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Sábado, 6 de dezembro de 2014 II Série-D — Número 7
XII LEGISLATURA 4.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2014-2015)
S U M Á R I O
Delegações e Deputações da Assembleia da República:
— Relatório referente à participação da Delegação da Assembleia da República na 131.ª Assembleia da União Interparlamentar (UIP), que teve lugar em Genebra de 12 a 16 de outubro de 2014.
— Relatório referente à participação da Delegação da Assembleia da República na audição anual da União Interparlamentar (UIP) junto da Organização das Nações Unidas, que teve lugar em Nova Iorque nos dias 19 e 20 de novembro.
— Relatório elaborado pelo Deputado Mendes Bota, do PSD, relativo à sua participação numa conferência intitulada “Prostitution et traite des êtres humains dans le monde: une
exploitation des plus vulnérables”, organizada pelo Mouvement du Nid, pela CAP International (Coalition for the Abolition of Prostitution) e pela Fondation Scelles, da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (APCE), que decorreu em Paris nos dias 12 e 13 de novembro de 2014.
— Relatório elaborado pelo Deputado Mendes Bota, do PSD, relativo à sua participação nas reuniões do Bureau e da Comissão Permanente, bem como no evento sobre a Convenção de Istambul (organizada pela Deputada ao Parlamento Europeu, Beatriz Becerra), da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (APCE), que decorreram em Bruxelas de 17 a 19 de novembro de 2014.
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DELEGAÇÕES E DEPUTAÇÕES DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
Relatório referente à participação da Delegação da Assembleia da República na 131.ª Assembleia da
União Interparlamentar (UIP), que teve lugar em Genebra, de 12 a 16 de outubro de 2014
A 131ª Assembleia da União Interparlamentar (UIP) realizou-se em Genebra, no Centro de Conferências
Internacional de Genebra, de 12 a 16 de outubro. A Delegação Parlamentar da Assembleia da República a
esta reunião foi constituída pelo Vice-Presidente Guilherme Silva (Presidente da Delegação, PSD) e pelos
Deputados Alberto Costa (Vice-Presidente da Delegação, PS), José Matos Rosa (PSD), Rosa Maria
Albernaz (PS), Maria Paula Cardoso (PSD), Duarte Pacheco (PSD), Fernando de Jesus (PS) e Hélder
Amaral (CDS/PP).
Os trabalhos da 131ª Assembleia foram abertos pelo Presidente da UIP, Abdulwahad Radi, que deu as
boas-vindas às delegações parlamentares representantes de 147 países que integraram esta Assembleia.
Para além de participar na Assembleia Plenária e no Conselho Diretivo, a Delegação da AR participou nas
reuniões das comissões permanentes e nas reuniões do “Grupo dos Doze Mais” e do “GRULAC +3”.
Destaques:
Intervenção do Presidente da Delegação, Vice-Presidente Guilherme Silva (PSD), na 131ª
Assembleia Plenária
Intervenção do Presidente da Delegação, Vice-Presidente Guilherme Silva (PSD), na reunião do
GRULAC +3
Intervenções do Vice-Presidente da Delegação, Deputado Alberto Costa (PS) e dos Deputados
José Matos Rosa (PSD), Rosa Maria Albernaz (PS), Duarte Pacheco (PSD) e Helder Amaral (CDS-PP)
membros da Delegação em sede de Comissão
Eleição do Dep. Duarte Pacheco (PSD), como Auditor Interno UIP 2015
A Língua portuguesa como língua de trabalho na UIP
Eleição do Presidente da UIP
A Assembleia (plenária)
Todos os Deputados membros da Delegação da AR participaram nas várias sessões da Assembleia da
UIP.
Ponto de urgência
A Assembleia recebeu dez propostas de inclusão para o ponto de urgência:
“Compromisso dos parlamentos do mundo no reconhecimento dos direitos do povo palestino”, proposta
apresentada pelo Equador; “O papel dos parlamentares na luta contra o terrorismo e a construção de uma
parceria internacional, através das Nações Unidas e outras organizações internacionais para erradicar o
extremismo e promover a cooperação e a tolerância entre as civilizações e os povos do mundo como base
para a paz e a segurança internacionais”, proposta apresentada pelos Emirados Árabes Unidos; “O papel da
União Interparlamentar respeitante ao terrorismo e ao extremismo do Estado Islâmico no Iraque e no Levante
(ISIL), Al Nusrah Front (ANF) e outros grupos terroristas” proposta apresentada pela República Árabe da Síria;
“O papel do União Interparlamentar e os Parlamentos nacionais na formulação de planos de ação nacionais de
execução para lutar contra todas as formas de exploração ligadas ao tráfico de seres humanos, especialmente
o tráfico de mulheres e crianças”, proposta apresentada por Marrocos; “O papel do IPU em incentivar e apoiar
uma iniciativa destinada a assegurar a proteção internacional para o povo palestino sob ocupação até que
uma solução de dois Estados seja conseguida, à luz da mais recente agressão militar israelense em Gaza”,
proposta apresentada pela Palestina; “O Compromisso por parlamentares de todo o mundo para promover um
quadro jurídico multilateral para o reescalonamento da dívida soberana dos países com vista à obtenção de
um sistema financeiro internacional mais estável e previsível”, proposta apresentada pelaArgentina; “O papel
dos parlamentos no apoio à implementação da resolução 2178 do Conselho de Segurança da ONU e apoio
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internacional para enfrentar a catástrofe humanitária provocada pelos atentados terroristas no Iraque e na
Síria”, proposta apresentada pelo Chile; “O papel da União Interparlamentar na promoção da Carta da ONU
para resolver os conflitos de maneira justa e contra a crescente ameaça do terrorismo”, proposta apresentada
pela Republica Islâmica do Irão; “O papel da UIP e dos parlamentos nacionais na promulgação de leis que
definem políticas para uma resposta eficaz e de preparação para o Ébola e outros surtos de doenças
infeciosas”, proposta apresentada pela Zâmbia e “O apoio parlamentar para uma resposta internacional
imediata e robusta para a epidemia de Ébola”, proposta apresentada pela Bélgica.
As Delegações da Zâmbia e da Bélgica, reviram as suas propostas, e em conjunto apresentaram uma
proposta: “O papel dos parlamentos no apoio a uma resposta internacional imediata e robusta para a epidemia
de Ébola e na aprovação de leis que garantam uma resposta eficaz e da preparação para o Ébola e outros
surtos de doenças infeciosas”, conforme o estabelecido no Regulamento da Assembleia 11.2 alínea c), que
diz: “Os autores de dois ou mais pedidos de inclusão de um item de emergência podem combinar as suas
propostas para apresentar uma em conjunto, desde que cada uma das propostas originais se relacione com o
mesmo assunto”.
A proposta conjunta da Bélgica e da Zâmbia, após votação, foi adotada para discussão.
No total, 16 oradores, participaram no debate.
Durante o debate, foi expressa profunda preocupação com o que foi um dos piores desastres de saúde na
história recente, que atingiu não apenas cinco países na África Ocidental (Guiné, Libéria, Nigéria, Senegal e
Serra Leoa), mas também vários países da Europa e América do Norte, salientando que o surto de Ébola é um
assunto de todos e que a comunidade internacional deve agir rapidamente para tentar conter.
Muitos oradores sublinharam a necessidade dos países afetados necessitarem de apoio e de uma resposta
imediata e coordenada, especialmente aqueles que têm poucos recursos para combater eficazmente a
epidemia. Os oradores referiram também a necessidade de desenvolver, em cooperação com organizações
internacionais especializadas, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e da indústria farmacêutica,
vacinas e tratamentos eficazes, a fim de evitar e tratar o vírus Ébola.
As preocupações expressas durante o debate foram refletidas no projeto de resolução.
Na manhã do dia 14, a resolução “O papel dos parlamentos no apoio a uma resposta internacional imediata
e robusta para a epidemia de Ébola e na aprovação de leis que garantam uma resposta eficaz e da
preparação para o Ébola e outros surtos de doenças infeciosas” foi aprovada por unanimidade pela
Assembleia da UIP.
Nos dias seguintes teve lugar o debate geral na Assembleia, que se centrou no tema: “Alcançar a
igualdade de género, o fim da violência contra as mulheres”.
Neste debate participaram representantes de todas as delegações presentes, entre os quais o Presidente
da Delegação Parlamentar de Portugal, o Vice-Presidente Guilherme Silva (PSD), que afirmou:
“É com enorme honra e responsabilidade, na qualidade de Presidente
da Delegação da Assembleia da República à UIP, que estou hoje aqui,
perante todos vós, para debater o tema da igualdade de género e do fim
da violência contra as mulheres.
É aqui, no palco desta Organização de base parlamentar, que deve a
sua salutar existência de 125 anos aos Parlamentos Democráticos que a
integram, e que representam cento e sessenta e quatro países de todo o
Mundo, que importa trazer uma questão da maior importância em qualquer
das nossas sociedades.
Estamos no seio da mais antiga Organização Parlamentar Internacional
com características e especificidades próprias, com um longo percurso
histórico que a distingue e lhe atribui maior visibilidade e eficácia, firmada por via de um maior estreitamento
de relações com as Nações Unidas e da intensificação da recíproca colaboração de ambas as Organizações
nas suas múltiplas áreas de intervenção.
E, tal como recentemente afirmei na Assembleia da República, por ocasião do 125.º aniversário da UIP, no
passado dia 17 de Setembro, Portugal, através da sua Delegação, tem sabido aproveitar o espaço de diálogo
internacional, que é a UIP, para a defesa das causas com que, por razões de princípio e afinidades históricas,
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se tem identificado, como foi o caso da autodeterminação e independência de Timor-Leste, e é também o
veemente combate à violência contra as mulheres e a luta pela igualdade de género.
Aliás, muito me apraz aqui afirmar, que Portugal foi o primeiro país a ratificar a Convenção de Istambul; a
Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à Violência contra as Mulheres e Violência
Doméstica, adotada na cidade que lhe deu o nome, em 11 de Maio de 2011. Para mais, encontram-se já a
decorrer no Parlamento português vários processos legislativos conducentes à sua concretização, como a
criminalização da perseguição, casamentos forçados e a mutilação genital feminina.
A igualdade de género e o fim da violência contra as mulheres é, assumidamente, uma batalha de todos:
homens e mulheres, Estados e Organizações Internacionais!
E, sem prejuízo de especificidades próprias e condicionamentos regionais, que têm de ser reciprocamente
respeitados, a delegação portuguesa na UIP tem procurado convergir, nas questões essenciais, no âmbito
internacional, e noutras, não só com os países que a compõem, como com outros e outras organizações.
Essa convergência é agora, e no que à matéria aqui em debate respeita, uma exigência!
Sem limites de espaço e de tempo, de entre os valores e princípios que a UIP promove, há que distinguir a
paz, a cooperação internacional, a democracia, a liberdade, a igualdade, a defesa dos Direitos Humanos, o
Estado de Direito, a tolerância política e religiosa, o respeito pelas minorias, a não discriminação, em função
do sexo, da etnia, da religião, da condição social ou outras, e o direito à educação, à saúde, à proteção social
e à informação.
Por sermos parte de uma instituição que é depositária de ‘valores’ e de ‘princípios’ de dimensão universal,
cada vez mais intemporais, que têm como centro a pessoa humana e a sua dignidade, também nós aqui os
aladroamos, hasteando essa bandeira, e assim procurando contribuir para alcançar o desiderato que constitui
o tema nobre e sempre atual desta Assembleia: a igualdade de género e o fim da violência contra as
mulheres.
O combate institucional pela igualdade de género e pelo fim da violência contra as mulheres passa,
também, em muitos casos, neste mosaico variado que é o mundo, por uma mudança de mentalidades.
Hoje, de uma forma geral, temos uma sociedade mais aberta, mais liberta das peias e condicionalismos
que outrora nos governaram; vivemos num mundo mais escolarizado, um palco onde os atores, mulheres e
homens com idêntico e diverso nível educacional e social, representam, uma peça que, fruto da globalização,
pode ser por todos percecionada.
Importa pois, que essa peça – pessoa humana –se desenrole em “pé de igualdade”! Que os seus
protagonistas gozem dos mesmos direitos, deveres, liberdades e garantias!
Torna-se imperioso agir sobre a vivência pessoal de cada um o mais cedo possível, criando e divulgando
guiões com especial enfoque na educação de género e cidadania, e que possam proporcionar, país a país, a
pedagogia indispensável ao fortalecimento das bases de um mundo que todos desejamos equilibrado e mais
justo!
Equilíbrio para cuja implementação importa chamar todos os intervenientes: entes públicos e privados,
organizações não-governamentais, associações várias, comunidades locais, organizações internacionais, e,
em última instância, toda a comunidade internacional.
Mas sendo a implementação desse objetivo, um “work in progress”, é indispensável manter a tarefa
educacional de todos os cidadãos e cidadãs do mundo, incluindo aqueles que já foram vítimas, permitindo-lhes
a libertação das situações que as diminuíram, ou têm potencial para o fazer, de uma forma digna e autónoma,
e dotando-os das ferramentas que lhes permitem viver em efetiva liberdade!
E porque a igualdade se consubstancia também no tratamento desigual de situações desiguais em si
mesmas, é curial a existência de um atendimento específico e prioritário para as vítimas do flagelo que é,
ainda hoje, a violência contra as mulheres.
O país que aqui represento é internacionalmente reconhecido pelas suas boas práticas, que viram
concretização na promoção de políticas públicas sustentáveis e sustentadas, através das quais sucessivos
Governos vieram a implementar planos de ação nacionais, aqui importando referir o V Plano Nacional para a
Igualdade de Género, Cidadania e Não-discriminação 2014-2017, e o V Plano Nacional de Prevenção e
Combate à Violência Doméstica e de Género 2014-2017, atualmente em vigor.
Um estudo recente da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA), elaborado à escala da
Europa, revela que a maioria das mulheres vítimas de violência não denuncia à polícia ou a qualquer
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organização de apoio à vítima a situação em que se encontra; o que significa que esta maioria continua a não
ter contacto com o sistema de justiça ou outros serviços.
Há que inverter, com empenho e determinação, esta situação!
A violência contra as mulheres é uma violação dos seus direitos fundamentais e um atentado à sua
dignidade.
Assim, logo no seu artigo primeiro, a Declaração Universal dos Direitos Humanos preceitua com clareza
que: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.” E, bem assim, também no
seu primeiro artigo, a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia vem estabelecer que a dignidade do
ser humano é inviolável e deve ser respeitada e protegida; reconhecendo no seu artigo vigésimo primeiro o
direito dos cidadãos a não serem discriminados, designadamente, em razão do sexo.
Também estes são princípios promovidos e defendidos pela União Interparlamentar, à qual cabe, nestes
tempos, que são de globalização, promover, também, e cada vez mais, a globalização dos princípios e dos
valores, que assumiram, como definitiva conquista da Humanidade, dimensão universal e têm como centro a
pessoa humana e a sua dignidade.
A nossa ação, enquanto membros integrantes das Delegações dos Parlamentos à UIP, não se esgota, nem
de perto nem de longe, na participação neste Plenário e nas Comissões da UIP.
Aqui refletimos e debatemos. Aqui nos cruzamos vindos de todas as paragens e enriquecidos com as
diferenças ideológicas que aqui unem e já não dividem!
A diplomacia complementar da UIP culmina num diálogo extremamente enriquecedor. Estamos num palco
onde nada é escondido, onde são criados os alicerces para uma mudança para um mundo melhor, que temos
a obrigação de legar às novas gerações.
A luta pela igualdade é uma luta sem fim que a UIP, vai, com certeza, continuar a travar, desempenhando,
com as exigências que a História lhe impõe, o papel fundamental que o Mundo lhe continua a reservar.
Contribuamos todos para a dignificação da pessoa humana!
Os desafios são grandes, mas certamente que todos estaremos à altura deles!
O meu muito obrigado!”
Na tarde de dia 13, o Diretor-Geral das Nações Unidas em Genebra,
Michael Moller, dirigiu-se à Assembleia, como orador convidado, sobre o
tema do Debate Geral.
Houve também nessa mesma tarde um debate interativo com a
Diretora Executiva das Nações Unidas Mulheres sobre o mesmo tema.
Primeira Comissão Permanente – Paz e Segurança Internacional
A Comissão reuniu nos dias 13 e 15 de outubro, da parte da tarde.
Os temas debatidos nesta comissão foram:
Audição sobre a implementação da resolução da UIP de 2008“O papel dos parlamentos em encontrar
um equilíbrio entre a segurança nacional, a segurança humana e as liberdades individuais, e em evitar
a ameaça à democracia”
e
Painel de Discussão sobre a “Guerra cibernética - uma séria ameaça para a paz e a segurança global”.
Os trabalhos foram conduzidos pela Deputada J. Durrieu (França), um dos representantes do Grupo dos
Doze Mais, visto esta Comissão Permanente não ter Presidente, porque o mesmo não foi reeleito no seu país.
Esta reunião contou com a participação dos Deputados Duarte Pacheco (PSD), Fernando de Jesus (PS)
e Helder Amaral (CDS-PP), que fizeram intervenções:
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Dep. Duarte Pacheco (PSD):
“A preocupação com a paz e a segurança internacional é algo que nos
deve mobilizar a todos, em especial os Estados democráticos e
respeitadores dos Direitos Humanos.
Como parlamentares sabemos quanto a paz é um valor sem preço, que
tal como a saúde só é verdadeiramente valorizada, quando por algum
motivo, a perdemos. Só com paz é possível melhorar a economia, e só com
paz é possível melhorar as condições de vida dos seres humanos, aquilo
que afinal deve ser o objetivo último da ação política.
