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Quarta-feira, 29 de maio de 2019 II Série-D — Número 20

XIII LEGISLATURA 4.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2018-2019)

S U M Á R I O

Delegação da Assembleia da República:

Relatório da participação da Assembleia da República na Reunião Interparlamentar sobre Política Agrícola Comum e a Política de Coesão, que decorreu no Parlamento romeno, em Bucareste, nos dias 19 e 20 de março de 2019.

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DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA REUNIÃO

INTERPARLAMENTAR SOBRE POLÍTICA AGRÍCOLA COMUM E A POLÍTICA DE COESÃO, QUE

DECORREU NO PARLAMENTO ROMENO, EM BUCARESTE, NOS DIAS 19 E 20 DE MARÇO DE 2019

Composição da Delegação:

A Delegação foi liderada pelo Presidente da Comissão de Agricultura e Mar, Deputado Joaquim Barreto

(PS), sendo ainda composta pelos Deputados António Ventura (PSD), em representação da Comissão de

Assuntos Europeus; Joel Sá (PSD), em representação da Comissão de Economia, Inovação e Obras

Públicas; e Pedro do Carmo (PS), em representação da Comissão de Agricultura e Mar.

A assessoria foi prestadapela Representante Permanente da Assembleia da República junto da União

Europeia, Cristina Neves Correia.

Dia 19 de março

1. Sessão de Abertura (15:00h-15:30h)

Foram proferidas alocuções de boas-vindas por Călin Popescu Tariceanu1, Presidente do Senado

romeno; e Alexandru Stanescu, Presidente da Comissão de Agricultura, Florestas, Indústria Alimentar e

Serviços Específicos da Câmara dos Deputados romena. Este último orador expressou a sua satisfação pela

presença de parlamentares de 19 Estados-Membros.

Ambos os intervenientes salientaram a importância dos temas a debater, atendendo ao conteúdo das

novas propostas da Comissão Europeia, quer para o novo Quadro Financeiro Plurianual (QFP), quer para a

reforma da Política Agrícola Comum (PAC). Ambos expressaram a sua preocupação quanto às mencionadas

propostas, na medida em que elas podem colocar em causa o orçamento atribuído às políticas estruturais

tradicionais, que se destinam a trazer valor acrescentado aos cidadãos da União Europeia (UE). Atendendo à

estreita ligação entre ambas as propostas (PAC e QFP 2021-2027) a Presidência romena entendeu ser

pertinente debater o impacto das novas medidas para a segurança e soberania alimentares europeias, bem

como para o equilíbrio ambiental e territorial. Os oradores referiram, ainda, a pertinência de se debater o

impacto, a longo prazo, da redução de fundos proposta para as políticas de coesão no novo QFP.

2. Sessão I –O Orçamento da Política Agrícola Comum (15:45h-17:45h)

A sessão foi moderada por Alexandru Stanescu, Presidente da Comissão de Agricultura, Florestas,

Indústria Alimentar e Serviços Específicos da Câmara dos Deputados romena, sendo oradores Daniel

Botanoiu, Secretário de Estado do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural; Phil Hogan Comissário

da Agricultura e Desenvolvimento Rural (mensagem vídeo); Georg Haeusler, Diretor de Recursos da DG

AGRI da Comissão Europeia; Pekka Pesonen, Secretário-Geral da COPA COGECA2; e Jan Plagge,

Presidente do IFOAM UE3

DanielBotaniou começou porrecordar que os fundos propostos para a nova PAC não são suficientes.

Salientou, no entanto, alguns aspetos positivos da reforma proposta, que são apoiados pela Roménia, como

os esforços de simplificação da PAC, bem como as medidas para fixação das populações, sobretudo dos

1 Discurso integral do Presidente do Senado disponível em: http://www.parl2019ro.eu/eu/dp.comunicat?idn=111&idl=2&idm=20&idc=1 2 https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwiNm7-FuZviAhWG26QKHeVgAh8QFjAAegQIBhAD&url=https%3A%2F%2Fcopa-cogeca.eu%2F&usg=AOvVaw1nnq30tBhM27--qidFn1TU 3 https://www.ifoam-eu.org/en/node

