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Quinta-feira, 3 de agosto de 2016 II Série-D — Número 12

XIII LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2015-2016)

S U M Á R I O

Delegações da Assembleia da República:

— Relatório da participação da Assembleia da República na LV COSAC, que se realizou em Haia nos dias 12 a 14 de junho de 2016.

— Relatório da participação da Assembleia da República na Reunião de Presidentes da COSAC, que se realizou em Bratislava nos dias 10 e 11 de julho de 2016.

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DELEGAÇÕES DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA LV COSAC, QUE SE

REALIZOU EM HAIA NOS DIAS 12 A 14 DE JUNHO DE 2016

Delegação:

Presidente da Comissão de Assuntos Europeus, Deputada Regina Bastos; Deputado Duarte Marques

(PSD); Deputado Manuel Rodrigues (PSD); Deputado António Gameiro (PS); Deputado Vitalino Canas (PS); e

Deputado Álvaro Castelo Branco (CDS-PP).

A Delegação foi acompanhada pelo assessor da Comissão de Assuntos Europeus, João Almeida Filipe, e

pela Representante Permanente da Assembleia da República junto da União Europeia, Maria João Costa.

Do programa da LV COSAC constaram, para além das sessões de abertura e de encerramento, cinco

Sessões temáticas e duas sessões informais realizadas à margem da COSAC, no período de intervalo

reservado para o almoço entre as duas primeiras sessões no primeiro dia:

 Sessão I: Escrutínio Parlamentar – partilha de boas práticas

Sessão Informal sobre a implementação do Céu Único Europeu a pedido da Delegação dos relatores do

Parlamento dos Países Baixos

Sessão Informal sobre a economia colaborativa a pedido da Delegação do Parlamento da Estónia

 Sessão II: O papel dos Parlamentos nacionais na proteção do Estado de Direito na União Europeia

 Sessão III: Partilha de boas práticas e experiências em Diplomacia Parlamentar

 Sessão IV: Tribunal de Contas Europeu

 Sessão V: Migrações

As Sessões foram gravadas (vídeo) e estão disponíveis no seguinte endereço

https://www.parleu2016.nl/c/33/a/1660, pelo que o presente relatório se cinge a uma síntese das

apresentações e debates ocorridos nas Sessões supracitadas (abertura, encerramento, temáticas e informais),

concluindo com algumas notas sobre as principais questões a serem consideradas pela Assembleia da

República.

SESSÃO DE ABERTURA

Ankie Broekers-Knot Presidente do Senado dos Países Baixos deu as boas vindas aos participantes da

LV COSAC e fez uma intervenção na qual referiu o modo como a Europa tem de lidar com o atual cenário de

instabilidade que enfrenta.

De seguida, Tuur Elzinga, Presidente da Comissão de Assuntos Europeus do Senado dos Países Baixos,

pôs à consideração a adoção da agenda da LV COSAC pelas delegações presentes, o que sucedeu por

consenso, partilhou os resultados da reunião da Troica no dia anterior, e deu conta das cartas recebidas pela

Presidência: de Kalle Palling, Presidente da Comissão de Assuntos Europeus do Riigikogu da Estónia,

pedindo apoio no sentido de facilitar uma sessão informal à margem da LV COSAC subordinada à economia

colaborativa; de Carles Ensenat, Presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros do Conselho Geral de

Andorra, manifestando interesse em participar na reunião da LV COSAC, donde tinha resultado, após consulta

à Troica, uma carta convite endereçada ao Parlamento de Andorra.

Seguiu-se uma intervenção do Primeiro-Ministro dos Países Baixos Mark Rutte, sobre a Presidência

neerlandesa da UE, na qual referiu ser prematuro realizar um balanço naquele momento, quando ainda havia

trabalhos por fazer – ainda nesse dia se estaria a organizar um conferência sobre o mercado interno – e que

recordou a necessidade de resolver questões como a do Mediterrâneo e a guarda costeira europeia, da União

Bancária, do terrorismo e do mercado interno na dimensão do crescimento e do emprego reforçando a

importância dos Parlamentos nacionais trabalharem em conjunto.

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Em resposta ao convite para serem colocadas questões ao Senhor Primeiro Ministro, pediram a palavra as

Delegações da Alemanha (KRICHBAUM), Itália (ROMANO), Portugal (V. CANAS), Estónia (PARTS) e Reino

Unido (FALKNER), Eslováquia (BLAHA) abordando as questões do relacionamento da UE no dossier Rússia-

Ucrânia, o reforço das fronteiras externas europeias, a exposição dos bancos e as previsões relativas ao

CETA e ao TTIP.

O Senhor Deputado Vitalino Canas (PS) frisou que Portugal considera eventuais sanções injustas,

injustificadas e contraproducentes quando cumpriu as obrigações e compromissos assumidos. Se forem

impostas sanções tal implicará um desprestígio das instituições europeias sem precedentes, pedindo opinião

sobre este assunto.

Em resposta, o Primeiro-ministro Mark Rutte referiu conhecer pedido de aconselhamento jurídico do

Eurogrupo no sentido de se esclarecer da possibilidade de não aplicação de sanções ou de minorá-las,

revelando o seu interesse nas conclusões deste parecer. Notou que as economias europeias devem convergir

numa economia alta e de que por vezes é necessário austeridade, a qual quando não é cumprida pode

suscitar questões junto da Comissão Europeia, concluindo que a União Europeia deve manter-se unida.

SESSÃO I: ESCRUTÍNIO PARLAMENTAR – PARTILHA DE BOAS PRÁTICAS

Abertura da sessão pelo Presidente da Comissão de Assuntos Europeus da Eerste Kamer, Tuur Elzinga;

Moderação por Marit Maij, membro da Tweede Kamer; Apresentação das principais conclusões do 25º

relatório Bianual da COSAC por Christiana Fryda, membro permanente do secretariado da COSAC.

Após a abertura da sessão, Marit Maij deu palavra a Christiana Fryda para apresentar as principais

conclusões do relatório Bianual da COSAC, focando a questão da partilha de informação no escrutínio e

cooperação parlamentar, nomeadamente no que diz respeito ao uso de relatores e aos procedimentos de

cartão amarelo e cartão verde, abordando-se, ainda, os trílogos.

— relatores —

As Delegações da Bélgica (Câmara dos Representantes), de Portugal e da Roménia (Senado) foram

convidadas a partilhar modelos de boas práticas nesta matéria.

O Senhor Deputado Duarte Marques (PSD) esclareceu que o Parlamento português tinha a experiência

de relatores permanentes desde o passado dia 1 de junho, compreendendo no momento um conjunto de oito

temas, com dois relatores designados para cada garantindo a pluralidade, no sentido de promover a melhoria

do escrutínio dos assuntos europeus na Assembleia da República. Mencionou também a intenção de os

relatores permanentes permitirem funcionar como um ponto focal para partilha de informações com outros

Parlamentos nacionais em determinados assuntos, havendo a expectativa de poder ser um salto qualitativo no

acompanhamento dos assuntos europeus.

No debate que se seguiu, registaram-se intervenções do Reino Unido (Lord Boswell, House of Lords), de

Espanha, (Sanchez, Congresso dos Deputados), do Parlamento Europeu (Hubner) Grécia (Charakoupoulos),

Letónia (Cigane, Saeima), Hungria (Hörcsik), França (Auroi, Assembleia nacional), Eslováquia (Blaha) que

referiram as suas experiências e colocaram questões sobre este assunto.

— trílogos —

As Delegações de Malta (Bussutil), da Hungria (Horcsik) e de Itália (Romano) partilharam o panorama de

boas práticas nos respetivos Parlamentos nesta matéria, registando-se que a falta de consagração formal nos

tratados não afastava a importância dos trílogos no processo decisório da UE, admitindo, no entanto, a

dificuldade dos Parlamentos acompanharem este processo decisório face à falta de informação e de

transparência, o que deveria ser melhorado.

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No debate que se seguiu, registaram-se intervenções de Espanha (Moreno, Congresso dos Deputados), do

Reino Unido (Hopkings, House of Commons e Boswell, House of Lords), do Parlamento Europeu (Hubner), de

França (Cordery, Assembleia Nacional, e Sutour, do Senado), da Áustria (Schennach, Bundesrat austríaco)

que convergiram na opinião de que seria necessária uma maior transparência para permitir um melhor

escrutínio dos processos decisórios da UE.

