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Sexta-feira, 5 de junho de 2020 II Série-D — Número 8

XIV LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2019-2020)

S U M Á R I O

Delegações da Assembleia da República:

— Relatório da participação da Assembleia da República na LXII Conferência dos Órgãos Especializados em Assuntos Europeus dos Parlamentos da União Europeia (COSAC), que teve lugar em Helsínquia, Finlândia, nos dias 1 e 3 de dezembro de 2019.

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DELEGAÇÕES DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA LXII CONFERÊNCIA DOS

ÓRGÃOS ESPECIALIZADOS EM ASSUNTOS EUROPEUS DOS PARLAMENTOS DA UNIÃO EUROPEIA

(COSAC), QUE TEVE LUGAR EM HELSÍNQUIA, FINLÂNDIA, NOS DIAS 1 E 3 DE DEZEMBRO DE 2019

I. Enquadramento

Nos termos do Regulamento da COSAC (ponto 2.1), «Será organizada uma reunião plenária da COSAC

durante cada Presidência, tendo em conta as diferentes práticas parlamentares dos Estados-Membros, os

períodos eleitorais e os dias feriados dos Estados-Membros. (…).»

O Parlamento finlandês, por conseguinte e no âmbito da dimensão parlamentar da respetiva Presidência do

Conselho da União Europeia, organizou, em Helsínquia, entre os dias 1 e 3 de dezembro de 2019, a LXII

reunião da COSAC1. Esta reunião contou com a participação dos Parlamentos nacionais da UE, do

Parlamento Europeu (PE), dos Parlamentos da Albânia, Sérvia, Montenegro, Turquia, Andorra, Islândia,

Noruega e do Comité Económico e Social Europeu, conforme consta da lista de participantes.

A Delegação da Assembleia da República foi composta pelo Presidente da Comissão de Assuntos

Europeus, Deputado Luís Capoulas Santos (PS), pelo Vice-Presidente Deputado Paulo Moniz (PSD) e pelos

Deputados Isabel Rodrigues (PS), Pedro Cegonho (PS), Isabel Meireles (PSD) e Beatriz Dias (BE).

A assessoria foi prestada pelo Representante Permanente da Assembleia da República junto da União

Europeia, Bruno Dias Pinheiro, e pela assessora da Comissão de Assuntos Europeus, Catarina Ribeiro Lopes.

II. Da LXII reunião da COSAC

Do programa da reunião constavam os pontos que seguidamente se apresentam:

Sessão de abertura

Matti VANHANEN, Presidente do Parlamento finlandês, deu as boas-vindas aos participantes da LXII

reunião da COSAC, começando por realçar o início de funções da nova Comissão Europeia, liderada por

Ursula von der Leyen, e as suas orientações políticas no sentido do desenvolvimento da União e da promoção

do bem-estar e segurança dos seus cidadãos. Referiu-se à Conferência sobre o Futuro da Europa e à

necessidade de esta garantir a representatividade política, paridade de género e participação de minorias,

tornando-se um fórum transparente e democrático. Terminou declarando a reunião aberta.

Questões procedimentais e informações

Kimmo KILJUNEN, membro do Grand Committee do Parlamento finlandês, deu as boas-vindas aos

participantes, saudando os novos Presidentes de Comissões de Assuntos Europeus (CAE) presentes,

incluindo o Presidente da CAE da Assembleia da República. Deu ainda nota dos resultados da reunião da

Troica Presidencial da COSAC, na qual foi acordado o texto de compromisso relativamente à proposta de

contributos e conclusões a adotar nesta reunião. O contributo remetido pela CAE, relativamente, no que ao

Quadro Financeiro Plurianual (QFP) se referia, à inclusão das regiões ultraperiféricas, foi incorporado no texto

de compromisso apresentado.

Neste ponto inicial foram ainda anunciadas as cartas de intenção de cofinanciamento do Secretariado da

COSAC (de todos os Parlamentos nacionais, exceto do Reino Unido), foi apresentado o 32.º questionário

bianual da COSAC, abordando como temas essenciais a revisão das atividades parlamentares, a cooperação

interparlamentar no futuro e a avaliação do próprio questionário bianual. Foram também referidas as cartas

1 Conferência dos Órgãos Especializados em Assuntos da União dos Parlamentos da União Europeia.

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recebidas pela Presidência, bem como foram dadas duas notas por parte dos participantes: Jean BIZET

(Senado francês) referiu-se à importância do trabalho voluntário de segurança civil e à sua importância em

França, na Alemanha, Irlanda e Países Baixos, enquanto Domagoj Ivan MILOSEVIC (Hrvatski sabor croata)

informou as delegações de que as reuniões da COSAC de Presidentes e LXIII COSAC teriam lugar em Zagreb

nos dias 19 e 20 de janeiro e 24 a 26 de maio, respetivamente, apresentando brevemente a presidência croata

e as suas prioridades.

