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Quinta-feira, 29 de abril de 2021 II Série-D — Número 12

XIV LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2020-2021)

S U M Á R I O

Delegação da Assembleia da República:

Relatório da participação da Delegação da Assembleia da República na Reunião Interparlamentar subordinada ao tema «Somos Fortes: Mulheres na Liderança na Luta contra a

COVID-19», organizada pela Comissão para os Direitos das Mulheres e a Igualdade de Género do Parlamento Europeu, com a colaboração do Diretorado para as Relações com os

Parlamentos nacionais, por ocasião do Dia Internacional da Mulher (8 de março), realizada em Bruxelas no dia 4 de março de 2021, por videoconferência.

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DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DA DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA REUNIÃO

INTERPARLAMENTAR SUBORDINADA AO TEMA «SOMOS FORTES: MULHERES NA LIDERANÇA NA

LUTA CONTRA A COVID-19», ORGANIZADA PELA COMISSÃO PARA OS DIREITOS DAS MULHERES E

A IGUALDADE DE GÉNERO DO PARLAMENTO EUROPEU, COM A COLABORAÇÃO DO DIRETORADO

PARA AS RELAÇÕES COM OS PARLAMENTOS NACIONAIS, POR OCASIÃO DO DIA INTERNACIONAL

DA MULHER (8 DE MARÇO), REALIZADA EM BRUXELAS NO DIA 4 DE MARÇO DE 2021, POR

VIDEOCONFERÊNCIA.

A Delegação foi chefiada pela Presidente da Subcomissão para a Igualdade e Não Discriminação da

Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, Sr.a Deputada Lina Lopes (PSD),

sendo ainda composta pelas seguintes Deputadas, em representação da referida Subcomissão:

– Deputada Elza Pais (PS);

– Deputada Sandra Cunha (BE); e

– Deputada Alma Rivera (PCP).

O apoio foi prestado por Ana Cláudia Cruz e Isabel Cabrita da equipa de apoio à Comissão de Assuntos

Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.

Da agenda da reunião1, constavam os seguintes pontos:

1. Sessão de Abertura

Evelyn Regner, Presidente da Comissão para os Direitos das Mulheres e a Igualdade de Género do

Parlamento Europeu (PE) e anfitriã do evento, deu as boas-vindas a todos os participantes, expressando o seu

contentamento com a participação de 56 membros do Parlamento Europeu e dos Parlamentos nacionais e

transmitindo algumas indicações práticas. Observando que a atual crise é no feminino, já que a maioria das

trabalhadoras de relevância sistémica são mulheres e que um quinto das mulheres são afetadas, afirmou a

necessidade de reconstruir as sociedades de forma diferente, de forma a promover o avanço dos direitos

humanos, prestando atenção às questões de género, em especial nesta nova era digital.

Seguiu-se a intervenção de David Sassoli, Presidente do PE, que começou por apontar a importância de

debater ações e respostas concretas em conjunto com os Parlamentos nacionais. Concordou que esta crise

sanitária fica marcada pelas mulheres na linha da frente da resposta e enquanto primeiras vítimas da crise. Citou

Simone de Beauvoir, quando disse «Nunca se esqueçam que será suficiente uma crise económica e religiosa

para que os direitos das mulheres sejam postos em causa», incitando a uma vigilância permanente. Notou que

as medidas para combater a pandemia adotadas pelos governos agudizaram as diferenças entre géneros, tendo

o lado perverso do atual modelo económico e social sido salientado pela crise: foram as mulheres as primeiras

a perder os seus trabalhos; os setores feminilizados – saúde e assistência – foram os mais afetados; as mulheres

tiveram de conciliar teletrabalho com o trabalho doméstico e de prestação de cuidados e agravaram-se os casos

de violência doméstica contra as mulheres. Considerou que cabe ao PE zelar pela verdadeira igualdade de

todos, notando que a pandemia oferece também a oportunidade de criar uma sociedade mais equitativa. Deu

conta de que o impacto de género é uma prioridade no orçamento para 7 anos da União Europeia, carecendo

da análise dos desenvolvimentos dos planos de recuperação e resiliência nacionais. Comunicou que foi

apresentada uma proposta pela Comissão Europeia (CE) no sentido da promoção da igualdade salarial e da