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jovens, nas áreas rurais, um dos pontos nos quais deveriam convergir todos os esforços. Aludiu, ainda, ao

reforço da investigação, sem a qual não haverá desenvolvimento rural de longo prazo. Continuou, aludindo às

diversas dificuldades do setor, como a volatilidade dos preços agrícolas e a questão do embargo à Rússia, que

veio complicar a vida dos agricultores romenos. Assim, num contexto já difícil à partida, a redução prevista do

financiamento da PAC será mais um fator a desincentivar os agricultores. Explicou ainda que, na Roménia,

existem dois tipos de financiamento: por um lado, para os 860 000 pequenos agricultores, que praticam uma

agricultura quase de mera subsistência; por outro, para os 13 000 agricultores detentores de explorações de

maior dimensão, que fornecem os grandes mercados. Neste contexto, a redução do financiamento do segundo

pilar irá transferir o ónus para os pequenos agricultores. Terminou, reiterando a necessidade de atrair jovens

agricultores, que possam aproveitar as capacidades pré-existentes, dando o exemplo dos grãos de soja, que a

Roménia poderia produzir em grandes quantidades (até 4 milhões de toneladas/ano), ao invés de os importar.

Seguiu-se a apresentação de uma mensagem vídeo de Phil Hoganl que, saudando o Parlamento romeno

pela organização da reunião, referiu que o Conselho e o Parlamento Europeu (PE) estão a tentar chegar a

acordo, nomeadamente no que concerne ao orçamento 2021-2027, até outubro de 2019. Acrescentou ser seu

objetivo repor o atual nível de financiamento. Referindo-se à reforma da PAC, sublinhou o novo modelo

assente nos resultados; a simplificação de procedimentos, com flexibilidade para os Estados -Membros

desenharem os seus próprios planos estratégicos; e o foco nos jovens agricultores com novos instrumentos

que lhes são especialmente destinados.

Georg Haeusler começou por recordar que, atualmente, existem fortes indícios, quer dos Estados-

Membros, quer da União Europeia, de que a União deverá responder a novos desafios como as migrações, a

segurança e defesa, e os objetivos ambientais. Apesar destes novos reptos, a PAC e a Política de Coesão

continuam a representar 70% do orçamento da UE. Aludiu, de seguida, ao antagonismo entre o «clube dos

contribuintes líquidos» e o dos «beneficiários líquidos», bem como com o Parlamento Europeu (PE), que

sugeriu contribuições de 1,3% do Rendimento Nacional Bruto (RNB) para o novo QFP. Recordou que havia

um «elefante na sala», ou seja, o Brexit, que representa um corte significativo para o novo orçamento da

União. Referiu, ainda, que a Comissão, na sua proposta, tentou manter os pagamentos diretos e ter em conta

a convergência entre velhos e novos Estados-Membros, aumentando valores em alguns casos e mantendo os

cortes num máximo de 4%. Defendeu que a Comissão não está, na realidade, a propor cortes ao pilar do

desenvolvimento rural, mas sim a aumentar o cofinanciamento dos Estados-Membros, o que considerou ser

comportável, na medida em que a crise financeira já passou, sendo ainda uma repartição de encargos mais

justa para manter o financiamento aos agricultores beneficiários. Recordou as dificuldades de calendário,

sublinhando que a Comissão Europeia pretendia um acordo antes das eleições de maio o que, infelizmente,

não foi possível, sendo que o estabelecimento de um acordo-quadro até ao outono, conforme pretendido pelo

Conselho Europeu, é já o limite para que o novo QFP possa entrar em vigor atempadamente. Terminou,

considerando que a proposta em cima da mesa era uma boa proposta e desejou que se chegasse a um

acordo satisfatório.

Pekka Pesonen abordou, na sua intervenção, diversos problemas relacionados com o futuro da

agricultura. Aludiu, em especial, à baixa percentagem de jovens e de mulheres agricultoras. Referiu a

necessidade de o novo orçamento europeu ter de responder aos novos desafios, mas não com prejuízo da

PAC, que apelidou de pedra angular da UE, defendendo a necessidade de manutenção de um alto nível de

ambição para apoio de novas empresas agrícolas e para a fixação das novas gerações nas zonas rurais.

Defendeu, igualmente, a simplificação das regras da PAC. Terminou, recordando que a UE tem uma produção

agrícola de alta qualidade, que urge manter.

Jan Plagge começou por sublinhar que os valores da PAC não podem ser desconectados do seu

conteúdo. Nesse contexto, congratulou-se pelos «eco-esquemas», como um primeiro passo para uma

arquitetura comum de financiamento de critérios ambientais, que são de inclusão obrigatória nos planos

estratégicos, embora sem um número pré-definido. Terminou, convidando os parlamentares presentes a instar

os respetivos governos a incluir os eco-esquemas nos seus planos estratégicos nacionais.