Troca de pontos de vista relativos à conferência sobre o futuro da Europa

KILJUNEN iniciou esta troca de pontos de vista referindo a importância do envolvimento dos Parlamentos

nacionais na Conferência, recordando que estes haviam já sido parte no debate e elaboração da convenção

responsável pela proposta de uma Constituição para a Europa. Foi transmitida por vários participantes no

debate a ideia comum de necessidade de aproximar os cidadãos da União Europeia, promovendo esta

Conferência a transparência e atribuindo a participação dos cidadãos a legitimidade democrática necessária,

acrescentando neste âmbito Georgios KYRTSOS (Parlamento Europeu) que o maior desafio da União é o

reforço do seu papel no mundo, assim como a sua dimensão geopolítica, devendo ser incluídos como tópicos

de discussão na Conferência em causa.

Ainda sobre os temas a debater, defendeu Eva Kjer HANSEN (Folketing dinamarquês) que deveriam ser

incluídas questões sobre o Estado de direito e direitos fundamentais, transparência e clareza no processo

legislativo e melhoria do envolvimento nacional nas políticas europeias através de um maior envolvimento dos

Parlamentos nacionais no processo legislativo europeu. Foram também propostos temas como a política de

alargamento, com referências à situação da Albânia, Macedónia do Norte e a diferença face à Sérvia, bem

como a Turquia como uma prioridade estratégica (tendo intervindo sobre este tema Jan DZIEDZICZAK (Sejm

polaco), Elvira KOVACS (Parlamento da Sérvia), Slaven RADUNOVIC (Parlamento do Montenegro) e Ismail

KARAYEL e Sibel ÖZDEMIR (Parlamento da Turquia).

Dimitris KAIRIDIS (Parlamento grego) lembrou ainda da importância de incluir nos temas desta Conferência

a crise migratória e as migrações como uma política fundamental, um desafio para a Europa, argumentando

que a ausência de solidariedade neste campo divide a União, e Domagoj MILOSEVIC (Parlamento croata)

acrescentou a importância de discutir também o Quadro Financeiro Plurianual que, a par da política de

alargamento, têm sido matérias divisivas na União.

Foram colocadas outras questões sobre a realização da Conferência, destacando Jaak MADISON

(Parlamento Europeu) que a questão não é sobre se os Parlamentos nacionais vão participar mas sim como,

tendo vários participantes proposto que o debate sobre o Futuro da Europa pudesse prolongar-se além da

Presidência croata, bem como que os cidadãos pudessem participar ativamente neste debate, através por

exemplo de plataformas digitais, uma vez que sem os cidadãos esta discussão não seria mais do que uma

talking shop (Ettore LICHERI – Senado italiano – e Gunther KRICHBAUM – Bundestag alemão), tendo

Mairéad McGUINNESS (Parlamento Europeu) dado o exemplo da Irish Citizens’ Assembly como forma de

participação dos cidadãos.

Karin BROUWERS (Senado belga) e Alessandro GIGLIO VIGNA (Câmara dos Deputados italiana)

mostraram-se ainda a favor da inclusão das regiões neste debate, devendo o seu papel ser reforçado,

incluindo no processo legislativo, uma vez que através das suas regiões os cidadãos assumem um maior

sentido de pertença à União Europeia.

Sessão I – A Presidência finlandesa do Conselho da UE

Antti RINNE, Primeiro-Ministro da Finlândia, iniciou a sua intervenção com a referência à importância de um

diálogo aberto, ativo e construtivo com os Parlamentos nacionais e o Parlamento Europeu, considerando que o

Grand Committee do Parlamento finlandês tem uma influência considerável nas políticas da UE na Finlândia.

Destacou os focos da Presidência da Finlândia do Conselho da União Europeia no segundo semestre de

2019: o Estado de direito, a ação climática, competitividade e a inclusão social, assim como a proteção da

segurança dos cidadãos.