Hoje, os conceitos de paz e guerra evoluíram e não são já os conceitos clássicos. As novas armas, o
terrorismo, os conflitos no ciberespaço são verdadeiras ameaças à paz e obrigam a ações inovadoras para
preservar a segurança internacional e a segurança de cada cidadão.
Este combate pode provocar, e tem realmente acontecido, um conflito entre os mais elementares direitos
dos cidadãos, nomeadamente entre o direito à segurança e à privacidade.
Os parlamentos, como baluartes do Estado de Direito devem ser os primeiros a garantir que estes direitos,
aparentemente contraditórios, possam ser conciliados.
Em Portugal, atentos a esta realidade, a Assembleia da República elege um Conselho de Fiscalização dos
Serviços de Segurança, por maioria de dois terços dos deputados, de modo a que, cidadãos com reconhecida
isenção, descrição e seriedade, em nome do parlamento, acompanhem a ação das autoridades e dos serviços
de segurança, de modo a garantir o escrupuloso cumprimento das leis em vigor, evitando-se e
responsabilizando qualquer excesso.
Na realidade, apesar de melhorias no funcionamento desta fiscalização, que possam ser detetadas, o
mecanismo tem funcionado bem com governos de maiorias políticas distintas, mostrando aos cidadãos do
nosso país que podem confiar nas instituições democráticas e na salvaguarda dos seus direitos individuais.
Senhor Presidente,
Caros Colegas:
A matéria aqui em discussão é de grande relevância para os cidadãos e para os agentes políticos.
Identificar boas práticas e ver se elas são adaptáveis à realidade dos nossos países é a nossa obrigação.
Como parlamentar, quis aqui trazer um contributo para a discussão, consciente que muito há a fazer em
cada dia, tais são os perigos que a preservação da paz e da segurança podem representar para os direitos
dos cidadãos.”
Dep. Helder Amaral (CDS-PP):
“A zona de vizinhança sul da Europa vive uma fase de profundas
alterações políticas, sociais e económicas. O Norte de África, o
Mediterrâneo Oriental e o Médio Oriente atravessam hoje um momento
de transição de uma ordem mais ou menos previsível para uma outra
rodeada de enormes incertezas, acentuadas ruturas e graves
disfuncionalidades.
Quem pensar que a Europa se pode dissociar de interpretar estas
alterações quer fazer do velho continente uma bolha política alienada e
alheada da segurança internacional, da estabilidade comercial, do humanismo social. Quem pensar que a
Europa se pode ausentar de apresentar uma estratégia robusta e integrada, capaz de diagnosticar problemas
e implementar soluções na sua vizinhança mediterrânica, quer fazer dela um ator menor nas grandes questões
internacionais do presente e das próximas décadas. E quem pensar que a Europa pode fazer tudo isto sozinha
e unilateralmente tem dificuldade em perceber a complexidade dos problemas que atravessamos.
Comecemos pela interpretação destas alterações mediterrânicas. Os últimos três anos mostraram-nos um
arco variável na geografia dos protestos e nas dinâmicas internas de consolidação do poder. Não podemos
falar por isso numa Primavera, muito menos árabe: ela não foi unívoca, de sentido único rumo à democracia
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como a entendemos no Ocidente, e teve causas e efeitos muito diferentes consoante a matriz social e religiosa
de cada país. De Marrocos ao Egito, da Argélia ao Iémen, da Tunísia à Síria, do Bahrein à Turquia, da Líbia ao
Iraque, ninguém pode honestamente apontar uma só linha de continuidade e uma só consequência. Cada um
viveu experiências internas muito distintas e isso também dificultou a abordagem ocidental, particularmente
europeia, em relação à região.
Marrocos e Argélia tiveram manifestações nas ruas, tal como a Arábia Saudita e a Turquia, mas
conseguiram encontrar plataformas mais ou menos eficazes de controlo das massas, seja por abertura
constitucional, seja subsidiando salários, seja através da centralidade militar como forma de evitar um regresso
à guerra civil, seja ainda pelo reforço da legitimidade eleitoral. A Tunísia talvez tenha tido o processo mais
interessante aos nossos olhos, mas beneficiou do facto de ter uma sociedade mais aberta, laica, homogénea e
próspera do que a vizinhança, embora não tenha sido poupada a desvios mais ou menos radicais. No Egito,
as forças democráticas não tiveram peso político suficiente para inverter a mubarakização do regime, e os
islamitas da Irmandade Muçulmana foram progressivamente retirados da equação com o regresso dos
militares ao poder. Síria, Iémen e Iraque vivem sangrentas disputas étnicas, religiosas e tribais e a Líbia nunca
se recompôs da decomposição tribal pós-Kadhafi, com especial responsabilidade da NATO e organizações
parceiras na falta de estabilização no pós-guerra.
Seja como resultado de longas tiranias opressoras, rivalidades religiosas, profundas, má distribuição da
riqueza, acentuado tribalismo, inflação, descrença no futuro, desemprego, asfixia participativa partidária,
caciquismo, nepotismo ou corrupção, certo é que a Europa não se preparou para as mudanças mediterrânicas
e está hoje a sofrer essa falta de interpretação atempada. No meio disto, o fluxo de criminalidade organizada
associada às redes terroristas alargou o seu arco da costa ocidental africana, ao centro e norte de áfrica,
passando pelo médio oriente, Cáucaso e ásia central.
O Mediterrâneo é hoje um gritante cemitério de águas profundas onde milhares de africanos desesperados
tentam chegar às costas da Europa do sul enfrentando a morte e as redes de tráfico humano. No último ano
mais de três mil crianças, mulheres e idosos morreram nesta travessia maldita do mediterrâneo. Não podemos
continuar a contar cadáveres sem uma estratégia concertada entre as duas margens.
A crise do estado nacional continua em desagregação na Líbia, Síria e Iraque e os erros cometidos nas
longas guerras do Afeganistão e Iraque dificultam hoje a credibilidade da ação ocidental contra o terrorismo da
al-Qaeda no Magreb Islâmico, na Península Arábica, dos seus franchisados, do Estado Islâmico ou de outras
redes associadas. Só fazendo autocrítica é possível avaliar as nossas possibilidades reais de ação.
Debrucemo-nos, assim, sobre a estratégia integrada. Não há soluções ocidentais para problemas não
ocidentais. Quanto muito podem existir pontos de ligação feitos através das aspirações democráticas de
muitos sectores, elos de aproximação no campo das liberdades, mas ninguém pode dizer que 1989 se vai
repetir nos mesmos termos do Norte de África e no Médio Oriente. Precisamos por isso de influenciar as
transformações nesta região de uma forma realista, pragmática e com passos seguros. Criando muito
melhores redes de educação com o Ocidente, que permitam formar gerações preparadas para a globalização
e para liderar os destinos dos seus países. Juntando com outra periodicidade líderes políticos, autarcas,
ordens profissionais, universidades, líderes religiosos, organismos de solidariedade social, academias militares
e empresários, de forma a trabalharmos melhor em conjunto, identificando problemas atempadamente e
solucionando em conjunto situações que nos dizem a todos respeito.
É evidente que só isto não chega para erguer sociedades moderadas no plano religioso, promotoras de
integração política e diversidade étnica, respeito pela lei, pelas minorias, pelos direitos humanos, pelas
instituições e pelas eleições. É preciso que o Ocidente readquira também uma força moral que lhe tem faltado
para conseguir influenciar tantas dinâmicas alheias. Além disso, precisamos de trabalhar melhor em conjunto
problemas no sector da segurança interna – do tráfico de armas ao financiamento terrorista – para que os
avanços sociais não sejam permanentemente minados.
Este não é um trabalho de curto prazo. Demorará uma ou duas gerações a conseguir erguer um projeto
sustentado entre as duas margens, mas a existência de um interesse partilhado, de problemas comuns, de
sectores da sociedade e do plano político que já operam em conjunto há muito tempo, dão-nos garantias que é
possível chegar a bom porto. Só puxando pelos que de bom as sociedades árabes e muçulmanas têm é
possível expurgar os radicalismos, o extremismo e evitar que novos Estados Islâmicos se propaguem a outras
paragens.
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Foquemo-nos, por isso, na cooperação que é imprescindível levar a cabo. O caso da Líbia é um bom
exemplo de como uma boa iniciativa desembocou numa tragédia com efeitos incalculáveis. A NATO, apoiada
pelo Conselho de Segurança da ONU, agiu contra as forças de Kadhafi para travar uma tragédia humanitária
na cidade de Bengasi. Alcançado esse objetivo, exclusivamente com meios aéreos, foi em busca de uma
mudança de regime, extravasando o seu mandato. Morto o ditador, o Ocidente pouca força teve para erguer
um plano de reconciliação nacional no pós-guerra que esbatesse a realidade tribal e armada líbia. A
cooperação com a UE, União Africa, Liga Árabe e ONU ficou limitada a uma gestão da crise de segurança
interna do dia-a-dia, sem margem para planeamento, diálogo e integração de todas as sensibilidades num
processo política inclusivo e não exclusivo.
Por ter falhado a estabilidade na Líbia, o Ocidente retraiu-se na crise síria, subestimou a ascensão do
Estado Islâmico do Iraque e Síria, continua sem margem para mediar a conflitualidade permanente entre o
Hamas e Israel, não tem capacidade para esvaziar o poder do Hezzbolah no Líbano, e vai sendo incapaz de
travar o crescimento de redes terroristas jihadistas de ocidentais a caminho da Síria e do Iraque.
Por isso, é preciso aprender com os erros e evitar cometê-los novamente. O desgaste geopolítico Ocidental
é evidente, a sua ação é auto restritiva por falta de confiança na unidade e eficácia das missões, a
proximidade entre os eleitores e o discurso securitário e de investimento em defesa é muito difícil de travar nas
nossas democracias, e a credibilidade das nossas lideranças permanente em cheque com erros de análise, de
decisão e de concretização. Só corrigindo isto é possível enfrentar tamanhas transformações neste
Mediterrâneo que é de todos os que nele habitam. E só preparando melhor as decisões conseguimos fazer
vingar a democracia, a liberdade e a segurança de todos e para todos.”
O Deputado Duarte Pacheco (PSD) esteve presente na reunião do bureau desta Comissão, como
membro de pleno direito, no dia 14 de outubro, com a seguinte ordem de trabalhos:
1. Discussão dos temas a debater na próxima reunião;
2. Discussão do Plano de Atividades da Comissão;
3. Candidatura a Presidente e Vice-Presidente.
O representante português, Deputado Duarte Pacheco (PSD), eleito
para este bureau em representação do Grupo Geopolítico dos Doze Mais,
teve ocasião de subscrever a candidatura dos MP’s Gregory Scheneeman
e de Azzam Al-Ahmad respetivamente para Presidente e vice-Presidente
da Comissão, representando a África do Sul (Grupo Geopolítico Africano)
e Marrocos (Grupo Geopolítico Árabe).
Nas suas várias intervenções, o Deputado Duarte Pacheco (PSD) teve
ocasião de defender a necessidade da UIP reforçar a sua notoriedade
junto da opinião pública evidenciando eficácia nas suas ações, quer pela aprovação de resoluções
efetivamente implementadas, quer por visitas no terreno que confirmem a concretização dos seus objetivos.
Nestes termos opôs-se a aprovação das sugestões do plano de ação preparado pelos serviços, sugerindo
antes que fosse solicitado à Comissão um voto de confiança para que o Bureau apresente na próxima reunião
um plano de ação concreto e realista para o período de dois anos.
Estas sugestões foram aceites, devendo o Bureau estudar, recolher contributos e reunir antes de outubro
para preparar o plano concreto de atividades da Comissão.
Segunda Comissão Permanente - Desenvolvimento, Financiamento e Comércio:
Esta Comissão Permanente realizou duas reuniões, a primeira a 14 de outubro e a segundo a 15 de
outubro. Na sua primeira reunião, que discutiu o projeto de documento final da Assembleia Parlamentar, a ser
realizada no Peru, em dezembro, à margem da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.
O debate centrou-se sobre o papel crescente do sector privado no financiamento do desenvolvimento, para
uma vida mais sustentável, tanto financeiramente como a partir de um ponto de vista social, ambiental e ético.
Os participantes concordaram que a contribuição dos parlamentares de todos os países foi fundamental para a
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criação de um ambiente estável e propício ao investimento e ao desenvolvimento do sector privado.
Sublinharam a importância de ter em conta os riscos, incluindo riscos de desastres, bem como a necessidade
para o setor privado e para os governos a considerar a redução do risco como uma componente essencial do
desenvolvimento sustentável.
Estas reuniões contaram com a participação do Vice-Presidente Guilherme Silva (PSD) e dos Deputado
José Matos Rosa (PSD), Maria Paula Cardoso (PSD) e Fernando de Jesus (PS).
No segundo dia, o tema do Painel de Discussão foi “Elaboração
de um novo sistema de governança da água: Promoção da ação
parlamentar sobre a água”, onde se colocavam determinadas
questões:
Qual é a importância da cooperação transfronteiriça sobre a
água? Que resultados foram alcançados até agora e que desafios
permanecem?
Qual é o papel dos parlamentos no sentido de garantir a
governança da água eficaz aos níveis nacional, regional e global?
Que formas pode levar a ação parlamentar para apoiar a colaboração interministerial relacionada com a
água?
Que estratégias parlamentares existem para garantir o respeito ao direito humano à água?
Como podem os parlamentos efetivamente lidar com várias questões que afetam a governança da
água, como a biodiversidade, agricultura, a indústria e as necessidades humanas?
Trinta e cinco Deputados fizeram uso da palavra, tendo o Deputado José Matos Rosa (PSD), feito uma
intervenção:
“No próximo ano, em Hanói, a 132ª Assembleia do IPU – Inter-Parliamentary
Union deverá aprovar uma resolução relativa ao tema premente dos recursos
hídricos e, muito particularmente, à questão do Governo da Água.
Iniciativa louvável, sobre um tema que não poderia estar mais na ordem do
dia.
Uma questão fulcral para o bem-estar das populações e, porque não assumi-
lo, para a própria sobrevivência da humanidade.
As Nações Unidas estimam que, em 2030 – a apenas dezasseis anos,
portanto – quase metade da população mundial viva em áreas de grande stress
hídrico.
A insegurança em torno da água é uma ameaça à saúde pública e ao
crescimento económico, perpetuando as fracas condições de vida e a pobreza
de muitas populações.
Esta ausência de água potável em inúmeras zonas do planeta mata milhões
de pessoas por ano, ameaçando a segurança alimentar, prejudicando o comércio, incentivando às migrações
e à proliferação dos refugiados.
Por outro lado, o excesso de água, responsável por inúmeras inundações e desabamentos de terras,
provoca a morte, a pobreza e a devastação de vastos territórios.
Mas o problema não reside apenas em fenómenos climatéricos extremos. Se a gestão dos recursos
hídricos continuar a ser levada a cabo como até hoje, o fosso entre a oferta e a procura no fornecimento de
água deverá atingir os 40 por cento da população mundial.
Água e saúde são questões indissociáveis. Cada 20 segundos – 20 segundos! – morre uma criança com
uma doença relacionada com a água. É a segunda causa de morte entre as crianças com menos de cinco
anos.
É necessário e urgente levar água potável a todos os habitantes da terra. Mas isso não basta.
Combater o desperdício na utilização da água também é da maior importância.
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Uma tarefa que compete aos governos, mas também à própria sociedade civil e, de uma maneira geral, a
todos os que tiverem a capacidade de intervir e fazer a diferença.
O canadiano Jeff Skoll, antigo presidente do ebay e um dos homens mais ricos do planeta, elegeu a
questão da água como uma das ameaças que importa combater, doando milhões da sua fortuna a esta causa.
Através da Skoll Foudation, procura inovações que consigam transformar a forma como a água é gerida e
fornecida a longo prazo, quer para o consumo humano, quer para a agricultura.
Nunca como hoje, a questão do Governo da Água esteve tanto na ordem do dia.
Encontrar os melhores sistemas – políticos, mas também sociais, económicos e administrativos – capazes
de agir, direta ou indiretamente, sobre a forma como os recursos hídricos são geridos e fornecidos é um dos
maiores desafios que se coloca à humanidade neste início do século XXI.
Um desafio quanto mais importante, quanto o sector das águas é tantas vezes afetado por decisões de um
espectro mais alargado que, não obstante serem exteriores ao sector, têm um impacto tão grande – ou até
maior - do que se fossem tomadas pelo próprio sector.
Urge encontrar os melhores princípios que compatibilizem a equidade e a eficiência na distribuição de
água, respeitando as necessidades de consumo e a defesa e preservação dos ecossistemas.
Como urge clarificar o papel que os Governos e a sociedade civil devem desempenhar em toda uma vasta
rede de políticas, legislação e instituições, derrubando entraves, definindo padrões de quantidade e qualidade,
regulando os preços, elegendo benefícios fiscais.
Num mundo que se quer cada vez mais igualitário e paritário, o Governo da Água irá até ajudar-nos a
definir conjuntamente qual o papel que as mulheres podem e devem desempenhar na gestão dos recursos
hídricos, trazendo a sua criatividade, sensibilidade e focus a uma questão tão premente.
Felizmente, também há boas notícias no sector das águas. O objetivo fixado pelos Millenium Development
Goals relativamente à distribuição de água potável, foi atingido antes do prazo fixado.
Segundo o relatório Progress on Drinking Water and Sanitation 2012, em final de 2010, 89 por cento da
população mundial – o equivalente a 6,1 mil milhões de pessoas – passou a poder utilizar fontes de água
potável. O relatório estima que, até 2015, 92 por cento da população mundial possa ter acesso a fontes de
água potável melhoradas.
Mas o caminho a percorrer ainda é longo.