Alexandru Stanescu agradeceu aos oradores e recordou que, que em conjunto com outros países, a

Roménia assinou um pedido de manutenção dos níveis de financiamento atuais para as políticas de

agricultura e de coesão, discordando da proposta da Comissão Europeia. Salientou os baixos rendimentos da

atividade agrícola, quando comparada com outras atividades profissionais e discordou do aumento do

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cofinanciamento nacional, na medida que tal vai gerar desigualdades entre Estados-Membros. De seguida deu

início a uma fase de debate, no qual participaram onze parlamentares.

Kari Kulmala, do Parlamento finlandês, declarou a firme intenção da sua Presidência encerrar as

negociações do QFP. Recordou, ainda, que o seu Parlamento organizaria, no âmbito da dimensão

parlamentar da Presidência do Conselho da UE, uma reunião interparlamentar sobre a nova PAC, agendada

para os dias 13 e 14 de outubro.

Giacomino Taricco, do Senado italiano, expressou a sua preocupação face à perspetiva de aumento dos

contributos dos Estados-Membros para o orçamento, sobretudo para os que já são contribuintes líquidos.

Diversos intervenientes manifestaram a sua oposição e discordância quanto aos cortes previstos para a

PAC e a Política de Coesão na proposta da Comissão Europeia para o QFP 2021-2027. Foi o caso das

Deputados Charoula Kafantari e Foteini Arampatzi do Parlamento helénico (que aludiram, ainda, às

especificidades das condições geográficas da Grécia, que dificultam a produção agrícola); do Senador polaco

Jerzy Chroscikowski; doDeputado irlandês Pat Deering; de Sandor Font, do Parlamento húngaro; e do

Deputado lituano Andriejus Stancikas.

Jean-Baptiste Moreau, da Assembleia Nacional francesa, referiu a necessidade de proteção da

convergência e manifestou-se contra a «nacionalização» da PAC, à qual não reconhece qualquer vantagem.

Quanto a Martin Preineder, do Conselho Federal austríaco, aludiu à manutenção da qualidade dos alimentos,

num cenário de redução orçamental, contra a qual também se manifestou.

O subscritor do presente relatório, Deputado Joaquim Barreto, Presidente da Comissão de Agricultura e

Mar, participou no debate, começando por agradecer à Presidência romena a organização da reunião em

curso. Continuou, sublinhando que, para Portugal, tal como para a Roménia, a Política Agrícola Comum e a

Coesão são dois temas de fundamental importância para o futuro, não só para o nosso país, mas também

para a União Europeia, razão pela qual a Assembleia da República tinha um enorme prazer em participar na

reunião, sendo a respetiva delegação composta pormembros de cada uma das três comissões parlamentares

que acompanham as questões em discussão: Agricultura e Mar; Assuntos Europeus; e Economia, Inovação e

Obras Públicas. Prosseguiu a sua alocução referindo que, no que concerne aos fundos da PAC, a posição do

Parlamento português é clara: Portugal necessita de uma PAC que mantenha o orçamento, pelo menos, ao

nível do atual Quadro Financeiro Plurianual e não pode aceitar a redução de cerca de 15% prevista no

segundo pilar porque, para nós, os fundos de desenvolvimento regional representam cerca de 50% dos fundos

recebidos no âmbito da PAC. Sublinhou ainda que, no nosso país, a maioria dos empreendimentos agrícolas é

constituída por pequenas explorações familiares, sendo, neste contexto, a política de desenvolvimento rural

particularmente importante, devendo ser mantida, permitindo que os agricultores tenham explorações

agrícolas economicamente viáveis que, simultaneamente, respondam aos desafios ambientais, climatéricos e

sanitários. Acrescentou que, se tal não se verificar, assistiremos à continuação da desertificação das zonas

rurais, com um impacto muito negativo na coesão regional e territorial. Terminou, desejando o maior êxito à

Presidência romena e reiterando os seus agradecimentos pela iniciativa em curso.

Dia 20 de março

3. Sessão II – Incentivar os pequenos agricultores no novo contexto orçamental e na revolução

digital e nas cadeias alimentares (09:00h-10:30h)

A sessão foi moderada por Barna Tánczos, Vice-Presidente da Comissão de Agricultura, Indústria

Alimentar e Desenvolvimento Rural do Senado romeno.