O Senhor Deputado Manuel Rodrigues (PSD) usou da palavra para dizer que a transparência é crítica

para pessoas e opinião pública e para expressar preocupação com o 3º Pilar da União Bancária que ainda não

está concluído. A Presidência neerlandesa tinha na sua agenda a conclusão deste 3º pilar, subsistindo esta

preocupação, pois, embora continue na agenda das presidências, é um aspeto muito importante para a União

Europeia neste momento.

— Cartão amarelo e cartão verde: entrevista a Frans Timmermans, primeiro vice-presidente da

Comissão Europeia –

Em relação aos procedimentos do cartão amarelo e do cartão verde, Marit Maij entrevistou o primeiro vice-

presidente da Comissão Europeia, Timmermans, discutindo os instrumentos ao alcance dos Parlamentos

nacionais para influenciar a política europeia e de como devem ser usados no quadro do diálogo político.

Timmermanns começou por agradecer o convite e por lamentar o ataque em Orlando (EUA), sendo que a

resposta a dar à ameaça destes ataques tem sido uma questão prioritária na UE em contexto de crise. Depois

respondeu às questões que lhe foram sendo colocadas, nomeadamente no que dizia respeito ao cartão

amarelo desencadeado pela reação à Diretiva sobre o destacamento de trabalhadores, bem como ao bem-

sucedido cartão verde promovido pela House of Lords relativo ao desperdício alimentar e que esperava que

pudesse ser um exemplo a ser repetido no futuro. Quanto ao alargamento do prazo para escrutínio das

iniciativas pelos Parlamentos nacionais, ressalvou que tal não garante a melhoria da qualidade da legislação,

mas certamente compromete a necessidade de garantir tempos razoáveis no processo conducente à adoção

de legislação da UE. Em relação ao cartão vermelho, aguardar-se-ia pelos resultados do referendo no Reino

Unido agendado para o dia 23 de junho próximo. Enfatizando que, para além da questão da subsidiariedade e

da proporcionalidade, no caso do acionamento dos cartões é necessário discutir o problema na sua dimensão

política, concluiu com a importância da abertura e envolvimento dos Parlamentos nacionais nestes processos.

— Sessão Informal sobre a implementação do Céu Único Europeu a pedido da Delegação dos

relatores do Parlamento dos Países Baixos —

Na sessão informal, que decorreu no período de almoço, relativa à proposta legislativa sobre o “Céu Único

Europeu”, estiveram presentes representantes da Assembleia nacional Francesa, das Câmaras dos Comuns e

dos Lordes do Parlamento do Reino Unido, da Câmara de Deputados da Roménia, do Senado da Bélgica e da

Assembleia da República, o Sr. Deputado António Gameiro (PS). Estiveram igualmente presentes

representantes do Tribunal de Contas Europeu.

A reunião foi presidida pelos Deputados relatores do Tweede Kamer do Parlamento dos Países Baixos,

Martijn van Helvert e Salima Belhaj, que também dinamizaram a reunião.

A reunião iniciou-se com uma breve apresentação em powerpoint, na qual os Deputados neerlandeses

expuseram a importância desta proposta para os consumidores, companhias aéreas e transportadores aéreos

e abordaram o processo legislativo europeu, que se iniciou em 2013 e que se encontra pendente devido à

situação do aeroporto de Gibraltar. No final da exposição aludiram aos contributos recebidos de várias

Câmaras Parlamentares1 e apelaram a que existisse uma cooperação dos Parlamentos nacionais com vista a

acelerar a aprovação do Céu Único Europeu.

No debate, o representante da Câmara dos Comuns do Reino Unido abordou a questão da soberania e

controlo do espaço aéreo, enquanto a representante da Câmara dos Lordes do Reino Unido salientou a

importância desta iniciativa para reduzir a emissão de CO2. O representante da Assembleia Nacional

1 Entre eles, a Assembleia da República, que respondeu ao questionário pela Comissão de Economia, Comissão de Economia,

Inovação e Obras Públicas, competente em razão da matéria.

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Francesa abordou a compatibilização do Céu Único Europeu com os espaços aéreos consignados a voos

militares e as dificuldades que tal apresenta. O representante da Câmara dos Deputados da Roménia também

interveio referindo a importância desta iniciativa para os Estados-Membros mais periféricos, mas suscitando

também questões sobre a compatibilização das áreas civis e militares.

Os Deputados neerlandeses agradeceram a presença de todos na reunião e deram a mesma por concluída

a tempo do reinício dos trabalhos no plenário da COSAC.

— Sessão Informal sobre a economia colaborativa a pedido da Delegação do Parlamento da Estónia —

Após uma apresentação gráfica sobre o tópico em questão, com especial enfoque nas ações já

desencadeadas em alguns Estados Membros relativamente ao bloqueio de plataformas eletrónicas ou à

aplicação de sanções, nomeadamente no que diz respeito à UBER, AIRBNB, BOOKING.COM, deu-se espaço

a uma troca de impressões entre os presentes, na qual participaram membros das Delegações do Reino Unido

(House of Lords), França (Assembleia nacional), Portugal, Turquia e Polónia.

O Senhor Deputado Duarte Marques (PSD) usou da palavra para recordar que o Comissário Europeu

Carlos Moedas tinha referido na semana anterior ser necessário fazer algo em relação às novas realidades

como a UBER ou a AIRBNB. Nesse aspeto, o Senhor Deputado considerou que seria mais confortável contar

com legislação da UE para regular estas políticas, sobretudo tendo em conta lobby existentes no país. Referiu

ainda a necessidade de concluir o Mercado Único Digital e manifestou a opinião de que não seria necessária

mais regulação, mas antes pagamento de impostos, formação e seguros.

Do conjunto de intervenções realizadas resultaram expressas preocupações com a proteção do

consumidor, a segurança pessoal e a privacidade dos dados. Foram ainda questionadas: as fraquezas deste

tipo de economia; o momento após o qual se deve entender que se está a sobre regular esta economia; e de

qual o ponto de situação atual do debate no Parlamento Europeu sobre esta questão.

Em resposta a Delegação da Estónia esclareceu que na sua perspetiva mais do que regular preços o maior

interesse estaria na regulação das condições de segurança – por exemplo, contra incêndios para salvaguardar

situações de hóspedes em casas particulares com renda de curta duração (tal como sucede com o AIRBNB.)

Quanto aos arrendatário deveria ser dada a opção de escolha no sentido de quererem ser encarados como

trabalhadores por conta de outrem ou de quererem ser encarados como empresários em acumulação com

outra atividade regular para um rendimento extra.

SESSÃO II: O PAPEL DOS PARLAMENTOS NACIONAIS NA PROTEÇÃO DO ESTADO DE DIREITO

NA UNIÃO EUROPEIA

Moderador: Murray Hunt, Professor visitante na Universidade de Oxford.

Painel: Pieter VAN DIJK, antigo membro da Comissão de Veneza, especialista na check list da Comissão

de Veneza acerca do Estado de Direito; Sophie IN' T VELD, membro do Parlamento Europeu, relatora da

iniciativa sobre o estabelecimento do mecanismo da UE para a democracia, o Estado de Direito e os Direitos

fundamentais.

O moderador Murray Hunt, destacando as referências no 25º relatório bianual da COSAC relativas a este

tema, suscitou a questão de saber qual o papel reservado aos Parlamentos nacionais na proteção do Estado

de Direito, o que alcançaram até ao momento e o que poderiam fazer para um aprofundamento no futuro.

De seguida abriu a discussão ao painel onde Van Diik promoveu um debate sobre o Estado de Direito e a

democracia no quadro das circunstâncias e desenvolvimentos recentes na União Europeia e em que In' t Veld

acrescentou, em aditamento ao consenso desejável sobre as regras e princípios, o entendimento de que

também interessa considerar como como são aplicadas essas regras e princípios. O desenvolvimento de um

quadro comum para o Estado de Direito seria vantajoso, na medida em que se tratava de uma matéria que

extravasa o âmbito nacional.

