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Sexta-feira, 7 de dezembro de 2018 II Série-D — Número 6

XIII LEGISLATURA 4.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2018-2019)

S U M Á R I O

Delegações da Assembleia da República:

Relatório da participação da Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas na Conferência de Alto Nível “O futuro das Missões de Observação Eleitoral”, que teve lugar no Parlamento Europeu, Bruxelas, nos dias 10 e 11 de outubro de 2018.

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DELEGAÇÕES DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

Relatório da participação da Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas na

Conferência de Alto Nível “O futuro das Missões de Observação Eleitoral”, que teve lugar no

Parlamento Europeu, Bruxelas, nos dias 10 e 11 de outubro de 2018

I. Nota Introdutória

A conferência identificada em epígrafe, que se realizou em Bruxelas, nos dias 10 e 11 de outubro de 2018,

foi organizada pelo Grupo de Apoio à Democracia e de Coordenação às Eleições (GADCE) do Parlamento

Europeu, em cooperação com o Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE).

Na sequência de convite em tempo formulado pela organização, a participação da Assembleia da República

(AR) foi assegurada pelos Srs. Deputados Miranda Calha (PS), em representação da delegação portuguesa à

Assembleia Parlamentar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (APNATO), Pedro Alves (PSD), em

representação da Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas (CNECP) e Ricardo

Bexiga (PS), em representação da Comissão de Assuntos Europeus (CAE). Participou, como oradora, a

Senhora Deputada Isabel Santos (PS), na qualidade de Vice-presidente da Assembleia Parlamentar da

Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCEPA).

O apoio a esta deslocação foi prestado pelo assessor da Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades

Portuguesas, João de Campos Coelho.

II. Enquadramento da Conferência

As Missões de Observação Eleitoral (MOE) inserem-se no quadro da valorização das instituições do Estado

de Direito, assente nos valores da democracia, da boa governação e do respeito pelo Direitos Humanos. Os

observadores têm como mandato testemunhar o processo eleitoral, o escrutínio e o apuramento dos resultados,

competindo à missão emitir parecer sobre a credibilidade do processo eleitoral, em função de critérios relativos

à transparência, ao carácter democrático da eleição, à aplicação da lei eleitoral e aos procedimentos exigíveis.

Para além do dia do sufrágio, as missões de observação eleitoral de longo prazo avaliam igualmente todo o

processo eleitoral, a fim de aquilatar o grau de desenvolvimento democrático num dado país em determinado

momento. Por norma, os observadores de longo prazo iniciam as suas operações dois meses antes das eleições

e acompanham todo o processo eleitoral, incluindo o anúncio dos resultados oficiais e os procedimentos de

recurso. Os observadores de curto prazo supervisionam o dia da votação e a contagem dos votos.

Tipicamente, as MOE são encerradas através da produção de um relatório que inclui recomendações para

melhorar a integridade e efetividade de processos eleitorais futuros, no âmbito do apoio à democratização. Estas

recomendações não se limitam a reformas eleitorais, centrando-se em temas como a liberdade de expressão,

separação de poderes, direitos humanos e instituições democráticas.

A Assembleia da República contribui para estas Missões através das Delegações às assembleias

parlamentares internacionais das quais o Parlamento português faz parte, nomeadamente a Assembleia

Parlamentar da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (AP-CPLP), a Assembleia Parlamentar da

Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (APOSCE), a Assembleia Parlamentar do Conselho

da Europa (APCE) e a Assembleia Parlamentar da NATO (APNATO). Destaca-se o trabalho desenvolvido pela

CPLP nesta matéria, que detém um historial assinalável no domínio da observação eleitoral, iniciando-se com a

realização de missões de observação ao referendo sobre a autodeterminação de Timor-Leste.

Ao nível da União, o Parlamento Europeu (PE), ao ser a única instituição da UE eleita por sufrágio direto,

está permanentemente envolvido em atividades de observação eleitoral, trabalhando em prol do reforço da

legitimidade dos processos eleitorais nacionais e do aumento da confiança do público na proteção das eleições

e dos direitos humanos. Todos os anos, envia várias delegações parlamentares para observar eleições e

referendos em países terceiros. As delegações do Parlamento são sempre integradas em missões de

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observação eleitoral da UE ou em missões de longo prazo do Gabinete das Instituições Democráticas e dos

Direitos Humanos (ODIHR) da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE).

O Grupo de Apoio à Democracia e de Coordenação Eleitoral (GADCE), entidade que promove a Conferência

em epígrafe, oferece orientações políticas relativamente a atividades de apoio à democracia, como a promoção

da democracia parlamentar e a observação de eleições. Este Grupo é composto por 15 Deputados ao

Parlamento Europeu e a sua presidência é exercida conjuntamente pelos presidentes da Comissão dos

Assuntos Externos (AFET) e da Comissão do Desenvolvimento (DEVE).

III. Da Conferência

Sessão de abertura

A sessão de abertura foi presidida pelo Presidente da Comissão de Assuntos Externos do Parlamento

Europeu (AFET) David McAllister, que após a apresentação de um breve filme subordinado tema

“#EU4Democracy”, iniciou a sua alocução, dando as boas-vindas aos participantes e contextualizando o tema

em debate. Referiu que o Parlamento Europeu possui uma experiencia única nos desafios associados à

promoção de eleições, cuja regular tramitação é essencial na defesa dos direitos humanos e na construção do

processo democrático. Deu nota de que a União está fortemente investida na promoção de eleições livres e

universais, sendo as Missões de Observação Eleitoral (MOE) parte crucial desse trabalho. Concluiu, destacando

o contributo do GADCE na organização e supervisão de MOE desenvolvidas pelo PE, sugerindo que os

Parlamentos Nacionais criem órgãos similares.

De seguida, intervieram os seguintes oradores:

Mariya Gabriel, Comissária da Economia e Sociedade Digitais, que, numa análise retrospetiva, referiu o

contributo positivo das MOE no reforço das democracias mais jovens, tendo sublinhado a necessidade destas

Missões atuarem com base em princípios e valores claros, como a igualdade perante a lei e o respeito pela

universalidade do voto, cabendo à União Europeia e à União Africana garantir que não se verifiquem desvios

nesta questão. Deu nota da existência de pressões externas que visam subverter a ação das MOE e que a

primeira linha de defesa neste tema passa pela implementação de códigos de conduta.

Sobre o impacto das novas tecnologias de informação e comunicação no processo eleitoral, elencou alguns

desafios, referindo, em particular, o aumento exponencial de campanhas de desinformação nas redes sociais,

que caracterizou de programadas, estruturadas e orientadas para objetivos específicos, podendo comprometer

a integridade democrática dos Estados. Partilhou a sua experiência pessoal nesta matéria, em missão de

observação na República Gabonesa, frisando que estas campanhas minam a confiança da população no

processo eleitoral e condicionam a capacidade de os cidadãos tomarem decisões informadas. Não obstante,

frisou que as redes sociais também trazem benefícios ao trabalho das MOE, promovendo a transparência e

permitindo outras vantagens como o acesso à informação, dado representarem um veículo de excelência na

organização de campanhas de informação junto de populações mais frágeis. Por fim, referiu o fenómeno do

discurso de ódio nas redes sociais, frisando que a violência nem sempre é física e manifestando o seu apreço

pelo código de conduta adotado no Parlamento Europeu, que, disse, contribui para a elevação do debate,

alertando para as repercussões quando tal não sucede. Referiu que, ao nível da União, está a ser desenvolvido

trabalho direcionado a colmatar todas estas questões, sendo necessário abordar o tema de forma holística, dada

a sua natureza transnacional.