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Sobre o Estado de direito, aludiu à necessidade de reforçar o conjunto de ferramentas e a cooperação

entre diferentes atores na sua defesa, considerando-o um elemento fundamental para o Quadro Financeiro

Plurianual, tendo presente a necessidade de proteger o orçamento da UE em caso de deficiências no Estado

de direito. Quanto à ação climática, defendeu o alcance da neutralidade climática até 2050, enfatizando a

importância do Pacto Ecológico Europeu, que oferece a oportunidade de a União caminhar para um futuro

mais sustentável, sendo essencial para tal o reforço do mercado único no que às tecnologias e serviços

«limpos» diz respeito, assim como a adaptação às formas mais modernas de emprego e padrões sociais com

a implementação total do Pilar Europeu para os Direitos Sociais. Sobre a segurança e defesa, congratulou os

progressos alcançados pela UE neste campo, realçando a importância que as novas tecnologias, como a

inteligência artificial, tiveram na Presidência finlandesa, assim como o reforço dos instrumentos relativos às

ameaças híbridas, esperando-se que o Conselho adote conclusões sobre o tema.

Antes de terminar, mencionou as negociações do QFP, com a informação de que seria submetida a tempo

do Conselho Europeu de dezembro uma nova «negotiating box».

O debate deste ponto foi cancelado, uma vez que o Primeiro-Ministro finlandês não pôde acompanhar a

restante sessão, devido à crise governativa vivida no momento.

Sessão II – Promover o Estado de direito na UE e a Carta dos Direitos Fundamentais

As intervenções nesta sessão ficaram a cargo de Tytti TUPPURAINEN, Ministra dos Assuntos Europeus da

Finlândia, e Michael O’FLAHERTY, Diretor da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia.

Tytti TUPPURAINEN começou por aludir aos objetivos de reforço da democracia, direitos fundamentais e

Estado de direito e à realização do Conselho de Tampere, que decorreu na primeira Presidência finlandesa do

Conselho da UE e que marcou o início do desenvolvimento da cooperação na União em matérias de justiça e

assuntos internos, respeitando valores comuns para a segurança e prosperidade da Europa, bem como o

início da proposta de Carta Europeia dos Direitos Fundamentais, que se tornou o seu principal instrumento

nesta área e reforçou a credibilidade da UE no mundo.

Continuou a sua intervenção dando nota de que as prioridades da Presidência se encontravam

intimamente ligadas ao um objetivo de sustentabilidade dependente de três polos – democracia, direitos

fundamentais e Estado de direito – bem como à necessidade de acesso e transparência da informação,

referindo as medidas já implementadas pelo Conselho durante a Presidência finlandesa nesse sentido,

incluindo a publicação proativa de documentos jurídicos e discussões públicas, sendo a comunicação clara o

fator chave para combater a desinformação.

Terminou mencionando a importância do trabalho conjunto entre Estados-Membros, Parlamentos

nacionais, instituições e agências da UE, assim como a sociedade civil, para proteger os princípios fundadores

da União como a paz, segurança, estabilidade, democracia e prosperidade, enfatizando os direitos dos mais

jovens e a importância do seu envolvimento na discussão das matérias europeias, assim como a cooperação

da UE com outras organizações internacionais e a adesão à Convenção Europeia dos Direitos do Homem.

Michael O’FLAHERTY começou por enfatizar que, apesar do desenvolvimento favorável da proteção dos

direitos fundamentais na UE, subsistiam ainda problemas por resolver que afetam estes direitos, como a

pobreza e o racismo. Aludiu à Carta como um instrumento com um escopo mais abrangente do que outros

instrumentos internacionais, dando igual foco aos direitos civis, políticos, económicos, sociais e culturais e um

efeito direto, aplicável diretamente na ordem jurídica nacional, quando se referia a assuntos da competência

da União, indo além do disposto em algumas constituições dos Estados-Membros. Apresentou os motivos

para o pouco uso dado à Carta: a sua vinculatividade é recente, existe confusão quanto à sua utilização pelas

dificuldades na sua interpretação (saber se a matéria cabe nas competências da União ou nas competências

nacionais) e problemas de exatidão nos direitos descritos.

Terminou a sua intervenção propondo medidas concretas para renovar o interesse na Carta,

particularmente por parte dos Parlamentos nacionais, destacando o seu papel no cumprimento da Carta e

alcance dos seus objetivos. Instou-os a avaliar a sua utilização através das comissões parlamentares

especializadas na matéria, propondo que possam considerar um debate anual sobre o tema. Convidou ainda

os Parlamentos a encorajar os governos a adotar planos de ação nacionais para promover, sensibilizar e

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utilizar a Carta, encontrando-se a Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia disponível para

colaborar neste âmbito.

Seguiu-se a fase de debate sobre o tema, no qual diversos intervenientes mencionaram concordar com o

respeito do reforço do Estado de direito e valores comuns, tendo em alguns casos apresentado medidas para

o efeito, como seja um mecanismo para proteger os orçamento da União em caso de violação do Estado de

direito ou uma abordagem preventiva equiparada à abordagem macroeconómica utilizada no Semestre

Europeu, e tendo sido defendido que as sanções orçamentais nestes casos só devem ser utilizadas como

último recurso, privilegiando-se medidas como debates, troca de boas práticas e sensibilização.