No mundo, na Europa e, mais especificamente, também em Portugal.
O Governo, através do Ministério do Ambiente e Ordenamento do Território elegeu, na Proposta de
Compromisso para o Crescimento Verde, o aumento da eficiência hídrica.
Para tal, fixou como objetivo um máximo de 25 por cento de água não faturada no total da água colocada
na rede em 2020. Número que deverá ser reduzido para 20 por cento em 2030.
Uma ampla reestruturação do sector das águas deverá ser posta em prática, através de um vasto conjunto
de medidas que incluem, entre outras, o reforço da independência e das competências da entidade
reguladora; a reorganização territorial e corporativa do grupo Águas de Portugal e dos sistemas
multimunicipais; e a promoção de estratégias de gestão mais integradas dos serviços de abastecimento de
água e de saneamento em alta e baixa.
O enquadramento geral para estas iniciativas é a chamada Lei da Água, que transpôs para a ordem jurídica
nacional a Diretiva Quadro da Água, da União Europeia, estabelecendo um quadro de ação nacional no
domínio da política da água.
A Diretiva Quadro da Água estabelece os princípios básicos de uma política sustentável da água na União
Europeia, na qual a gestão integrada dos recursos hídricos assenta em três princípios fundamentais: a
equidade social; a eficiência económica; e a sustentabilidade ecológica.
Inclui ainda princípios da mais elementar justiça, como o do poluidor-pagador, bem como uma abordagem
financeira de recuperação de custos, visando a sustentabilidade do recurso água e a eficiência económica da
sua utilização.
Portugal, beneficiando dos fundos estruturais da União Europeia, fez uma grande aposta na
infraestruturação do abastecimento de água e no tratamento de águas residuais.
Nos últimos 20 anos, realizámos investimentos superiores a 10 mil milhões de euros, com impactos
positivos nas áreas da saúde, do ambiente, do desenvolvimento económico e da qualidade de vida.
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Os resultados alcançados ao nível da cobertura dos serviços falam por si: Portugal tem 95 por cento da
população servida por sistemas de abastecimento de água e cerca de 80 por cento da população servida por
sistemas de tratamento de águas residuais.
A qualidade da água para consumo humano alcançou, em 2012, o valor de 98,20 por cento de água segura
na torneira do consumidor, o correspondente a um aumento de 50 por cento em 20 anos.
Mas muito pode e deve ser feito ainda.
Desafios como a certificação dos recursos e a criação da pegada ecológica, por exemplo, estão na ordem
do dia.
Que no seio da UIP saberemos encontrar e discutir novas e melhores formas de gerir este recurso, tão
escasso como fundamental, é a minha convicção profunda.
Acredito que só com a cooperação e interação entre Estados conseguiremos atingir os objetivos a que
todos estamos comprometidos, como políticos, como governantes, mas principalmente, como homens e
mulheres deste planeta Terra, tão justamente chamado o Planeta Azul.”
Os participantes foram unanimes no que concerne ao acesso à água limpa a preços acessíveis deve ser
um direito humano. A água também tem em si o direito de ser protegida de modo que as camadas tenham
tempo para se recuperar. Como muitos países têm verificado, regulamentos permissivos, são a principal causa
do consumo excessivo de água. Além disso, os conflitos podem surgir dentro ou entre países, devido à
necessidade de assegurar uma oferta adequada deste recurso vital.
Terceira Comissão Permanente – Democracia e Direitos Humanos:
Esta Comissão Permanente realizou duas reuniões, a primeira a 13 de outubro e a segundo a 14 de
outubro.
Apresentação e debate do projeto de resolução
“A soberania nacional, não-ingerência nos assuntos internos dos Estados e dos direitos humanos no direito
internacional” pelos co-Rapporteurs, Mr. Ali Jassim Ahmad (Unit.Arab Emirates) and Mr Philippe Mahoux
(Belgium)
Este debate contou com a participação do Vice-Presidente Guilherme Silva (PSD) e da Deputada Rosa
Maria Albernaz (PS) que interveio:
“A luta pela consolidação do Direito Internacional, assente em
instituições multilaterais e no sistema das Nações Unidas, e garantindo
que as relações entre Estados são disciplinadas pelo Direito, recusando-se
o uso da força, salvo casos de legítima defesa, representa uma das
principais conquistas do século XX para as relações internacionais.
Neste quadro, o respeito pela igualdade entre Estados, a salvaguarda
das soberanias nacionais e a afirmação do princípio da não ingerência em
assuntos internos de cada Estado constituíram pilares essenciais do
apuramento das relações entre Estados.
No entanto, cumpre não esquecer que mesmo estes princípios fundamentais conhecem exceções, e que é
a própria Carta das Nações Unidas que identifica claramente casos em que é justificada a quebra das
soberanias nacionais e a assunção de intervenções em assuntos tradicionalmente reservados ao foro interno,
desde que devidamente realizadas com autorização dos órgãos das Nações Unidas.
Ou seja, longe de serem ainda dogmas inultrapassáveis, a não ingerência nos assuntos e internos e a
soberania podem conhecer limites, desde que ao serviço dos fins da comunidade internacional.
E é precisamente esse o ponto que importa sublinhar ao abordarmos o nosso tema. A evolução positiva do
Direito Internacional no século XX foi também determinantemente marcada pelo aparecimento de um
verdadeiro Direito Internacional de Proteção dos Direitos Humanos, de um crescente desenvolvimento no
plano global e no plano regional de instrumentos de proteção dos indivíduos e dos seus direitos e da afirmação
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desta preocupação como indispensável a um sistema de Direito Internacional assente em valores e princípios
inspirados na dignidade da pessoa humana.
É nesse contexto que temos de interpretar as últimas duas décadas e observar as múltiplas situações em
que a proteção de vidas humanas e da dignidade fundamental de pessoas oprimidas foi fundamento para a
preocupação internacional e para a intervenção. Um mundo assente na proteção de Direitos Fundamentais
tem que dotar-se de músculo para prevenir a repetição de situações como as que se verificaram na ex-
Jugoslávia ou no Ruanda, em que, fora do quadro de conflitos internacionais, a comunidade internacional teve
de ser chamada a agir.
Consensualizada esta ideia, a agenda dos Direitos Humanos pode e deve ser uma agenda a trazer para
cima da mesa na comunidade internacional e pode e dever ser argumento para quebrar, sempre que se
justifique, a solidez da soberania ou o carácter inultrapassável do princípio da não-ingerência.
Tomemos o exemplo das opções recentes nalguns Estados de criminalização, punição com pena de morte
e perseguição da população homossexual, como recentemente fomos forçados a observar nos casos mais
mediatizados de alguns países africanos: não pode a comunidade internacional ficar desatenta e abster-se de
agir, devendo, através dos meios de pressão comercial e económica ao seu dispor, traçar a linha entre o
aceitável e o inaceitável.
A popularidade que este agravamento da punição das pessoas marginalizadas gerou nalguns locais do
plante confronta-nos a todos, Estados, Organizações Internacionais e cada um de nós com o dever de afirmar
sem reservas que temos por intolerável qualquer tipo de juízo negativo sobre a orientação quer religiosa, de
cor ou sexual das pessoas, vivam estas onde viverem, seja qual for o discurso social dominante no país em
causa. E dessa afirmação sem reservas temos de estar preparados para retirar consequências e exigir um
comportamento diferente, em nome da dignidade da pessoa humana, se necessário quebrando os limites
tradicionais da não-ingerência.
Os Direitos Humanos são hoje parte integrante do núcleo do Direito Internacional – saibamos tirar as
ilações necessárias desse facto e estar preparados para recusar a discriminação, a humilhação e a
perseguição de quem apenas se limita a querer viver de acordo com a sua identidade, ou seja, com a
dignidade da pessoa humana.”
Quarta Comissão Permanente – Assuntos das Nações Unidas:
Esta Comissão Permanente realizou duas reuniões, a primeira a 14 de outubro e a segundo a 15 de
outubro.
Estas reuniões contaram com debates interativos sobre:
"A promoção de uma ordem internacional democrática e equitativa"
"O papel das empresas na tomada de decisões da ONU"
“Cooperação Internacional no sentido de uma estratégia integrada para enfrentar o problema mundial
das drogas”
Este debate contou com a participação do Vice-Presidente Guilherme Silva (PSD) e do Deputado
Alberto Costa (PS) que interveio:
“Caros Colegas
Desejo apoiar expressamente duas propostas incluídas no
relatório que aqui debatemos.
A primeira é a criação de uma Assembleia Parlamentar
Mundial dentro do sistema das Nações Unidas.
A presença de parlamentares no quadro dalgumas das
delegações à ONU é claramente insuficiente para adaptar aos
nossos tempos a arquitetura intergovernamental proveniente do
século passado.
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Uma simples cooperação entre a UIP e a ONU não é suficiente, mesmo que se dispusesse, neste sentido,
do apoio de um tratado – e ele não existe.
É necessário colocar os parlamentos no interior do sistema das Nações Unidas e, para isso, não somente
abrir um debate na Assembleia Geral mas também mobilizar os parlamentares e cidadãos do mundo.
A UIP tem as condições para o fazer e para lançar a campanha para uma assembleia parlamentar global.
A segunda é a necessidade de proceder à plena integração no sistema das Nações Unidas das
organizações internacionais que hoje conduzem uma atividade global sem que haja uma subordinação efetiva
e controlável aos princípios e objetivos da Carta das Nações Unidas.
A segmentação atual produz incoerências e paradoxos cujos resultados são testemunhados pelos povos –
e em particular pelos povos que experimentam os efeitos negativos de intervenções e de programas de
assistência, aplicados sem unidade de espírito e de objetivos.
É por isso também que apoiamos que o BM, o FMI e a OMC sejam efetivamente integrados, no futuro, no
sistema das Nações Unidas e numa governação global submetida a um verdadeiro escrutino parlamentar
global.”
O Conselho Diretivo
A Delegação portuguesa participou nas reuniões do Conselho Diretivo (CD), tendo sido representada pelo
Vice-Presidente Guilherme Silva (PSD) e pelos Deputados Alberto
Costa (PS) e Rosa Maria Albernaz (PS).
1. Eleição do Presidente da União Interparlamentar
Na segunda ronda de uma votação, o Conselho elegeu o MP. Saber
Chowdhury (Bangladesh) como presidente da IPU para um mandato de
três anos que termina em outubro de 2017.
2. Membros e Observador Permanente da IPU
Na reunião de 13 de Outubro, o Conselho aprovou os pedidos de
refiliação das Assembleias nacionais de Madagáscar e da Guiné, passando a UIP a ter um número total de
166 Parlamentos membros.
O Conselho também aprovou um pedido de estatuto de observador permanente na Assembleia
Parlamentar da União para o Mediterrâneo (UPM).
3. Situação financeira e Orçamento 2015
O Conselho apresentou um relatório detalhado sobre a situação financeira da UIP e uma lista atualizada
das contribuições em dívida a 14 de Outubro de 2014. O montante total dos pagamentos em atraso foi
significativamente reduzido em comparação com anos anteriores.
O orçamento para 2015 foi preparado com uma redução de 3,4 por cento ao nível das contribuições dos
países, tendo em conta as dificuldades económicas que muitos ainda enfrentam.
4. Cooperação com as Nações Unidas
O Secretário-Geral ressaltou a importância da resolução 68/272 da Assembleia Geral das Nações Unidas
sobre a interação entre a Organização das Nações Unidas, os parlamentos nacionais e da União
Interparlamentar (Anexo 1).
5. Implementação da Estratégia da UIP 2012 – 2017
Como parte das discussões sobre a implementação do Objetivo Estratégico 1 “Fortalecimento da
democracia através de parlamentos”, o Conselho aprovou o texto dos "princípios comuns de assistência aos
parlamentos” (Anexo 2)
O Conselho tomou nota dos progressos da implementação do Objetivo
Estratégico 2 “Avanço da Igualdade de Género Estratégico e do Objetivo
Estratégico 3, “Proteção e Promoção dos Direitos Humanos.
Foi também discutido nas diversas reuniões do Conselho Diretivo os
relatórios das Comissões Especializadas, as próximas reuniões da UIP e a
próxima Assembleia Geral (132ª), a realizar em março de 2015 em Hanói,
Vietnam.
Foi também prestada homenagem ao Presidente cessante, Abdelawahd
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Radi.
Grupo dos Doze Mais
Participaram nas reuniões do Grupo dos Doze Mais o Vice-Presidente Guilherme Silva (PSD) e os
Deputados Alberto Costa (PS), Duarte Pacheco (PSD), Maria Paula Cardoso (PSD) e Hélder Amaral
(CDS-PP).
Entre as várias matérias da agenda de trabalhos do Grupo destacam-
se:
Eleição Auditor Interno 2015: O Deputado Duarte Pacheco (PSD) foi
eleito Auditor Interno 2015, como representante do Grupo dos Doze Mais.
Reuniões Conexas
GRULAC +3 (Portugal, Espanha e Andorra)
“As Relações Comerciais Europa, América Latina e Caribe – Perspetiva Próxima do Comércio Marítimo”
Participou na reunião do GRULAC +3 o Vice-Presidente
Guilherme Silva (PSD) que interveio sobre o tema fixado pela
Delegação Portuguesa que era a “As Relações Comerciais Europa,
América Latina e Caribe – Perspetiva Próxima do Comércio
Marítimo”
“Quando queremos falar sobre relações comerciais entre blocos
importa em primeiro lugar analisar um facto curioso que se prende
com algo que à partida se poderia classificar como antagónico e
impossível de afirmar:
O Mundo está cada vez mais individual mas ao mesmo tempo está também cada vez mais unido e
interdependente.
Se, por um lado, cada país tenta afirmar a sua independência, a sua soberania, a sua individualidade – e
eu, na minha condição de português sei bem o difícil que foi ter de abdicar de parte da soberania financeira e
económica do meu país em favor de um resgate financeiro necessário ao equilíbrio das contas públicas – hoje
felizmente já ultrapassado.
Mas, se é verdade que cada país procura afirmar a sua individualidade, temos também cada vez mais, o
Mundo, a organizar-se em blocos, em regiões, em parcerias, em associações, em organizações, etc.
A UIP, e o GRULAC em particular, são afinal disso bons exemplos.
Os desafios são cada vez mais globais, o que impõem a necessidade de caminharmos juntos.
Caros Colegas,
Na pesquisa de alguns dados económicos facilmente se constata que, por vezes, em determinadas
instituições e publicações, o continente Europeu se confunde com a União Europeia – quando, de facto, assim
não é.
Por sua vez, a América Latina é frequentemente identificada com a América do Sul - ainda que depois
tenhamos, por exemplo o México, mais a norte, como parte de uma e não da outra, e o Caribe tanto se
associa à América Latina como, por vezes, à região denominada África, Caribe e Pacífico.
Em suma, as regiões hoje não são estanques, os países não se incluem apenas num único bloco, e a
pertença a regiões e a grupos de países é essencial ao desenvolvimento de cada um em particular e do
Mundo em geral.
No que ao GRULAC se refere, o essencial é a certeza de que todos procuramos o diálogo, a paz e a
cooperação e aí, quer estejamos num ou outro continente, bloco ou região, a universalidade dos valores que
defendemos a todos dizem respeito e a todos nos aproxima.
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O tema que hoje aqui discutimos centra-se nas relações comerciais.
O comércio externo é hoje essencial a todas as economias. Não existe desenvolvimento, crescimento
económico, prosperidade sem que existam relações comerciais com o exterior.
Na verdade, uma economia fechada ao exterior e que se possa denominar de “funcional” existe apenas nos
livros académicos dos primeiros anos da universidade.
Sempre que, por simplificação, os agentes económicos se restringem às famílias, às empresas e ao
Estado.
Apenas nestes exemplos académicos a relação com o “Exterior” é retirada da equação.
A bem da verdade, e para que tal não seja esquecido, esta situação, infelizmente, existe ainda em um ou
outro país do Mundo.
O comércio externo é vital para o crescimento económico. Se, por um lado, as importações nos permitem
aceder a tudo quanto é inovação, tecnologia, maquinaria, bem como a ativos menos tangíveis como as
“melhores práticas” empresariais ou de fabrico, as exportações, por seu lado, permitem-nos ampliar mercados
e alcançar sectores e áreas de mercado talvez inexistentes no nosso país ou região.
Torna-se assim por demais evidente que ambos os blocos têm interesses partilhados e importa que fique
claro o quão importante é cada um dos blocos, enquanto parceiro, quer do ponto de vista político quer do
ponto de vista comercial.
No que diz respeito à importância da América Latina para a Europa, destaco as principais prioridades
políticas definidas, neste domínio, pela União Europeia já em 2010:
– Aprofundar o diálogo político nos planos bilaterais, regional e multilateral;
– Promover investimentos e comercio mutuamente vantajosos;
– Promover relações bilaterais mais próximas com cada um dos países latino-americanos e ao mesmo
tempo apoiar a integração regional;
– Reforçar o diálogo em matérias de macroeconomia e finanças, meio ambiente, energia, ciência e
investigação, com vista a intensificar a cooperação nestes domínios;
– Apoiar os esforços da região para reduzir a pobreza e desigualdade e com vista ao desenvolvimento
sustentável de acordo com a Agenda para a Mudança da UE;
– Adotar programas de cooperação que abranjam áreas inovadoras que não são exploradas pelas
abordagens tradicionais de cooperação para o desenvolvimento;
– Envolver a sociedade civil na Parceria Estratégica através da Fundação European Union-Latin America
and Caribbean Foundation (EU-LAC).
Concomitantemente, também as estatísticas disponíveis nos dizem o quão relevantes são as relações
entre regiões, desde logo pelo facto da União Europeia ser o segundo maior parceiro comercial da América
Latina.