Abordou também a proteção de dados pessoais, informando que a União propôs medidas concretas para as

próximas eleições para o Parlamento Europeu, centradas na cooperação entre autoridades com

responsabilidade nesta área e comissões nacionais de eleições, reiterando que os votantes devem ter uma

noção clara de quem está a utilizar os seus dados. Referiu também a crescente tendência para o recurso a

notícias patrocinadas nos média, devendo o cidadão ter conhecimento de quem está por detrás da informação

providenciada.

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Concluiu, reiterando que as novas tecnologias são uma verdadeira oportunidade para conferir maior

resiliência ao processo democrático e aumentar a confiança da população nas instituições, contudo tal só virá a

ocorrer se existir diálogo com a população e, principalmente, transparência.

António Tejani, Presidente do Parlamento Europeu, que agradeceu aos participantes, relevando a

importância da conferência e do papel das MOE na edificação da democracia. Disse que a pedra angular da

Europa são os seus valores e princípios e que o contributo do Parlamento Europeu na defesa destes traduz-se,

em parte, na realização de MOE, recorrendo à diplomacia parlamentar de forma eficaz e eficiente. Neste âmbito,

referiu que o PE está em permanente contacto com outros parlamentos e governos de países da União, dado

ser do interesse de todos os que valorizam a democracia promover mecanismos que permitam conferir maior

resiliência ao processo eleitoral. Contudo, referiu, que a eficácia das MOE está condicionada ao reconhecimento

generalizado da sua imparcialidade e credibilidade. Neste sentido, deu nota das mais-valias da participação de

parlamentares, que acrescem valor e conferem visibilidade a estas missões, frisando que o PE é a única

organização que efetua MOE no mundo inteiro. Mais disse que, na qualidade de Presidente do Parlamento

Europeu, considera as MOE uma prioridade da instituição, representando uma verdadeira mensagem de

amizade da Europa ao mundo e manifestando o seu permanente interesse em obter feedback quanto às

dificuldades e sucessos destas missões. Concluiu agradecendo a presença dos participantes na conferência,

que considerou ser do interesse de todos e da democracia.

Pier Antonio Panzeri, Presidente da Subcomissão de Direitos Humanos, que agradeceu a presença dos

participantes, sublinhando que as MOE são um instrumento chave na credibilização do processo democrático,

mas não podem ser encaradas de forma isolada. Mais disse que nos últimos 10 anos, tem surgido a perceção

que os observadores apenas dão o seu contributo no dia da eleição, desaparecendo de imediato. Frisou ser

necessário combater esta imagem, reforçando o papel das missões de longo prazo de forma a assegurar que

as partes interessadas estão preparadas para o processo eleitoral. Referindo-se ao período pós-eleitoral, deu

nota da necessidade de investir em missões de acompanhamento, direcionadas a efetuar follow-up das

recomendações elaboradas pelas MOE, avaliando se são consideradas na preparação de processos eleitorais

futuros. Neste contexto, sublinhou a importância de existir uma estrutura que coordene as diferentes missões e

construa pontes com instituições especializadas nas áreas de mediação e facilitação de diálogos. Referiu a

preocupação contínua da subcomissão que preside em aferir o impacto de processos eleitorais nos Direitos

Humanos, considerando parte do trabalho das MOE promover uma imagem positiva, facilitadora dos Direitos

Fundamentais e Humanos.

Concluiu, manifestando o seu apreço pelo modelo de gestão adotado ter como princípio o envolvimento de

todas as instituições da União, frisando o valor que esta visão intrainstitucional acresce às missões, não se

tratando apenas de transmissão de informação, mas sim de um modelo onde todas as instituições trabalham

em prol de um objetivo comum, de forma coordenada, conferindo eficácia ao trabalho desenvolvido,

considerando ser esta a grande vantagem da União no que se refere às MOE.

Cessouma Minata Samate, Comissário para assuntos políticos da União Africana, iniciou a sua alocução,

destacando a cooperação entre a União Europeia e a União Africana. Referiu que a organização que representa

já efetua, de forma regular, entre 15 a 20 MOE por ano, tendo programadas, para o corrente ano, a realização

de 19 missões de acompanhamento. Estes números, referiu, demonstram que o continente africano está

comprometido com a democracia e valores democráticos. Frisou a natureza técnica das missões, considerando

essencial uma abordagem integral ao tema, norteada pela democracia preventiva, que inclui o acompanhamento

do processo em todas as suas fases: antes, durante e depois do ato eleitoral. Referiu que os períodos pós-

eleitorais são propensos a um elevar de tensões no continente africano, o que torna imperativo a melhoria

contínua de metodologias, a fim de aumentar a eficácia das missões. Para tal, referiu, é essencial garantir a

cooperação entre todas as instituições envolvidas. Nesta lógica, sublinhou o acordo com as Nações Unidas

sobre paz e segurança1, que visa a criação de plataformas direcionadas a prevenir crises nascentes e mediar

1 Joint United Nations – African Union Framework for Enhanced Partnership in Peace and Security, assinado em Nova York, a 19 de abril

de 2017, disponível aqui

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conflitos. Mais disse que solicitar apoio e fomentar parcerias, não implica abdicar da independência institucional,

pelo contrário, apenas reforça as competências de todos os envolvidos.

Concluiu, acompanhando a opinião dos restantes oradores sobre a necessidade de garantir que as

recomendações provenientes das MOE são devidamente implementadas, referindo tratar-se de um instrumento

valioso na melhoria contínua dos processos eleitorais.

Sahle-Work Zewde, Subsecretária-geral das Nações Unidas e representante especial do Secretário-geral

junto da União Africana, que em nome das Nações Unidas, agradeceu ao Parlamento Europeu esta iniciativa.

Começou por aludir à Declaração de Princípios (DOP), cuja elaboração, há 13 anos, teve por objetivo codificar

um conjunto de princípios que norteasse a atuação dos observadores eleitorais, sem aspirações de se tornar

um documento vinculativo. Sobre as MOE, reafirmou que a mera presença de observadores, pode, por vezes,

ser o suficiente para dissuadir a fraude. Concluiu, frisando que as MOE, quando conduzidas com imparcialidade

e de forma responsável, representam o interesse da comunidade global na edificação da democracia, daí o

imperativo da aderência a um conjunto de princípios comuns.

Sessão I

Desafios e oportunidades das missões de observação eleitoral: Tecnologias de Informação e

Comunicação, gestão de desinformação e utilização das redes sociais

Enquadramento da Sessão

A ubiquidade das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) tem gerado novos desafios às missões

de observação eleitoral (MOE). O recurso a tecnologias digitais nas diferentes fases do processo eleitoral,

através da identificação de eleitores via dados biométricos, voto eletrónico e tabulação de resultados, é, cada

vez mais, uma realidade que, simultaneamente, potencia o ato eleitoral e condiciona o trabalho do observador.