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No debate que se seguiu intervieram consecutivamente as Delegações dos Parlamentos da Bélgica

(MAHOUX, Câmara dos Representantes), Reino Unido (CASH, Câmara dos Comuns); Portugal (António

GAMEIRO), Croácia (ILČIĆ), Itália (GINETTI, Senado), França (AUROI e CORDERY, Assembleia nacional),

Alemanha (KRICHBAUM, Bundestag), Polónia (OBREMSKI, Senado), Espanha (MAURA).

O Senhor Deputado António Gameiro (PS) na sua intervenção advogou que os Parlamentos nacionais

têm um papel muito importante na defesa dos Direitos Humanos, mas interrogou-se se não estaríamos

vinculados à Carta dos Direitos Fundamentais do Tratado Lisboa e ao seu artigo 2.º? Questionou ainda o que

pensa fazer a Comissão Europeia (com o Conselho) enquanto guardiã dos Tratados em relação à situação

dos países que, por umas décimas, não cumpriram o tratado orçamental e são penalizados, ao passo que

outros países da UE não cumprem direitos fundamentais face à vaga de migrantes às portas da Europa: o que

se está à espera para tomar decisões, nomeadamente a aplicação do artigo 7.º incluindo a suspensão do

direito de voto?

Convidado a fechar o painel, nos seus comentários finais o primeiro vice-presidente da Comissão Europeia,

F.Timmermans, começou por questionar se a democracia corresponderia à imposição da vontade da maioria

ou à ideia de que qualquer pessoa pertenceria a uma minoria que estaria protegida da arbitrariedade da

maioria? A UE precisaria de uma tríade “Estado de Direito, Democracia e Direitos Humanos” sem qualquer tipo

de hierarquização, mas para que funcione seria necessário verificar-se a separação de poderes. Neste ponto

sublinhou que as alterações da Constituição em cada Estado Membro devem ser feitas de acordo com as

regras da respetiva Constituição e não apenas de acordo com uma maioria no poder. Na Comissão Europeia

gostaria de ver um envolvimento maior dos Parlamentos nacionais, mas também que esses olhares tivessem

em conta as perspetivas dos demais Estados-Membros.

SESSÃO III: PARTILHA DE BOAS PRÁTICAS E EXPERIÊNCIAS EM DIPLOMACIA PARLAMENTAR

Moderador: Jan WOUTERS, da Universidade de Leuven, projeto de investigação "Cooperação

interparlamentar na Ação Externa da UE – Escrutínio Parlamentar e Diplomacia na UE ".

Painel: Lolita ČIGĀNE, Presidente da Comissão de Assuntos Europeus do Parlamento da Letónia

(Saeima); Andrej HUNKO, Membro da Delegação do Parlamento Alemão (Bundestag); Rubén MORENO,

Membro da Delegação do Parlamento Espanhol (Congresso dos Deputados).

Esta sessão foi apresentada por Jan Wouters, um investigador da Universidade de Leuven com trabalho na

área da diplomacia e do escrutínio parlamentar, que começou por delimitar o conceito de diplomacia

parlamentar para depois referir a sua importância atual na promoção de um melhor entendimento entre os

atores da política internacional e das políticas nacionais, de um melhor escrutínio parlamentar e do reforço da

legitimidade das instituições da UE, o que requer cooperação e transparência. Deixou três questões principais

para debate: por que motivo deveriam os Parlamentos desenvolver um papel específico no âmbito da

diplomacia distintamente da diplomacia convencional; uma vez envolvidos os Parlamentos na atividade de

diplomacia, quais seriam as consultas internas e externas que deveriam ser desenvolvidas; e, por fim, quais

seriam os desafios para desenvolver uma genuína diplomacia parlamentar.

De seguida usou da palavra Lolita Cigane (Letónia, Saeimas) que focou o formato da COSAC para a

diplomacia parlamentar e que já usara na Presidência Letã da UE, mas também outros formatos igualmente

bons como seria o caso da OSCE e da PACE, dando ainda como um bom exemplo de diplomacia parlamentar

a cimeira organizada pela Presidência Letã sobre a Parceria Oriental. Na sua intervenção, discutiu ainda os

dilemas nesta matéria com que um país pequeno como a Letónia se depara, questionando se um país poderá

ser demasiado pequeno para ter uma diplomacia parlamentar relevante; bem como o motivo pelo qual são

desenvolvidas relações com países em que os respetivos Parlamentos não são genuinamente eleitos, mas

apenas formalmente, e se deveriam manter-se as relações neste âmbito com esses países.

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Por seu turno Hunko (Bundestag alemão) qualificou a diplomacia parlamentar como um elemento vital do

trabalho parlamentar, de que eram bons exemplos as visitas das Comissões, e dos grupos de amizades por

todo o mundo, destacando o programa do Bundestag alemão desenvolvido para promover a proteção dos

Deputados a residir em países onde corriam o risco de serem presos, convidando outros Parlamentos a seguir

este modelo. Referiu, ainda, a maior liberdade de ação que os Parlamentos gozam em relação aos Governos

para adotar resoluções tais como sucedeu com a condenação do genocídio na Arménia – que dificilmente

poderiam ser adotadas pelo Governo alemão e que suscitou fortes reações do Governo Turco. Por fim, focou a

questão do desenvolvimento e manutenção da diplomacia em condições desfavoráveis, defendendo a

exclusão de membros de Parlamentos de qualquer lista negra adotada em relação a países específicos.

Na sua intervenção, Moreno (Espanha, Congresso dos Deputados) começou por evidenciar a diplomacia

como sendo uma competência exclusiva dos Governos, em Espanha, e que assim deveria ser com duas

questões centrais da democracia: justiça e eficácia. A informalidade e a representatividade seriam duas

características essenciais da diplomacia parlamentar que constituiriam uma desvantagem e o maior desafio

para a diplomacia parlamentar seria o de que as Constituições não permitem uma genuína diplomacia para

além da convencional. Ainda assim, reconheceu que os Parlamentos podem ter um papel a desempenhar no

âmbito das atividades diplomáticas, onde os parlamentares, num quadro de informalidade e soft power, podem

ter a capacidade de recolher informação mais facilmente do que os diplomatas, referindo a necessidade de

coordenação como um dos maiores desafios ao nível da Ação Externa da UE, sendo de especial interesse

para Espanha as relações com a Europa, o Norte de África e a América do Sul.

Seguiu-se um debate com uma primeira ronda de intervenções, cingidas a um minuto cada, das

Delegações de França (Sutour e Borgo, ambos do Senado) que referiram que a diplomacia parlamentar pode

ser polémica na medida em que é uma competência do executivo, mas que há um trabalho por fazer que pode

ser importante, e da Delegação de Portugal (Regina Bastos, Presidente da CAE).

A Senhora Presidente da Comissão de Assuntos Europeus, Deputada Regina Bastos (PSD) interveio

para defender a diplomacia nos dias de hoje como sendo um conceito em evolução, o qual não pode ser um

exclusivo dos Governos, mas que deve ser desenvolvida em cooperação com estes. A Assembleia da

República tem um bom exemplo já com 14 anos no caso de Timor Leste, em que colaborou na construção de

um Parlamento independente. De igual modo tem trabalhado com África e Ásia, que são também bons

exemplos neste âmbito, concluindo que este trabalho é um reforço de construção das democracias.

Em sede de resposta, Lolita Cigane assinalou que cada país, como Portugal e Letónia, têm vantagens

competitivas neste domínio que a UE deveria usar de uma forma muito melhor, Hunko registou que cada

Estado Membro tem a sua definição de diplomacia parlamentar e haveria que trabalhar para uma definição

comum e Moreno sublinhou a importância das reuniões prévias ao Conselho Europeu, mas a dificuldade no

seu acompanhamento, por um lado, por a agenda estar sempre a mudar e fechar muito tarde e, por outro lado,

por o Governo ter de ir ao Conselho Europeu com liberdade de ação tendo em conta a necessidade de

consensos a 28 Estados-Membros.