A importância do comércio entre as regiões mede-se pelo facto do comércio de mercadorias ter duplicado
na última década –até 202€ bilhões (representando este 6,3% do total do comercio da EU e 13% do comercio
da América Latina).
A União Europeia no seu todo continua a ser o principal investidor estrangeiro na região - incluindo nas
Caraíbas - com um total de 385€ bilhões de Investimento Direto Estrangeiro em 2010. Este valor representa
43% do total investido nesta zona do globo.
E para que se possa ter uma noção da dimensão e da importância desta relação veja-se que o
Investimento Direto Estrangeiro na América Latina e Caraíbas é superior ao investido pela União na Rússia,
China e Índia em conjunto.
Estes primeiros dados suportam os parágrafos com que iniciei: as relações comerciais entre países e entre
blocos são essenciais ao desenvolvimento económico de cada um.
É através da relação bidirecional dos mercados que todos se desenvolvem tanto em termos económicos
como sociais.
Importa também recordar as contínuas relações institucionais que a Europa e a América Latina e Caribe
têm desenvolvido.
Tomando como exemplo as cimeiras da União Europeia nos últimos 15 anos conseguimos perceber os
esforços que têm sido realizados e que tão bons frutos têm produzido, senão vejamos:
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No Rio de Janeiro em 1999 dá-se o Lançamento da Parceria Estratégica entre a União Europeia e a
América Latina e Caribe, ao mesmo tempo que se dava a abertura das negociações com o MERCOSUL.
Três anos mais tarde, em Madrid, em 2002, temos o Anúncio do Acordo de Associação UE – Chile, o
lançamento do programa ALBAN e o lançamento do conceito de espaço único EU - América latina e caribe do
ensino superior e do conhecimento.
Em 2004, em Guadalajara, o lançamento do programa EUROSOCIAL e, em Viena, em 2006 foram abertas
as negociações da União com a América Central com vista a um Acordo de Associação e com a criação da
Assembleia Parlamentar Euro-Latina-Americana – EUROLAT.
Entretanto, em 2008, no Peru, o CARIFORUM-EU Economic Partnership Agreement assinado entre a
União Europeia e 15 países das Caraíbas e já mais recentemente, em 2010, a penúltima cimeira em Madrid.
Por fim, a reunião de Janeiro de 2013, em Santiago com a definição de um plano de ação para o triénio
2013-2015 com ambiciosas metas a diversos níveis, nomeadamente no âmbito económico.
Recordo aqui dois excertos da declaração final dessa cimeira que considero de extrema relevância:
“Investimento e empreendedorismo para um crescimento sustentável:
In line with the I CELAC–EU Santiago Declaration, the main objectives in this area are:
i) to promote bi-regional investments of social and environmental quality to achieve sustained
economic growth while promoting social cohesion and inclusion and protecting the environment.
Such investments contribute, among others, to increased trade flows, job creation, technology
transfer, stimulation of innovation, fiscal revenues, support and development of auxiliary industries;
ii) to promote entrepreneurship as a driving force of economic and social development and;
iii) to facilitate the conditions that foster entrepreneurship and innovation, remove obstacles,
build capacity and increase competitiveness of micro, small and medium enterprises (MSMEs) and
new social actors of the economy.”
Tudo isto será alcançado com um programa claro de diálogo ao mais alto nível bem como com iniciativas
concretas, das quais destacava:
- Encourage cooperation between investment promotion agencies of each country and the
coordination of investment efforts, in order to share information on investment opportunities in our
countries and exchange effective public policies in productive development.
- Promote public policies facilitating and expediting the creation and operation of enterprises, as well
as those improving their conditions and access to financing, especially in the case of MSMEs.
- In this regard, all available financial instruments should be mobilized, including but not limited to
public investment, investment facilities financed by Official Development Aid (ODA), private equity,
venture capital, micro-credits, risk capital, business angels and guaranties.
De facto, importa perceber que as relações comerciais se fazem pelas empresas, pelos empresários e
pelos empreendedores.
O Estado, enquanto facilitador, tem de ter um papel ativo na promoção, no agilizar da burocracia, no
garante das regras através de legislação clara, no desenvolvimento das plataformas, das infraestruturas
necessárias e, por fim, na criação de condições para que o crédito exista e chegue às empresas.
Chegado a este ponto, creio que seria importante deixar uma primeira questão para ser discutida:
Estarão os Governos dos países e/ou das regiões a desenvolver os esforços necessários a uma maior
interligação entre regiões no que às trocas comerciais diz respeito?
Para que a discussão se torne mais profícua relembro o importante trabalho que do lado da União Europeia
tem sido desenvolvido junto quer do Canadá quer dos Estados Unidos da América para que sejam
estabelecidos acordos comerciais.
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O acordo com o Canadá recentemente fechado e todo o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido para
que o acordo com os Estados Unidos chegue a bom porto são um bom exemplo do que tem de ser feito entre
regiões, tendo sempre presente que é um caminho que tem de ser trilhado pelos dois lados.
As cedências têm de ser mútuas e a defesa de matérias relevantes tem de ser reciprocamente acautelada.
Como já referi, importa a todos os países conseguir chegar a novos mercados, vejam o caso português
onde o mercado de 10 milhões de habitantes é hoje claramente curto para muitas empresas, sendo Espanha –
dada a sua proximidade geográfica - um parceiro importantíssimo de cerca de 47 milhões de habitantes a
pouquíssimos quilómetros de distância e, por exemplo, o Brasil, dada a sua proximidade cultural, um mercado
de 200 milhões de habitantes à curta distância de uma língua comum.
Para que conheçamos um pouco melhor os mercados em questão, gostaria de referir as principais trocas
comerciais entre a União Europeia e, no caso, os países do Caribe:
A Europa, importa essencialmente produtos alimentares e animais, representando este grupo, 33,4% do
total importado, seguido de Bebidas e Tabaco com quase 20%, vindo depois a Maquinaria e produtos
relacionados com os transportes com mais de 10%.
No lado das exportações da União Europeia para estes países há a destacar o facto de 45% do total ser
maquinaria e produtos relacionados com os transportes, sendo que três outras categorias andam todas muito
perto dos 10% cada uma delas: os produtos manufaturados, os produtos alimentares e os produtos químicos.
Conhecer o potencial e as necessidades de cada mercado é essencial ao sucesso das referidas relações
comerciais.
Outro ponto igualmente essencial são as taxas alfandegárias.
A União Europeia tem sido pioneira em muitos e importantes processos, nomeadamente na redução, e
mesmo no levantamento total, de determinadas taxas para que um conjunto de países possa aceder a um
mercado tão relevante como o europeu.
Algo que nem sempre acontece no sentido inverso.
Não raras as vezes, e tomo como boas as referências que os empresários portugueses nos vão fazendo
chegar à Assembleia da República, as taxas alfandegárias de alguns países da América Latina são de tal
forma elevadas que dificultam sobremaneira as exportações de determinados produtos – o caso do Vinho para
o Brasil é um caso frequentemente referido em Portugal pelos nossos empresários.
Importa então aqui perceber, e deixava mais uma pista para a nossa discussão, qual o papel das taxas
alfandegárias – deve ser um elemento de receita fiscal, de protecionismo, de estabilizador da economia, de
dinamizador de determinados sectores?
Por fim, uma nota para o tema das infraestruturas.
Por um lado, os Governos devem garantir as infraestruturas necessárias ao bom desempenho do comércio
externo.
No entanto, por outro, devem acautelar a, por vezes, excessiva obsessão pelo betão, pelas grandes obras,
indutoras de investimento, de emprego mas também indutoras de despesa pública para lá do razoável e do
comportável face aos recursos disponíveis e sua boa gestão.
Se analisarmos a utilidade marginal de cada euro gasto em obras públicas rapidamente percebemos que
também aqui a utilidade marginal é decrescente.
Se o primeiro copo de água nos mata a sede, o trigésimo copo de água é já um excesso desprovido de
sentido.
Se analisarmos a utilidade dos primeiros euros gastos em estradas essenciais, portos relevantes,
caminhos-de-ferro em áreas fundamentais, facilmente constatamos quantos milhões foram por aí
indiretamente gerados.
Todavia, se, por outro lado, analisarmos o retorno daquela última estrada (que já serve apenas uma zona
de nicho e uma população muito restrita) vamos perceber o efeito da utilidade marginal decrescente do mesmo
investimento público.
Em Portugal isto foi algo flagrante quando analisamos alguns dos investimentos dos anos 80 e 90 e aquilo
que se gastou entre os anos 2005 e 2011.
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Pelo lado do sucesso, importa referir um dos investimentos que tem sido realizado em Portugal, e que é de
extrema relevância para toda a Europa – dada a localização geográfica de Portugal face ao continente
Americano – como é o Porto de Sines.
O facto de ser o primeiro porto de águas profundas da Europa dá-lhe um importante papel em todas as
relações comerciais entre a Europa e todos os países da América Latina e Caribe.
Importa que possamos também discutir, e deixava este tópico como sendo o último da minha intervenção,
a importância do comércio marítimo e das suas infraestruturas, a importância, não apenas da infraestrutura
portuária propriamente dita, mas também toda a envolvente rodoviária e ferroviária em torno, capaz, ou não,
de disseminar, de forma célere e a custos comportáveis, todas as mercadorias ali rececionadas e que, no caso
de Portugal, podem constituir uma importante porta de entrada na Europa.
O Porto de Sines que é um Porto de águas profundas e preparado para navios de grande calado, tem
também um enorme desafio pela frente, quando confrontado com o alargamento do Canal do Panamá.
As perspetivas apontam para a conclusão do alargamento a curto/médio prazo e Portugal tem de estar
preparado para se apresentar como um ponto privilegiado de ligação entre a América e a Europa.
Isso sem deixar de referir a importância de portos, como o de Valência e outros, para os ULCS –“Ultra
Large Container Ships”.
Algumas estatísticas referem que pelo canal do Panamá passam cerca de 5% de todo o comércio mundial
e, seguramente, que com o novo corredor marítimo para os grandes navios um volume muito significativo de
mercadorias passará a deixar de contornar a América do Sul para chegar aos seus destinos – com todas as
implicações subjacentes a estas alterações de rota.
Este será por certo um ponto de viragem no comércio em geral e de forma muito particular no comércio
marítimo que convém discutir e analisar na ótica do melhor aproveitamento que todos os nossos países
possam fazer dessa nova oportunidade.
Sabendo da relevância desta discussão para alguns dos países aqui presentes, deixaria para o debate que
podemos ter de seguida as considerações que poderão ser apresentadas, nomeadamente em torno dos
importantes portos da Argentina e do Uruguai.
Termino, deixando uma nota que creio devemos ter sempre presente, as relações comerciais entre países
têm que ser benéficas, em primeiro lugar, para os cidadãos.
Essa deve ser a nossa preocupação, quer sejamos atores políticos quer sejamos empresários.
Sempre que tal for conseguido, então é sinal de que conseguimos progredir e fazer o mundo avançar, e
proporcionando melhores condições e melhor qualidade de vida aos nossos concidadãos.
Esta é com certeza uma preocupação e também um objetivo que todos partilhamos!
Comissão das Mulheres Parlamentares
A Vigésima Reunião de Mulheres Parlamentares ocorreu no dia 12 de outubro e participaram nestas
reuniões as Deputadas Maria Paula Cardoso (PS) e Rosa Maria Albernaz (PS).
Recordou-se que o sistema de cotas foi uma das formas de acelerar a
igualdade de género na política, mas, para ser eficaz, devem ser adaptadas ao
sistema eleitoral nacional com os correspondentes mecanismos sancionatórios.
Os partidos políticos devem integrar mulheres nas listas em lugares onde
possam ser eleitas.
Outros assuntos
- A Língua Portuguesa como língua de trabalho na UIP
No dia 13 de outubro, teve lugar uma reunião entre os Presidentes das
Delegações dos países da CPLP presentes (Angola, Cabo Verde, Portugal, Timor-Leste e Guiné-Bissau).
Esta reunião teve por objetivo agilizar os procedimentos relativos à implementação da língua portuguesa na
UIP.
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Todas as delegações se congratularam com a utilização da Língua Portuguesa como língua de trabalho na
UIP e nos seus órgãos (Assembleia Geral, Conselho Diretivo e 1 Comissão) e foram unanimes no sentido de
que a língua é um fator de influência política e que proporciona uma maior participação nos debates por parte
das delegações dos países da CPLP nas Assembleias Gerais da UIP.
A Delegação Portuguesa entregou a todas as Delegações presentes um orçamento/estimativa para a
interpretação da 132ª Assembleia da UIP, conforme tinha ficado combinado na reunião de 17 de março.
Foi também transmitido, pela Delegação Portuguesa, que as Delegações de São Tomé e Príncipe e
Moçambique haviam informado, que se mantêm de acordo com o seguimento da interpretação da língua
portuguesa nas Assembleias Gerais da UIP, apesar de não estarem representadas nesta Assembleia Geral.
O Presidente da Delegação de Timor-Leste afirmou que para a próxima Assembleia Geral da UIP (132ª), a
realizar em Hanói, Vietnam, o Parlamento de Timor-Leste está em condições de tomar a seu cargo a
preparação e a contratação de dois intérpretes para assegurar a interpretação da Língua portuguesa na
mesma base do que tem vindo a ser feito pelo Parlamento de Portugal para as duas últimas Assembleias
Gerais da UIP.
Ficou combinado entre os Presidentes das Delegações que Timor-Leste assegurará a logística da
interpretação para a 132ª e que será ressarcido na proporção correspondente pelos restantes Parlamentos da
CPLP.
O Presidente da Delegação de Timor-Leste colocou a questão sobre a integração neste grupo da
Delegação da Guiné Equatorial, visto já fazerem parte da CPLP, pelo facto de terem a língua portuguesa como
língua oficial e este ser o elo que nos une.
Todos os participantes foram unânimes que a Guiné Equatorial deveria integrar este grupo e ficou o
Presidente da Delegação Portuguesa de falar com o Presidente da Delegação da Guiné Equatorial sobre esta
questão.
Foi também unânime que a questão logística da interpretação já foi ultrapassada politicamente, ficando
agora os Serviços dos respetivos Parlamentos de concretizarem o que já ficou acordado.
Foram também debatidos os pontos mais importantes desta Assembleia Geral: eleição do Presidente da
UIP e Item de Emergência.
Esta reunião contou com a presença dos Assessores das Delegações, Dra. Nilde Barrica, Angola, Dra.
Sílvia Araújo, Brasil, Dr. Joaquim Gomes, Cabo-Verde, Dra. Ana Margarida Isidoro, Portugal e Dr. Rui Vaz,
Timor-Leste.
Estiveram também presentes os Secretários-Gerais da Guiné-Bissau, Dr. José Carlos Rodrigues da
Fonseca, de Timor-Leste, Dr. Mateus Belo, e o Adjunto do Secretário-Geral de Portugal, Dr. José Manuel
Araújo.
- Reunião com a Delegação da Guiné Equatorial
A Delegação da Assembleia da República, representada
pelo Vice-Presidente Guilherme Silva (PSD) e pelo Deputado
Duarte Pacheco (PSD) reuniram com a Delegação da Guiné
Equatorial, representada pelo Senador Atanasio Ela Ntugu
Nsa, Chefe de Delegação e Primeiro Senador-Vogal da Mesa
do Parlamento, o Deputado Juan Roku Enumbie, Segundo
Vogal da Câmara dos Deputados e o Deputado Juan Ondo
Nse Medja.
O Vice-Presidente Guilherme Silva (PSD) congratulou-se
com a entrada da Guiné Equatorial na CPLP e colocou a
Delegação da Guiné Equatorial a par dos assuntos debatidos nas reuniões dos Presidentes das Delegações
da CPLP à UIP, tais como:
- Língua portuguesa nas Assembleias Gerais da UIP e o acordo existente entre os Parlamentos;
- Eleições para Presidente UIP / Secretário-Geral UIP;
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- Itens de Emergência.
O Senador Atanasio Ela Ntugu Nsa congratulou-se com esta reunião e com a iniciativa dos países da
CPLP para implementação da língua portuguesa nas Assembleias Gerais da UIP e informou que a Guiné
Equatorial tem todo o interesse e disponibilidade para pagar a quota-parte correspondente, conforme acordado
entre as Delegações da UIP à CPLP.
Estiveram também presentes nesta reunião o Representante Permanente da Guiné Equatorial junto dos
Organismos e Organizações Internacionais em Genebra, Dr. German Ekua Sima Abaga e a Dra. Ana
Margarida Isidoro, Assessora da Delegação Portuguesa.
Reunião com a Delegação da Indonésia
A Delegação da Assembleia da República, representada
pelo Vice-Presidente Guilherme Silva (PSD) e pelos
Deputados Duarte Pacheco (PSD) e Rosa Maria Albernaz
(PS) reuniram com a Delegação da Indonésia a propósito da
eleição para Presidente da UIP, à qual a Deputada
Nurhayati Ali Assegaf foi candidata.
A Delegação da Indonésia apresentou a candidata a
Presidente da UIP, Deputada Nurhayati Ali Assegaf,
realçando as suas competências e empenho, bem assim
como os laços que unem Portugal e Indonésia.
Palácio de S. Bento, 26 de novembro de 2014.
A Assessora Parlamentar, Ana Margarida Isidoro.