Garantir transparência e validar a credibilidade de processos eleitorais fortemente alavancados em TIC, tem-se

revelado uma tarefa complexa, que requer competências técnicas específicas, capazes de, por exemplo,

certificar a contagem de votos efetuada através de sistemas eletrónicos. Face a esta evolução, torna-se

imperativo que as MOE estabeleçam diálogos e repensem procedimentos, tendo em vista soluções tecnológicas,

que permitam manter a eficácia da sua atividade no futuro. A emergência das TIC também deu origem a novas

formas de comunicar e transmitir informação. A exposição do eleitorado às redes sociais e a dificuldade em

aferir a veracidade de notícias propagadas por esta via, sinalizou uma mudança de paradigma, capaz de coartar

o direito2 do eleitor formar a sua opinião de forma independente. Monitorizar o respeito por este direito, é uma

incumbência das MOE que, tradicionalmente, estão estruturadas para detetar tentativas de manipulação do voto

clássicas, como o saturamento do espaço mediático pelo partido dominante ou fraude nas urnas. Urge, portanto,

revisitar o tema à luz desta nova realidade, procurando soluções que permitam ao observador eleitoral

monitorizar, compreender e reportar campanhas organizadas de desinformação nas redes sociais, cujo impacto

pode ser decisivo no resultado de processos eleitorais.

Síntese da Sessão

A sessão foi moderada por Christian Leffler, Secretário-Geral Adjunto para Assuntos Económicos e Globais

do Serviço Europeu para a Ação Externa, que iniciou a sua alocução, dando nota de que, inicialmente,

considerou a emergência das TIC como um fator positivo, que poderia potenciar o trabalho das MOE,

contribuindo para alargar o debate e disseminar informação. Hoje, referiu, é de opinião diferente. Frisou o

problema da desinformação, que subverte o processo de formulação de opiniões pelo eleitorado e cria ruído

desnecessário, limitando o alcance de informação credível junto daqueles que mais necessitam. Face ao que

se precede, preconizou a regulação do setor, procurando um ponto de equilíbrio, que não imponha restrições

desnecessárias à liberdade de expressão e de debate. No âmbito dos sistemas de contagem de votos

2 Conforme disposto no Cometário Geral n.º 25, do Comité de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre artigo 25-º do Pacto Internacional

sobre Direitos Civis e Políticos - “Os eleitores devem poder formar opiniões de forma independente, sem violência ou ameaça de violência, compulsão, pressão ou interferência manipulativa de qualquer tipo.”

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eletrónicos, frisou o risco da criação de caixas negras: software e bases de dados que não permitem uma

supervisão independente e isenta. Trata-se de uma questão técnica, referiu, que condiciona a transparência do

processo eleitoral, considerando que a implementação de mecanismos de controlo e supervisão por entidades

públicas sobre as empresas privadas que providenciam estas soluções deve ser devidamente acautelada logo

na fase inicial de contratação e adjudicação destes serviços. Referiu também que as mesmas dificuldades

verificam-se no registo e identificação eletrónico do eleitorado. Assim, considerou essencial que o Estado

determine quem acede e quem garante a integridade desta informação, frisando que em alguns países não

existe legislação que verse sobre a proteção de dados.

Sumarizou, dando nota que as questões elencadas supra são do foro técnico, cujas dificuldades são

transversais a todas as entidades com responsabilidade na gestão e acompanhamento do ato eleitoral, incluindo

as MOE. A resposta, disse, passa por capacitar a componente técnica de quem tem responsabilidade na matéria,

de forma a garantir transparência e credibilidade a todo o processo.

Recuperando o tema da influência das novas tecnologias no ato eleitoral, aludiu ao aumento de campanhas

de desinformação organizadas, que recorrem aos novos meios de comunicação, referindo, a título de exemplo,

grupos fechados na aplicação WhatsApp, onde a informação falsa torna-se rapidamente viral, reiterando a

necessidade de supervisão, que permita identificar quem financia e promove este tipo de atividades.

Concluiu, referindo que a capacitação técnica das MOE para lidar com esta nova realidade é essencial, sendo

também necessário que os próprios países desenvolvam trabalho nesta área, nomeadamente, na elaboração

de legislação que permita uma supervisão eficaz de processos eleitorais baseados em modelos eletrónicos e na

disponibilização de informação sobre o modo de operação desses modelos às missões de acompanhamento e

observação.

De seguida, tomaram a palavra os seguintes oradores:

Tana de Zulueta, Chefe de várias missões de observação eleitoral promovidas pela ODHIR, referiu que, na

atualidade, quase todos os processos eleitorais recorrem às TIC para gerir e processar dados. Deu nota do caso

da Estónia, único país onde o voto é totalmente eletrónico, frisando que a missão da ODHIR às últimas eleições

naquele país fez-se acompanhar de dois técnicos especialistas, que elaboraram a maioria do relatório final. Mais

disse que esta experiência foi crucial no conhecimento da organização que representa sobre esta matéria, tendo

contribuído para a elaboração de recomendações em outras MOE. Informou que os desafios associados às TIC,

no âmbito do processo eleitoral, não é tema recente, informando que já em 2013 a OSCE produziu um manual

sobre o tema. Frisou que modelos digitais servem a mesma função que os modelos não digitais, logo devem

cumprir as mesmas obrigações, sendo essas: manter a integridade de dados, secretismo e igualdade de acesso.

Assim, um sistema de voto eletrónico que não acautele estas obrigações não está ajustado à função. Recai

sobre quem desenvolve ou contrata estes serviços a responsabilidade de desenvolver as ferramentas

necessárias a garantir transparência. No âmbito das MOE, referiu que os observadores têm que ter acesso ao

sistema de voto eletrónico, caso contrário, não estão a cumprir com a sua missão. Informou que, na sua

experiência, a introdução de sistemas de voto eletrónico tende a gerar desconfiança na população, sugerindo

uma introdução gradual, com constantes validações no que se refere à transparência e integridade dos dados.

Yves Leterme, Secretário-Geral da IDEA Internacional, iniciou a sua alocução informando que a introdução

de TIC no processo eleitoral permite poupar recursos financeiros, diminuir a abstenção e melhorar a eficácia do

registo do eleitorado e da contabilização de resultados. Frisou também que estes novos métodos permitem,

potencialmente, prevenir fraudes, pois limitam a interação humana, tema particularmente relevante em

democracias emergentes. Sugeriu a troca de boas práticas nesta matéria, uma vez que vários países estão a

avançar no mesmo sentido, encontrando dificuldades similares. Reconheceu que existem desafios inerentes à

introdução de novas tecnologias, destacando a desconfiança da população sobre uma potencial manipulação

eletrónica dos votos. Neste ponto, frisou, basta um caso para subverter todo o processo, sendo difícil restaurar

a confiança do eleitorado. Referiu também que a massificação do voto eletrónico pode coartar o acesso de

alguns segmentos da população às urnas, dada a dificuldade em familiarizar-se com a componente técnica do

processo. Em resposta a potenciais ameaças de segurança e no que se refere à integridade dos dados, frisou

que, na sua opinião, nunca se deve apostar num só sistema. A manutenção de um modelo paralelo, não digital,

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confere transparência e credibilidade, dado permitir a comparação de resultados e reduzir, gradualmente, a

desconfiança do eleitorado versus a digitalização do voto.

De seguida, abordou o papel das redes sociais, referindo que as novas tecnologias revolucionaram a forma

como acedemos e partilhamos informação, encurtando o espaço entre cidadãos e políticos. Existe, referiu, todo

um manancial de problemas que acompanham a massificação das redes sociais, dando nota alguns aspetos

negativos, entre eles a criação de câmaras de eco, campanhas de desinformação e manipulação de informação.