Seguiu-se um novo período de debate com intervenções consecutivas das Delegações de Itália,

Parlamento Europeu, Eslováquia, Eslovénia, Lituânia, Roménia, Espanha, Reino Unido e Hungria, tendo os

oradores expressado as suas opiniões em relação aos aspetos mencionados, nomeadamente, sobre o

desenvolvimento de relações interpartidárias, bem como sobre as expectativas e as relações a assegurar

neste domínio com os países abrangidos pela Política Europeia de Vizinhança.

REUNIÃO DE PRESIDENTES DE COMISSÕES

O Presidente da Comissão de Assuntos Europeus da Câmara dos Representantes do Parlamento dos

Países Baixos, Malik Azmani, referiu os documentos circulados, apresentou a metodologia, registou as

delegações ausentes (Chipre, Dinamarca e Irlanda) e indicou o registo de vinte e nove alterações às quais

entretanto se tinham adicionado outras oito entretanto surgidas.

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De seguida, foi apreciado o projeto de contributo da LV COSAC.

Malik Azmani deu nota das propostas de alteração apresentadas, nomeadamente, pelas delegações do

Parlamento da Hungria, da Câmara de Deputados do Parlamento da Roménia, do Parlamento da Letónia,

da Assembleia Nacional francesa, do Parlamento Europeu, do Parlamento do Reino Unido (House of

Lords e House of Commons), do Parlamento da Itália (Câmara dos Deputados e Senado e da Câmara dos

Deputados), do Sejm da Polónia. Suscitou particular debate o ponto 6.4 do contributo, tendo o Parlamento

Europeu indicando a intenção de submeter por escrito as reservas que mantinha sobre este ponto que tinha

ficado na versão emendada acordada.

SESSÃO IV: TRIBUNAL DE CONTAS EUROPEU

Moderador: Joris BACKER, membro da Eerste Kamer do Parlamento dos Países Baixos.

Oradores: Alex BRENNINKMEIJER e Ville ITÄLÄ, membros do Tribunal de Contas Europeu.

A introdução do tema na agenda da COSAC foi justificada por Joris BACKER que passou a palavra aos

oradores, intervenção que foi antecedida pela exibição de um vídeo com o testemunho de membros dos

Parlamentos do Luxemburgo, da Finlândia e dos Países Baixos relativamente ao Tribunal de Contas Europeu,

nomeadamente sobre a utilidade de relatórios elaborados por esta instituição no desenvolvimento dos

trabalhos das Comissões nos Parlamentos nacionais.

Após uma apresentação sobre o trabalho do Tribunal de Contas Europeu (TCE) e a relação deste com os

Parlamentos nacionais, Brenninkmeijer sublinhou a importância da cooperação entre as instituições, desde

logo por não haver uma abordagem de um “one size fits all” e depois porque as boas práticas identificadas

pelo TCE poderiam ser partilhadas, dando ainda nota de que a familiaridade com relatórios especiais do TCE

poderia contribuir para um processo legislativo melhor. Assim, seria de promover os contactos entre as

equipas do TCE e dos Parlamentos nacionais, uma partilha no planeamento do programa do TCE em matéria

de elaboração de relatórios especiais e posterior apresentação nas Comissões dos Parlamentos nacionais.

No debate que se seguiu intervieram as Delegações do Reino Unido (Falkner, Armstrong e Hopkings), de

Itália (Ginetti), dos Países Baixos (Mulder), da Bélgica (Crusniére) e de Portugal (Manuel Rodrigues),

suscitando questões relativamente à retificação do orçamento pelos Países Baixos e da responsabilidade

relativamente à margem de erros considerados fraude, sobre a necessidade de um controlo cruzado através

de uma rede europeia eficiente, sobre a possibilidade do TCE fazer relatórios sobre matérias específicas como

seja o Plano Juncker ou os fundos no âmbito do Acordo UE-Turquia e pedindo a opinião do TCE sobre as

multinacionais que não pagam impostos nos países onde operam, e sobre o acolhimento pelo TCE dos

contributos produzidos pelos Parlamentos nacionais.

O Senhor Deputado Manuel Rodrigues (PSD) interveio para referir o benefício que os Parlamentos

nacionais podem retirar do trabalho do TCE, sobretudo no que diz respeito ao relatório especial no

procedimento de défice excessivo, referindo o caso português que enfrentava a ameaça de sanções por

incumprimento dos requisitos para reduzir o défice, e para saber quando se esperava a publicação do relatório

de follow-up sobre défices estruturais, com vista a convidar atempadamente o Presidente do TCE para

audição na Comissão de Assuntos Europeus da Assembleia da República.

Ville ITÄLÄ e BRENNINKMEIJER responderam às questões suscitadas e referiram que o TCE estava a

elaborar um relatório de follow-up sobre o procedimento de défice excessivo, avaliando a sua efetividade e

ponderando recomendações para o futuro.

SESSÃO V: MIGRAÇÕES

Moderador: Kamran ULLAH.

Orador: Gerald KNAUS, Presidente da iniciativa Estabilidade Europeia.

Painel: Mr Elmar BROK, Presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento Europeu

(AFET); Ms Marina BERLINGHIERI, membro da Câmara dos Deputados italiana; Mr Václav HAMPL,

Presidente da Comissão de Assuntos Europeus do Senado checo.

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O tópico relativo à implementação do Acordo UE-Turquia foi apresentado por Gerald Knaus, Presidente da

Iniciativa Estabilidade Europeia, que assinalou os aspetos em que se verifica uma maior funcionalidade, bem

como aqueles aspetos em que ainda é preciso fazer com que funcionem. Assinalou também a necessidade

uma transparência total no processo de readmissão dos requerentes de asilo para a Turquia, onde não

estariam a ter as condições de tratamento expectáveis, apelando a que fossem promovidos os esforços

necessários para que o Acordo EU-Turquia pudesse funcionar em pleno.

O Presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento Europeu (AFET) tomou a palavra para

enquadrar a situação na Grécia e o acordo com a Turquia, concluindo pela necessidade de prioridades de

longo prazo e que o Acordo UE-Turquia faria parte dessas prioridades, sendo que a Turquia estaria a cumprir

mais o acordo do que a UE em relação à liberalização de vistos.

Marina Berlinghieri (Itália), por seu turno, alertou para o facto de que se a economia europeia não tivesse

um crescimento suficiente a capacidade de acolhimento seria mais reduzida na medida em que este não se

esgota nos primeiros cuidados de assistência, mas noutras medidas de integração que serão também a mais-

valia para os Estados anfitriões. Deveria haver uma política integrada de asilo para corrigir a situação nos

países de origem e de acolhimento. A Comissão Europeia trabalhara já com base numa proposta italiana

(Compacto Migrações) com foco nos países africanos e era uma satisfação que no documento conclusivo da

COSAC (contributo) tivesse sido incluído ponto importante sobre a imigração.

Por fim, Presidente da Comissão de Assuntos Europeus do Senado checo, Vaclav Hamp, referiu como um

dado verificado que era o da redução do número de migrantes na rota dos Balcãs. O que não se poderia ter a

certeza, era sobre o conjunto de fatores que concorreram para o declínio do fluxo nos Balcãs orientais, mas

haveria pelo menos três identificáveis: o fecho de fronteiras de alguns Estados-Membros; a entrada em vigor

do Acordo UE-Turquia; e o aumento da eficácia dos hotspots na Grécia. Fazendo uma breve alusão à

experiência de Espanha que há cerca de uma década tinha conseguido reduzir o número de migrantes para a

Europa através das Canárias, concluiu dizendo que o que ainda faltava funcionar era o sistema da

recolocação.

No debate que se seguiu foram abordadas as questões do papel dos Estados Membros nesta matéria das

migrações, das necessidades atuais, do que irá ser exigido no futuro, do impacto da questão na opinião

pública, com a inação da União Europeia e de um crescente distanciamento das instituições dos cidadãos em

benefício do eurocetismo, tendo intervindo membros das Delegações dos Parlamentos da Grécia (Kourakis),

da Turquia (Kavaci Kan), França (Sutour), Reino Unido (Ash), Portugal (Duarte Marques), França (Auroi),

Eslováquia (Blaha), Estónia (Palling), Suécia (Garnlund) e dos Países Baixos (Maij).