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ANEXOS
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Relatório referente à participação da Delegação da Assembleia da República na audição anual da
União Interparlamentar (UIP) junto da Organização das Nações Unidas, que teve lugar em Nova Iorque
nos dias 19 e 20 de novembro
Esta Audição Parlamentar junto da Organização das Nações Unidas (ONU) realizou-se em Nova Iorque, na
Sede da ONU, nos dias 19 e 20 de novembro, e centrou-se no tema: “Garantir uma abordagem centrada no
povo nos novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): uma responsabilidade
compartilhada”. A Delegação Parlamentar da Assembleia da República a esta reunião foi constituída pelo
Vice-Presidente Guilherme Silva (PSD) e pela Deputada Rosa Maria Albernaz (PS).
Os trabalhos desta Audição Anual foram abertos pelos Presidente da Assembleia Geral da ONU, Sam
Kutesa, Secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, e pelo Presidente da União Interparlamentar, Saber
Chowdhury.
Sessão I -Priorizando o ser humano: o direito ao desenvolvimento para todos
Durante este debate foram expressas as preocupações sobre o desenvolvimento que tem evoluído ao
longo da última década, desde um enfoque no atendimento das necessidades básicas para um baseado nos
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direitos humanos. Esta abordagem baseado nos direitos coloca o ser humano no centro do processo de
desenvolvimento e afirma claramente que a satisfação das necessidades não é somente responsabilidade dos
cidadãos mas os Estados também têm obrigações a este respeito.
Os Estados têm o dever de respeitar, proteger e cumprir direitos humanos, incluindo, direitos sociais e
económicos, direitos culturais e direitos civis e políticos estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos
Humanos e os tratados internacionais relativos aos direitos humanos. Isso também se reflete na Declaração
sobre o Direito ao Desenvolvimento que define este direito como "Um direito humano inalienável em virtude do
qual qualquer pessoa e todos os povos têm o direito de participar e contribuir para, o desenvolvimento social,
cultural económica, em que todos os direitos humanos e liberdades fundamentais podem ser totalmente
realizados, e de se beneficiar deste desenvolvimento. "
Em termos políticos, as obrigações dos Estados em matéria de direitos humanos implica uma
responsabilidade partilhada pelos governos, para iniciar e implementar políticas e dos parlamentos, órgãos
encarregados de legislar e assegurar o controlo. A estes incumbe, em particular, facilitar o acesso à educação,
saúde, participação política - para citar apenas alguns dos direitos fundamentais - mas também trabalhar para
garantir resultados correspondentes aos mais elevados padrões em termos de qualidade e equidade para
todos, sem discriminação. Entre outras coisas, a Declaração das Nações Unidas de 1986 sobre o direito ao
desenvolvimento fala de "Igualdade de Oportunidades", "distribuição justa de renda" e da necessidade de
políticas nacionais de desenvolvimento "que visem melhorar continuamente o bem-estar de toda a população
e de todos os indivíduos."
A transposição para as políticas nacionais e o assegurar que existe uma aplicação efetiva dos ODS não
será uma tarefa fácil. Para começar, os próprios ODS devem ser concebidos a partir de uma perspetiva
baseada nos direitos humanos. As políticas de implementação dos ODS devem considerar as necessidades
humanas a partir de uma visão mais global e mais interconectada. Para isso, será necessário particularmente
adaptar as políticas a grupos especialmente vulneráveis e a outros grupos marginalizados que não são
levados em conta. Problemas como estes não podem ser reduzidos a uma simples questão de rendimento.
Um modelo baseado nos direitos humanos universais, aplicáveis tanto aos países desenvolvidos e como
aos que estão em vias de desenvolvimento, é adequado para uma agenda global, como os ODS. Isso deve
aumentar o interesse particular em sociedades abastadas onde as necessidades já estão satisfeitas ou
prestes a ser.
Neste debate participaram representantes de todas as delegações presentes, entre os quais o Presidente
da Delegação Parlamentar de Portugal, o Vice-Presidente Guilherme Silva (PSD), que afirmou:
“O Mundo não pode continuar a pactuar com a existência de diferenças significativas no padrão de
desenvolvimento dos países, designadamente entre Norte e Sul, e mesmo dentro de cada país não são
admissíveis desequilíbrios económicos tão acentuados que agravam o fosso entre ricos e pobres.
Impõe-se-nos tudo fazer para, como disse o Papa Francisco na mensagem ao dia das Comunicações
Sociais, termos um “Mundo onde fosse mais fácil fazer-se próximo uns dos outros”?
Paradoxalmente, todos os progressos que se têm verificado ao nível dos transportes e das tecnologias de
comunicação deixam-nos realmente mais próximos mas, ao mesmo tempo, social e economicamente, cada
vez mais afastados.
Ao excessivo supérfluo de uns tantos (demasiados) contrapõe-se a fome e as mais gritantes carências de
muitos.
É urgente humanizar a Globalização!
Já em 1999, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) dedicou o seu relatório
sobre desenvolvimento à “Globalização com rosto humano” e à procura da humanização deste fenómeno de
interligação dos povos, de dissolução de fronteiras e de diminuição do espaço e, muito especialmente, do
tempo, que se tornou um imperativo inadiável.
De facto, é hoje fundamental que consigamos assegurar que a proteção do ser humano, nas suas mais
diversas vertentes, se assuma como um valor ético ou mesmo um património ético universal.
O Estado de direito deve, cada vez mais, centrar a sua missão no respeito e realização dos direitos dos
cidadãos, direitos que não podem ser encarados de forma isolada porque interdependentes entre si e todos
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são necessários à proteção da dignidade humana.
O nosso desígnio será o de tornar a Globalização como algo bom para todos, algo que traga vantagens a
todos, independentemente do local onde vivam e da sua condição social.
A Globalização tem de ser uma verdadeira oportunidade e não um fator de diferenciação entre os países
ou um fator gerador de maiores clivagens nas sociedades e isso só se consegue subordinando a Globalização
económica à Globalização dos direitos da pessoa humana, cuja universalização, aliás, está há muito adquirida
no plano dos princípios que regem a comunidade internacional, mas que são demasiadas vezes preteridos e
violados, com excessiva impunidade.
Tenho para mim que a educação é um elemento central nesta procura da humanização da Globalização.
Não falo apenas da educação em sentido estrito da formação pedagógica das crianças, dos jovens ou mesmo
dos adultos, falo da educação para a cidadania, uma educação que permita um envolvimento maior de cada
um no seu próprio futuro. Como tal, o direito à educação deve ser não apenas plenamente consagrado, mas,
sobretudo, efetivado.
E o maior exemplo que temos deste “poder” da educação foi a recente escolha de Malala Yousufzai para
Prémio Nobel da Paz e, a sua simples, mas acutilante, afirmação de que basta apenas um lápis, um caderno e
um professor para que tudo possa ser diferente. Como ela própria teve oportunidade de dizer aquele foi o
prémio para “todas as crianças que procuram ainda ter acesso à educação” e que sofrem consequências, de
alguma forma, por isso mesmo.
O direito à educação deve ser encarado como um direito prioritário logo a seguir ao direito à vida.
Os Estados têm o dever de garantir, aos seus cidadãos, o acesso à educação e promover políticas ativas
de impulso da participação cívica.
É necessário que, em cada uma das nossas sociedades, formemos cidadãos para o Mundo, sem o que
não asseguraremos às novas gerações um futuro melhor a que têm direito e que temos a obrigação de lhes
legar.
Permitam-me uma breve referência à Diáspora portuguesa, cerca de 5 milhões de portugueses espalhados
pelos quatro cantos do Mundo, exemplos de capacidade de integração, de partilha de valores e de interação
com outras culturas e mentalidades.
Somos um país que tem na defesa dos direitos humanos uma das suas mais importantes bandeiras e a
nossa recente eleição para o Conselho dos Direitos Humanos da ONU vem exatamente comprovar isso
mesmo. Esta eleição deu-nos, por um lado, uma enorme responsabilidade e, por outro, uma excelente
oportunidade para trabalhar na crescente afirmação dos direitos do homem na agenda internacional.
O Governo português indicou entre as suas áreas prioritárias, os direitos das crianças, o direito à água, o
combate à violência contra mulheres, a luta contra a discriminação sob todas as formas e a abolição da pena
de morte.
Por sua vez, a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio e da Agenda para o
Desenvolvimento pós 2015 devem ser os grandes motores da atuação dos Estados num momento que
considero de crucial para a evolução da própria humanidade.
Não podemos deixar que o Mundo seja visto na simplicidade do bem e do mal ou do preto e do branco.
Existe muito mais para além deste determinismo. E é disso que falamos aqui hoje…de sermos capazes de
construir um Mundo mais inclusivo, mais amigo do ambiente e mais respeitador dos direitos daqueles que o
habitam.
É por isso que é tão importante o debate que aqui temos sobre o futuro do desenvolvimento e o papel que
os Estados e as instituições internacionais podem e devem desempenhar para evitar práticas tão degradantes
como o dumping social e ambiental que violam todos os princípios básicos da dignidade humana em nome do
lucro fácil.
Propostas para a nova Agenda pós 2015
Nesta nova agenda é fundamental acrescentar o combate às desigualdades, a garantia de sustentabilidade
das produções e dos consumos, reconhecer as necessidades e potencialidades dos jovens, a igualdade de
género, o acesso universal à saúde. Ou seja, é necessário que o novo modelo seja um modelo assente em
duas premissas: realização dos direitos humanos e sustentabilidade.
Devemos apostar, portanto, num crescimento económico inclusivo e no investimento em prol do
desenvolvimento. Em 2012 o investimento direto estrangeiro foi, pela primeira vez, inferior nas economias
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desenvolvidas do que em economias em desenvolvimento. No entanto, nestes países, as desigualdades entre
os mais ricos e os mais pobres continuam a acentuar-se.
Em suma, a nova agenda de desenvolvimento pós 2015 deve incluir temas que ficaram de fora dos ODM
definidos em 2000.
Assim, defendo a inclusão clara na Agenda para o Desenvolvimento pós 2015, dos direitos humanos, da
paz e da segurança, do combate às desigualdades, do acesso à saúde, incluindo a sexual e reprodutiva, da
igualdade de género e do acesso dos jovens à educação e ao trabalho.
Se o conseguirmos estou certo de que daremos ao desenvolvimento, não apenas o sentido material
inerente do crescimento económico, mas o alcance ético, a que, não apenas tem de estar sempre associado,
mas que deve ser mesmo a sua razão de ser – proporcionar a todos condições de vida dignas, com
observância das regras ambientais e de equilíbrio ecológico, bem como dos direitos sociais inerentes à
dignidade da pessoa humana e ao respeito devido às gerações vindouras.
Muito obrigado.”
Sessão II - Pelos mercados ao serviço dos cidadãos: regulamentos e garantias
Durante este debate os participantes foram unânimes que cabe aos Estados, como "principais titulares de
deveres" devem garantir que os quadros jurídicos e regulamentares adequados estão aplicados para proteger
os direitos humanos.
A crise financeira e económica mundial de 2008 mostrou claramente que os mercados não se autorregulam
e que devem ser estabelecidos regulamentos para manter a estabilidade e evitar a deterioração económica
que sempre afeta mais duramente os mais pobres e consequentemente vulneráveis. Quando a preferência é
dada a abordagens baseadas no mercado (privatização dos serviços essenciais, tais como água, educação ou
saúde, por exemplo), é necessário verificar que a sua eficácia passa o teste de direitos humanos.
Os governos têm a responsabilidade de tomar medidas pró-ativas na luta contra o desemprego e outros
problemas sociais que impedem o desenvolvimento. Políticas de austeridade, que tendem a reduzir o deficit
orçamental podem atender às exigências dos mercados financeiros mas penalizam a economia real da qual as
pessoas dependem.
Sessão III - Desigualdade e discriminação: o impacto do desenvolvimento e maneiras de reverter a
tendência
O novo quadro de inovação dos ODS apresenta um potencial alvo 10 "Reduzir as desigualdades entre os
países e dentro deles." Uma das metas deste objetivo é "assegurar a igualdade de oportunidades e reduzir
resultados de desigualdade, em particular através da eliminação de leis, políticas e práticas discriminatórias e
da promoção da adoção de leis, políticas e medidas adequadas na matéria. "
De fato, as leis e medidas discriminatórias têm consequências diretas sobre o bem-estar da população e
sobre o desenvolvimento global.
Neste debate participaram representantes das delegações presentes, entre os quais a Deputada Rosa
Maria Albernaz (PS) que afirmou:
“Minhas Senhoras e Meus Senhores,
A reflexão sobre o desenvolvimento tem evoluído ao longo da última década, desde um enfoque no
atendimento das necessidades básicas para um enfoque baseado nos Direitos Humanos.
Esta abordagem coloca o Ser Humano no centro do processo de desenvolvimento, e afirma claramente
que a satisfação das necessidades não é somente responsabilidade dos cidadãos, mas que os Estados têm
igualmente obrigações a este respeito.
Os Estados têm o dever de respeitar, proteger e cumprir os Direitos Humanos, incluindo direitos sociais e
económicos, direitos culturais e direitos civis e políticos, estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos
Humanos e nos Tratados Internacionais.
Em termos políticos, as obrigações dos Estados em matéria de Direitos Humanos implica uma
responsabilidade partilhada pelos Governos, para iniciar e implementar políticas, e pelos Parlamentos, órgãos
encarregues de legislar e assegurar o seu controlo.
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A estes incumbe, em particular, facilitar o acesso à educação, saúde, participação política – para citar
apenas alguns dos Direitos Fundamentais – mas também trabalhar para garantir resultados correspondentes
aos mais elevados padrões em termos de qualidade e equidade para todos, sem discriminação.
Entre outras, a Declaração das Nações Unidas de 1986 sobre o Direito ao Desenvolvimento refere-se à
“Igualdade de Oportunidades”, e para a alcançar, será necessário, em particular, adaptar as políticas a grupos
especialmente vulneráveis e a outros grupos marginalizados, que, muitas vezes, não são tidos em
consideração na definição e na prossecução de políticas.
Um modelo de desenvolvimento baseado nos Direitos Humanos Universais, aplicáveis tanto aos países
desenvolvidos como aos em vias de desenvolvimento.
A crise financeira e económica mundial de 2008 mostrou, claramente, que os mercados não se
autorregulam, e que devem ser estabelecidos mecanismos capazes de assegurar a estabilidade e evitar a
deterioração económica, que sempre afeta mais duramente os pobres e os mais vulneráveis.
De forma geral, os Governos têm a responsabilidade de tomar medidas pró-ativas na luta contra o
desemprego e outros problemas sociais que impedem ou obstaculizam o desenvolvimento. Políticas de
austeridade, que tendem a reduzir o défice orçamental, podem atender às exigências dos mercados
financeiros, mas penalizam a economia real, da qual as pessoas dependem.
Em todo o caso, quando necessário, a austeridade deve ser aplicada equitativamente, tendo em conta as
necessidades dos grupos mais vulneráveis.
Como afirmam as organizações como a OIP, é possível assegurar um nível de proteção social que garanta,
pelo menos, uma renda básica, cuidados básicos de saúde e direito à educação em todos os países, qualquer
que seja a sua fase de desenvolvimento.
Por isso, é necessário desenvolver políticas económicas que coloquem o bem-estar humano em primeiro
plano, e não tornar o crescimento como um objetivo prioritário, particularmente nas sociedades prósperas.
Será cada vez mais necessário integrar esta perspetiva num quadro regulamentar estrito da economia,
porque em vários países, a título de exemplo, o problema crescente de desigualdade económica pode estar
ligada à negação de direitos dos trabalhadores, incluindo o direito de constituir sindicatos ou o direito de
negociar melhores condições de trabalho.
Por outro lado, cumpre recordar a violência e as múltiplas discriminações contra as mulheres, ou a
legislação discriminatória sobre o VIH/SIDA, como outros exemplos de políticas nefastas para o bem-estar e
para o desenvolvimento social, cultural e económico a que todo o Ser Humano tem direito.
Uma realidade que nos faz refletir sobre as permanentes ameaças ao desenvolvimento social e económico
dos indivíduos e das populações e à sua integração social, e nas formas urgentes de as ultrapassar, que
passam, sempre, por voltar a colocar o Ser Humano no centro da ação política.
Espero, pois, que desta Audição Parlamentar resultem conclusões e ensinamentos que permitam aos
Parlamentos Nacionais envolver-se em todos os processos de negociação política que conduzam à adoção
dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2015.
Obrigada.”
Sessão IV - A iniciativa "My World": uma ferramenta dinâmica para incentivar a interação entre
deputados e eleitores; Monitoramentoe prestação de contasdentro dosODS: capacitarcidadãos e
instituições
Como os ODM, será necessário assegurar um controlo rigoroso dos ODS tanto a nível nacional como
mundial. Embora globalmente a monitorização é geralmente limitada à avaliação do progresso e dicas de
orientação, a nível nacional (onde os governos são soberanos) o seguimento está diretamente ligado à
prestação de contas.
O Parlamento é, por excelência, a instituição responsável por assegurar a prestação de contas. No final
das contas, os parlamentos têm também, no entanto, que responder aos cidadãos. O foco dos ODS no ser
humano implica também garantir que todos os cidadãos, independentemente da sua situação, possam dar as
suas opiniões sobre o processo político e exigir uma ação corretiva dos decisores políticos, tanto nos governos
como nos parlamentos. O crescimento exponencial da tecnologia da informação cria novos canais para a
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participação dos cidadãos no planeamento e orçamentação do desenvolvimento. Entretanto, há ainda uma
margem considerável para melhorar os métodos tradicionais de participação dos cidadãos.
A recolha e análise de dados são fatores-chave para o processo de monitoramento, uma vez que fornecem
aos titulares dos direitos e das instituições encarregadas de garantir a prestação de contas (parlamentos,
conselhos de direitos humanos, instituições de auditoria, etc.) informações necessários para a avaliação do
impacto da política.