1A gravação da reunião encontra-se disponível em https://canal.parlamento.pt/?cid=5190&title=reuniao-interparlamentar-prmovida-pela-comissao-para-os-direitos-da-mu e International Women’s Day 2021 – Multimedia Centre (europa.eu)

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presença das mulheres em posições de liderança, apontando que conta com a Presidência portuguesa do

Conselho da UE para obter progressos a esse nível. Referiu ainda que a violência contra as mulheres deve ser

acrescentada à lista dos crimes europeus, defendendo a necessidade de fomentar a ratificação, por todos os

Estados-Membros, da Convenção de Istambul. Por último, lembrou a Resolução para o equilibro de género na

nomeação de candidatos para postos no setor económico e monetário, de março de 2019, e instou a Comissão

Europeia a cooperar com o Parlamento Europeu para garantir a aplicação da diretiva e o combate às diferentes

facetas da violência contra as mulheres.

Ursula von der Leyen, Presidente da CE, cumprimentou os oradores e mencionou três cientistas mulheres

que lideraram as equipas que descobriram as vacinas contra a COVID-19, notando que, ainda assim, é

necessário dizer o óbvio: que as mulheres estão capacitadas para a Ciência, para liderar e para conciliar a vida

familiar com a vida profissional. Destacou que o Dia da Mulher é para todas as mulheres, as que estão nos

bastidores e na linha da frente, dando conta de cinco objetivos em que a CE está focada: a propositura de nova

legislação para combater a violência doméstica contra as mulheres, a qual se acentuou com o confinamento; a

exigência de que os planos de recuperação e resiliência nacionais contenham medidas concretas que criem

empregos para mulheres e homens em pé de igualdade e investimento em educação de qualidade para as

mulheres (Next Generation EU); a implementação de um novo plano – o Plano de Ação do Pilar Europeu dos

Direitos Sociais, visando reduzir a pobreza e contendo objetivos concretos, como garantir até 2030 que 78% dos

adultos europeus tenham emprego, sendo para tal necessário progredir no equilíbrio da vida profissional e

privada, garantindo a criação de uma rede de cuidados e de assistência como forma de consagrar a liberdade

de se ser mãe e ter uma carreira; a apresentação da Diretiva para a Transparência nos Salários, garantindo

salário igual por trabalho igual e transparência; e a promoção da ocupação de lugares de topo por mulheres.

Concluiu, enaltecendo as mulheres que ocupam posições de liderança, reconhecendo que o paradigma pode

mudar com persistência, e frisando que a luta continuará até que seja alcançado um sistema justo em todos os

países e as mulheres sejam avaliadas pelas suas ideias, inteligência e não cromossomas, pois «uma Europa

com equilíbrio de género é uma Europa melhor».

De seguida, usou da palavra a Presidente da Grécia, Katerina Sakellaropoulou, que constatou que a

pandemia é uma experiência dolorosa para todos e que tem um claro impacto de género, dada a presença,

sobretudo, de mulheres no setor da saúde, na prestação de cuidados, serviços de limpeza e no trabalho

doméstico, muitas vezes com condições precárias e má remuneração. Observou que muitas dessas mulheres

se encontram em situações de vulnerabilidade, de exclusão e de pobreza e que os casos de violência doméstica

foram agravados pela pandemia em virtude do isolamento, tendo surgido novas formas de violência contra as

mulheres. Deu a conhecer um movimento que se iniciou na Grécia que deu a oportunidade às mulheres de falar

de forma aberta sobre as experiências que têm vivido. Apontou a Convenção do Conselho da Europa,

relativamente ao combate à violência, e a Convenção de Istambul como as bússolas para seguir na direção

certa. Invocou a necessidade de perceber o valor acrescentado do trabalho das mulheres para o

desenvolvimento da economia e de se considerar o trabalho não pago por estas desempenhado, lembrando que

um trabalho digno é fundamental para todos e que é imprescindível que se adotem políticas que tenham em

atenção as diferenças entre homens e mulheres.