O primeiro orador, Mihail Dumitru,4 Vice-Diretor-Geral da DG AGRI da Comissão Europeia, aludiu à

proposta de Diretiva da Comissão Europeia contra práticas comerciais desleais na cadeia de distribuição

alimentar5, que pretende proteger os agricultores, sobretudo os de menor dimensão, de práticas injustas da

4 Slides de apoio à intervenção disponíveis em: http://www.parl2019ro.eu/eu/HTP_BLOB?id=4082&tip=pdf&blb=3 5 http://europa.eu/rapid/press-release_MEMO-18-2703_pt.htm

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indústria alimentar, aumentando a confiança na cadeia de abastecimento e compensando o poder de

negociação relativamente fraco das pequenas empresas, em comparação com os compradores de maior

dimensão. Aludiu, ainda, ao incremento na utilização de novas tecnologias ao serviço da PAC, dando como

exemplo a utilização do sistema de satélites Galileo, em alternativa ao GPS, para a georreferenciação das

propriedades agrícolas, nomeadamente através do sistema Agnus e Copernicus6.

GabrielaZoana, Vice-Presidente da Comissão de Agricultura e Desenvolvimento rural do Parlamento

Europeu, salientou, tal como alguns dos oradores anteriores, as dificuldades dos pequenos e jovens

agricultores em vingar num meio pejado de obstáculos, tais como altos custos de produção e um quadro legal

complexo, salientando, ainda a importância crucial dos primeiros cinco anos de atividade para um jovem

agricultor. Neste contexto, as medidas específicas para jovens na reforma da PAC são muito importantes.

Aludiu, ainda, à necessidade de se produzir animais e plantas mais saudáveis, com uma abordagem

ambientalmente sustentável. Defendeu que cada Estado-membro deveria incluir, no seu plano estratégico,

apoio tecnológico e plataformas de troca de informação e de experiências, sublinhando que a agricultura digital

deverá alterar o paradigma de funcionamento do setor. Manifestou-se, por fim, contra o artigo 15.º do

Regulamento da nova PAC7, estabelecendo o plafonamento de pagamentos anuais a conceder a um agricultor

num dado ano civil, defendendo que o teto deveria ser voluntário e ao critério de cada um dos Estados-

Membros.

Tomislav Panenić, Presidente da Comissão de Agricultura do Parlamento croata, aludiu à PAC como pilar

essencial da UE. Reiterou algumas das dificuldades já mencionadas por outros oradores, como os custos das

infraestruturas, os baixos rendimentos e a incerteza do setor. Acrescentou que a sustentabilidade dos

pequenos agricultores é muito relativa, nomeadamente no mercado do azeite e do vinho, em especial no que

concerne às condições de comercialização e de colocação de produtos no mercado. Aludiu, ainda, ao desafio

de manutenção dos standards de qualidade da alimentação. Referindo-se à proposta de Diretiva da Comissão

Europeia contra práticas comerciais desleais, acrescentou que a mesma necessita de ser complementada com

instrumentos de execução nacionais em todos os Estados-Membros, sob pena de perder a sua eficácia.

Terminou, sublinhando que não pode haver agricultura sem agricultores e que estes veem logrado o sonho

europeu de uma Europa sem fronteiras que, na realidade, se transforma, frequentemente, num pesadelo de

obstáculos e baixos rendimentos, obrigando os agricultores a seguir por caminhos alternativos.

Thierry de l’Escaille, Secretário-Geral da Organização Europeia de Proprietários Rurais, começou por

recordar que a agricultura está, paulatinamente, a sofrer uma transformação estrutural. Acrescentou que a UE

tem cerca 10 milhões de agricultores, com empreendimentos médios de 15 hectares, enquanto nos EUA

existem apenas 2 milhões de agricultores com explorações agrícolas médias de 180 hectares. A Roménia,

Polónia e Itália têm os maiores empreendimentos agrícolas. No entanto, grande parte da agricultura europeia é

de subsistência ou semissubsistência, com agricultores envelhecidos, o que vai fazer descer o número de

pequenas explorações, nos anos vindouros, devido à reforma dos seus proprietários. Continuou, referindo que

os jovens agricultores são educados e cosmopolitas e têm empreendimentos de maiores dimensões.