Nos últimos anos tem sido feito um progresso considerável para garantir a aplicabilidade dos direitos no
plano jurídico. A aplicação dos direitos económicos e sociais vinculantes a nível internacional é cada vez mais
frequentemente pronunciado pelos tribunais internacionais.
O Presidente da Delegação, Vice-Presidente, Guilherme Silva.
_______
Relatório elaborado pelo Deputado Mendes Bota, do PSD, relativo à sua participação numa
conferência intitulada “Prostitution et traite des êtres humains dans le monde: une exploitation des
plus vulnérables”, organizada pelo Mouvement du Nid, pela CAP International (Coalition for the
Abolition of Prostitution) e pela Fondation Scelles, da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa
(APCE), que decorreu em Paris nos dias 12 e 13 de novembro de 2014
No dia 12 de Novembro de 2014 participei, como orador convidado, numa conferência intitulada
“Prostitution et traite des êtres humains dans le monte: une exploitation des plus vulnérables”, organizada pelo
Mouvement du Nid, pela CAP International (Coalition for the Abolition of Prostitution) e pela Fondation Scelles.
A minha intervenção consta no Anexo do presente relatório.
No dia 13 de Novembro de 2014, participei, com outros deputados de diversos países, numa mesa redonda
subordinada ao tema “Strategic workshop of Members of Parliaments”, durante a qual foi decidido lançar as
bases de uma network parlamentar internacional pela abolição da prostituição.
Assembleia da República, 14 de Novembro de 2014.
O Deputado do PSD, José Mendes Bota.
ANEXO
Discours de M. Mendes Bota à la conférence sur « Prostitution et traite des êtres humains dans le
monde : une exploitation des plus vulnérables »
Assemblé Nationale Française, Paris, 12 Novembre 2014
Mesdames et Messieurs,
C'est pour moi un plaisir et un honneur d'être ici dans cette prestigieuse institution, et je suis
particulièrement heureux de contribuer à cette partie de la conférence. Je tiens à remercier la Coalition pour
l'Abolition de la Prostitution, la Fondation Scelles et le Mouvement du Nid pour l'organisation de cet événement
et je trouve très opportune l’idée d'inclure une partie spécifique sur les développements parlementaires.
En tant que député, j'apprécie toutes les occasions qui me sont offertes pour recevoir des contributions, à la
fois en termes d’informations et de propositions, de la part de la société civile, du milieu universitaire et des
personnes ayant une expérience sur le terrain. C'est toujours très utile, puisque nous, les parlementaires avons
la responsabilité de proposer et discuter des lois qui ont un impact sur la vie quotidienne de tous les citoyens.
Cela est particulièrement vrai en ce qui concerne les questions dont nous sommes saisis aujourd'hui : nous
ne pouvons pas avoir un échange fructueux sur la prostitution et la traite des êtres humains sans écouter les
gens qui ont travaillé directement sur le terrain, qui se sont régulièrement occupé des victimes de la traite et
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des personnes prostituées. C'est ce que j'ai fait pour préparer mon rapport sur la « Prostitution, traite et
esclavage moderne en Europe » pour l'Assemblée parlementaire du Conseil de l'Europe.
L'origine du rapport
Le point de départ était une motion que j'ai déposée, avec plusieurs collègues, pour suggérer que la
criminalisation de l'achat de services sexuels, telle qu’introduite pour la première fois par la Suède, était le
meilleur moyen de lutter contre la traite. Il n’est pas vraiment nécessaire d'expliquer à ce public aujourd’hui que
la loi suédoise sur la prostitution repose sur l'idée que les personnes prostituées sont victimes d'un système,
qu’elles ne sont pas des criminelles, et que le moyen le plus efficace pour réduire la prostitution est de cibler
ceux qui achètent des services sexuels, et non pas ceux qui les vendent. Et, comme la grande majorité des
personnes prostituées est victime de la traite des êtres humains, réduire la prostitution est essentiel à la lutte
contre la traite.
Par contre, j'estimais nécessaire d'expliquer ces concepts à mes collègues de l'Assemblée parlementaire et,
à travers eux, aux parlements et gouvernements des 47 États membres du Conseil de l'Europe. La plupart de
ces pays ne partage pas, ou pas encore, l'approche de la Suède à envers la prostitution. Certains ne la
connaissaient peut-être pas. D'autres se préparaient à discuter des réformes législatives qui pourraient les
amener à se conformer à cette approche.
J'ai estimé nécessaire d'établir un rapport pour l'Assemblée parlementaire du Conseil de l'Europe sur le lien
entre la prostitution et la traite en Europe et d'avoir une résolution adoptée par l'Assemblée parlementaire, pour
trois raisons au moins :
- Tout d'abord, parce que tous les pays européens sont touchés par le fléau que représente la traite des
êtres humains, que ce soit comme pays d'origine, de transit ou de destination – souvent, les trois
questions/sujets choses sont combinées/combinés. C'est, dans une large mesure, une question internationale,
qui exige une réponse internationale.
- Deuxièmement, parce que l'Assemblée parlementaire a une valeur ajoutée : c'est le « Parlement des
droits de l'homme » pan-européen, et je crois que la prostitution et le trafic devraient être traités, sous l'angle
des droits de l'homme, et pas simplement comme des questions sociales ou criminelles. Les droits de l'homme
des personnes prostituées, que certains appellent « travailleurs/travailleuses du sexe » et aussi les droits de
l'homme des victimes de la traite.
- Et enfin, parce que j'étais au courant de la manière dont la Suède faisait face à ce défi, et j'ai pensé que
cela valait la peine d'en apprendre plus sur cela et éventuellement de le partager avec les législateurs et les
décideurs du reste de l'Europe.
Dès le début, il s'agissait d'étudier la législation suédoise et éventuellement de l’indiquer en tant que modèle
à d’autres Etats membres du Conseil de l'Europe. Plus tard, j'ai proposé de changer le titre, de "Criminaliser
l'achat de services sexuels comme un moyen de lutter contre la traite des êtres humains" en « Prostitution,
traite et esclavage moderne en Europe », car le rapport a progressivement étendu son champ d'application. Et
aussi, comme dans un roman policier, pour laisser l'auditoire trouver une solution à la fin de l'histoire, et pas
déjà dans le titre.
La préparation du rapport
Je suis donc allé en Suède d'abord, puis en Suisse, Allemagne et aux Pays-Bas.
J'ai rencontré une variété d’interlocuteurs : collègues parlementaires, fonctionnaires, membres
d’organisations non gouvernementales et autres représentants de la société civile.
J'ai aussi parlé avec les représentants des, entre guillemets, « travailleurs du sexe ». En Suède et dans les
autres pays que j’ai visités, les représentants des personnes prostituées m'ont dit que la plupart d'entre elles
avait choisi cette activité librement. J'ai écouté attentivement et respectueusement, mais je ne pense pas que
ce qu'elles disaient était exact. Elles étaient en fait des représentants de la « vieille garde ».
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Peut-être – je souligne, peut-être, dans le passé, la figure de la prostituée qui a choisi de vendre son corps
pour gagner sa vie était-elle plus commune. Je n’en suis pas si sûr. Mais je sais avec certitude que la plupart
des prostituées aujourd'hui sont des victimes de la traite, provenant souvent de l’étranger. Elles sont attirées
dans nos pays par des promesses de bons emplois et d’une bonne vie et puis contraintes à dans l'industrie du
sexe. Elles sont menacées, battues, violées. Et bien sûr, une fois qu'elles sont dans ce monde, elles ne
peuvent pas s’échapper, car cela équivaudrait à une perte d'argent phénoménale pour ceux qui les exploitent.
La Suisse, l'Allemagne et les Pays-Bas, comme vous le savez, ont choisi une approche totalement
différente envers la prostitution, à savoir la légalisation. Elles l'ont fait avec les meilleures intentions : améliorer
la vie des gens employés dans la prostitution, lutter contre la stigmatisation liée à cette activité, combattre le
crime organisé. Malheureusement, elles n'ont pas réussi. Le monde du « sex-business » s'est avéré très
difficile à garder sous contrôle. En Allemagne, la législation ne couvre pas tous les aspects de ce secteur.
La prostitution était destinée à devenir un travail comme tous les autres, mais cela ne s’est pas produit
ainsi. Au contraire, elle est, plus que jamais le domaine de l'exploitation, de la violence et des violations de la
dignité humaine. En Suisse, même si la volonté politique de lutter contre la traite et de protéger les personnes
prostituées est visible, la situation reste difficile. La nature fédérale du pays et la fragmentation de
l'administration rendent les choses encore plus compliquées. La réglementation varie d’un canton à l’autre, la
collecte de données n'est pas harmonisée, il est difficile d'avoir des estimations sur l'ensemble du pays, sans
parler des données.
Aux Pays-Bas, j'ai été impressionné par le professionnalisme des personnes qui s’occupent de prostitution
et de traite dans les diverses branches de l'administration, aux niveaux national et local, et par l'engagement de
la société civile. Elles semblaient toutes avoir une connaissance approfondie de ces questions. Les pouvoirs
publics ont des plans d'action fondés sur une approche pragmatique. Ils sont ouverts à la coopération avec des
partenaires internationaux. La police, par exemple, m'a dit qu'elle avait des échanges réguliers avec des
collègues suédois, même si les lois et politiques des deux pays sont complètement différentes.
Néanmoins, j'ai eu l'impression, basée sur ces réunions, mais également sur mes recherches, que, même
aux Pays-Bas, la lutte contre la traite des êtres humains est loin d’être gagnée et que le lien entre la prostitution
et le trafic existait là, comme partout ailleurs, et qu’il n’était pas en train de s’affaiblir. Même aux Pays-Bas,
certaines voix se font entendre maintenant pour réclamer un changement radical dans la réglementation de la
prostitution. Certains suggèrent ouvertement de suivre la « voie nordique ».
Conclusions du rapport
Après un an de travail, impliquant plusieurs auditions à l'Assemblée parlementaire, des visites dans les
quatre pays dont je vous ai parlés et beaucoup de recherches, j’ai eu la confirmation de ce qui avait été mon
point de départ. Je suis arrivé à la conclusion que l'approche suédoise, fondée sur la criminalisation de l'achat
de services sexuels – en d'autres termes, le ciblage du « client » – était la meilleure option. Le rapport fait
référence à plusieurs « leçons apprises » dans les autres pays, que j'ai visités. Mais la principale leçon est
celle que la Suède nous a enseignée en 1999.
Les législateurs de l’époque ont été courageux en introduisant une approche totalement nouvelle. Ils ont
défié l'opinion publique, car ce genre de réglementation était difficile à expliquer et difficile à comprendre. Mais
une quinzaine d'années plus tard, ils ont remporté leur défi. Nous pouvons maintenant affirmer, sur la base
d'une série d'indicateurs, que le nouveau système fait ses preuves dans la maîtrise de la demande de
prestations sexuelles et, à son tour, pour les victimes de la traite.
C'est pourquoi le projet de résolution que j'ai préparé, qui a été adopté par l'Assemblée, recommande que
tous les États membres « prennent en considération », au moins, l'adoption de ce type de législation. J'ai choisi
cette formulation relativement souple que j'ai jugée appropriée afin d'éviter une attitude idéologique. J'ai aussi
évité la philosophie. J’ai rencontré parfois des questions philosophiques: « qu'est-ce le libre-arbitre ? », par
exemple, au sujet de la question de savoir si les prostituées vendent leurs corps librement ou pas. Mais j'ai
décidé de ne pas creuser plus en profondeur dans ces questions. Mon objectif tout au long de la préparation
du rapport était de tenir compte d'abord des droits fondamentaux des personnes impliquées.
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Cela m'a permis d'inclure, dans la résolution, certains éléments de «réduction des dégâts ». Certaines de
ces mesures qu'indique l'Assemblée sont recommandées pour tous les pays, quelle que soit l'approche
juridique qu'ils ont adoptée. J’indiquerai notamment que:
- La publicité des services sexuels, que ce soit en clair ou d'une manière déguisée, devrait être interdite
dans tous les cas, même dans les pays où la vente ou l'achat de ces services est légal ;
- Le proxénétisme doit toujours être criminalisé ;
- Des centres de conseils devraient fournir aux personnes prostituées de l'aide juridique et en matière de
santé ;
- Les « programmes de sortie » de la prostitution sont cruciaux. Nous devons non seulement aider les
gens à ne pas se retrouver dans l'industrie du sexe, mais aussi les aider à sortir de ce milieu s'ils le souhaitent.
Cela implique non seulement un soutien, souvent en premier lieu psychologique, mais également des activités
d’orientation et de formation. C’est très important ;
- Élever l'âge minimum légal pour la prostitution serait également une bonne idée. Vingt-et-un ans est un
seuil raisonnable, et certainement meilleur que dix-huit ans, par exemple. Ce seuil minimum a été introduit
l’année dernière en Suisse.
Bien entendu la résolution indique des mesures spécifiques sur le trafic :
- La coopération pénale internationale contre ce fléau doit être renforcée.
Nous avons également recommandé :
- que tous les pays européens signent, ratifient et mettent en œuvre la Convention du Conseil de l'Europe
sur la lutte contre la traite des êtres humains (STE n° 197) ;
- Qu'ils introduisent des plans d'action sur la traite des êtres humains ;
- Qu'ils renforcent la coopération avec Europol et augmentent les ressources financières et humaines
allouées à cette organisation.
J'ajouterai quelques remarques générales :
1) il nous faut plus d'informations. Nous avons besoin de chiffres sur la prostitution et le trafic. Et ces
chiffres doivent être comparables, car ils guideront l’élaboration et l’application des lois et des politiques, aux
niveaux national et international.
2) nous avons besoin que tous les pays allouent davantage de ressources à la lutte contre la traite, peu
importe qu’elle est l’approche juridique qu'ils suivent concernant la prostitution. Qu’ils aient choisit la
légalisation ou bien la criminalisation d’un ou de tous les aspects de la prostitution, ils devraient toujours
consacrer suffisamment de ressources humaines et financières à la lutte contre le fléau qu’est la traite. Ils
doivent avoir suffisamment de personnel et ce personnel doit recevoir une formation appropriée.
Pour terminer avec une note qui concerne notre pays hôte : la France a entamé, avec l’abolition du racolage
passif, un parcours de réformes positif, basé sur l’idée que la personne prostituée est une victime d’une
machine criminelle plutôt que l’auteur d’un crime. J’espère que ce parcours ne sera pas abandonné,
notamment pour qu’on ait à disposition un arsenal juridique adéquat pour combattre de façon encore plus
efficace la traite des êtres humains.
Je vous remercie de votre attention.
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Relatório elaborado pelo Deputado Mendes Bota, do PSD, relativo à sua participação nas reuniões
do Bureau e da Comissão Permanente, bem como no evento sobre a Convenção de Istambul
(organizada pela Deputada ao Parlamento Europeu, Beatriz Becerra), da Assembleia Parlamentar do
Conselho da Europa (APCE), que decorreram em Bruxelas de 17 a 19 de novembro de 2014
No dia 17 de Novembro de 2014, participei numa reunião do Bureau da APCE, na minha qualidade de vice-
presidente da Comissão dos Assuntos Sociais, da Saúde e do Desenvolvimento Sustentável.
Perante a proposta de se solicitar à Comissão do Regulamento para definir as condições nas quais se
deverão subordinar as declarações, comunicados, tomadas de posição das comissões, ou dos seus
presidentes, ou mesmo dos relatores, fiz uma intervenção para chamar a atenção de que, uma excessiva
formalização, rigidificação e inflexibilidade das declarações políticas, acabaria por burocratizar um órgão
eminentemente político, matando a sua capacidade de reacção perante os acontecimentos.
No dia 18 de Novembro de 2014, participei numa reunião da Comissão Permanente da APCE, durante a
qual fiz quatro intervenções.
A primeira, logo no abrir da reunião, em resposta e agradecimento à presidente da APCE, Anne Brasseur,
que entendeu exprimir o reconhecimento da APCE pelo meu trabalho ao longo de todos estes anos,
lamentando a cessação das minhas funções de deputado anunciada para 30 de Novembro, para abraçar um
desafio novo na Comissão Europeia.
Por duas vezes, os deputados e as deputadas presentes, sublinharam com aplausos um sentimento de
apreço pela minha pessoa, nesta hora de despedida, mais me impedindo a consciência de relatar a
intensidade do momento.
A segunda, para intervir no debate do relatório Earl of Dundee (doc. 13539), subordinado ao tema
“Measuring and fostering the well-being of European citizens”, cujo texto figura no Anexo A do presente
documento.
A terceira intervenção consistiu na apresentação do relatório (doc. 13636) subordinado ao tema “Social
exclusion – a danger for Europe’s democracies”, em substituição do relator, Mike Hancock, impossibilitado de
comparecer, e cujo conteúdo aqui figura no anexo B. O relatório, bem como os seus projectos de resolução e
de recomendação foram aprovados por unanimidade.
Finalmente, intervim no debate sobre o relatório Kyriakidou (doc. 13634), sobre o tema “Focusing on the
perpetrators to prevent violence against women”, para realçar a importância dos programas de tratamento e
acompanhamento dos agressores, como peça essencial na gestão de riscos associada às situações
referenciadas de violência doméstica. Na minha opinião, os Estados têm falhado aqui, pois a esmagadora
maioria das vítimas mortais às mãos dos seus companheiros ou ex-companheiros, tinham atrás de si historiais
de violência registados, e nada foi feito para prevenir o que se pode chamar de “mortes anunciadas”.