2. Debate temático: Mulheres na linha da frente: lições aprendidas com a gestão da crise2

Coube a Frances Fitzgerald,membro da Comissão para os Direitos das Mulheres e a Igualdade de Género

do PE, moderar o debate temático, esclarecendo que se ouviriam as intervenções de todos os oradores, dos

quais fez uma breve apresentação, e, de seguida, os membros do Parlamento Europeu e dos Parlamentos

nacionais inscritos. Salientou a necessidade de trabalho árduo para que a igualdade aconteça, observando que

os fundos colocados ao dispor dos Estados-Membros têm de servir esse propósito.

Khadija Arib, Presidente da Câmara dos Representantes dos Países Baixos, foi a primeira oradora a usar

da palavra, começando por agradecer o convite, enaltecendo e manifestando a sua concordância com os

discursos anteriores. Partilhou a sua reflexão sobre o impacto da COVID-19 para a liderança e sobre como reagir

2 Agenda anotada em anexo

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numa situação de crise, admitindo que, inicialmente, não tivera noção de que o impacto seria tão grande, e

defendeu a manutenção do Parlamento em funcionamento como forma de fiscalizar o Governo e de dar o

exemplo de como seguir as normas sanitárias. Reconheceu a importância de ter o apoio de todos, reunindo e

trocando opiniões, admitindo que não toma decisões sozinha e que, perante esta crise, consultou os seus

antecessores para perceber o que foi feito durante a ocupação pela Alemanha, que foi o último período de crise

pelo qual passaram. Deu nota de que todas as medidas – encerramento das escolas, recolhimento obrigatório,

etc. – foram debatidas no Parlamento e de que acompanharam também o que estavam a fazer os outros

Parlamentos, adaptando ao seu contexto. Constatou que os setores onde há maior presença feminina são

trabalhos apreciados na sociedade, mas com menor visibilidade, levados a cabo mais por uma questão de

dedicação e não de dinheiro. Deu os exemplos da Nova Zelândia, Finlândia e Alemanha para afirmar a

importância da contribuição e visão femininas, uma vez que as mulheres atuam e negoceiam de forma diferente

dos homens, com mais empatia. Observando que os trabalhos desempenhados por mulheres são fundamentais

e que estas exercem as suas responsabilidades de forma exemplar, afirmou que importa debater no Parlamento

como é que esses setores podem ser alvo de reapreciação e expressou a sua esperança de que a pandemia

tenha sensibilizado as pessoas nesse sentido e de que todos possam sair mais fortes desta crise.

A Dr.ª Isabelle Loeb, Diretora Médica no Hospital St. Pierre, em Bruxelas, um hospital de referência no

combate à COVID-19 e a outras doenças infectocontagiosas, contou que passara toda a sua vida no hospital,

enquanto cirurgiã, professora, diretora médica, mulher, mãe e avó, explicando que se trata de um hospital de

proximidade, público e de dimensão média, sendo também um hospital universitário e de investigação. Notou

que, tradicionalmente, os cargos de responsabilidade eram maioritariamente assumidos por homens, mas que

atualmente o paradigma estava a mudar. Partilhou os momentos vividos com a pandemia, referindo o caos que

foi a contabilização de máscaras e de stocks e a necessidade de alterar procedimentos para fazer face à

afluência de doentes e à carga de trabalho. Explicou que a reorganização e a antecipação de acontecimentos

foram ferramentas úteis para enfrentar a pandemia, tendo sido criado um comité de gestão de crise, e que fora

incrível o esforço de enfermeiras, auxiliares, pessoal da morgue, da cozinha e de tantos outos serviços, os quais

se apoiaram mutuamente, sem contar horas de trabalho, desempenhando funções diferentes das suas. Referiu

ainda as manifestações de ajuda que chegaram do exterior, nomeadamente as doações de empresas, e o quão

a comunicação fora fundamental para atravessar a crise, permitindo fazer o ponto de situação preciso e objetivo

e dando nota de que existiu uma equipa sempre a filmar para registar as situações excecionais vividas. Notou

que a maior parte dos profissionais ficará com sequelas a nível psicológico, principalmente por não ter sido

possível impedir certas desgraças, e que muitas vezes só foi possível manter o ânimo graças à solidariedade.