Recordou que a PAC tem contribuído para melhorar as condições de vida dos agricultores. Devido a

considerações de escala de valor, a PAC deve continuar a ajudar a competitividade, não só na UE, como

globalmente. Manifestou o seu desacordo no que concerne ao plafonamento, na medida em que este limita a

competitividade, bem como os objetivos ambientais, desincentivando os agricultores a incrementar a produção

e a respeitar os parâmetros ambientais. Alertou contra as disfunções de competitividade e considerou que tem

de se garantir os serviços básicos, como assessoria aos agricultores, vias de distribuição, etc., nomeadamente

através dos fundos Horizonte 2020 e outros. Aludiu, ainda, à baixa percentagem de acesso às TIC nas zonas

rurais, devendo a PAC contribuir para o seu incremento e utilização eficiente. Sublinhou que a PAC tem de

passar de um paradigma de controlo para um paradigma de apoio e aprendizagem e de decisões baseadas

em evidência científica. Terminou, reiterando as opiniões de anteriores oradores contra os cortes dos fundos

da PAC, na medida em que não faz sentido diminuir o orçamento quando, simultaneamente, se está a pedir

cada vez mais aos agricultores, acrescentando que é necessário deixar mensagens positivas para a próxima

geração, dando-lhe dignidade e reconhecimento.

No debate que se seguiu participaram 13 intervenientes, que apresentaram diversas perspetivas sobre

6 http://www.dgterritorio.pt/copernicus/ 7 https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX:52018PC0392

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como defender a subsistência dos pequenos agricultores, atentas as especificidades das respetivas realidades

nacionais.

Registaram-se, nesta fase, as intervenções dos Deputados Pedro do Carmo e António Ventura, nos

seguintes termos:

O Deputado Pedro do Carmo deu início à sua intervenção, agradecendo a excelente organização da

reunião em curso e a hospitalidade do anfitrião romeno. Salientou, de seguida, que o evento constituía uma

oportunidade de debate sobre o futuro da PAC, da agricultura e da alimentação, melhorando a compreensão

sobre as diversas perspetivas a considerar para uma melhor legislação, ao nível europeu e nacional.

Continuou, referindo que o tema assume uma particular importância para o futuro comum, referindo que

encara esse futuro como o trilhar de um caminho onde colocamos o ambiente em primeiro plano e no qual

pensamos a agricultura de forma sustentável. Partilhou com a audiência que representava uma área rural de

grande dimensão, mas de baixa densidade populacional, onde a agricultura está no centro da atividade

económica, mas em mutação forçada, devido às alterações climáticas, que acarretam desafios como a

escassez de água, a seca e os incêndios florestais. Defendeu, assim, que é necessário olhar para as regiões

onde as alterações climáticas se fazem mais sentir e tentar criar um sistema para mitigar esses problemas,

acrescentando que a PAC pós 2020 tem de contemplar esta vertente e tentar criar soluções para os

agricultores e comunidades nestas situações de emergência. Em sua opinião, a nova PAC deve apoiar a

agricultura extensiva, menos invasiva para os solos do que os métodos mais agressivos. Deve ainda apoiar a

flora e fauna local de cada região, a diversidade na produção e ajudar as organizações de pequenos

produtores a aumentar a sua escala e as suas receitas. Sublinhou que os agricultores de zonas que se estão a

tornar menos produtivas não podem ter a sensação de que estão a ser deixados para trás. Nesses casos,

deverão ser equacionadas soluções colaborativas e de apoio à respetiva exploração. Referiu, como sendo um

dos grandes problemas a resolver, a necessidade de desenvolver as comunidades rurais, atrair novas

populações e devolver a vida em áreas de baixa densidade populacional, a fim de obter crescimento

económico, empregos, sustentabilidade e diversidade. Neste contexto, o grande desafio a enfrentar consiste

em como aliciar população para as áreas rurais, tornando-as atrativas e como criar centros de inovação fora

das grandes cidades. Desejou que, ao longo dos dois dias da conferência, sejam equacionadas soluções para

estas questões, difíceis de ultrapassar, mas que representam desafios-chave para o futuro.