O Senhor Deputado Duarte Marques (PSD) usou da palavra para lembrar que quando se responsabiliza a

Europa pelas falhas neste capítulo, também seria importante chamar a atenção para ponto que é esquecido: a

responsabilidade dos Estados-Membros. Há que relevar o que de bom tem sido feito pela UE e que tem salvo

muitas vidas graças à coordenação entre os Estados Membros. Será também necessário procurar uma

solução nos países de origem.

ADOÇÃO DO CONTRIBUTO2

Foi convidado ao palco Andrea FINESSO, o vencedor do concurso organizado pela Presidência

neerlandesa, entre estudantes, sobre o papel dos Parlamentos nacionais na União Europeia, para receber o

prémio e apresentar o seu trabalho. O membro da Delegação do Senado italiano, Lucio Romano, pediu a

palavra para relevar a atribuição do Prémio a um jovem estudante: ao italiano Andrea Finesso, não por ser

italiano, mas pelo sentido de esperança que traz com o seu trabalho.

O Contributo da COSAC, conforme o resultado da reunião de véspera dos Presidentes de Comissões, foi

depois adotado por consenso.

2 Na LV COSAC não houve adoção de conclusões.

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O Presidente da Comissão de Assuntos Europeus da Câmara dos Representantes do Parlamento dos

Países Baixos, Malik Azmani, encerrou os trabalhos considerando a Conferência profícua e agradeceu a todos

os participantes por terem contribuído para um debate muito vivo.

Antes de encerrar deu a palavra ao Presidente da Comissão de Assuntos Europeus do Conselho Nacional

eslovaco, Luhos Blaha, que apresentou um breve vídeo de antevisão da Presidência Eslovaca a ter início no

dia 1 de julho seguinte.

Questões a ter especialmente em consideração pela Assembleia da República:

1. A COSAC acolheu favoravelmente a partilha ativa entre relatores parlamentares sobre

dossiers da União Europeia e encoraja os Parlamentos a desenvolver essa partilha ativa no sentido

de melhorar o escrutínio parlamentar.

2. A COSAC reiterou que o procedimento do “cartão amarelo” necessita de aprofundamentos

sem necessidade de revisão dos Tratados, bem como reiterou o convite à Comissão Europeia no

sentido de ponderar a exclusão de determinados períodos na contagem do prazo das oito

semanas.

3. A COSAC encorajou futuras iniciativas de cartão verde pelos Parlamentos que o desejem

promover, de modo a desenvolver e explorar este instrumento no quadro do diálogo político com a

Comissão Europeia, sem necessidade de novos procedimentos formais, e convidou futuras

Presidências da COSAC a realizar o seguimento de anteriores iniciativas neste âmbito.

4. A COSAC acolheu favoravelmente as atividades integradas na diplomacia parlamentar que

contribuam para a Política Europeia de Vizinhança com vista ao aprofundamento das relações,

reforço da cooperação e fortalecimento das parcerias da UE com os países vizinhos, tanto a Leste

como a Sul, no apoio à paz, segurança e prosperidade.

5. A COSAC realçou a importância da implementação da Agenda Europeia de Migração, bem

como dos esforços no sentido de enfrentar as causas na origem dos fluxos de migrantes e

refugiados, e reconhece a necessidade de uma efetiva solidariedade com os Estados Membros

mais afetados por esses fluxos.

6. Por fim, a Presidência anunciou que, no âmbito da Presidência Holandesa, a próxima

Conferência de Presidentes das CAE dos Parlamentos nacionais e do Parlamento Europeu se

realizará a 10 e 11 de julho de 2016, em Bratislava, e que a LVI COSAC decorrerá de 13 a 15 de

novembro de 2016, com enfoque, entre outros assuntos nas negociações relativas ao TTIP, na

União da Energia e nas migrações.

Além dos documentos referenciados ao longo do presente relatório, toda a documentação referente à LV

COSAC pode ser consultada em: http://www.cosac.eu/55-the-netherlands-2016/lv-cosac-12-14-june-2016-

the-hague/

Assembleia da República, 26 de julho de 2016.

A Presidente da Comissão, Regina Bastos.

__________

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RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA REUNIÃO DE PRESIDENTES

DA COSAC, QUE SE REALIZOU EM BRATISLAVA NOS DIAS 10 E 11 DE JULHO DE 2016

Composição da Delegação

Integrou a Delegação da Assembleia da República a Sra. Presidente da Comissão de Assuntos Europeus,

Deputada Regina Bastos (PSD).

O apoio técnico foi prestadopela Representante Permanente da Assembleia da República junto da União

Europeia, Maria João Costa.

Enquadramento

O Parlamento da Eslováquia, no âmbito da dimensão parlamentar da respetiva Presidência do

Conselho da União Europeia (UE), organizou, no referido Parlamento, em Bratislava, nos dias 10 e 11 de

julho de 2016, a Reunião de Presidentes da COSAC. Esta reunião contou com a participação dos

Parlamentos nacionais, do Parlamento Europeu, dos Parlamentos dos países candidatos e, com o

estatuto de observadores, os Parlamentos da Suíça, Geórgia e Noruega, conforme consta da lista de

participantes1.

Da Reunião dos Presidentes da COSAC

Do Programa da Reunião de Presidentes da COSAC2 constavam os pontos que seguidamente se

apresentam:

 Sessão de Abertura

O Vice-Presidente do Národná Rada da Eslováquia, Bela Bagar, deu as boas-vindas aos participantes e

aludiu aos desafios, que se colocam ao projeto europeu, nomeadamente, no contexto do resultado do

referendo do Reino Unido. Argumentou que um dos maiores problemas é a desconformidade do discurso da

União com os interesses dos cidadãos e que, nesse quadro, a Presidência Eslovaca tentará contribuir para

relançar a União e responder a questões urgentes como sejam a crise das migrações ou o combate ao

terrorismo. Apelou a todos para colaborarem em evitar divisões ilusórias, entre Sul e Norte, Oeste e Leste,

novos e velhos Estados-Membros, pois considerou que apenas uma União unida na diversidade pode sair

vitoriosa dos desafios que se lhe deparam e todos os Estados-Membros precisam de uma União Europeia

vitoriosa. A terminar e por considerar ser fundamental esta união em torno do projeto europeu, aludiu à

iniciativa do Presidente do Národná Rada da Eslováquia de realizar uma reunião informal de Presidentes de

Parlamentos da UE no dia 7 de outubro, apelando à participação de todos.

 Adoção da agenda da Reunião de Presidentes da COSAC

A agenda da reunião de Presidentes da COSAC foi apresentada e submetida à aprovação, tendo sido

acolhida por consenso sem alterações.

1 A Lista de participantes está disponível em: http://www.cosac.eu/56-slovak-republic-2016/meeting-of-the-cosac-chairpersons-10-11-

july-2016-bratislava/c1-9%20COSAC%20Chairs%20-%20List%20of%20participants%20DRAFT%2006072016.pdf 2 O programa pode ser consultado em http://www.cosac.eu/56-slovak-republic-2016/meeting-of-the-cosac-chairpersons-10-11-july-

2016-bratislava/b1-9%20COSAC%20Chairs%20draft%20programme%20EN%20-%20update%2001072016.pdf

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 Questões procedimentais e outros assuntos

O Presidente da Comissão de Assuntos Europeus do Národná Rada da Eslováquia, Luboš Blaha, começou

por felicitar Portugal pela conquista do campeonato europeu de futebol e, de seguida, apresentou os principais

resultados da reunião da tróica presidencial da COSAC, realizada na véspera, informando que tinha sido dado

acordo à proposta de programa da COSAC e à proposta de Questionário.

De seguida, apresentou o programa provisório da reunião da LVI COSAC3, que terá lugar nos dias 13 a 15

de novembro e terá os seguintes temas: I – Ponto de situação da Presidência Eslovaca do Conselho da UE; II

– Reforço do papel dos Parlamentos nacionais na UE no contexto do referendo no Reino Unido sobre a

permanência/saída da UE; III – TTIP: desafios, oportunidades e riscos do acordo comercial entre a UE e os

EUA; IV – União de Energia: 2016 o ano da implementação; V – Segurar as fronteiras externas da UE no

âmbito da migração ilegal. Deu ainda conta dos oradores já confirmados para as diferentes sessões,

informando que a Presidente da Comissão AFCO do PE irá intervir no segundo tema sobre a reforma do Ato

relativo à eleição dos representantes ao Parlamento Europeu por sufrágio universal direto.