Observou que a crise fez crescer a inquietação quanto ao futuro dos hospitais e que importa estabelecer

protocolos para fazer face a novas ondas de epidemia, considerando ser necessário repensar a profissão e

reconhecer como as mulheres são um pilar fundamental do setor da saúde. Rematou, concluindo que não se

enganou na escolha da sua profissão e que a saúde deve continuar a ser uma prioridade dos governos nacionais

e da União Europeia.

Kristel Krustuuk, apresentou-se como mulher, da Estónia, mãe de dois filhos, membro ativo no

encorajamento de jovens empresárias, fundadora e chefe de testes da empresa Testlio, explicando que a sua

empresa criou um sistema de testes em rede e que tem capacidade remota de testagem universal, contando

com clientes em todo o mundo e uma rede de mais de 100 freelancers em diferentes países, a trabalhar a partir

de onde quiserem. Confessou que sempre sonhou grande, mas tinha medo de fracassar, relatando que a

empresa havia crescido muito nos últimos 8 anos e que sentiu um grande esforço de todos para enfrentar a

crise, considerando que se trata de uma equipa diversificada e espalhada pelo mundo, mas unificada.

Reconheceu que é mais difícil para as mulheres crescer num mundo – o informático – dominado por homens e

que foi confrontada com muitas questões, em 2013, quando, sendo mulher, criou a sua empresa, reportando

que os dados revelam que o empreendedorismo é mais exigente para as mulheres e que há um longo caminho

a percorrer para chegar a um mundo mais equilibrado, onde as mulheres podem desempenhar de forma mais

simplificada os diferentes papéis que assumem no seu dia a dia. Transmitiu que a diversidade, a inclusão e a

multiculturalidade são valores importantes para a sua empresa, considerando ser importante que as jovens

mulheres tenham o exemplo de uma empresa fundada por uma mulher e que se pauta por uma consciência

social orientada para a construção de um mundo mais equitativo. Em jeito de conclusão, lembrou que cada um

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tem de ser a mudança que quer ver no mundo e afirmou a sua opinião de que as mulheres irão liderar o próximo

crescimento económico.

Seguiu-se a intervençãode Carlien Scheele, Diretora do Instituto Europeu para a Igualdade de Género, que

constatou que a pandemia tem sido combatida em conjunto, em termos globais, mas deu nota de que a

experiência de mulheres e homens, face à mesma, é muito diferente, nomeadamente no que toca a perda de

emprego, trabalho presencial e remoto e responsabilidades parentais. Referiu os dados estatísticos que

apresentaria, entretanto, considerando que o foco deve ser a lição a retirar deles: os cuidados são críticos para

as nossas vidas. Frisou a relevância dos cuidadores profissionais, revelando que este é um trabalho essencial,

onde há uma maior presença das mulheres (75%), mas que é muito mal pago na União Europeia e em condições

precárias. Constatou que o volume deste trabalho se exponenciou consideravelmente durante a pandemia,

tendo sido prestado principalmente por mulheres, que o cumularam com outras tarefas. Considerou que a

ausência ou má remuneração deste tipo de trabalho é reflexo de um paradigma que avalia como de menor valor

o trabalho desempenhado pelas mulheres. Revelou que a Alemanha é a exceção ao nível do investimento neste

setor, constatando o facto de todos envelhecerem e de todos virem a precisar de cuidados em algum momento

das suas vidas. Nessa linha, manifestou a sua expectativa de que a pandemia seja o princípio do fim do desprezo

deste tipo de trabalho, defendendo a importância de delinear uma estratégia europeia de cuidadores e de

promover a ocupação de posições de liderança por mulheres e o desempenho por homens de funções

tradicionalmente atribuídas a mulheres.

Concha Andreu, membro da Comissão das Regiões e relatora da Estratégia para a Igualdade de Género,

apresentou-se como mãe, filha, companheira, enóloga, feminista, socialista, Presidente do Governo de La Rioja

e relatora do parecer, pela Comissão das Regiões, sobre a Estratégia para a Igualdade de Género 2020-2025.