Refira-se ainda neste âmbito a iniciativa proposta pelos Parlamentos alemão e belga para criar um

mecanismo de análise interpares no que se refere ao Estado de direito.

Vários oradores referiram-se à dificuldade de interferência nas ações e decisões internas dos Estados-

Membros, considerando os procedimentos previstos no artigo 7.º sobre o Estado de direito (Ludvig ASPLING,

Riksdagen sueco, Jakk MADISON, Parlamento Europeu, e GIGLIO VIGNA), e à utilização do Estado de direito

como vantagem política, criando divisões entre os Estados (Richàrd HÖRCSIK, Parlamento da Hungria).

Sobre a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, vários oradores referiram a importância de

reforçar os direitos fundamentais e sensibilizar os cidadãos para esta questão, destacando o relatório anual da

Comissão sobre a implementação da Carta e a sua tradução para todas as línguas oficiais, referindo-a mais

nos trabalhos parlamentares (Kerstin-Oudekki LOONE e Anneli OTT, Riigikogu da Estónia, Andreas

PASIOURTIDIS, Parlamento cipriota, e Bernard DURKAN, Houses of Oireachtas da Irlanda).

Foram ainda referidos os direitos dos trabalhadores e a necessidade de combater o desemprego, o papel

na economia digital e a proteção de dados pessoais e redes sociais, bem como o combate à corrupção como

forma de manter a ordem e estabilidade económica (Riina SIKKUT, Riigikogu da Estónia, Gunther

KRICHBAUM, Bundestag, Georgios KYRTSOS, Parlamento Europeu, Gerard CRAUGHWELL, Senado da

Irlanda, e Ria OOMEN-RUIJTEN, Senado dos Países Baixos).

Marina BERLINGHIERI, Câmara dos Deputados de Itália, chamou à atenção para a necessidade de a

União ratificar a Convenção do Conselho da Europa sobre a prevenção e combate à violência sobre as

mulheres e violência doméstica, devendo o tema ser discutido na Conferência sobre o Futuro da Europa.

Sobre a migração, a proteção dos refugiados e migrantes foi referida por vários oradores, tendo presente a

discriminação de que são alvo, a importância de reduzir as causas desta migração, bem como da criação de

um quadro próprio para a gestão das fronteiras externas.

Interveio neste debate a Senhora Deputada Beatriz Dias, referindo-se ao discurso violento que tem existido

contra os emigrantes, apresentando preocupações sobre o estigma de que são alvo, criando uma sensação de

insegurança, deixando estes os seus países em razão de cenários de guerra ou questões climáticas, mas

contribuindo para uma mudança demográfica nos países que os recebem, bem como para a viabilidade dos

sistemas de segurança social, mesmo que se encontrem em situações e empregos vulneráveis e em situações

de exploração laboral. Mencionou que estes migrantes são vítimas de racismo, xenofobia, estereótipos e

ideias preconcebidas que requerem uma visão mais solidária da Europa, devendo ser tomadas medidas para

proteção dos seus direitos.

Os oradores deste painel tomaram ainda a palavra para considerações finais sobre os temas abordados,

na senda do veiculado inicialmente.

Sessão III – Intervenção de Maroš Šefčovič, Vice-Presidente da Comissão Europeia

O Vice-Presidente da Comissão Europeia e responsável pelas Relações Interinstitucionais e Prospetiva,

Maroš ŠEFČOVIČ, iniciou a sua intervenção marcando a importância desse dia como o 30.º aniversário da

primeira reunião da COSAC que decorreu em França, mas também como o 1.º dia de trabalho da nova

Comissão Europeia.

Referiu-se às orientações políticas da Comissão de von der Leyen – Pacto Ecológico Europeu, Uma

economia ao serviço dos cidadãos, Preparar a Europa para a era digital, Promoção do nosso modo de vida

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europeu, Uma europa mais forte na cena mundial e Um novo impulso para a democracia europeia – e à sua

participação na elaboração do Programa de Trabalho da Comissão, com responsabilidades na programação

anual e plurianual.

No que se refere à área prospetiva do seu portefólio, referiu o plano de criação da EU Strategic Foresight

Network, por forma a juntar instituições e Estados-Membros e criar as sinergias necessárias, dando como

exemplo a European Battery Alliance (que junta instituições, Estados e indústria na cadeia de valor relativa às

baterias limpas/verdes na Europa).