De seguida foram apresentados sucintamente os três capítulos do sumário do relatório bianual4: o TTIP e o

escrutínio parlamentar sobre o processo negocial; União da Energia: 2016 o ano da implementação; Melhoria

do papel dos Parlamentos nacionais na UE e formas de transmitir aos cidadãos nacionais os assuntos

europeus.

Este sumário foi aprovado por consenso, e o respetivo questionário será enviado brevemente, sendo o

prazo final para o envio de respostas, o dia 9 de setembro.

Finalmente, a Presidência aludiu às cartas recebidas do Presidente do Parlamento da Noruega e do

Presidente da delegação parlamentar EFTA/UE da Suíça, ambas solicitando a possibilidade de participarem

na COSAC de Presidentes e na LVI COSAC com o estatuto de observadores.

 As Prioridades da Presidência Eslovaca do Conselho

O Ministro dos Negócios Estrangeiros e Assuntos Europeus da Eslováquia, Miroslav Lajčák, começou por

referir que a Eslováquia aderiu à União Europeia quando o europeísmo era muito popular e que o projeto

europeu era encarado com uma certeza inabalável, no entanto, no momento em que a Eslováquia assume,

pela primeira vez, a presidência o euroceticismo é agora o sentimento mais popular e a crença no projeto

europeu é assombrada por todas as dúvidas. Aludiu a diversos acontecimentos recentes, que colaboram para

esta situação, nomeadamente, a crise económica, a crise das migrações, o resultado do referendo no Reino

Unido. Considerou que este era um tempo que exigia calma e união, mas também uma capacidade renovada

das elites europeias para responderem aos desafios que se colocam.

Traçado este quadro, aludiu às prioridades da Presidência do Conselho da UE para o segundo semestre de

2016, referindo que a relação com o Reino Unido será incontornável e que embora seja desejo da Presidência

forjar a melhor relação futura possível, as negociações não terão início antes do Reino Unido notificar

formalmente a União Europeia, nos termos do artigo 50.º dos Tratados, e que embora seja de respeitar os

procedimentos internos do Reino Unido, a União não poderá esperar um tempo ilimitado.

Referiu que a Presidência não tem a presunção de ter soluções para todos os problemas, mas “Roma não

foi feita num dia”, pelo que tentará ser pragmática, unificadora e ter em conta a voz dos cidadãos. Aludiu então

às quatro ambições da Presidência: economia europeia mais forte (aludindo à conclusão da União Bancária e

ao Mercado Único de Capitais); modernização do Mercado Único (com especial ênfase para a União Digital e

a União de Energia); migrações e política de asilo sustentáveis (sublinhou neste âmbito a importância de

interligar os aspetos internos e externos das migrações, tornar a Guarda de Fronteiras Europeia operacional

durante a Presidência; apoiar o esforço de reforma do sistema comum europeu de asilo) e europa globalmente

comprometida (tendo sublinhado a importância do comércio internacional, designadamente os acordos CETA

e TTIP, e de relançar o alargamento).

3 Pode ser consultado em http://www.cosac.eu/56-slovak-republic-2016/meeting-of-the-cosac-chairpersons-10-11-july-2016-bratislava/b1-9%20COSAC%20Plenary%20draft%20programme%20EN%20-%20update%2001072016.pdf

4 Pode ser consultado em http://www.cosac.eu/56-slovak-republic-2016/meeting-of-the-cosac-chairpersons-10-11-july-2016-bratislava/d1-9%20Outline%20Bi-annual%20Report%20EN.pdf

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Concluiu a sua intervenção referindo que a Presidência da Eslováquia pretende uma Europa dos cidadãos

e para os cidadãos, em que seja claro que é mais o que une do que aquilo que separa os Estados-Membros,

bem como que a União Europeia continua a ser a melhor solução que se conhece para a Europa.

Antes do início do debate, o Presidente da Comissão de Assuntos Europeus da Câmara dos Comuns do

Reino Unido, Sir William Cash, comentou os resultados do referendo do Reino Unido, começando por

sublinhar que o Reino Unido continuará a fazer parte da Europa, mas que irá abandonar a União Europeia.

Considerou que o desejo de sair foi crescendo com a incapacidade da União Europeia de se reformar e de

responder às aspirações dos cidadãos europeus. Acrescentou ainda que não existem condições, nem

necessidade, para a realização de um novo referendo e que o novo Primeiro-Ministro irá assumir a

responsabilidade de cumprir com o desejo manifestado pela maioria dos cidadãos britânicos. Na sua opinião,

não existe obrigatoriedade de aplicar o artigo 50.º dos Tratados, dado que o Parlamento soberano do Reino

Unido pode simplesmente revogar o ato de adesão à União Europeia, revogando assim a aplicação de todo o

acervo comunitário. Considerou por isso que a União Europeia não deveria esperar por uma qualquer

notificação e iniciar as negociações informais com o Reino Unido. Considerou que é do interesse de todos que

o Reino Unido possa continuar a aceder ao Mercado Único, como é do interesse de todos que os nacionais

dos Estados-Membros da UE continuem a ser bem tratados no Reino Unido. Concluiu referindo que o Reino

Unido e os Estados-Membros da UE continuarão a colaborar no âmbito da OTAN e que continuarão a ser

vizinhos e a manter boas relações.

No debate intervieram várias delegações, tendo o resultado do referendo do Reino Unido e as

consequências para a União Europeia dominado o debate. A maioria das delegações parlamentares

expressou o respeito pelo resultado, mas a tristeza pela decisão da maioria dos cidadãos do Reino Unido.

Relativamente ao passo seguinte, algumas delegações parlamentares argumentaram a necessidade da

notificação nos termos do artigo 50.º ser efetuada com a maior brevidade possível (neste sentido,

designadamente, delegação do Parlamento Europeu, delegação do Senado de Itália, delegação das Cortes

espanholas), outras delegações consideraram razoável que fossem respeitados os procedimentos

constitucionais internos do Reino Unido (neste sentido, nomeadamente, delegações dos Parlamentos da

Áustria, Países Baixos, Malta e Eslovénia) ainda que fosse expectável que a notificação fosse enviada até ao

final de 2016 (neste sentido, delegações parlamentares dos Senados da Bélgica e de França). Sobre as

consequências do resultado do referendo do Reino Unido, as delegações parlamentares da Áustria, Países

Baixos e Assembleia Nacional Francesa alertaram para as causas do resultado e para um sentimento de

descrença que é transversal a muitos cidadãos europeus, tendo apelado para a necessidade de explicar o

projeto europeu. Enquanto a delegação do Sejm da Polónia defendeu a necessidade de rever os Tratados, por

exemplo, alargando o papel dos Parlamentos nacionais e introduzindo formalmente a possibilidade dos

cartões verde e vermelho.

A maioria das delegações que intervieram considerou que embora este seja um tema fundamental a União

não pode ficar refém deste tema (neste sentido, nomeadamente, a delegação do Parlamento da Lituânia e da

Assembleia Nacional Francesa). As prioridades da Presidência foram, em geral, recebidas com agrado (neste

sentido, designadamente, delegação do Parlamento da Lituânia, da Câmara de Deputados da Roménia e da

Câmara de Deputados do Parlamento dos Países Baixos). No entanto, algumas delegações apontaram

aspetos que deveriam merecer mais atenção, nomeadamente, os aspetos sociais (delegações parlamentares

da Grécia, França e Bélgica), a crise migratória e as fronteiras externas (delegações parlamentares da Grécia,

Malta, Espanha, Áustria e Hungria), as questões climáticas e energéticas (delegações da Assembleia Nacional

de França e Câmara de Representantes da Bélgica), a luta contra o terrorismo e as ameaças híbridas

(Câmara de Deputados da Roménia) e alargamento (delegações parlamentares do Montenegro e da Sérvia).