Na parte da tarde, numa cerimónia realizada no Parlamento Europeu, recebi o “Scandinavian Human
Dignity Award 2014”, outorgado pela Scandinavian Human Rights Lawyers, das mãos da sua presidente Ruth
Nordstrom, na presença de vários eurodeputados e outros representantes da organização. O prémio consistiu
numa obra escultórica original significativa das vítimas do tráfico de seres humanos e num diploma alusivo e
destinou-se, no dizer da organização, a distinguir os meus “esforços para combater o tráfico de seres humanos
na Europa”.
A Scandinavian Human Rights Lawyers é uma Organização Não-Governamental dedicada à promoção e à
protecção dos Direitos Humanos e da dignidade humana na Escandinávia e na Europa, implementando uma
estratégia efectiva de promoção, trabalho em rede e educação em assuntos legais.
O Scandinavian Human Dignity Award é atribuído anualmente a uma pessoa ou organização que tenha
contribuído de forma especial para os Direitos Humanos, todos os que derivam da dignidade inerente ao ser
humano e que são essenciais para o seu livre e completo desenvolvimento.
Este prémio é decidido por um Comité, composto de eminentes personalidade ligadas ao Direito e Ensino
Universitário, que defende a inalienabilidade dos Direitos Humanos para todas as pessoas, reúne-se nas
capitais dos países Escandinavos, e publica trabalhos sobre questões temáticas.
No seminário que se seguiu, dedicado à temática do Tráfico de Seres Humanos, fiz uma explanação do
conteúdo e das propostas contidas no meu relatório subordinado ao tema “Prostitution, trafficking and modern
slavery in Europe”, aprovado no plenário da APCE em Abril deste ano, e no qual trabalhei durante um ano e
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meio, tendo sido o cerne da decisão daquela organização de Direitos Humanos. A minha intervenção consta
do Anexo C do presente relatório.
No dia 19 de Novembro de 2014, participei como orador principal, na conferência subordinada ao tema
“Ratifying the Istanbul Convention – European Parliament’s next challenge on the fight against domestic
violence”, organizada pela deputada europeia Beatriz Becerra, e que se realizou no Parlamento Europeu.
Participaram na mesa redonda que se seguiu à minha intervenção (cujo texto figura no Anexo D do
presente relatório), as seguintes pessoas:
— Iratxe Garcia, presidente da Comissão dos Direitos das Mulheres, do Parlamento Europeu;
— Sami Nevala, chefe do Departamento de Estatísticas, Inquéritos, Liberdade e Justiça, da Agência dos
Direitos Fundamentais da União Europeia;
— Colette De Troy, diretora do Observatório da Violência contra as Mulheres do European Women’s Lobby;
— Alejandra Agudo, jornalista do El País
— a organizadora, Beatriz Becerra, deputada europeia.
No final, houve um debate com a assistência que enchia a sala, e onde se contavam vários deputados
europeus, e fiz uma intervenção em resposta a questões que me foram colocadas por oito assistentes.
Assembleia da República, 20 de Novembro de 2014.
O Deputado do PSD, José Mendes Bota.
ANEXO A
Speech by Mr. Mendes Bota, vice-president of the Social Affairs, Health and Sustainable Development
Committee, about report THE EARL OF DUNDEE (doc. 13539), about “Measuring and fostering the well-
being of European citizens”
Standing Committee of the Parliamentary Assembly
of the Council of Europe
Brussels, 18th November 2014
Successive global crises in various domains have exposed the limits of our current development model. The
weak link is our insufficient consideration of human aspirations for well-being and of critical resources for
progress in society. Many essential aspects of life, such as health (physical and mental) and work, are not
given enough priority in our member States' policies.
Gaps therefore keep widening between and within European countries in terms of prosperity, subjective
well-being and popular support for policies. The key challenge for politicians is to rebuild trust and better
respond to people's demands. Hence they need to be better equipped with reliable information on what
genuinely matters for the people and the planet. Smart policy choices require smart data, so as to shape better
lives for the present generation and the ones of the future.
We know that many common measurements — such as the GDP and the Human Development Index — do
not deliver a full picture on well-being, notably its subjective dimension. One of the new means — Better Life
Index (elaborated by the OECD) — fares much better: it makes a real difference as a comprehensive tool and
deserves our support. It should be promoted across all of Europe, in particular beyond the OECD countries, in
complementarity with any existing national initiatives.
Council of Europe member States should also consider carrying out national audits on the implementation of
social and environmental rights for different population groups. This modernisation of the way we measure and
drive changes in society requires strong political impulse from national parliaments and this Parliamentary
Assembly.
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Better future through better policies is in our hands: let us not allow it to slip down the hill into the realm of
populism, extremism and empty promises; let us listen to the aspirations of our people and devise meaningful,
visionary and long-term solutions. This is how we remain truly committed to democracy.
And I would, at last, on behalf of the Social Affairs, Health and Sustainable Development Committee,
express to the Lord of Dundee our congratulations and gratitude for his excelente work.
ANEXO B
Speech by Mr. Mendes Bota, vice-president of the Social Affairs, Health and Sustainable Development , on
the presentation of the report HANCOCK (doc. 13636), about “Social exclusion –a danger for Europe’s
democracies”
Standing Committee of the Parliamentary Assembly of the Council of Europe
Brussels, 18th November 2014
Mme. President,
Dear Colleagues,
Ladies and Gentlemen
In the absence of Mr Hancock who cannot attend the meeting, I have the pleasure to make the presentation
of his report on “Social exclusion – a danger for Europe’s democracies”
Social exclusion is a growing and serious danger for Europe’s democratic societies. Social exclusion is the
exclusion of certain people from participating fully in democratic and civil life, often by virtue of their poverty,
lack of basic competencies and lifelong learning opportunities, or as a result of discrimination.
Social exclusion has increased in recent years due to the impact of the financial crisis and austerity
measures applied by governments. Widespread consequences have been rising unemployment, decreasing
social benefits and difficulties in accessing housing, education and health services.
There is a strong correlation between social exclusion and low levels of democratic participation, which — if
not tackled — can call into question the legitimacy of democratic institutions. In some cases, this had led to the
rise of extremist parties and groups in and outside of the democratic system.
This lack of self-determined political participation in the democratic process could for example be seen in
the rising disaffection of many young people, or a lack of engagement among minorities or women, who are
found to be significantly less politically active. We can also observe a widening gap between the poor and the
rich, with those with lower education and income levels being much less likely to participate in political
processes.
To ensure social cohesion and access to civil and political rights for all, the state has an important role to
play. Public policies need to combine both broader approaches promoting social cohesion, and more specific
action aimed at fighting against social exclusion, differentiated for different stages of the life-course, notably
early child-hood, youth, working-age adulthood and later life.
Policies should be largely based on the prevention of exclusion and aimed at breaking “cycles of
disadvantage”, rather than on managing and alleviating the symptoms of exclusion. Some relevant measures
have already been promoted by earlier texts of the Assembly, such as the ones on combating poverty, youth
unemployment, decent pensions or child poverty (which will not be quoted in more detail here).
Guaranteed minimum levels of family income are necessary, either by providing an overall legal minimum
wage, or by facilitating sector agreements achieved through social dialogue.
An essential element of inclusive labour-market policies is the redistribution of work amongst the working
population through education and training. Also needed are growth strategies, which do not only lower
unemployment levels in the short term (for example through precarious part-time work), but also create quality
jobs allowing long-term participation in social security systems.
Public policies also need to pay specific attention to certain vulnerable groups. Amongst the groups in need
of special support are migrant workers, ethnic minorities, working women, children and young people and
people with disabilities, who are all disproportionately hit by the crisis.
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Promoting the democratic participation of those who are marginalised or at risk of exclusion is a complex
challenge, but absolutely necessary for a sustainable democracy. National action plans, which specifically
address this issue, could be an important standing point. Other possibilities for action could be the introduction
of elements of direct democracy; civic education at an early age; the promoting of ‘easy to understand’
communication about political decisions and processes; and as the most extreme measure, the introduction of
compulsory voting.
The Commissioner for Human Rights of the Council of Europe recently confirmed through his own research
that the right to participate in public affairs and to transparency has suffered as a result of the crisis. Failure to
consult with the people over important measures such as austerity can cause serious social unrest and
engenders mistrust in the democratic system. It is therefore important for governments to uphold the highest
standards of democracy and good governance at any time.
To promote the above-mentioned social and civic rights, the Council of Europe has developed legal
standards to tackle social exclusion, such as the revised European Social Charter. Next to the specific
recommendations to national governments just referred to, it is therefore important for us to further promote the
signature, ratification and implementation of the Charter by member States. Both these objectives are pursued
by the draft resolution and recommendation submitted to you herewith which I would invite you to support.
ANEXO C
Speech by Mr. Mendes Bota, rapporteur on “Prostitution and Trafficking” of the Parliamentary
Assembly of the Council of Europe, at the seminar about “Trafficking” organized by the Scandinavian
Human Rights Lawyers
Brussels, European Parliament, 18th November 2014
Ladies and gentlemen,
First of all let me thank the organisers of this conference for inviting me. It is really a pleasure to remember,
one year and a half after, the visit I conducted to Sweden for the preparation of my report on “Prostitution,
trafficking and modern slavery in Europe”.
Sweden and my country, Portugal, have something in common, something which is very relevant to the
cause that brought us here today.
Back in 1761, Portugal was the first country to abolish slavery. Other European countries followed this
example only many years later. In 1999, Sweden was the first country adopting groundbreaking legislation on
prostitution, followed by others, such as Norway, Iceland and, most recently, Canada. That was a major step in
the fight on today’s slavery — that is trafficking in human beings.
The origin of the report
I do not need to explain to this audience that the Swedish law on prostitution is based on the idea that
people in prostitution are victims of a system, not criminals, and that the most effective way to reduce
prostitution is to target those who buy sexual services, not those who sell them. In turn, as the vast majority of
people in prostitution are victims of trafficking in human beings, reducing prostitution is instrumental to fighting
trafficking.
However, I did feel the need to explain this concept to my colleagues at the Parliamentary Assembly and,
through them, to the Parliaments and the Governments of all the Council of Europe member states. That
means 47 Parliaments. Most of them do not share Sweden’s approach to prostitution. Some of them are
discussing reforms of their legislation which may bring them in line with this approach. Some other are perhaps
not even familiar with it.
I deemed it necessary to prepare a report for the Parliamentary Assembly of the Council of Europe on the
link between prostitution and trafficking in Europe, and to have a resolution discussed by the Parliamentary
Assembly, for various reasons:
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- because all European countries are affected by the scourge of trafficking in human beings, whether as
countries of origin, of transit or of destination – often, these three things combined. It is to a large extent an
international challenge, and it requires an international response.
- because Parliamentary Assembly has an added value: it is the pan-European “Parliament of Human
rights”, and prostitution and trafficking should be dealt with under the angle of human rights. Not simply as
social or criminal matters. The human rights of people in prostitution, those whom some like to call “sex
workers”. And the human rights of victims of trafficking.
And finally,
- Because I was aware of the way Sweden was facing this challenge, and I thought it was worth learning
more about it, and possibly share my findings with legislators and policy makers from the rest of Europe.
So I initiated the report following the tabling of a motion on “Criminalising the purchase of sexual services as
a way of combating trafficking in human beings”, subscribed by my ex-colleague and friend, Luca Volontè. As
you can see, the idea from the beginning was to investigate the Swedish legislation and possibly to recommend
it as a model to other Council of Europe member states. Later on, I proposed to change this title into
“Prostitution, trafficking and modern slavery in Europe”, as the report had progressively expanded its scope.
And also in order to leave it to the audience, like in a crime novel, to find the solution at the end of the story, not
in the title.
The preparation of the report
So, I came to Sweden and I met with a variety of stakeholders.
I had of course the pleasure to meet with Ms Wahlberg. But I also had meetings with civil servants of the city
of Stockholm, who work with clients of prostitutes and help them give up their habit. With representatives of the
civil society, among which Ms Ruth Nordström of the Scandinavian Human Rights Lawyers, whose commitment
to the action against trafficking of human beings is remarkable.
I also spoke with representatives of “sex workers”. Both in Sweden and in the other countries I visited,
representatives of people in prostitution told me that most of them chose this activity out of free will. I listened
to them carefully and respectfully, but I don’t think what they said was correct. They were in fact representatives
of the “old guard”.
Maybe – I underline, maybe – in the past the figure of the prostitute who chose to sell her body to make a
living was more widespread. I am not sure. But I know for sure that most prostitutes today are victims of
trafficking. They are lured to our countries with promises of good jobs and a good life, and then forced into the
sex business. They are threatened, beaten, raped. And of course, once they are in this business they cannot
leave it, because this would equal a loss of big money for those who exploit them.
After Sweden, I visited Switzerland, Germany and the Netherland. These countries, as you know, chose an
entirely different approach to prostitution. They chose the way of legalisation. They did so with understandable
intentions: improving the life of people in prostitution, combating the social stigma attached to this activity,
countering organised crime.
Sadly, they failed. The world of sex business turned out to be very difficult to keep under control. In
Germany, the legislation does not cover all the aspects of the business and it is not enforced rigorously
enough. Prostitution was meant to become a job like any other, but this did not happen. On the contrary, it is
more than ever the realm of exploitation, violence and deprivation of human dignity.
In Switzerland, although the political will to counter trafficking and to protect people in prostitution is visible,
this matter is not smooth either. The federal nature of the country and the fragmentation of the administration
make things even more difficult. Regulations vary from canton to canton, data collection is not harmonised, it is
difficult to have country-wide estimations, let alone data.
In the Netherlands, I was impressed with the professionalism of people dealing with prostitution in the
various branches of the administration, at national and local level. They seem to have a good knowledge of the
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phenomenon. They had action plans based on a pragmatic approach. They seemed open to cooperation with
international partners.
The police, for example, told me that they had exchange with Swedish colleagues, even though legislation
and policies in the two countries are completely different. Nevertheless, I had the impression, based on these
meetings but also on research, that even in the Netherlands the fight against human trafficking was far from
won. That the link between prostitution and trafficking existed there, like everywhere else, and it was not getting
any weaker.
Conclusions of the report
After one year of work, involving several hearings at the Parliamentary Assembly, four country visits and
quite some research, I found myself back to the starting point. I came to the conclusion that the Swedish
legislation, based on criminalising the purchase of sexual services – in other words, on targeting the “client” –
was the best option. The report refers to several “lessons learnt” in the other countries I visited”.
But, the main lesson is the one that Sweden taught us in 1999. The Swedish legislators back then were
brave enough to introduce a completely new approach. They dared the public opinion, as that kind of regulation
was difficult to explain and difficult to understand. But about 15 years later, they have won their dare. We can
now claim, on the basis of a series of indications, that the new system proved successful in curbing the demand
for sex workers and, in turn, for victims of trafficking.
That is why the draft resolution I prepared, which was then adopted by the Assembly, recommends that all
member states “consider”, at least, the adoption of this kind of legislation. I chose this relatively soft wording as
I deemed it appropriate from the beginning to avoid an ideological attitude. I also avoided philosophy. I came
across philosophical questions: “what is free will?”, for instance, when we discuss whether prostitutes sell their
body out of their free will. But I decided not to go deep into these questions. My aim throughout the preparation
of the report was to take into account first and foremost the human rights of people involved.
This allowed me to include in the resolution some elements of “harm reduction”. Some of the measures the
Assembly indicates are recommended to all countries, irrespective of the legal approach they adopted.
- For instance, advertising sexual services, whether in a clear or a disguised way, should be banned in any
case, even in countries where selling or buying such services is legal.
- Pimping should always be criminalised.
- Counselling centres should provide people in prostitution with legal and health assistance.
- “Exit programmes” are crucial. We should not only help people not to end up in the sex business, but
also help them leave it if they so wish. This requires rehabilitation, orientation training. It is very important.
- Raising the minimum legal age for prostitution would also be a good idea. Twenty-one is certainly better
than eighteen, for instance.
Then, of course, the resolution indicates specific measures on trafficking:
International criminal cooperation against it should be strengthened. We recommended:
- That all European countries sign, ratify and implement the Council of Europe Convention on Action
against Trafficking in Human Beings (ETS No. 197);
- That they introduce action plans on human trafficking;
- That they reinforce co-operation with Europol and increase the financial and human resources allocated
to this organisation.
Let me add a general remark:
1) we need more information. We need figures on prostitution and trafficking. And these figures must be
comparable, because they will guide law enforcement and policies at national and international level.
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2) We need all countries to allocate more resources for anti-trafficking, irrespective of which legal approach
they follow as concerns prostitution. Whether its legalising or criminalising any or all aspects of prostitution,
they should always make sure that they have enough human and financial resources to counter this scourge.
They need to have enough staff and this staff have to be adequately trained.
These are some the main points that I meant to raise, but I would like to add some more considerations.
“Some say that slavery has disappeared from European civilization. That is incorrect. It still exists, but now it
weighs only on women, and it is called prostitution!”
“Prostitution”, he said, “is about society buying a slave. From whom? From misery! Again Victor Hugo
words: “A soul for a piece of bread. Misery makes the offer; society accepts!”
These words, written a long time ago, are still true. They apply to the vast majority of people in prostitution
today.
We also often say that trafficking is a modern form of slavery.
And, if on one hand demand must be discouraged, on the other side of the roots problem, we find extreme
poverty, and what I call the Devil’s Troika, that joins Migration to Trafficking and Sexual Exploitation.
Not by chance, all available statistics point out the fact that more than 2/3 of the victims of trafficking are
bound for sexual exploitation and forced prostitution, and more than 2/3 of these victims are women and girls.
Although distinct phenomena, there is a clear and strong link between prostitution and trafficking.
Legalizing prostitution was not a successful solution, as criminal organizations never were so prosperous
and the protection and status of prostitutes did not improved as expected at the time of the laws adoption.
But it must also be said, that criminalizing the sale of sexual services was a regretful exercise of
mystification and hypocrisy.