Sobre os Parlamentos nacionais, mencionou o seu papel importante como parceiros da Comissão,

particularmente no que ao controlo da subsidiariedade e diálogo político diz respeito, ressaltando que

respostas agregadas serão preparadas pela Comissão para responder às preocupações de subsidiariedade

apresentadas por um número significativo de Parlamentos nacionais, mesmo que esse número não atinja o

limite mínimo fixado para desencadear o procedimento de cartão amarelo, destacando também a interrupção

dos prazos de contagem das oito semanas nos procedimentos de análise das propostas legislativas não só no

período e verão mas agora também entre o final de dezembro e início de janeiro. Ainda sobre este tema,

referiu-se à subsidiariedade ativa, devendo diversos atores contribuir para o desenvolvimento do valor

acrescentado da legislação europeia através do processo decisório.

Focou ainda a Conferência sobre o Futuro da Europa, o contributo dos Parlamentos nacionais e a

participação dos cidadãos e sociedade civil, devendo ser definida em breve a estrutura e forma de participação

de todos os atores, respeitando-se a democracia e o equilíbrio institucional.

Terminou aludindo ao Quadro Financeiro Plurianual, às dificuldades do seu progresso, à redução do

orçamento da União, que não permitirá responder adequadamente aos desafios que esta encontra, tornando

difícil o cumprimento de prioridades como a ação climática, inovação, digital, migrações segurança e defesa e

ação externa. Salientou o facto de alguns Estados insistirem em manter as alocações à área da agricultura e

coesão, sacrificando outras áreas como a investigação e as alterações climáticas, áreas nas quais a ação

comum provou ser eficaz. Por fim, deu nota do esforço da Comissão para diversificar as fontes de receita

enquanto cria uma ligação aos objetivos das políticas (dando como exemplo a ligação entre a proporção de

plástico não reciclado e o nível de emissão de gases com efeito de estufa).

Interveio no debate desta sessão o Presidente da Comissão de Assuntos Europeus, Deputado Luís

Capoulas Santos, agradecendo a organização da reunião à Presidência finlandesa, reiterando que o

Parlamento português continuará a contribuir para o reforço do ideal europeu e para a sua concretização

prática. Saudou a nova Comissão Europeia, na pessoa do Comissário Maroš Šefčovič, referindo a

necessidade de alcançar rapidamente um acordo relativo ao Quadro Financeiro Plurianual, por forma a que se

possa dar execução à Agenda Europeia. Salientou que Portugal defende um orçamento compatível com as

ambições partilhadas por todos, o que significa não esquecer a importância da política agrícola comum (PAC)

e da coesão e, no caso específico português e de outros Estados-Membros, também a manutenção dos

apoios às regiões ultraperiféricas. Mencionou ainda a discordância com a proposta apresentada pela

Presidência finlandesa quanto à percentagem do RNB, apelando a todos os parlamentares que possam

persuadir os respetivos governos a convergir para um compromisso aceitável entre as propostas da Comissão

e do Parlamento Europeu.

Vários outros oradores referiram questões relativas à coesão, como o apoio à postura dos amigos da

coesão no que se refere ao QFP (Richàrd HÖRCSIK, Parlamento da Hungria), o apoio à PAC e políticas de

coesão, bem como a simplificação destas políticas (Ettore LICHERI, Senado italiano, e GIGLIO VIGNA,

Câmara dos Deputados de Itália, Helene RYCKMANS, Senado belga, e Jean BIZET, Senado francês).

Foi ainda referida a Conferência sobre o Futuro da Europa, a participação dos Parlamentos nacionais no

evento, a relação com a COSAC e a necessidade de uma subsidiariedade mais ativa, alcançando melhores

resultados com os seus grupos de trabalho ou grupos de trabalho mais pequenos, questionando-se a

possibilidade da sua implementação.

Sobre os migrantes, Evangelos SYRIGOS, Parlamento helénico, assinalou a necessidade de solidariedade

neste tema, sobretudo no que aos menores não acompanhados diz respeito, lamentando as ações da Turquia

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nas águas cipriotas para exploração de petróleo, bem como o acordo entre a Turquia e a Líbia sobre fronteiras

marítimas, em desrespeito pelo direito do mar.

Emrah KARAYEL e Selman ÖZBOYACI, da Turquia, responderam que as atividades foram desenvolvidas

de acordo com o direito internacional, assim como o acordo assinado com a Líbia sobre as fronteiras

marítimas entre os dois Estados.

As últimas intervenções focaram o poder nuclear russo junto à fronteira com a Bielorrússia e os políticos

catalães presos, solicitando-se diálogo sobre os temas.