Frisou que a autorregulação é manifestamente insuficiente para fazer frente as estas questões, reiterando que

as autoridades governamentais devem ter um papel ativo na prevenção, monitorização e controlo destas redes.

Deu ainda nota de que o excesso de transparência é também um problema, referindo o caso da Indonésia, onde

os registos médicos dos candidatos estão disponíveis para consulta pública.

Concluiu a sua intervenção destacando a questão do financiamento de campanhas políticas. Se por um lado

as novas tecnologias permitiram democratizar este financiamento, mencionando, em específico, o crowdfunding

como modelo emergente nesta matéria, também criam novas barreiras na identificação da origem desse

financiamento, reiterando a necessidade de regulação externa deste setor.

Pat Merloe, Diretor de programas eleitorais no Instituto Nacional para a Democracia, para frisar a importância

da soberania dos Estados no que se refere ao processo eleitoral. Reiterou que as MOE podem complementar,

mas o processo em si é da responsabilidade dos Estados, sendo estes os principais interessados em conferir

resiliência ao ato eleitoral, já que a ausência de transparência destrói a confiança das populações nas

instituições.

Sobre o voto eletrónico, balizou o problema, em parte, na tecnologia proprietária de quem providencia estes

serviços, quando se trata de empresas privadas, reiterando a responsabilidade dos Estados de assegurarem

mecanismos de controlo e supervisão adequados logo na fase de aquisição destas tecnologias. No que se refere

às redes sociais, disse que o princípio basilar da democracia é a livre escolha dos cidadãos na eleição dos seus

representantes e que essa escolha só é livre se existir acesso a informação válida e credível. Quando o acesso

a essa informação é suprimido ou substituído por desinformação, estamos perante uma ameaça à democracia,

razão pela qual apelou à regulação do setor, reiterando que existe atores diversos, interessados em introduzir

ruído, e cuja sofisticação tecnológica permite influenciar os resultados eleitorais. Concluiu, insistindo na

necessidade de capacitar as MOE a nível técnico, frisando o risco do esvaziamento do seu contributo, face ao

avanço da tecnologia nesta área.

Marietje Schaake, Deputada do Parlamento Europeu, que aludiu às missões de longa duração,

diferenciando entre o acompanhamento do processo preparatório e monitorização do ato eleitoral. Questionou

a racionalidade económica da opção de alguns países em introduzirem novas tecnologias no processo eleitoral,

caso do Quénia, onde o custo por eleitor rondou os 25 dólares US$, valor elevado quando comparado com a

Nigéria, que mantém um modelo baseado em papel, e onde o custo por eleitor fixou-se nos 8,6 dólares US$.

Sobre o papel das redes sociais, concordou que permitem dar voz à população, existindo, contudo, uma

assimetria na projeção de mensagem. Quem detém capacidades técnicas e financeiras utiliza as redes sociais

de forma mais eficaz, questionando se, na realidade, o contributo das redes sociais não acaba por promover

também desigualdade. Assim, resumiu a sua visão das redes sociais como um mercado de ideias onde aqueles

com maior capacidade financeira podem projetar a sua mensagem, condicionando as decisões de terceiros.

Seguiu-se a fase de debate, com intervenções que versaram sobre o tema da sessão e as alocuções dos

oradores. O painel optou por responder em conjunto, tendo tomada a palavra:

Tana de Zulueta, para esclarecer que a observação eleitoral na OSCE resulta de um acordo entre todos os

participantes, onde a grande mais valia é a troca de boas práticas. Considerou essencial que seja estabelecido

um diálogo entre organizações que promovem MOE e empresas que desenvolvem tecnologias de voto

eletrónico. No que se refere à monitorização das redes sociais, referiu não existir uma metodologia definida,

mas que as missões que integra estão atentas ao tema. Relativizou a influência deste meio, aludido às recentes

eleições em Itália, onde foi sugerido que as redes sociais tinham influenciado significativamente o resultado

eleitoral, para depois ter-se comprovado que a maioria do conteúdo tido em conta pelo eleitorado foi transmitido

via televisão. Mais disse que a introdução do Regime Geral de Proteção de Dados teve um impacto para lá da

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União Europeia, redefinindo a forma como as empresas tecnológicas abordam a gestão dos dados dos seus

utilizadores.

Marietje Schaake, para, no que se refere à liberdade de expressão e crowfunding, frisar a relevância de

perceber quem está por detrás das opiniões e do financiamento. No contexto atual, não é claro se são pessoas

ou programas desenvolvidos de forma a tentar influenciar resultados. Mais disse que a tecnologia por si só, não

confere confiança ao processo eleitoral. É imperativo ser acompanhada por mecanismos que permitam aferir a

credibilidade e confiram transparência ao processo.

Yves Leterme, para referir que a implementação de um modelo tecnológico de gestão do processo eleitoral

não pode ser um processo isolado, sendo necessário promover a discussão aberta do tema, com o máximo de

transparência e envolvimento da sociedade civil. Frisou que a expectativa de imediatismos na obtenção de

resultados tende a inquinar todo o processo, sendo preferível adotar um modelo gradual, com várias etapas de

avaliação ao longo do percurso. Concluiu, frisando as mais-valias associadas à troca de informações e boa

práticas sobre este tema, que reiterou, é um desafio transversal a vários países.

Pat Merloe, para sugerir que as plataformas de redes sociais adotem um código de conduta que estabeleça

linhas de resposta aos desafios elencados. Referiu que o discurso de ódio nas redes sociais tende a seguir

clivagens existentes na sociedade, sugerindo que organizações dedicadas à mediação e manutenção da paz

podem ter um contributo a dar nesta área. Mais disse que o papel dos observadores internacionais deve ser

repensado à luz destes novos desafios, onde o domínio técnico do processo eleitoral não pode ser excluído.

Concluiu, referindo que está em curso uma guerra silenciosa entre as democracias ocidentais, que premeiam a

uniformização das normas afetas ao processo eleitoral, valorizando a democracia e os direitos humanos, e

outros atores, que veem na diversidade e multiplicidade de sistemas eleitorais um veículo para promover

agendas próprias.

Sessão II

Organização de eleições, prevenção de conflitos, segurança e transições pacíficas

Enquadramento da Sessão

A eclosão de conflitos relacionados com processos eleitorais é uma realidade antiga, que persiste até aos

dias de hoje. As causas deste tipo de fenómeno são múltiplas, embora, invariavelmente, a inexistência de um

sistema de prevenção da violência eleitoral em locais onde o processo carece da resiliência necessária à sua

normal tramitação, tende a preconizar uma maior incidência destes episódios. Erradicar por completo a violência

eleitoral implica uma análise profunda ao enquadramento socioeconómico do país, às dinâmicas que regram as

estruturas políticas presentes e impacto de condicionantes internas e externas. Em suma, matéria do âmbito da

cooperação para o desenvolvimento. No entanto, a curto prazo, urge procurar soluções práticas que permitam

minorar o risco de violência, investindo na prevenção de conflitos eleitorais através, da promoção do diálogo

político entre todos os intervenientes, incluindo entidades governamentais com responsabilidade na área da

segurança. A União Europeia tem procurado soluções nesta área, recorrendo a modelos clássicos de prevenção

de conflitos, ajustados a cenários eleitorais. Um dos vetores de atuação destaca-se pela sua aplicabilidade

nestes casos: a implementação de mecanismos de identificação atempada do risco de conflito violento.

