos seus principais concorrentes (Itália, China, Nova Zelândia, Chile, Irão, França e Grécia) «a doçura e o sabor», resultado da colheita tardia, perto da maturação fisiológica do fruto, apenas possível devido à ausência de geadas de Outono.
Adicionalmente, considerou, pela sua adaptação ao solo e clima, o kiwi português pode ser produzido sem aplicação de pesticidas.
As principais zonas produtoras do País são Entre o Douro e Minho e a Beira Litoral.
A Associação Portuguesa de Kiwicultores (APK) pondera a hipótese de processar judicialmente o Estado por falta de compromissos do Ministério da Agricultura no apoio aos jovens produtores de kiwi. Em causa, segundo José Martino, Presidente da APK, estão verbas aproximadas de 300 000 euros que, em 2005, estavam contempladas no plano de financiamento aos jovens empresários, no âmbito das medidas agroambientais à protecção integrada da cultura do kiwi. Num universo de 252 produtores associados da APK registaram-se 217 candidaturas, cujos promotores esperam, ainda, ajudas comunitárias à modernização dos seus projectos agrícolas.
Uma preocupação manifestada ontem, em Braga, por José Martino, na abertura do Congresso do Kiwi, inserido no programa da Agro, reclamando do Ministério da Agricultura o desbloqueamento das verbas orientadas para os investimentos já feitos à instalação de novos pomares, no que concerne a melhoramentos fundiários, plantação, rega e equipamentos. «Os jovens agricultores sentem-se desiludidos e a APK encontrase, presentemente, numa situação difícil e delicada, uma vez que tem despesas já assumidas na concretização de projectos empresarias», disse.
António Ramalho, Director Regional de Agricultura de Entre Douro e Minho, alegou, na oportunidade, a «falta de financiamento» do Estado no apoio aos produtores de kiwi, anunciando, por outro lado, que tais apoios ao sector «estão a ser objecto de análise» por parte do Ministério da Agricultura.
O Presidente da Subcomissão, Miguel Ginestal.
A Divisão de Redacção e Apoio Audiovisual.