Constatou um aumento da procura de serviços sanitários e sociais, bem como a necessidade de adaptação a

circunstâncias desconhecidos para todos. Explicou que o parecer foi aprovado entre março e outubro, online,

tendo sido mantido um processo muito participativo, incorporando contributos externos e a pronúncia de 21

entidades. Revelou que a ideia principal do parecer é a de que as autoridades locais e regionais sejam

reconhecidas como parceiros estratégicos na conceção, aplicação e monitorização da Estratégia e que, para

que exista uma perspetiva de género nas políticas, projetos e programas europeus, fora pedida à União Europeia

a criação de um grupo de trabalho interinstitucional para garantir a governação multiníveis, no qual deve

participar a Comissão das Regiões. Deu nota que, quando apresentaram o parecer, em 5 de março, já se

percebera que a pandemia salientara e agravara desigualdades e que foram as mulheres a pagar o preço,

afetadas de forma desproporcionada, assumindo obrigações dentro e fora de casa. Defendeu que as mulheres

têm de ser consideradas nos planos de recuperação e resiliência que vão ser apresentados, pois estiveram na

primeira linha do combate à COVID-19. Exemplificou como a igualdade de género é uma prioridade no plano de

Espanha, contendo a diretriz «Espanha sem disparidades de género» e é um compromisso da Comunidade de

La Rioja. Considerou que pôr fim à violência de género é um dos maiores desafios das sociedades e que os

Estados-Membros devem ratificar a Convenção de Istambul como sinal de compromisso.

No debate,no qual que participaram os Deputados do PE e os membros dos Parlamentos nacionais, foram

suscitadas questões em torno dos retrocessos verificados na Polónia; da necessidade de fundos pré-afetados

para dar passos concretos para alcançar a igualdade de género; do novo Pacto de Resiliência do PE; da

transformação positiva da experiência adquirida com a pandemia; da vacinação das mulheres a nível europeu

para poderem desenvolver as suas atividades na linha da frente; da sub-representação das mulheres nos

processos de tomada de decisão; da exacerbação das condições precárias do trabalho das mulheres; do

reconhecimento formal do valor económico da prestação de cuidados; da questão cultural da desigualdade entre

sexos; do aumento da violência doméstica e da violências contra as mulheres; da Transição Verde e Digital; do

alargamento do leque de crimes contra as mulheres; da obrigatoriedade de ratificação Convenção de Istambul

por todos os Estados-Membros; da adoção de medidas concretas para as mulheres migrantes e vítimas de

tráfico de mulheres; da saúde mental; da criação de um rendimento mínimo europeu e do equilíbrio entre vida

pessoal, familiar e profissional pelas mulheres.

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Intervieram no debate as Sr.as Deputadas da Subcomissão para Igualdade e Não

Discriminação da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias em

representação da Assembleia da República:

– Lina Lopes (PSD)

«A igualdade entre mulheres e homens constitui um pré-requisito para uma sociedade mais

moderna, mais justa, mais equilibrada e mais livre no respeito pela dignidade humana. O teto

de vidro é um fator de desigualdade. Como sabemos, a pandemia tornou-se uma realidade e

o vírus COVID-19 foi referido como um vírus democrático, que a todos afetava por igual.

Contudo, os dados atuais revelam que vírus trouxe desigualdade e é tudo menos democrático,

sendo as mulheres, mais uma vez, as mais afetadas. O seu impacto nas famílias é tremendo.

Recordo que a maioria das famílias monoparentais são femininas – como se resolve esse

problema? A pandemia agravou também as condições de raparigas que são atingidas

diretamente pelo desemprego e pela precariedade como alerta a Organização Internacional

do Trabalho. No mínimo, uma em cem jovens, entre os 18 e os 29 anos, deixará de trabalhar

devido à COVID-19. Não podemos desperdiçar o talento das mulheres, as suas competências

e a sua participação ativa em todos os campos, tal como nos desafia a fazer a Agenda 2030

da ONU. Como vamos resolver? Como vamos ter uma sociedade mais moderna, mais justa,

mais equilibrada e mais livre no respeito pela dignidade humana? É a questão que deixo.»