Antecipar o risco permite implementar, em tempo útil, medidas direcionadas a desanuviar a crise. No plano

interno, a implementação sistemática das recomendações providenciadas pelas MOE, tem produzido resultados,

permitindo retirar o máximo proveito com cada ciclo eleitoral. No médio prazo, cada iteração irá conferir maior

resiliência, transparência e credibilidade ao sistema eleitoral visado. Em suma, uma abordagem integrada, que

conjugue recomendações das MOE, assistência a processos eleitorais e metodologias de prevenção e mediação

de conflitos apresentam-se como uma solução passível de minorar a incidência de violência eleitoral. Definir

soluções nesse sentido requer cooperação e diálogo entre as diferentes entidades que lidam nestas matérias,

de forma a consensualizar estratégias e definir mecanismos partilhados.

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Síntese da Sessão

A sessão foi moderada por Elena Valenciano, Deputada do Parlamento Europeu,que iniciou a sua alocução,

elencando alguns dos problemas subordinados ao tema da sessão, referindo, em particular, eleições onde

partidos não aceitam os resultados da votação. Frisou a fragilidade de alguns processos eleitorais, enquadrados

em modelos políticos onde o sistema de freios e contrapesos não é resiliente, o que transforma o ato eleitoral

num processo de tudo ou nada, onde quem perde, contesta, por vezes de forma violenta. Como resposta a esta

problemática, sugeriu afastar a lente de análise, permitindo uma visão abrangente do contexto onde decorre o

ato eleitoral e recorrer a mecanismos específicos, como a prevenção de conflitos, mediação e diálogo, para

antecipar o eclodir de conflitos após as eleições. No âmbito das MOE, destacou a pertinência do contexto,

frisando que ignorá-lo reduz a eficácia das missões. Concluiu, dando nota da necessidade de aumentar recursos

alocados à mediação e promoção da paz.

De seguida, tomaram a palavra os seguintes oradores:

Mohamed Chambas, Representante do Secretário-Geral das Nações Unidas para a África Ocidental e

Sahel, para referir que garantir que um ato eleitoral ocorre de forma pacífica, implica promover condições

políticas para esse efeito. Quando sistema político já de si é frágil, a tendência para o eclodir da violência é

significativamente maior. A resposta a esta problemática, referiu, assenta no reforço de capacidades locais e

nacionais, de forma a antecipar e precaver conflitos, antes do ato eleitoral. Trata-se de um trabalho preparatório,

que deve ser efetuado junto de organizações locais, visto estas conhecerem o terreno, os intervenientes e os

principais focos de tensão. Frisou ainda o mérito de promover alterações constitucionais em países onde não

existem limites de mandatos, eternizando partidos políticos no poder, o que pode levar a que após cada ato

eleitoral, a oposição assuma uma postura cada vez mais beligerante.

Pekka Haavisto, Presidente do Instituto Europeu para a Paz, que concordou que modelos eleitorais onde o

vencedor das eleições assume a totalidade do poder são propensos a despoletar violência. Frisou que antes de

se equacionar um processo eleitoral sólido e resiliente, é necessário garantir condições básicas, que confiram

credibilidade ao ato em si. Ponderar um processo eleitoral sem assegurar um acordo de paz é inútil,

questionando, retoricamente, se estão reunidas as condições necessárias para efetuar eleições livres em países

como a Síria, Líbia e Iémen. Referiu também o direito de minorias participarem no processo eleitoral, frisando

que a exclusão, seja ela de natureza étnica, religiosa ou social, será sempre um foco de tensão, potenciador de

conflito e violência. Deu particular relevo à participação eleitoral dos jovens e das mulheres, dando nota do caso

da Libéria, onde após o processo de paz, os ex-guerrilheiros transitaram para esfera política, excluindo mulheres.

Sobre os jovens, destacou a importância de apoiar iniciativas que permitam imprimir princípios e valores

democráticos neste segmento da população, referindo o caso do Afeganistão, onde organizações juvenis tentam

travar o recrutamento levado a cabo por grupos extremistas nas universidades.

Jason Carter, Presidente do Conselho de Curadores do Centro Carter, para referir que a organização a que

preside já observou mais de 100 eleições, sempre em locais onde a violência era uma possibilidade. Frisou que

as democracias em transição representam um contexto muito específico, existindo a possibilidade das MOE

contribuírem para a redução de conflitos, sublinhando que a melhor forma de contribuir para paz é relatando a

verdade, mesmo que esta implique consequências. Mais disse que o percurso para a paz é um percurso político,

daí o mérito de garantir um processo eleitoral credível, pois reforça a confiança da população no sistema e

incentiva à participação pacífica em atos eleitorais futuros. Referiu tratar-se de um círculo virtuoso, que transmite

a seguinte mensagem – podes ter perdido a eleição, mas confia no processo e prepara-te para a próxima –

Antes este modelo, que privilegia o combate político, do que a alternativa, que frequentemente se traduz no

recurso à violência. Concordou que a infraestrutura eleitoral é relevante, mas, valorizando o papel das MOE,

sublinhou que a perceção de que o mundo está a observar o ato eleitoral e que os observadores estarão

presentes em atos futuros, também contribui para a confiança no processo eleitoral e representa mais um

obstáculo no recurso às armas.

Yvette Chesson-Wureh, Centro Internacional Angie Brooks, que deu nota do progresso da mulher africana

na expressão dos seus direitos políticos, referindo que a paz no continente passa pelo empoderamento das

mulheres. Sugeriu um reforço da colaboração entre as MOE e as organizações locais, reiterando serem estas

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que melhor conhecem o contexto, estando capacitadas para preparar terreno antes do ato eleitoral, promovendo

a mediação e a paz.

Seguiu-se uma fase de debate, durante a qual, tal como na anterior sessão, diversos parlamentares e outros

convidados tiveram oportunidade de contribuir para a discussão, colocando questões relativas ao tema da

sessão. Destaca-se a intervenção de Marisa Matias, Deputada do Parlamento Europeu, para questionar sobre

a forma como as MOE do PE podem contribuir para a prevenção de conflitos e pacificação do processo eleitoral

tendo em conta as limitações do seu mandato.

Respondeu Jason Carter, informando que a instituição que representa tem o benefício de não responder

perante nenhum Governo, mas que o PE pode contar com outros parceiros que não estão sujeitos às mesmas

limitações de mandato que as MOE do PE. Não obstante, referiu que as eleições são o momento onde se avalia

a credibilidade de uma democracia e que a presença da União é importante nesse processo. Concordou que

quanto maior for a duração das missões, maior o seu contributo, principalmente, referiu, na preparação do

terreno, identificação de focos de tensão, mediação de conflitos e obtenção de informação essencial a quem

vem observar o processo eleitoral. Por estas razões, referiu, as missões de observação devem ser antecipadas

por missões de preparação e de acompanhamento.