A Presidente da Comissão de Assuntos Europeus, Deputada Regina Bastos (PSD), interveio nesta sessão,

tendo começado por saudar as prioridades da Presidência da Eslováquia do Conselho da União Europeia,

salientando a importância da conclusão da União Bancária e, em especial, o esquema europeu de depósitos.

Relativamente ao resultado do referendo do Reino Unido, mostrou respeito pela vontade expressa pelos

cidadãos britânicos, mas frisou a importância do respeito pelos procedimentos institucionais internos do Reino

Unido sem a ansiedade que alguns têm demonstrado recentemente e que considerou desaconselhável para

os tempos incertos que se vivem. Acrescentou que Portugal e o Reino Unido partilham uma longa história

comum e que Portugal acredita que as instituições do Reino Unido irão lidar adequadamente com as

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consequências do referendo respeitando os seus vizinhos e amigos da União Europeia. Finalizou, referindo

que independentemente do que aconteça, acredita que o Reino Unido e a União Europeia serão sempre

parceiros e irão conseguir forjar novas boas relações.

No final do debate foi dada a palavra ao Presidente da Comissão de Assuntos Europeus da Câmara dos

Lordes do Parlamento do Reino Unido, Lord Timothy Boswell, que começou por recordar que a comissão que

preside deliberou não intervir na campanha do referendo. No entanto, em nome pessoal, partilhou que sempre

apoiou o Reino Unido no seio da União Europeia e que nos últimos 43 anos trabalhou para fortalecer essa

pertença, ainda que tenha considerado que não foi suficiente. Considerou que o resultado do referendo revela

a falta de verdadeiros líderes no Reino Unido com uma visão sobre a Europa. Apesar da sua posição, não vê

perspetivas de reversão da decisão, que deve ser respeitada. No entanto apelou para que a União não se

esqueça dos 48% de britânicos que votaram a favor do Reino Unido ficar na UE e que viveram uma

experiência traumática em conjunto com aqueles nacionais do Estado Membros que vivem no Reino Unido.

Referiu que era claro para estes 48% que o futuro passava pela União Europeia, no entanto, confessou que é

difícil dizer o que representam os 52% e que espera que o novo governo possa ter o discernimento para

compreender. Agradeceu a paciência dos Estados-Membros da União Europeia e pediu desculpas pelas

consequências para o projeto europeu da decisão do Reino Unido. Concluiu referindo que a comissão de

assuntos europeus da Câmara dos Lordes continuará a colaborar para construir uma Europa melhor e que

estará sempre disponível para trabalhar com todos.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros e Assuntos Europeus da Eslováquia, Miroslav Lajčák, agradeceu a

boa receção das prioridades da Presidência. Concordou que as consequências do resultado do referendo do

Reino Unido será um dos grandes desafios da Presidência, mas que importará seguir em frente e abordar as

preocupações dos cidadãos europeus. Referiu que o Reino Unido continuará a ser um parceiro importante,

pelo que as negociações devem ser conduzidas com respeito por todos e com extrema responsabilidade. De

igual modo, concordou que a União não pode fechar os olhos aos resultados dos referendos no Reino Unido,

na Holanda e na Dinamarca – todos contrários ao projeto europeu e que é importante manter a serenidade.

 A dimensão social da EU e a Política de Coesão – Triplo A social

A intervenção inicial coube ao Presidente do Parlamento do Luxemburgo, Mars Di Bartolomeo, que

começou por aludir às desigualdades existentes nos Estados-Membros e aos números inaceitáveis do

desemprego dos jovens, considerando que estes dois elementos têm de ser contrariados para que não sejam

geradores de extremismos e de euroceticismos. Considerou ainda serem fundamentais instrumentos comuns

e objetivos comuns no âmbito da dimensão social da União Europeia para fazer frente à exclusão social e para

defender o acervo social da União europeia. Defendeu que os Parlamentos nacionais devem poder,

juntamente com o escrutínio da observância do Princípio da Subsidiariedade, escrutinar as repercussões

sociais de cada iniciativa. Neste sentido, recordou o pacto social previsto no Tratado de Maastricht e a

necessidade aí prevista de equilibrar o mercado único e as quatro liberdades com a Europa Social. Defendeu

ainda que a União tem de deixar cair a máscara da austeridade e mostrar a verdadeira face, pois só essa

Europa que pode ganhar a confiança dos cidadãos.

Defendeu ainda a avaliação das políticas europeias com base na notação de triplo A social, defendendo

que para tal as instituições europeias têm de respeitar o equilíbrio entre o económico e social, o equilíbrio

entre o ECOFIN e o EPSOS. A concluir, referiu que a política de solidariedade é o único caminho que pode

levar a União a reganhar os seus cidadãos, o que apenas acontecerá se for capaz de edificar uma fortaleza de

dignidade humana dentro e fora das suas fronteiras. Apelou então aos Parlamentos nacionais para liderarem

essa mudança.

De seguida, interveio a Comissária Europeia para o Emprego, Assuntos Sociais, Competências e

Mobilidade Laboral, Marianne Thyssen, que começou por defender o empenho da Comissão Europeia no

aprofundamento da Europa Social. No entanto, referiu que a política social é essencialmente uma competência

nacional, regional e local, porque deve ser pensada e aplicada perto dos cidadãos. No entanto, a União não

pode deixar de a ter em conta e por isso é fundamental tornar o semestre europeu mais social, defender os

trabalhadores, garantir melhores condições de trabalho, mas utilizando os instrumentos previstos nos

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Tratados. Nesse sentido, defendeu o Pilar Europeu dos Direitos Sociais como um instrumento para assegurar

o futuro da União, ainda que sublinhou que não se pretende regular as políticas dos Estados-Membros, mas

sim criar objetivos comuns que os Estados-Membros possam atingir através das políticas nacionais.

Acrescentou que o mercado único deve ser aprofundado, mas deve ser justo e deve ter regras que protejam

os consumidores, os trabalhadores e o ambiente.

Na segunda parte da sua intervenção focou a proposta de alteração da diretiva relativa ao destacamento

dos trabalhadores, que suscitou um cartão amarelo por parte de alguns Parlamentos nacionais. Começou por

referir que a atual diretiva não resolveu todos os problemas, mantendo-se a questão da remuneração desigual,

pelo que a Comissão Europeia considerou que deveria apresentar uma proposta equilibrada que assegurasse

que os trabalhadores destacados não são trabalhadores de segunda e devem ser tratados em igualdade de

circunstâncias com os trabalhadores locais. Relativamente às objeções apresentadas pelos Parlamentos

nacionais, dividiu-as em três grupos. Relativamente ao argumento de que nenhuma ação europeia seria

necessária, considerou que o destacamento de trabalhadores para um Estado-Membro distinto daquele onde

trabalham é, por definição, uma questão transfronteiriça, pelo que existem direitos e obrigações regulados em

mais do que um Estado-Membro, logo o melhor nível para regular é o europeu, pois se um Estado-Membro

agir sozinho pode criar desequilíbrios no mercado. No que diz respeito às competências nacionais sobre a

definição de remunerações, a proposta respeita integralmente essas competências, pois não estabelece

quaisquer regras, apenas estabelece que as regras do Estado-Membro que já se aplicam aos trabalhadores

locais, também se devem aplicar aos destacados. Finalmente, relativamente à concorrência e questões

relacionadas com a liberdade de serviços, considerou que claramente não se encontram abrangidas pelo

Princípio da Subsidiariedade. No entanto, defendeu que a proposta não cria novas obrigações, nem novas

regras administrativas, nem altera o local de contribuições fiscais ou sociais. Concluiu, referindo que o

mercado único europeu tem regras e é isso que o distingue dos restantes.

A terceira intervenção coube ao Professor de Sociologia e Deputado ao Parlamento Europeu, membro da

Comissão de Emprego e Assuntos Sociais, Jan Keller, que efetuou uma intervenção centrada na sociologia do

trabalho e na evolução do mercado de trabalho e do modelo social na Europa. Aludiu ainda aos desafios e

problemas que atualmente o mercado de trabalho e a proteção social de trabalhadores enfrentam. Defendeu a

política de coesão como forma de equilibrar os desacertos do mercado e como forma de colaborar para uma

redução dos desequilíbrios sociais. Defendeu ainda a importância de harmonizar questões fiscais e

contribuições sociais, para evitar que sejam utilizadas como fatores concorrenciais no mercado único.