– Alma Rivera (PCP)

«Sabemos que as mulheres, e as mulheres trabalhadoras em particular, foram as mais

prejudicadas e foram atingidas de forma muito particular por esta situação sanitária e a crise

consequente, mas precisamos olhar para as raízes e refletir sobre as causas. Ficaram

desempregadas ou viram os seus rendimentos decrescer, porque a precariedade dos vínculos

de trabalho e a falta de fiscalização e de cumprimento dos direitos dos trabalhadores são uma

realidade à escala europeia. Ficaram mais em casa, porque os seus salários são mais baixos

e os horários de trabalho excessivos de homens e mulheres não potenciam a repartição

igualitária de tarefas domésticas e de cuidados. Sofreram, porque as suas casas não têm

condições para teletrabalho, porque as mulheres são ainda a esmagadora maioria nos

cuidados em geral e nesse universo há muitos trabalhos mal remunerados. As mulheres têm

uma presença enorme ao nível das micro e pequenas empresas, as que mais sofreram com

as medidas de confinamento. É a falta de autonomia que potencia fenómenos de violência

doméstica e, depois, saídas desesperadas para a prostituição, por exemplo. Por isso, na saída

da fase que atravessamos e na retoma económica é preciso combater a instabilidade no

trabalho definitivamente e não fugir a este tema, valorizar profissões, valorizar salários,

garantir serviços públicos a nível dos cuidados que desonerem as mulheres, como no caso

das creches e dos lares, e garantir uma rede de apoio às mulheres em situações sociais

difíceis, desde logo a vítimas de violência doméstica.»

– Elza Pais (PS)

«Em Portugal, tal como na Europa e no mundo, a pandemia pôs a nu as desigualdades

estruturais. As mulheres ficaram pior porque já estavam mal. Os avanços dos últimos anos

foram insuficientes para combater estas desigualdades civilizacionais e estruturais. É por isso

urgente combater de uma vez por todas as desigualdades salariais e a violência contra as

mulheres para alcançar uma sociedade sem medo. É urgente que o trabalho não pago para

cuidar dos filhos não seja apenas assegurado pelas mulheres. É urgente que este trabalho

seja encarado nas políticas, nos planos de recuperação e resiliência, como um serviço público

que não pode ser exclusivamente assegurado de forma gratuita por mulheres. Ou temos a

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coragem de mudar ou perdemos um futuro com dignidade para todas as pessoas. Ou fazemo-

lo agora ou perdemos a oportunidade de uma sociedade justa onde ninguém fique para trás,

como defende a ONU. É esta uma responsabilidade europeia, uma responsabilidade coletiva

e solidária que temos de assumir para cumprir os nossos tratados.»

– Sandra Cunha (BE)

«Enquanto humanidade já fizemos coisas absolutamente extraordinárias, fomos à Lua e

queremos pisar Marte, comunicamos em tempo real com pessoas que estão do outro lado

mundo, temos tecnologia de ponta, salvamos vidas quando há poucos anos tal seria

impensável, mas, impressionantemente, continuamos com metade da população mundial

entendida como inferior, menos capaz, a ganhar menos, a ser mais precária, sub-representada

nos cargos de liderança e de tomada de decisão política, a ser quotidianamente assediada,

discriminada, vítima de violência doméstica, violada e assassinada. As desigualdades

estruturais de género resultam de uma organização social que serve um pensamento

dominante, um sistema patriarcal, cujo braço direito é o capitalismo, e que assenta na

exploração de uns por outros, e, por isso, só quando este sistema patriarcal for derrubado

poderemos, enquanto humanidade, atingir plenamente a igualdade. Uma última nota para

perguntar: como é possível a União Europeia e a Comissão Europeia conviverem, sem encetar

qualquer ação mais propositiva, com Estados-Membros que atropelam flagrantemente os

direitos humanos das mulheres, como é o caso da Polónia e os retrocessos ao direito ao

aborto?»

Relativamente às questões colocadas e comentários tecidos, pronunciou-se, primeiro, Carlien Scheele,

afirmando que ficara com a ideia de que há um forte apoio em relação à necessidade de reconhecer o valor

económico dos cuidados e partilhando a sua expectativa de que os planos de recuperação e resiliência possam

servir para alcançar o objetivo de sair da pandemia com as mulheres a assumir um papel mais relevante nas

sociedades, integrando efetivamente a dimensão de género e monitorizando devidamente os planos nacionais,

nomeadamente através dos indicadores fornecidos, e não os usando apenas como check list.