O Comissário respondeu às questões colocadas, aludindo à tarefa difícil da Comissão no que ao QFP diz

respeito, particularmente pela necessidade da sua aprovação por unanimidade, à divisão dos Estados-

Membros relativamente aos fundos da coesão. Sobre a Conferência sobre o Futuro da Europa, esclareceu que

os Parlamentos nacionais participarão, devendo os debates ocorrer o mais possível fora de Bruxelas, embora

ainda esteja por definir como serão organizados, mas serão sem dúvida uma plataforma dos cidadãos para o

projeto europeu. Terminou com uma referência ao alargamento, citando o Comissário responsável pela área

quando diz que parar de exportar estabilidade significa importar insegurança.

Reunião dos presidentes da COSAC

Neste ponto da Conferência foi indicado o membro permanente do Secretariado da COSAC, tendo sido

renovado o mandando do maltês Kenneth Curmi (candidatura única) para 2020 e 2021. Foram também

discutidas e votadas, pelos Presidentes das Comissões de Assuntos Europeus dos Parlamentos nacionais, as

alterações remetidas pelas delegações aos textos de contributos e conclusões, tendo por base a versão de

compromisso discutida na reunião da Troica Presidencial.

Tendo presentes as divergências de opinião sobre a aplicação das regras de votação das alterações aos

contributos e conclusões, as delegações dos Parlamento sueco, dinamarquês e dos Países Baixos

apresentaram uma declaração, na sequência do previsto ponto 7.5 do Regulamento da COSAC, referindo que,

não obstante a sua votação favorável ao texto final dos contributos da COSAC, não concordaram com a forma

como a votação foi realizada, uma vez que foi anunciado que as alterações seriam adotadas por maioria

simples e o texto final por maioria qualificada e, no decorrer das votações, os critérios foram alterados e

diferenciados para uma mesma situação, revelando a necessidade de revisão urgente do procedimento de

votação na COSAC.

Sessão IV – Uma estratégia vencedora da UE para o clima

A primeira oradora desta sessão, Mari PANTSAR, Diretora da Carbon Neutral Circular Economy, do Fundo

de Inovação finlandês Sitra, destacou os três passos para a liderança climática da UE: alinhar os objetivos de

emissões da Europa com os previstos no Acordo de Paris (limitação do aquecimento global abaixo dos 2 graus

celsius e neutralidade carbónica em 2030), reforçar o comércio de emissões (com medidas eficientes e

eficazes – cost-effective) e aproveitar o potencial total da economia circular (importância de uma melhor

utilização dos materiais já existentes). Apresentou ainda de forma breve o Fundo de Inovação Sitra e a forma

como contribui para criar um roteiro para a Finlândia em direção a uma economia circular em 2016.

A segunda intervenção coube a Markku OLLIKAINEN, Presidente do painel finlandês para as alterações

climáticas, que focou essencialmente o Pacto Ecológico Europeu, com o objetivo de reforçar a política

climática da UE e substituir as fontes de emissão de gases de efeito de estufa (combustíveis fósseis, carvão e

gás) por fontes de energia renováveis. Referiu-se ao sistema de comércio de emissões da UE (UE ETS) e à

sua eficácia, apresentando os seus resultados esperados entre 2021-2030. Destacou também a importância

da política de inovação, podendo a UE apresentar às suas indústrias opções de negócio que resultem na

redução de emissões e de procura por petróleo, assim como incentivar a utilização de veículos elétricos, a

hidrogénio ou com combustíveis sintéticos recicláveis. Terminou deixando a possibilidade de implementação

de uma nova política de promoção das emissões negativas ou ajustamento dos impostos para subida do preço

dos produtos com um alto teor de carbono.

O terceiro e último orador desta sessão, Pekka TIMONEN, Presidente da cidade de Lahti (capital europeia

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verde 2021), apresentou os resultados do trabalho contra as alterações climáticas na cidade de Lahti. Apesar

de a cidade continuar a crescer, o objetivo é atingir a neutralidade climática em 2025, tendo para isso sido

repensada a forma como a cidade funciona, abandonando a dependência do carvão e investindo em sistemas

de energia renovável, reutilizando resíduos municipais. As mudanças resultaram num crescimento «verde» e

na criação de novos empregos, tendo sido a primeira cidade no mundo a lançar um esquema de comércio de

emissões pessoal.

Intervieram neste debate os Senhores Deputados Paulo Moniz e Isabel Rodrigues.

O Senhor Deputado Paulo Moniz iniciou a sua intervenção congratulando a inclusão do estatuto das

regiões ultraperiféricas, proposto pela delegação portuguesa, nos contributos da reunião, referindo a

importância dos Açores e da Madeira no âmbito deste painel. Referiu-se ao impacto condições climatéricas

extremas que têm assolado o Atlântico Norte, merecendo estas uma atenção particular da União Europeia no

que se refere às regiões ultraperiféricas arquipelágicas, sobretudo no âmbito do sistema de proteção civil.