As I said before, we need more figures, more data base collection. But we have some estimations, what I
call approaches from reality. For instance, every year, between 70.000 and 140.000 people are trafficked in
Europe. 84% of them, are trafficked into forced prostitution.
Last week, in Paris, I heard in a conference about this subject, that 90% of prostitutes are foreigners,
coming from Bulgaria, Romania, Nigeria, Cameroun or China. 85% of prostitutes are women, and 90% of the
buyers are men.
Back four years ago, inquiries conducted on the context of a UK Campaign against trafficking and forced
prostitution, it was learnt that 68% of prostitutes suffer from strees post-traumatic, 95% of them are addicted to
drugs, the rate of mortality amongst them is twelve times more than the average rate and that 9 in every ten
women would like to quit prostitution.
Some people say prostitution is sex work. I don’t think this designation should be used. Neither is work, see
ILO’s definition of work, neither is sex, but violence against the most vulnerable people, exploited by pimps and
international maffiosi networks. We are talking about migrants, women as majority, frequently minors.
In Germany, the police department responsible for fighting agains “crime related to nightlife” have been
warning about the development of criminal organizations, growing like mushrooms, on the control of the
trafficking/prostitution business, such as:
“Albanian clans”
“Balcan syndicates”
“Ukrainian gangs”
“Lebanese mafia”
“Turkish criminal groups”
“Lithuanian criminal groups”
“Bulgarian pimp gangs”
“Male or female Nigerian pimps”
“Hell Angels, the rocker gangs”
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And maybe some more.
I believe that giving men the right to buy a woman, is the same as giving pimps the right to sell them.
A majority of our society, was not be able yet to overpass the “clichés” era about prostitution:
- “Women can control their sexual urges. Men don’t!”. Why?
- “No prostitution means more rapes”. What a lie.
- “Prostitution is a necessary evil”. Killing is also a necessary evil?
- “Prostitution is better than other things.” That does not makes it good.
- “Prostitution is the oldest profession in the world.” No, prostitution is the oldest oppression against
women in the world!
Given all what I have been describing, can we talk about prostitution as a “free choice”? How much more
time will society keep its eyes closed to the new form of slavery just next door?
For me, is time to say: no more slavery! No more!
Annex to Mr. Mendes Bota speech
Programme of the visit to Sweden, 21-22 May 2013
Tuesday 21 May
08.15-09.15 Meeting with Ms Marie Johansson, employee at the Social Services of the Municipality of
Stockholm working with KAST (“Buyers of Sexual Services”).
09.30-10.30 Meeting with Ms Anna Skarhed, Chancellor of Justice and main author of the Swedish
Government Official Report on “Prohibition on the purchase of sexual services — an evaluation 1999-2008”
and Ms Magdalena Wikstrand Danelius, Legal Advisor, Division for Criminal Law at the Ministry of Justice.
10.45-11.45 Meeting with Ms Ruth Nordström, President of Scandinavian Human Rights Lawyers.
12.00-13.00 Lunch with Members in the Swedish Delegation to PACE Ms Marietta de Pourbaix-Lundin
(EPP/CD), Mr Jonas Gunnarsson (SOC), Mr Lennart Axelsson (SOC), Ms Tina Acketoft (ALDE), Ms Carina
Ohlsson (SOC).
13.00-13.30 Meeting with Mr Morgan Johansson (Social Democratic Party), Chairman of the Committee on
Justice and Mr Johan Linander (Centre Party) Deputy Chairman of the Committee on Justice.
13.45-14.45 Meeting with Ms Petra Östergren, PhD-student at Lund University in Social Anthropology,
studying the Swedish Sex Purchase Act.
14.45-15.45 Meeting with MS Pye Jacobsen, founding member and President of Rose Alliance.
Wednesday 22 May
09.30-10.30 Meeting with Ms Kajsa Wahlberg, Sweden’s National Rapporteur on Trafficking and detective
inspector at the Department for Police Affairs of the National Police Board, Mr Simon Häggström, police officer
working on the field with trafficking and Mr Patrik Cederlöf, National coordinator against prostitution/trafficking
at the County Administrative Board of Stockholm.
10.45-11.45 Meeting with Ms Ulrika Westerlund, Chairman of the Swedish Federation for Lesbian, Gay,
Bisexual and Transgender Rights (RFSL).
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ANEXO D
Speech by Mr. Mendes Bota, General Rapporteur on Violence Against Women of the Parliamentary
Assembly of the Council of Europe at the Event on “Ratifying the Istanbul Convention – European
Parliament’s next challenge on the fight against domestic violence””, organized by MEP Beatriz
Becerra
Brussels, European Parliament, 19th November 2014
Dear colleagues,
Ladies and Gentlemen
It is always a pleasure to be amongst you. I was myself a member of the European Parliament in the past
and, why not, I hope I will have the pleasure to be a member again in the future.
I will not spend time mentioning how women’s rights and the issue of violence against women has
influenced the last eight years of my political career.
I do not need to mention my former and current responsibilities in the Parliamentary Assembly of the
Council of Europe (including the Parliamentary Network “Women Free from Violence”). You have that
information. So, let’s go straight to the point.
Introduction
I have been invited to talk about the Istanbul Convention, which is the short name for the by-now famous
Council of Europe Convention on preventing and combating violence against women and domestic violence.
Perhaps this is not very orthodox but let me start by the end. The Istanbul Convention contains the end
vision of the future we have been fighting for. The day in which the Istanbul Convention is fully implemented,
this world will be much safer, much fair and more respectful of human rights, both for women and for men.
The Istanbul Convention calls for a society based on gender equality, free of discrimination, in which nobody
can be humiliated, attacked, enslaved, exploited, coerced into marriage, ON ACCOUNT OF THEIR GENDER.
In this society of the future – in which we believe – nobody will explain, justify, minimize or condone violence
against women invoking religion, tradition, or customs.
As from the first of August this year, when the Istanbul Convention entered into force, this society of the
future is getting closer. I shall not stop working for the society of the future to be the society of the present. And
this is the reason why I am here today, to ask you to work with me to achieve this objective.
The many ways to describe the Istanbul Convention
I believe that, despite its young age, the Istanbul Convention has already set a record: no other treaty has
been defined in so many ways and praised for so many reasons.
The most common words to describe it are: unique, unprecedented, innovative, comprehensive, far-
reaching, landmark.
Ms Lakshmi Puri, Deputy Executive Director of UN Women, defined the Istanbul Convention as ‘the gold
standard’. I agree with her.
The added value of the Convention
The Istanbul Convention is the first binding instrument which explicitly recognises violence against women
as a violation of human rights and a form of discrimination.
It is the first international treaty to contain a definition of gender, which refers to “the socially constructed
roles, behaviours, activities and attributes that a given society considers appropriate for women and men”.
This means that it is now recognised that women and men are not only biologically female or male, but that
there is also a socially constructed category of gender that assigns women and men their particular roles and
behaviours.
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It asks States to introduce a set of criminal offences such as female genital mutilation, forced marriage,
psychological violence, stalking, sexual harassment, sexual violence including rape, forced abortion and forced
sterilisation.
One of the main assets of the Istanbul Convention is that it is based on a holistic approach – the so-called 4
Ps:
- Preventing violence
- Protecting the victims
- Persecuting the perpetrators
- Integrated policies
This means that, to tackle violence against women, all these aspects must be addressed.
At the same time, it is necessary to bring together all the relevant actors: public authorities at national,
regional and local level, police, judges, civil society, as well as national human rights institutions. Ministries,
State agencies and NGOs should not act alone but in synergy and cooperation. Violence against women and
domestic violence must be tackled in a co-ordinated way.
Going beyond the golden standard
The Istanbul Convention offers a set of golden rules that can be applied in a variety of countries. The status
of women varies greatly amongst different Council of Europe member States. However, even though in
different ways, wherever they are all women share the scourge of gender-based and domestic violence.
Let me underline an important point. The Convention sets high standards and some of its principles are
entirely new to the legal systems of our countries. However, these standards are a minimum threshold. Nothing
prevents States from going even further. On the contrary, States parties are encouraged to widen the scope of
the norms and introduce even more protective measures.
Furthermore, the Istanbul Convention can be applied to all victims of domestic violence, irrespective of their
gender. Women are by far the largest group of victims. But men, children and the elderly may also suffer at the
hands of their family members.
They may need protection as well.
Celebrating the entry into force
In September 2014, the Italian Chamber of Deputies, in cooperation with the Italian Ministry of Foreign
Affairs and the Council of Europe organised a big conference in Rome to mark the entry into force of the
Istanbul Convention.
This great achievement, which is certainly one to celebrate, does not mean that our efforts are over. The
extent of violence against women and the lack of awareness around it suggest that the Istanbul Convention will
be the starting point of a long process to change the heart and minds of people.
Implementation and monitoring
No matter how good the standards are, they are worthless if they are not implemented.
The Istanbul Convention adds value to its standards as it establishes a strong monitoring mechanism, which
should become operational starting from March 2015.
This mechanism will include two bodies:
- the GREVIO, Group of experts on action against violence against women and domestic violence, made
up of 10 to 15 members with a four year mandate;
and
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- the Committee of the Parties, composed of representatives of the State Parties to the Convention.
GREVIO members will be people competent in the fields of human rights, gender equality and violence
against women. They will have to be not only competent, but also independent in the exercise of their functions.
Parliaments will also be involved in monitoring the implementation of the Convention. Monitoring will be
based on reports submitted by the State parties, but also on information provided by the parliaments.
This involvement of parliamentarians is twofold: at national level, parliaments will participate in monitoring
the measures taken by the State parties to implement the Convention; at a European level, the Parliamentary
Assembly of the Council of Europe will be invited to regularly take stock of the Convention.
It will have the opportunity to raise concerns, indicate shortcomings, and draw attention to the need to turn
specific provisions of the Convention into reality.
This is another innovative element of this landmark convention. And it’s good news not only for us
parliamentarians, but for all citizens. In fact, it is in the best interests of everybody that elected representatives
be allowed to give their contribution to the very important task of monitoring the implementation of the
Convention.
How to amplify impact
As you certainly know, the Agency for Fundamental Rights recently published the most comprehensive
survey on violence against women ever carried out in the European Union. The survey indicates that:
- 28 per cent of women have experienced physical and/or sexual violence since the age of 15;
- 22 per cent have experienced this kind of violence from their partner,
- 7 per cent have experienced physical violence in the course of the 12 months before the survey. This
means 13 MILLION WOMEN in total.
And, as if this were not disturbing enough, set against these alarming figures, there is A VERY LOW
CONVICTION RATE.
Victims’ awareness
If we want the Istanbul Convention to have a real impact on the lives of women, one of the main challenges
is to create the conditions for victims to realise what is happening to them and its gravity.
The majority of women who are victims of violence do not report it to the police. Many of them do not even
inform their friends or support structures.
All too often violence against women is not acknowledged as a human rights violation, even by its victims.
Some women feel that they are partly responsible for it, excuse it, justify it, FORGIVE it.
At a meeting of the Parliamentary Network Women Free from Violence, in October 2013, we heard this
directly from a former perpetrator of domestic violence, who told us his story: he humiliated and abused his
partner, psychologically and physically. He tried to kill her. But she always protected him, denying what was
happening even when the police came round to their home after having been called by neighbours. It took this
woman ten years to file a complaint. By doing this, she certainly saved her life. And, to quote his own words,
she also saved the life of the perpetrator, who decided to face the problem and undertook voluntary
rehabilitation.
Trust
For victims to report what is happening to them, we must ensure that they can trust the authorities, in
particular the police and the judicial system. We must ensure that they will not be subjected to secondary
victimisation, to public humiliation, to lengthy judicial proceedings, to injustice.
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I was astonished when, during a hearing on the ‘mediatisation of rape’ organised by the Network, a social
worker said: “if someone I know well such as a friend or a relative was raped, I would advise her not to report it
to the police because what happens next is a continuation of suffering and humiliation”.
I was shocked as a legislator but sympathetic as a human being. It takes an awful lot of courage and
resilience to face criminal proceedings of this kind, in which all too often the role of victims and perpetrators are
reversed and women have to prove – either in court or to society — that they did not provoke violence, that
they physically opposed it, that they did not give consent. No wonder the number of cases that fall out of the
system is so high.
Knowledge
The FRA study also highlights lack of knowledge:
- 19 percent of women in the EU are not aware of any organisation or victim support services,
- 41 percent are not aware of specific laws or political initiatives to protect women,
and
- only 50 percent have seen or heard of campaigns on violence against women.
Raising awareness: the Network
The role of Parliamentarians in countering violence against women has a wide scope, and certainly
demands more action in the area of awareness-raising.
To this end, the Parliamentary Assembly of the Council of Europe has set up a special structure: the
Parliamentary Network Women Free from Violence. This body was established to participate in the Council of
Europe campaign on Violence against Women, in 2006-2008. At the end of the Campaign, we realised that we
should go ahead. Our new objective became first shaping and then promoting the entry into force of the
Istanbul Convention.
In the three years during which the text of the Convention was negotiated, I participated in the drafting group
on behalf of the Parliamentary Assembly.
After the Convention was opened for signature, in 2011, all Network members we started to work as
Ambassadors of the Istanbul Convention in our national parliaments, by asking questions to relevant Ministers,
introducing bills and legislative initiatives, speeding up signature and ratification.
We shared information on legislation and policies in our respective countries.
The Network has published a huge amount of information material. Just consider that our Handbook for
Parliamentarians on the Istanbul Convention, which can actually also be very useful for NGOs and other
stakeholders, is now available in 16 languages! For that, we have to thank the voluntary contributions of a
number of parliaments and other donors.
We have a Facebook page which is a precious source of information. I invite you all to “like” it and become
followers.
In fact, I invite you to become ‘FRIENDS’ of the Network, to follow our activities and receive our newsletter.
I can tell you that all this work has been instrumental to catalyse political support for the Istanbul
Convention, and that without the lobbying, pressure and networking of our parliamentarians nowadays we
would not have achieved the entry into force of our precious gold standard.
Conclusion
Dear colleagues,
Ladies and Gentlemen
As of today, 15 Council of Europe member States have ratified the Istanbul Convention. Only 8 of them are
members of the European Union: Austria, Denmark, France, Italy, Malta, Portugal, Spain, Sweden.
What are the others waiting for?
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I tell you more, also the European Union as such could accede to this Convention. It is explicitly foreseen.
I call on you to join me and the other members of the Parliamentary Network “Women Free from Violence”
to become ambassadors of the Istanbul Convention, and put pressure on national governments on the one
hand, and on the European Commission on the other to ensure that the Istanbul Convention becomes our
common gold standard, our law, our Constitution for a society based on equality and human rights.
Thank you.
Council of Europe Convention on preventing and combating violence against women and domestic violence
CETS No.: 210
Treaty open for signature by the member States, the non-member States which have participated in its
elaboration and by the European Union, and for accession by other non-member States
Opening for signature Entry into force
Place:Istanbul
Date : 11/5/2011
Conditions: 10 Ratifications including 8 Member States.
Date : 1/8/2014
Status as of: 14/11/2014
Member States of the Council of Europe
Signature Ratification Entry into force Notes R. D. A. T. C. O.
Albania 19/12/2011 4/2/2013 1/8/2014
Andorra 22/2/2013 22/4/2014 1/8/2014
X
X
Armenia
Austria 11/5/2011 14/11/2013 1/8/2014
Azerbaijan
Belgium 11/9/2012
Bosnia and Herzegovina 8/3/2013 7/11/2013 1/8/2014
Bulgaria
Croatia 22/1/2013
Cyprus
Czech Republic
Denmark 11/10/2013 23/4/2014 1/8/2014
X
Estonia
Finland 11/5/2011
France 11/5/2011 4/7/2014 1/11/2014
X
Georgia 19/6/2014
Germany 11/5/2011
X
Greece 11/5/2011
Hungary 14/3/2014
Iceland 11/5/2011
Ireland
Italy 27/9/2012 10/9/2013 1/8/2014
Latvia
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Liechtenstein
Lithuania 7/6/2013
X
Luxembourg 11/5/2011
Malta 21/5/2012 29/7/2014 1/11/2014
X
Moldova
Monaco 20/9/2012 7/10/2014 1/2/2015
X
Montenegro 11/5/2011 22/4/2013 1/8/2014
Netherlands 14/11/2012
Norway 7/7/2011
Poland 18/12/2012
X X
Portugal 11/5/2011 5/2/2013 1/8/2014
Romania 27/6/2014
Russia
San Marino 30/4/2014
Serbia 4/4/2012 21/11/2013 1/8/2014
X
Slovakia 11/5/2011
Slovenia 8/9/2011
Spain 11/5/2011 10/4/2014 1/8/2014
X
X
Sweden 11/5/2011 1/7/2014 1/11/2014
X
Switzerland 11/9/2013
The former Yugoslav Republic of
Macedonia 8/7/2011
Turkey 11/5/2011 14/3/2012 1/8/2014
Ukraine 7/11/2011
United Kingdom 8/6/2012
Non-members of the Council of Europe
Signature Ratification Entry into force Notes R. D. A. T. C. O.
Canada
Holy See
Japan
Mexico
United States of America
International Organisations
Signature Ratification Entry into force Notes R. D. A. T. C. O.
European Union
Total number of signatures not followed by ratifications: 21
Total number of ratifications/accessions: 15
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Notes:
a: Accession — s: Signature without reservation as to ratification — su: Succession — r: Signature "ad
referendum".
R.: Reservations — D.: Declarations — A.: Authorities — T.: Territorial Application — C.: Communication — O.:
Objection.
Source : Treaty Office on http://conventions.coe.int – * Disclaimer
A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.