Sessão III

Boas práticas e o papel da observação eleitoral parlamentar, incluído código de conduta

Enquadramento da Sessão

A participação de parlamentares em missões de observação eleitoral tem aumentado em anos recentes, em

parte, devido à credibilidade e garantias de isenção que conferem a estas missões. Neste contexto, é decisivo

certificar que as mais-valias associadas ao papel de parlamentares não são inquinadas por práticas

questionáveis, mesmo que involuntárias. A manutenção deste estatuto depende da codificação de regras e

princípios que norteiem a atuação de parlamentares que participem em MOE. Nesta área, a principal referência

é a declaração de princípios de observação eleitoral internacional3 (DoP) que estabelece a imparcialidade

política, não interferência em processos eleitorais e impedimento de proferir declarações públicas até ao

momento em que a missão emita um comunicado oficial, como conceitos base a serem considerados por todos

os observadores eleitorais. Tratando-se de uma declaração de princípios, não alberga sanções, e, no caso de

observadores parlamentares, o acatamento rigoroso pode colocar em causa a liberdade de expressão política.

Em resposta a estas questões, diferentes entidades têm procurado adotar códigos de conduta próprios,

ajustando o DoP às especificidades de cada organização. É esse o caso do Parlamento Europeu (PE), cujo

código de conduta4 para a participação de Deputados em MOE, determina a estrita observância do princípio de

imparcialidade política, estabelecendo sanções em caso de incumprimento. Também para o espaço OSCE, foi

recentemente proposto pelo PE, através do Grupo de Apoio à Democracia e de Coordenação às Eleições, um

novo código de conduta comum, aplicável a missões de observação eleitoral internacionais, que integram

delegações de outras entidades para além do Parlamento Europeu: OSCE/ODHIR, APCE, APNATO, APOSCE.

Esta nova proposta tem por pedra angular os princípios contemplados na DoP, mas não especifica sanções.

Síntese da Sessão

A sessão foi moderada por Heidi Hautala, Vice-Presidente do Parlamento Europeu, que referiu as mais-

valias da participação de parlamentares em missões de observação, exortando a credibilidade e a imparcialidade

demonstrada como observadores. No entanto, deu nota de que nem sempre se verifica uma estrita observância,

3 Celebrada em 2005, nas Nações Unidas. Entre as várias organizações subscritoras destaca-se a ONU, União Africana, APCE, Comissão

Europeia, OSCE, UIP e Organização dos Estados Americanos. Disponível aqui 4 COM (2000) 191 - Resolução do Parlamento Europeu referente à Comunicação da Comissão sobre a assistência e a observação eleitorais

da EU e EP-PE_REG(2012) – Grupo de Apoio à Democracia e de Coordenação Eleitoral e disposições de execução aplicáveis às delegações de observação eleitoral.

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por parlamentares, do disposto na Declaração de Princípios (DoP), identificando, em específico, questões como

a interferência no processo eleitoral, comentários proferidos fora da estrutura da missão de observação, conflitos

de interesse e a participação de parlamentares como observadores a título individual, por convite de entidades

locais. Mais disse que estes incidentes danificam a reputação de parlamentares nesta matéria e podem

comprometer a reputação das MOE no longo prazo. Partilhou que, no âmbito do Parlamento Europeu, já

ocorreram casos de violação clara dos princípios fundamentais da DoP por membros do Parlamento Europeu,

referindo, em particular, as eleições na Arménia e Azerbaijão, frisando que os membros envolvidos foram

expulsos da delegação ou banidos de participarem em MOE promovidas pela União. Essencial para este

processo, referiu, é a existência de um código de conduta claro, que contemple sanções, e da de uma entidade

responsável por aferir o comportamento de parlamentares quando participam em missões de observação

eleitoral. Concluiu, dando nota da proposta do PE para a criação de um código de conduta conjunto, informando

que a APCE já adotou o documento, estando ainda a decorrer conversações com a APOSCE e APNATO.

De seguida, tomaram a palavra os seguintes oradores:

Isabel Santos, Vice-Presidente da Assembleia Parlamentar da OSCE e Deputada da Assembleia da

República, que iniciou a sua alocução, frisando que a participação da APOSCE em missões de observação

eleitoral data de 1993, altura em que foi enviada uma MOE à Federação Russa por ocasião do primeiro processo

eleitoral multipartidário daquele país. Informou que a APOSCE participou na observação de 170 processos

eleitorais, em 31 países, dando nota de que a composição de uma missão ronda, em média, os 50 observadores,

trabalhando tanto em democracias consolidadas como emergentes. Referiu que a abordagem da APOSCE

permitiu desconstruir qualquer conotação negativa associada ao envio uma MOE, pelo contrário, estas são hoje

encaradas como uma oportunidade de conferir resiliência a processos democráticos. Mais disse que o trabalho

desenvolvido pela APOSCE nesta área baseia-se no pressuposto de que a participação de parlamentares

acresce valor ao processo eleitoral, classificando como natural e apropriado que a responsabilidade de liderar

uma MOE recaia sobre pessoas com extenso conhecimento sobre o processo, resultante, em parte, de os

próprios serem representantes eleitos.

Prosseguiu, versando sobre os procedimentos e conduta dos parlamentares que participam em missões de

observação eleitoral, frisando a longa experiência da APOSCE na organização de MOE, que já evolveu mais de

5000 observadores parlamentares, o que permitiu definir práticas e procedimentos robustos. Deu nota de que

os líderes das missões são selecionados pelo Presidente da assembleia parlamentar, acrescentando que na

maioria dos casos, um elemento sénior da APOSCE é selecionado para o papel de coordenador especial de

missões de observação de curta duração. Mais disse que esta estrutura de liderança responde perante a

assembleia e presidente da APOSCE, permitindo fixar linha clara de responsabilização. Informou que embora

não exista um regulamento formal no que concerne à nomeação dos líderes de missões, estão definidas

diretrizes, nomeadamente, que os parlamentares selecionados não sejam naturais de países vizinhos ou de

países com relações problemáticas com o país onde irá desenrolar-se a MOE, que não pertençam a um grupo

parlamentar de amizade ou detenham algum tipo de histórico que possa de ligar o parlamentar ao Estado que

visita. Tanto o equilíbrio de género e o equilíbrio político são temas devidamente acautelados na escolha dos

líderes de missão. Referiu ainda que a APOSCE limita a 10% o número de observadores de outras delegações

que participam na mesma missão, tratando-se de uma medida eficaz, que impede que observadores de um só

país influenciem despropositadamente a missão.

Informou que, para cada missão, todos os observadores assinam um código de conduta, certificando que

não existe nenhum conflito de interesses vis-à-vis a missão proposta, passível de interferir com a sua capacidade

em desempenhar as funções de forma imparcial.