Quanto ao Deputado António Ventura, começou por sublinhar a existência de duas Regiões

Ultraperiféricas (RUP) em Portugal, com pequenos agricultores e diversas especificidades, que tornam urgente

para as RUP mais apoio e um maior reconhecimento, nomeadamente para obviar as dificuldades inerentes

aos transportes e à energia, bem como para preservação dos produtos tradicionais. Aludiu à produção de leite

nos Açores, como sendo tradicional e de extrema importância, sublinhando que, na mencionada região, «sem

leite, não há pessoas». Neste contexto, apelidou de urgente uma melhor aplicação do artigo 349.º do Tratado

de Lisboa, considerando as especificidades dos pequenos agricultores das RUP. Defendeu, ainda, a

necessidade de apoio e promoção de especialidades regionais, bem como da produção orgânica, através de

medidas como: a utilização de tecnologias digitais; o desenvolvimento de novas tecnologias e novos modelos

de negócio; a simplificação de procedimentos; e uma menor complexidade e menor consumo de tempo com a

cadeia de fornecimento.

4. Sessão III –Coesão e competitividade territorial, desenvolvimento regional e igualdade de

oportunidades (11:00h-12:30h)

A sessão foi moderada por Florin-Claudiu Roman, Presidente da Comissão de Administração Pública e

Planeamento do Território da Câmara dos Deputados romena e contou com as alocuções iniciais de Mihaela

Toader, Secretária de Estado do Ministério de Fundos Europeus romeno; e Eric von Breska, Diretor da DG

de Política Regional e Urbana da Comissão Europeia.

Mihaela Toader iniciou a sua alocução, sublinhando a importância dos fundos de coesão para a UE e

aludindo à difícil tarefa da Presidência romena do Conselho da UE na coordenação das posições dos vários

Estados-Membros quanto ao novo QFP pós 2020, num cenário toldado pelo Brexit. Continuou, referindo-se à

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Política de Coesão como uma das políticas de investimento mais importantes, contribuindo para a redução das

disparidades, aumentado a convergência e criando competitividade para a UE e os seus membros. Partilhou a

sua opinião quanto ao facto de já não se aplicar a tradicional divisão entre contribuintes e beneficiários líquidos

da Política de Coesão, na medida em que todos os Estados têm a ganhar com o desenvolvimento de uma

determinada região. Aludindo à proposta do QFP recordou que, pela primeira vez, esta inclui, de uma forma

consistente, uma dimensão local da coesão, sendo o apoio às comunidades concebido para responder às

suas necessidades específicas. Acrescentou, que caberá a cada Estado-Membro encontrar o equilíbrio certo

entre as necessidades nacionais e regionais, na medida em que a Política de Coesão fornece os instrumentos

enquadradores, devendo os Estados-Membros apoiar os beneficiários, simplificar os procedimentos e

contribuir para a convergência, concluindo que todos temos de ser cidadãos europeus com oportunidades

iguais. Referiu-se, ainda, às estratégias macrorregionais como importantes instrumentos de desenvolvimento,

dando como exemplo a Estratégia do Danúbio, assente nos princípios do não financiamento adicional; não

regulamentação adicional; e o estabelecimento de objetivos comuns. Salientou a experiência da Roménia

neste domínio e aludiu, por fim, à necessidade de empenhamento de todos os Estados-Membros para que o

novo QFP possa entrar em vigor em janeiro de 2021.

Eric von Breska anunciouque a sua intervenção abordaria as seguintes questões: quais as tendências

económicas que observamos na Europa e que estiveram na base da proposta da Comissão Europeia para a

Política de Coesão; quais as principais mudanças para o futuro; e, por fim, algumas palavras sobre os valores

orçamentais envolvidos. Começou por recordar o que apelidou de «boas notícias», nos seguintes termos:

desde o termo da crise a UE atravessou sete anos de crescimento económico, havendo um número recorde

de europeus com trabalho (240 milhões, tendo sido criados 50 milhões de empregos desde 2015) e uma

histórica taxa desemprego de 6,7%. Continuou, salientando os fatores negativos do atual contexto: o

crescimento não se encontra distribuído de maneira uniforme e o fosso entre as grandes metrópoles e as

restantes partes dos Estados-Membros está a aumentar, gerando descontentamento, que se reflete nos

resultados eleitorais; também a inovação, motor do desenvolvimento, se encontra concentrada, ao invés de se

encontrar distribuída equitativamente pelas regiões; e a força de trabalho está a envelhecer. Referiu que estes

problemas têm de ser equacionados no âmbito da elaboração da Política de Coesão, promovendo a inovação,

a educação e formação para aquisição de competências, a conexão, quer em tempos de transporte, quer em

termos de redes, e a transição energética, com energias limpas e renováveis num futuro próximo. Aludiu,

ainda, à necessidade de interligação da Política de Coesão com outras políticas europeias, nomeadamente

com o semestre europeu, sublinhando que os novos relatórios e recomendações por país passarão a ter uma

parte focada nas prioridades de investimento, ligando-o à Política de Coesão. Terminou, referindo-se ao facto

indesmentível de que o valor global do orçamento vai diminuir, acrescentando que, no entanto, ele continua a

ser substancial, havendo países que verão os seus fundos aumentados, como a Roménia, a Bulgária e a