No período de debate, várias intervenções focaram o cartão amarelo, enquanto algumas delegações

parlamentares referiram que a manutenção da proposta e a rejeição do cartão amarelo era um mau sinal da

Comissão Europeia (nesse sentido, delegações parlamentares da Polónia e da Roménia), outras delegações

parlamentares (por exemplo, dos parlamentos do Luxemburgo, França e Bélgica) apoiaram a manutenção da

proposta por parte da Comissão Europeia.

A Câmara de Deputados do Parlamento da Roménia e o Senado da Polónia manifestaram preocupação

pelo aumento do orçamento social à custa das políticas de coesão, que defenderam colaboram na

convergência e na aproximação das regiões europeias. A contrario, os Parlamentos da Grécia, Chipre,

Espanha e Luxemburgo defenderam a dimensão social da União Europeia e o reforço do orçamento da União

Europeia para auxílio às consequências da crise económica ao nível social.

O Senado da Bélgica considerou fundamental um mercado único com regras e considerou inaceitável que

existisse dumping social ao nível da União Europeia e que fosse possível ter políticas de baixos salários e sem

proteção social, nomeadamente na área da construção civil e transportes. Em sentido idêntico o Senado dos

Países Baixos defendeu o combate ao dumping social e a existência de regras europeias que diminuam a

possibilidade de explorar diferentes regimes de proteção social.

O Senado de França realçou a importância da coesão social e territorial e recordou que a fiscalidade não

deve ser excluída deste debate, aguardando uma proposta sobre a coordenação dos sistemas de segurança

social. Em sentido idêntico, o Parlamento de Chipre defendeu que a convergência social é particularmente

importante na zona euro, porque uma união económica e monetária sem uma dimensão humana e social não

terá sucesso a longo prazo.

A Câmara de Deputados da Roménia criticou a proposta da Comissão Europeia de criar um Pilar Europeu

de Direitos Sociais, que funcione apenas para a zona euro.

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A Sra. Presidente da Comissão de Assuntos Europeus, Deputada Regina Bastos (PSD), interveio para

referir que vários Estados-Membros continuam a sentir as repercussões sociais da crise económica e que

cada vez mais cidadãos reclamam uma Europa mais social, que responda às suas preocupações. Considerou

fundamental dar uma dimensão social ao Semestre Europeu, que equilibre a dimensão orçamental e

financeira. Finalmente, aludiu à proposta da Comissão Europeia sobre o destacamento de trabalhadores,

incentivando a Comissão Europeia a manter a proposta, por ser fundamental respeitar o princípio de para

trabalho igual, em local igual, igual remuneração.

O Presidente do Parlamento do Luxemburgo, Mars Di Bartolomeo, começou por esclarecer que não

defende que sejam forçadas regras no âmbito social aos Estados-Membros, no entanto, defendeu que seria

desejável um pacto entre os Estados-Membros, que tivesse em conta as particularidades dos Estados-

Membros, mas que permitisse a criação de objetivos comuns.

A Comissária Europeia para o Emprego, Assuntos Sociais, Competências e Mobilidade Laboral, Marianne

Thyssen, começou por apelar ao contributo de todos os Parlamentos nacionais sobre o Pilar Europeu dos

Direitos Sociais, que tenta repensar os direitos sociais na União Europeia e conferir uma maior dimensão

social às políticas europeias. Referiu que o Semestre Europeu já tem, ao nível das recomendações por país,

em consideração as questões sociais, no entanto, concordou que essa componente poderia ser reforçada.

Acrescentou que a Comissão Europeia considera que uma das grandes preocupações é o desemprego jovem,

pelo que se encontra a recolher dados sobre a implementação dos programas existentes com vista a avaliar

os resultados e a decidir a melhor forma de continuar a apoiar os Estados-Membros. Voltou a defender a

proposta de diretiva relativa ao destacamento de trabalhadores, realçando que não se trata de harmonizar

salários, mas sim a garantir que as regras que se aplicam a uns se aplicam a todos.

O Professor de Sociologia e Deputado ao Parlamento Europeu, membro da Comissão de Emprego e

Assuntos Sociais, Jan Keller Keller, realçou que as disparidades aumentaram e que a União Europeia está

longe de atingir os objetivos traçados na Estratégia UE 2020. No entanto, considerou fundamental que a União

assumisse seriamente estes objetivos, pois caso contrário esse falhanço será utilizado pelos movimentos

populistas.

 Sessão de Encerramento

O Presidente da Comissão de Assuntos Europeus do Národná Rada da Eslováquia agradeceu a presença

de todos e recordou que a União deve ter um rosto humano e deu por concluídos os trabalhos.

Da Reunião informal à margem da reunião de Presidentes da COSAC

Por iniciativa da delegação das Cortes espanholas, decorreu no período da pausa para café, uma reunião

informal entre os Presidentes das Comissões de Assuntos Europeus, que pretendem debater a Declaração de

Roma e o futuro da União Europeia.

Estiveram presentes, para lá da Presidente da Comissão de Assuntos Europeus da Assembleia da

República, os Presidentes de Comissões de Assuntos Europeus ou chefes de delegação à COSAC das

seguintes Câmaras Parlamentares: Assembleia Nacional e Senado de França, Câmara de Representantes

dos Países Baixos, Câmara de Deputados e Senado de Itália, Cortes de Espanha, Parlamento da Grécia,

Câmara de Representantes e Senado da Bélgica.

O encontro proporcionou uma breve troca de ideias entre os participantes, que resultou na vontade de

reunirem com mais tempo para debater os desafios que se colocam à União Europeia, nomeadamente, na

sequência do resultado do referendo do Reino Unido.

Assim foi acordado que seria organizada uma reunião no dia 13 de novembro, em Bratislava, antes da

reunião plenária da COSAC, estando aberta a todos os participantes da COSAC, que assim o desejem. A

preparação da agenda e a organização da reunião ficarão a cargo dos Presidentes das Comissões de

Assuntos Europeus da Assembleia da República, do Senado de França, do Senado de Itália e pelo Deputado

das Cortes espanholas, Ignacio Sánchez Amor.

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Notas Finais

Além dos documentos citados e referenciados em nota de rodapé, toda a documentação referente à

reunião de Presidentes da COSAC pode ser encontrada em:

http://www.cosac.eu/56-slovak-republic-2016/meeting-of-the-cosac-chairpersons-10-11-july-2016-bratislava/

Concluída a reunião de Presidentes da COSAC, importa reter que o Questionário prévio à elaboração do

26.º Relatório Bianual da COSAC será enviado aos Parlamentos nacionais até ao final de julho, sendo a data

de limite para a resposta: 9 de setembro de 2016. Este Questionário abordará os seguintes temas: o TTIP e o

escrutínio parlamentar sobre o processo negocial; União da Energia: 2016 o ano da implementação; Melhoria

do papel dos Parlamentos nacionais na UE e formas de transmitir aos cidadãos nacionais os assuntos

europeus.

O plenário da COSAC realizar-se-á entre 13 e 15 de novembro de 2016 com os seguintes temas: Ponto de

situação da Presidência Eslovaca do Conselho da UE; Reforço do papel dos Parlamentos nacionais na UE no

contexto do referendo no Reino Unido sobre a permanência/saída da UE; TTIP: desafios, oportunidades e

riscos do acordo comercial entre a UE e os EUA; União de Energia: 2016 o ano da implementação; Segurar as

fronteiras externas da UE no âmbito da migração ilegal.

Refira-se ainda, por um lado, que o plenário da COSAC irá abordar a reforma do Ato relativo à eleição dos

representantes ao Parlamento Europeu por sufrágio universal direto e, por outro lado, o apelo efetuado pela

Comissária Europeia Marianne Thyssen para os Parlamentos nacionais se pronunciarem sobre a proposta de

Pilar Europeu dos Direitos Sociais.

Assembleia da República, 15 de julho de 2016.

A Presidente da Comissão, Regina Bastos.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO E APOIO AUDIOVISUAL.

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