Mais disse que, num universo de 170 missões e 5000 observadores, foram identificadas apenas 3 situações

irregulares, onde o líder de missão foi obrigado a remover um membro da delegação por comportamento

contrário ao disposto no código de conduta. Aludido à declaração da APOSCE, de 11 de julho, em Berlim,

reiterou a preocupação sobre a proliferação de organizações paralelas que visam promover a falsa observação

eleitoral, apelando aos Parlamentos nacionais para não pactuarem com modelos de observação que não sejam

baseados em processos transparentes, munidos de uma metodologia sistemática, frisando que as missões

organizadas pela APOSCE têm precedência sobre quaisquer acordos bilaterais nesta matéria. Face ao que

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precede, diferenciou entre observadores não autorizados e falsos observadores, referindo que APOSCE já se

deparou com situações em que membros daquela assembleia parlamentar optaram, unilateralmente, por viajar

a um país, com o objetivo de observar processos eleitorais, sem estarem integrados numa MOE oficialmente

sancionada. Frisou que nestes casos, os parlamentares não se deslocam como observadores oficiais da

APOSCE, no entanto, são assim identificados por alguns canais de informação menos reputados. Embora a

APOSCE distancie-se dos comentários proferidos por estes observadores, informou que a organização que

representa não está capacitada para sancionar este tipo de atividades, não obstante de eventuais implicações

futuras na seleção do elenco de parlamentares a participar em MOE. Embora reconhecendo a gravidade destes

casos, referiu que, por questões estruturais, a APOSCE tem uma capacidade limitada de intervenção, dando

nota de que a introdução de sanções poderá ser equacionada no futuro, dependendo a sua implementação de

uma análise custo-benefício. Sobre observadores falsos, referiu que a presença destes tende a ser organizada

pelos próprios governos dos países onde decorre o processo eleitoral, visando garantir uma avaliação positiva,

indiferenciada da qualidade do processo em si. Sobre estes casos, informou que a APOSCE considera que

apreciações proferidas por indivíduos convidados diretamente pelos Estados, não tem o mesmo peso do que

uma MOE concebida por uma organização com mandato internacional.

Ingibjörg Sólrún Gísladóttir, Diretora do Gabinete da OSCE para Instituições Democráticas e Direitos

Humanos (ODIHR), referiu que o processo eleitoral não pode ser distanciado da defesa dos direitos humanos,

existindo a expectativa, junto da população do país visitado, de que a presença de observadores imprime

credibilidade aos resultados obtidos. Neste sentido, frisou que quando a missão não corresponde às

expectativas, não só é colocada em causa a integridade pessoal dos observadores, como existe um efeito

transversal negativo para a imagem das MOE, como condiciona a eficácia de missões no futuro. A título de

exemplo referiu as eleições no Azerbaijão, considerando que o processo eleitoral foi subvertido de início, dado

que nenhum membro da oposição foi eleito. No entanto, referiu, que o chefe de missão declarou que as eleições

decorreram dentro da normalidade. Classificou casos similares como Diplomacia Caviar, que subverte os

princípios básicos subjacentes às missões de observação eleitoral por questões de conveniência política,

extravasando por completo o que é o cerne de uma MOE. O orador foi claro na sua crítica, frisando que o chefe

de missão traiu os princípios básicos das MOE, pactuando com o regime do Azerbaijão para silenciar críticos. É

neste contexto que enfatizou a relevância de um processo transparente na seleção de candidatos a chefe de

missão, declarando seu apoio à criação de um código de conduta conjunto, bem como de entidades que se

responsabilizem pela supervisão da ação de MOE.

Oliver Kask, Magistrado e membro da Comissão de Veneza, que iniciou a sua alocução dando nota das

competências da entidade que representa, referindo ter por objetivo fomentar a cooperação entre advogados e

tribunais constitucionais, no âmbito da lei eleitoral, providenciando opiniões e organizando conferências

subordinadas a esta temática. Informou que a comissão implementou um código de conduta em 2002,

considerado ser um elemento estruturante na atuação de todos os envolvidos. Manifestou a sua concordância

com as opiniões dos oradores que o antecederam, frisando a importância de, no final das missões, ser

apresentado um só relatório com recomendações. Certo é, disse, que tal implicaria uma cooperação alargada

entre todos os observadores envolvidos, sublinhado a necessidade de incluir também os observadores locais.

Conclui, reiterando que a construção da democracia é um processo contínuo, que não se inicia três meses antes

das eleições, nem termina com a divulgação dos resultados, apelando assim a um acompanhamento

permanente, abrangente, e sobretudo coerente dos processos de democratização.

Mario Galea, membro do Parlamento de Malta, frisou a importância de integridade pessoal do chefe de

missão, sem a qual não é possível elaborar recomendações credíveis. Aludindo ao movimento #Metoo, deu nota

da existência de uma mudança no comportamento do eleitorado no que se refere à exigência de qualidade e

intolerância face à fraude em processos eleitorais. Sublinhou que o trabalho dos observadores eleitorais deve

acompanhar estas mudanças de paradigma, reajustando o modelo de operação, refletindo o que a sociedade

admite e deixa de admitir. É um processo contínuo, referiu, mas cujo acompanhamento é essencial para a

manutenção da eficácia e credibilidade das MOE. Neste tema, frisou que a abordagem deve centrar-se nas

vítimas, promovendo uma cultura de aceitação e integração. Esta visão deve também ser transmitida aos

observadores locais. Sobre a atuação dos membros das MOE, referiu que os parlamentares estão sujeitos a um

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nível de escrutínio significativo, nível esse que não se aplica aos técnicos e peritos, considerando fundamental

a elaboração de código de conduta específico a estes.

Seguiu-se a fase de debate, no qual participaram diversos parlamentares presentes, questionando sobre a

matéria da sessão, onde se destaca as seguintes intervenções:

Roberto Montella, Secretário-geral da APOSCE, que referiu que 90% do texto dos relatórios é elaborado

por técnicos e restantes peritos que acompanham as missões. Recuperando a troca de impressões que ocorreu

durante a sessão sobre o código de conduta e o processo de seleção do Chefe de missão, questionou se o

mesmo grau de exigência não deve ser aplicado aos peritos.

José Inácio Faria, Deputado do Parlamento Europeu, que manifestou a sua concordância com o proposto

pelos oradores, dando nota de situações gravosas que ocorrem fora do âmbito das MOE, aludindo, em particular,

ao último ato eleitoral na Venezuela, onde estiveram presentes, a título individual e a convite das autoridades

locais, membros do Parlamento Europeu. Apesar de se tratar de uma deslocação não oficial, referiu, foi

amplamente difundindo na imprensa venezuelana que o Parlamento Europeu, de alguma forma, validava os

resultados das eleições. Face ao exposto, questionou se o código de conduta do PE não deveria conter uma

previsão específica a estes casos.

O painel optou por responder em conjunto às questões, tendo tomada a palavra:

Ingibjörg Sólrún Gísladóttir, para referir que todos os políticos têm uma agenda própria. No entanto, quando

integrados numa MOE, não existe espaço para o contraditório sobre as conclusões expressas no relatório final.

Os factos são os factos. Quando um elemento da missão opta por contradizer o relatório, subverte o trabalho de

todo o grupo. No que se refere à responsabilização, reiterou que os parlamentares respondem perante os

eleitores, mas tal não ocorre no contexto de uma MOE. Como observador eleitoral, as políticas pessoais de um

parlamentar não podem, nem devem ser relevantes. Concluiu, manifestando a sua concordância com a proposta

do código de conduta aplicar-se a todos os que participam em MOE, incluído peritos e pessoal técnico.

Oliver Kask, para informar que na sua visão, não é viável procurar coartar o direito de parlamentares

proferirem opiniões políticas, principalmente no presente contexto, em que o acesso às redes sociais é

generalizado. Ainda assim, referiu que a tarefa das MOE não deve ser condicionada pelas opiniões de um ou

de outro observador. O foco deve manter-se no apoio às entidades nacionais com responsabilidades na gestão

do processo eleitoral. Mesmo nos casos em que parlamentares, de forma isolada, optem por criticar a missão,

a relevância destas opiniões deve ser relativizada, mais ainda quando se trata de parlamentares cuja

participação ocorre a título individual.