Grécia. Partilhou, também, a sua preocupação quanto à baixa execução dos fundos do atual QFP que, em

2015, rondava apenas os 25% do orçamento disponível, devido à baixa participação dos Estados-Membros.

Neste contexto, referiu que a Comissão Europeia passaria a providenciar apoio para a implementação dos

fundos no terreno, acelerando os processos, pois sem investimento não há crescimento. Terminou, referindo-

se à Política de Coesão como uma política de governação multinível, em que a participação dos Parlamentos

nacionais assume uma particular importância.

Seguiu-se uma fase de debate, no qual participaram quatro intervenientes, que salientaram alguns pontos

como: o apoio a uma Política de Coesão forte e um eventual acordo à redução de fundos, desde que esta

ocorra de forma gradual (Adam Kalous, da Câmara dos Deputados checa); a importância dos fundos de

coesão no apoio às necessidades, nomeadamente de educação e de saúde das populações fronteiriças mais

afastadas dos grandes centros urbanos (Tomislav Panenic, Croácia); a utilização dos fundos para a

construção de uma Europa mais próxima dos cidadãos, mais verde, mais coesa e solidária e a revisão do

método de alocução de recursos para o tornar mais justo, tendo em atenção as condições socioeconómicas

das diferentes regiões (Nunzio Angiola, da Câmara dos Deputados italiana); e, finalmente, o enorme papel

dos fundos de coesão para a Irlanda, com impacto, sobretudo nas regiões fronteiriças, para as quais é

importante que os projetos continuem, mesmo depois do Brexit, promovendo o bem-estar mas, sobretudo, a

paz (Senador irlandês Paul Daly)

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5. Sessão de Encerramento

A sessão de encerramento ficou a cargo do anfitrião, Alexandru Stanescu. O orador referiu que o

resultado do questionário distribuído aos colegas no dia anterior não poderia ser divulgado, na medida em que

mais de metade dos participantes referira que não tinha mandato das respetivas comissões para responder.

Continuou, recordando que a Roménia havia assinado o memorando sobre o orçamento da PAC8, em

conjunto com outros países, solicitando que o orçamento da PAC seja aumentado para os valores correntes.

Concordou com a posição transmitida pelo signatário do presente relatório, em sede de debate na primeira

sessão, de acordo com a qual os fundos da PAC devem ser mantidos, pelo menos, no nível atual. Salientou a

importância das políticas de desenvolvimento rural, tendo os mesmos de ser viáveis e apoiar, efetivamente, os

agricultores. No que concerne aos pequenos agricultores, considerou que é necessário encorajá-los, dando-

lhes oportunidades de financiamento através da PAC pós 2020. Salientou, ainda, o importante papel dos

jovens agricultores na difusão de boas práticas, ideias e conceitos, atendendo ao facto de terem um acesso

mais facilitado a métodos inovadores. Acrescentou que a agricultura tem de estar integrada na era digital,

cumprir os requisitos de alimentação saudável e garantir segurança alimentar. Sublinhou, ainda, que

considerando a necessidade de produzir mais com menos recursos, a introdução de métodos digitais pode ser

um aliado poderoso.

Terminou, agradeceu a todos os oradores, moderadores e participantes, bem como aos funcionários que

contribuíram para a organização do evento, após o que declarou a reunião encerrada.

NOTA: Para além das ligações constantes das notas de rodapé, o sítio da internet dedicado à dimensão

parlamentar da Presidência romena do Conselho da União Europeia disponibiliza uma página com

documentação, fotos e vídeos da reunião, que pode ser consultada aqui:

http://www.parl2019ro.eu/eu/dp.events?id_evn=5&idl=2

Assembleia da República, 15 de maio de 2019.

O Presidente da Comissão de Agricultura e Mar, Joaquim Barreto.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

8 http://www.gpp.pt/images/Destaques/Banner_Principal/20180531_memorando_QFP-PAC_PT.pdf

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