De seguida, Concha Andreu agradeceu as mensagens inspiradoras e lembrou que a União Europeia é líder

mundial a nível da igualdade de género, mas que, apesar disso, os progressos são lentos, daí a necessidade

de reagir. Manifestou a sua esperança na Estratégia de Igualdade de Género, entendendo que os municípios e

regiões têm de participar nesse processo, e defendeu que as mulheres têm de estar presentes na reconstrução

da Europa e no debate sobre o futuro, afirmando que todos temos de ter noção de que a igualdade de género é

algo a que jamais podemos renunciar.

Por fim, Isabelle Loeb referiu que o setor da saúde, na Bélgica, é liderado, no terreno, por mulheres, mas

que a gestão está sobretudo nas mãos de homens. Defendeu a relevância de ter cada vez mais mulheres

presentes nos órgãos de decisão em todas as áreas dos hospitais. Notou que a crise mostrou como a maior

parte dos profissionais de saúde são mulheres, jovens, com crianças pequenas e que sofreram muito com a

pandemia. Afirmou a sua convicção de que as mulheres venham a participar ainda mais na organização das

profissões do setor da saúde, que são carreiras difíceis, mas nas quais as mulheres são pilares.

Frances Fitzgerald agradeceu o apoio técnico e as partilhas de todos, considerando muito enriquecedora a

troca de impressões que ocorrera.

3. Sessão de Encerramento

Devolvida a palavra à anfitriã, Evelyn Regner agradeceu todas as participações e passou de imediato a

palavra a Helena Dalli, a primeira Comissária Europeia para a Igualdade.

Helena Dalliobservou que o Dia Internacional da Mulher aconteceu um ano após o vírus ter assolado o

mundo, dando conta de que, na altura, se sentiram de imediato as consequências, sobretudo pelas mulheres

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que estavam na linha da frente, tendo a pandemia exacerbado as desigualdades de género já existentes.

Apontou que as mulheres foram afetadas a vários níveis: responsáveis por garantir serviços essenciais em

funcionamento, prestar assistência a crianças, prestar cuidados, desempenhar trabalho doméstico, sujeitas ao

aumento da violência doméstica e mais suscetíveis de cair no desemprego. Realçou a essencialidade de garantir

que as necessidades e expectativas das mulheres ocupam o centro dos programas e dos fundos de

recuperação. Informou que, em dezembro de 2020, se firmou um acordo entre os chefes de Estado quanto ao

mecanismo de recuperação e de resiliência, cujo regulamento estabelece que os Estados-Membros terão de

aprovar os seus planos até ao final de abril, obrigando-os a explicar de que forma contribuirão para a igualdade

de género e igualdade de oportunidades para todos. Considerou que estes instrumentos financeiros podem

ajudar a pôr em prática as propostas políticas, tornando esta agenda de recuperação capaz de dar respostas

concretas, utilizando a estratégia para a igualdade de género como uma bússola. Referiu que o Fundo Social

Europeu deve ser utilizado pelos Estados-Membros, tendo em vista esta prioridade da igualdade de género.

Apontou a necessidade de ouvir as opiniões das mulheres e evidenciou a importância da Diretiva das Mulheres

nos Conselhos da Administração para combater o desequilíbrio na presença das mulheres nas estruturas de

governação. Revelou-se honrada em ser liderada por uma mulher na Comissão Europeia, considerando ser

necessário continuar a procurar estratégias para aumentar o número de mulheres que ocupam cargos com

responsabilidades no domínio da decisão, e concluiu convidando todos a embarcar no esforço de garantir

lideranças inclusivas e diversificadas, capazes de fazer face aos desafios que se apresentam.

A última palavra coube a Evelyn Regner, que, agradecendo a participação e os contributos trazidos por

todos, apontou que a igualdade de género é um indicador essencial para ultrapassar esta crise e alcançar uma

recuperação económica completa, tendo em vista uma sociedade mais justa e igual, e deu por concluída a

sessão.

Assembleia da República, 1 de abril de 2021.

A Chefe da Delegação,

(Lina Lopes)

Presidente da Subcomissão para a Igualdade e Não Discriminação

da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

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