Mario Galea, para sublinhar que o código de conduta deve ter uma conotação obrigatória, caso contrário é

de utilidade é limitada. Sugeriu que os Parlamentos nacionais criem comissões permanentes cuja competência

incide sobre a conduta dos parlamentares, e que essas comissões devem estar capacitadas para impor sanções

nos casos de incumprimento do código de conduta. Sobre as competências do Chefe de Missão, considerou

essencial o poder de expulsar um parlamentar da missão, em casos de incumprimento, frisando que todos os

participantes só devem proferir opiniões após obter a anuência expressa do Chefe de Missão.

Por fim e em relação à eficácia dos relatórios produzidos informou que esta está dependente da sua

tempestividade e dos destinatários, considerando relevante a divulgação atempada junto das populações.

Isabel Santos, para reiterar que os relatórios são importantes, mas é necessário ter em conta quem os

produz, não sendo de todo inocente o aumento no número de missões paralelas, não sancionadas. Mais disse

que esse aumento ocorre exatamente porque o trabalho das MOE tem impacto e obtém visibilidade

internacional, caso contrário não seria necessário às autoridades políticas de alguns países promoverem

missões de observação paralelas, com vista a produzir relatórios cujo conteúdo lhes é favorável.

Sobre o escrutínio de parlamentares, reiterou que são estes os elementos com maior exposição das suas

posições políticas e que essa transparência representa uma mais-valia, porque, à partida, todos os envolvidos

estão previamente cientes da posição política que cada um assume, logo não existe nenhum tipo de agenda

oculta.

Referindo-se à composição das MOE, frisou que todos os membros têm igual importância, não existindo

membros cuja opinião é particularmente valorizada. Acrescentou que no final da missão todos têm direito à sua

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própria opinião, mas que ninguém tem direito aos seus próprios factos, daí a importância das missões de longa

duração, para que as conclusões sejam o mais objetivas e claras possíveis.

Sobre a participação das mulheres, frisou que a APOSCE tem acautelado este tema, estando frequentemente

presente nas conclusões apresentadas no final das missões.

Sessão de Encerramento

A sessão de encerramento foi presidida por Mairead McGuinness, Vice-Presidente do Parlamento Europeu,

que agradeceu a presença de todos os participantes, sublinhando a importância de obter contributos de pessoas

com experiências diversas, sendo a diversidade um instrumento chave na identificação de soluções e na

construção de processos democráticos duradouros. Concordou que as MOE têm desafios complexos pela

frente, que urge adereçar, dado poderem comprometer a efetividade de missões futuras. Frisou que os

parlamentares têm o dever de observar eleições de forma imparcial e isenta, relatando o sucedido de forma

objetiva. Neste sentido reiterou o seu apoio a todos os esforços que visem a adoção de código de conduta que

inclua critérios de seleção de parlamentares para participação nas MOE, dando nota de que o PE já se debruçou

sobre esta matéria, através da introdução de medidas concretas.

De seguida, tomaram a palavra os seguintes oradores:

Roger Nkodo Dang, Presidente do Parlamento Pan-Africano, que frisou o interesse e utilidade da

conferência, considerado ser este o momento certo para repensar a cooperação entre a União Africana e a

União Europeia sobre observação eleitoral. De seguida, reiterou a importância de reforçar a democracia no

mundo e em particular no continente africano, frisando que cooperação internacional representa uma ferramenta

basilar na edificação de democracias duradoras e resilientes. Face ao que precede, frisou que as políticas

adotadas por instituições internacionais devem ser simplificadas e orientadas para o futuro, espelhando a

vontade das populações, cuja opinião não deve ser ignorada. Mais disse que o processo democrático é a pedra

angular do desenvolvimento humano, cabendo aos decisores políticos e legisladores serem a voz da

prosperidade das nações. Aludindo ao papel do Parlamento Pan-Africano na promoção da democracia do

continente, frisou que é através da democracia que se aprende sobre a democracia e que para tal é necessário

proporcionar liberdade de expressão às populações africanas na escolha dos seus representantes. Deu nota do

trabalho desenvolvido em prol da transparência, frisando que, como legislador e representante eleito, deve o

seu mandado ao processo eleitoral e quanto mais transparente o processo, maior a legitimidade conferida a

quem assume cargos de relevância política. Mais disse que a organização a que preside considera o apoio a

processos eleitorais e missões de observação eleitoral elementos cruciais na prevenção de conflitos no

continente. Frisou que, em contraste com o Parlamento Europeu, o Parlamento Pan-Africano pode optar por

enviar uma MOE sem existir uma solicitação formal prévia do país onde decorre o processo eleitoral, o que, na

sua opinião, atesta o reconhecimento, pelos países africanos, da imparcialidade e credibilidade da organização

que preside. Concluiu, reiterando o mérito de fortalecer a cooperação e trocas de informação com a União

Europeia, que, frisou, se baseia em valores e princípios comuns.

Federica Mogherini, Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança,

que iniciou a sua alocução, referindo os 18 anos que passaram desde da primeira missão de observação eleitoral

promovida pelo PE, recordado o seu envolvimento, como mediadora, no processo de paz na província Indonésia

de Achém, onde, sublinhou, a União apoiou a mediação do conflito, enviou um MOE para acompanhar a primeira

votação e deu continuidade ao processo de paz, através de apoio financeiro após o ato eleitoral.

Sobre o trabalho desenvolvido pelas MOE, referiu os aspetos positivos da cooperação entre diversas

entidades e a diversos níveis, desde autoridades locais, organizações regionais e internacionais. Frisou que

todos os parceiros podem e devem contar com a imparcialidade dos observadores eleitorais, reiterando que o

objetivo é garantir direitos humanos e nunca tomar uma posição relativa à política local. Mais disse que o envio

de uma MOE não tem por objetivo agradar a parceiros nem legitimar eleições fraudulentas, frisando a dureza

de algumas das recomendações produzidas no final de missão.

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Expandido sobre o processo de decisão, informou que a determinação do envio de uma missão só ocorre

quando as entidades envolvidas consideram que os observadores podem dar um contributo positivo, existindo

sempre disponibilidade para apoiar processos de democratização. Relevou a importância das missões de

acompanhamento, cujas recomendações, neste âmbito, são essenciais para melhoria contínua dos processos

eleitorais, dado que a democracia é um exercício diário, que ultrapassa o ato da votação. Deu nota do contributo

para o futuro que esta conferência representa, frisando relevância das conclusões obtidas. Entre estas, destacou

o potencial da cooperação trilateral entre a União Europeia, as Nações Unidas e a União Africana e a adoção

de um código de conduta conjunto, para parlamentares. Aludiu também à mediação de conflitos, que não sendo

uma competência das Missões de Observação Eleitoral, tem um papel importante na resolução de conflitos,

sugerindo que as organizações não-governamentais que desenvolvem trabalho nesta área coordenem a sua

atividade com as MOE. Mais disse que as MOE não são, nem nunca serão uma tarefa fácil e que a construção

da democracia é um projeto contínuo. Referiu que todo o trabalho desempenhado nesta área deve ser alvo de

uma reanálise com vista a identificar áreas de melhoria, considerando existir espaço para progresso em todas

as frentes. Concluiu, sublinhando que a mudança convoca todos e incentivando os parlamentares a darem

continuidade ao trabalho desenvolvido, em prol da democracia.

Palácio de S. Bento, 30 de outubro de 2018.

Os Deputados da Assembleia da República

Anexos:

I – Programa da Reunião

II – Lista de Participantes

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A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

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