Destacou a importância das alterações climáticas e da economia circular para as regiões ultraperiféricas,

especialmente os Açores, vendo-se na economia circular uma oportunidade para resolver o desemprego

jovem, através da valorização e valor acrescentado atribuídos a resíduos e produtos, que constituem

oportunidades de negócio. Relevou ainda que numa União de princípios e de valores é preciso ir além da

discussão do orçamento e dos apoios, sendo as regiões ultraperiféricas o sinal da coesão de uma Europa que

se quer liderante no desenvolvimento sustentável, criação de riqueza e afirmando-se como um todo.

A Senhora Deputada Isabel Rodrigues aludiu à meta estabelecida por Portugal para a descarbonização

total em 2050, mencionando a sua região, os Açores, região insular, arquipelágica e ultraperiférica, com ações

orientadas para a sustentabilidade ambiental, dando como exemplo a utilização em 2018 de 40% de energias

renováveis. Focou também o programa regional existente nos Açores para as alterações climáticas, algumas

zonas classificadas como reservas da biosfera, sendo a agricultura e pescas fatores fundamentais da

economia. Referiu a importância de a condicionalidade ambiental integrar soluções equilibradas, que permitam

atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável, em sintonia com a sustentabilidade económica e social,

bem como a valorização e reconhecimento dos esforços de várias regiões da Europa nesse sentido. Terminou

congratulando a inclusão da referência às regiões ultraperiféricas nos contributos da reunião, pelo que significa

para os objetivos da coesão e realização do ideal europeu.

Outros intervenientes referiram-se à proteção do ambiente e à criação de novos empregos, «green jobs»,

assim como à necessidade de os grandes poluidores como a China e os Estados Unidos cumprirem os

critérios do Acordo de Paris, mencionando que os problemas ambientais são também causados por países

terceiros que, ao contrário dos países da União Europeia, não estão vinculados aos acordos internacionais,

questionando-se se a UE deveria introduzir medidas económicas em relação a estes países (neste sentido,

Elias MYRIANTOUS, Parlamento cipriota).

Foram ainda anotadas intervenções relativas ao Fundo de Transição, a sua aplicação a várias políticas e a

gradual diminuição da dependência do carvão e elogios ao desenvolvimento da cidade de Lahti. Por outro

lado, considerou Jorge BUXADÉ VILLALBA, Parlamento Europeu, que a forma de atingir esta proteção do

ambiente pode ter consequência económicas, uma vez que nem todos os países europeus estão no mesmo

patamar e vários empregos nas indústrias, como a indústria automóvel, vão desaparecer.

Sobre o estatuto dos Estados candidatos, Vladimir DURIC, Parlamento da Sérvia, mostrou preocupação

com o foco nos assuntos ambientais, esquecendo-se as negociações para adesão à UE dos países

candidatos, destacando que os cidadãos estão a par destas questões ambientais e que as políticas ambientais

são também um elemento importante das políticas de alargamento, sendo por isso estes Estados uma parte

relevante do Pacto Ecológico Europeu.

Mairead McGUINESS, Parlamento Europeu, perguntou se seria possível atingir o objetivo ambicioso de

redução de 70% de emissões em 2030, uma vez que o Parlamento Europeu havia fixado este objetivo em

55%, qual a tecnologia a utilizar na produção alimentar, de que forma podem os cidadãos ser motivados para

estas questões, qual o impacto na aviação e se devem ser utilizados incentivos ou sanções para atingir estes

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resultados.

Nas suas palavras finais, a oradora Mari PANTSAR referiu a importância de exportar soluções europeias

de forma global e a importância da competitividade; OLLIKAINEN recordou que regras ambientais estritas

podem induzir eficiência e encorajar inovações que promovam a competitividade comercial; TIMONEN

destacou a relevância das ações a nível local e o alto nível de sensibilização dos cidadãos e envolvimento nas

ações.

Sessão V – Intervenção de Michel Barnier, Negociador-chefe da UE para o Brexit

Michel Barnier, Negociador-chefe da task-force para as relações com o Reino Unido, iniciou a sua

intervenção aludindo ao valor acrescentado da COSAC, relembrando a sua participação na reunião da

COSAC de Malta em 2017, quando as negociações sobre a saída do Reino Unido da União Europeia estavam

no início, e o apelo que fez ao contínuo envolvimento dos Parlamentos nacionais no processo.

Reiterou os quatro objetivos da negociação: os cidadãos primeiro, proteção do mercado interno, saída

ordeira do Reino Unido e preservação de uma boa base para o futuro da UE. Sobre os cidadãos, referiu que a

sua proteção a longo prazo depende da ratificação do acordo. Sobre a situação da Irlanda e Irlanda do Norte,

defendeu a manutenção da prosperidade, paz e estabilidade, evitando uma fronteira rígida, preservando a sua

economia e protegendo a integridade do mercado único, permanecendo a Irlanda do Norte no território

aduaneiro do Reino Unido. Relembrou neste âmbito o conjunto limitado de regras da UE, sobretudo no que

aos bens diz respeito, que devem continuar a aplicar-se na Irlanda do Norte os direitos aduaneiros da UE para

bens que venham a integrar o mercado interno e que existirá apoio por parte das autoridades do Reino Unido

para aplicação destas regras.

Sobre o mercado interno, aludiu à manutenção da sua integridade, à parceria futura com base na

declaração política que cobre diversas áreas e a sua conclusão no curto prazo de 11 meses, sublinhando o

reforço da unidade dos 27 Estados-Membros.

Intervieram neste debate os Senhores Deputados Isabel Meireles e Pedro Cegonho.

A Senhora Deputada Isabel MEIRELES iniciou a sua intervenção cumprimentando o Senhor Negociador-

Chefe e agradecendo a sua presença em Portugal e as explicações sobre o processo de saída do Reino Unido

da União Europeia. Salientou a preocupação de Portugal com este processo, uma vez que existe cerca de

meio milhão de portugueses que residem e trabalham no Reino Unido, além do facto de ser um dos maiores

parceiros comerciais. Destacou o acompanhamento da Comissão de Assuntos Europeus da Assembleia da

República desta questão, sendo uma das principais prioridades. Colocou ainda questões sobre o IVA e o

consentimento democrático da Assembleia da Irlanda do Norte e felicitou Michel Barnier pela sua resiliência

neste processo, novo para a UE, agradecendo o seu trabalho.

O Senhor Deputado Pedro CEGONHO focou a aliança histórica e diplomática existente entre Portugal e o

Reino Unido, referindo a saída do Reino Unido da União Europeia como o maior desafio da UE desde a sua

fundação. Aludiu à esperança de um processo ordenado, previsível e equilibrado, caraterizando um Brexit sem

acordo como algo imprevisível e perturbador. Fez também menção à grande comunidade portuguesa no Reino

Unido, cujos direitos serão assegurados e respeitados em caso de contingência, com as ações bilaterais já

tomadas. Saudou ainda o trabalho e diálogo desenvolvido até ao momento, apelando à paciência e

compreensão necessárias a um desafio com esta dimensão, com a certeza na continuidade de partilha de

valores comuns e o mesmo continente.

Foram colocadas outras questões sobre condições equitativas, possíveis práticas de dumping e a

necessidade de proteção de indicações geográficas dos produtos, bem como sobre o cenário de saída do

Reino Unido sem acordo, sobre as matérias de segurança e defesa e o acesso do Reino Unido à Cooperação

Estruturada Permanente e ao Fundo Europeu de Defesa. Outras preocupações foram levantadas quanto às

pescas e ao futuro de Gibraltar.

Michel Barnier respondeu às questões apresentadas na sequência do que havia transmitido na sua

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II SÉRIE-D — NÚMERO 8

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declaração inicial, reforçando a necessidade de continuar as negociações de boa-fé, mantendo o diálogo e

transparência, fixando-se normas para as diversas áreas em negociação.

Adoção do contributo e das conclusões da LXII COSAC

Os textos de contributos e conclusões apresentados foram aprovados por unanimidade2.

Sessão de encerramento

O encerramento foi efetuado pela Presidente do Grand Commitee do Parlamento finlandês, Satu HASSI,

agradecendo a presença de todos.

Notas Finais

Além dos documentos referenciados, toda a documentação referente à reunião da COSAC, bem como a

gravação vídeo da conferência, podem ser encontrados em:

https://secure.ipex.eu/IPEXL-WEB/conference/getconference.do?id=8a8629a86bc08c43016bd61f04da09fb

https://www.eduskunta.fi/parleu2019/events/Pages/LXII-COSAC-01122019.aspx

Assembleia da República, 2 de junho de 2020.

O Presidente da Comissão de Assuntos Europeus, Luís Capoulas Santos.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

2 Face às diferentes interpretações entre a metodologia proposta pela Presidência finlandesa, que pretendia uma adoção por maioria

simples ao nível dos Presidentes antes da adoção pelo Plenário e as várias delegações que defendiam o rigor do disposto no Regulamento da COSAC (adoção por 3/4), ficou definida a necessidade de se promover uma interpretação destas normas para Presidências futuras.

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