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Segunda-feira, 4 de julho de 2022 II Série-D — Número 15

XV LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2022-2023)

S U M Á R I O

Delegação da Assembleia da República:

— Relatório da participação de uma Delegação da Assembleia da República na Missão de Observação Eleitoral às eleições presidenciais da República Democrática de Timor-Leste, que tiveram lugar a 19 de março de 2022.

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DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DE UMA DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA

MISSÃO DE OBSERVAÇÃO ELEITORAL ÀS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DA REPÚBLICA

DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE, QUE TIVERAM LUGAR A 19 DE MARÇO DE 2022

Na sequência de um convite formulado pela República Democrática de Timor-Leste (RDTL), o Secretariado

Executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) remeteu, anexo I, um convite à

Assembleia Parlamentar da CPLP (AP-CPLP) para a constituição de um grupo de observadores às eleições

presidenciais da RDTL, que tiveram lugar a 19 de março de 2022.

A Delegação da Assembleia da República (AR) à Missão de Observação Eleitoral (MOE) da CPLP foi

composta pelo Deputado Porfírio Silva (PS), Presidente da Delegação da AR à AP-CPLP, pela Deputada

Maria Antónia Almeida Santos (PS), pelo Deputado Luís Moreira Testa (PS) e pelo Assessor Parlamentar,

Rodrigo Knopfli. Na foto infra consta a representante indicada pelo Governo de Portugal, Andreia Silva.

A Delegação da AR partiu de Lisboa no dia 13 de março e aterrou em Díli, Timor-Leste, no dia 16 de março

de 2022, onde foi recebida pela equipa avançada do Secretariado Executivo, que apoiou a delegação com os

trâmites de entrada no país. A Delegação portuguesa deslocou-se até ao Hotel Timor onde pernoitou até ao

final da missão.

A MOE da CPLP foi chefiada pelo Embaixador José Guerreiro Alves Primo, indicado por Angola que

assume a presidência pro-tempore da organização, e que contou com a participação de um total de 16

observadores, destacando-se a participação de três Deputados membros da AP-CPLP.

Seria expectável que a organização da Missão de Observação Eleitoral divulgasse um programa e uma

agenda de trabalhos da MOE, que contemplassem as reuniões, nos dias que antecederam à eleição, com

entidades – Comissão Nacional de Eleições timorense – e com os candidatos, mas esses documentos nunca

foram distribuídos.

No início da tarde do dia 16 de março a Delegação da AR à AP-CPLP, a convite da organização, participou

na reunião de coordenação da Missão de Observação Eleitoral da CPLP, com todos os observadores da

CPLP presentes no país.

A reunião de coordenação teve como objetivo a apresentação dos dezasseis observadores, indicados pela

Assembleia Parlamentar da CPLP, Estados-membros da CPLP e pelo Secretariado Executivo da CPLP. Note-

se que inicialmente a MOE previa a participação de dezoito observadores, mas por razões de dificuldades de

submissão de documentos de viagem, não foi possível a deslocação de dois desses observadores para Timor-

Leste.

No seguimento das apresentações, o Secretariado Executivo da CPLP (SE CPLP) informou que a equipa

avançada do SE CPLP chegou a Díli no dia 11 de março e que tentou, no quadro das suas tarefas, organizar a

agenda dos observadores para os dias que antecediam a eleição. Entendeu-se que houve dificuldades de

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resposta aos pedidos de reunião realizados pela equipa avançada, mas que aguardavam respostas pelos

dezasseis candidatos, bem como da Comissão Nacional de Eleições (CNE) timorense e pelo Secretariado

Técnico da Administração Eleitoral, entidades fundamentais para ter uma perceção real do ambiente de

campanha eleitoral, como do cumprimento da lei eleitoral do país.

Como parte das informações a prestar aos observadores, o SE CPLP indicou que o desdobramento dos

observadores seria realizado, eventualmente, através de equipas de dois observadores, sendo depois

distribuídos em função dos seguintes distritos: Liquiçá, Ermera, Manatuto, Aileu, Díli e eventualmente em

Baucau. Foi ainda sublinhada a necessidade do respeito do Manual de Observação Eleitoral da CPLP, na

forma de relacionamento dos observadores com os elementos da Centros de Voto e Estações de Voto, os

jornalistas e, ainda, que a distribuição das fichas de observação de votação seria realizada mais perto do dia

da eleição.

Pese embora algumas dificuldades de observação por parte da equipa avançada de alguns comícios

eleitorais, os observadores foram informados de que os comícios foram realizados de forma calma e em

respeito pela lei eleitoral. Deu-se nota de que os dezasseis candidatos realizaram, a convite de uma empresa

privada de televisão, um debate em direto e que o tom do mesmo foi marcado por cordialidade e respeito entre

os candidatos. Os principais temas abordados neste debate realizaram-se em volta da Constituição da RDTL,

dos poderes do Presidente da República, desemprego, alterações climáticas, portadores de deficiências e os

problemas que assolam a juventude do país.

Durante a realização da reunião de coordenação da MOE, os observadores receberam a confirmação da

realização de uma reunião1 com a Comissão Nacional de Eleições de Timor-Leste. O grupo de observadores

deslocou-se até à sede da CNE onde reuniu com o Presidente da CNE e com elementos da direção. O

objetivo do encontro foi o de demonstrar o acompanhamento que a CNE vinha realizando em torno do

processo eleitoral.

A CNE explicou que o organismo tem supervisionado o processo e o registo dos eleitores para as eleições

presidenciais, tem aplicado as normas legais do processo de registo, aprovou regulamentos no quadro da lei

eleitoral dirigidas aos candidatos, sobre observadores e media, e tem promovido sessões esclarecimento com

o objetivo de retirar as dúvidas sobre o processo eleitoral aos cidadãos, bem como o de garantir o tratamento

igualitário dos cidadãos no processo de registo.

A CNE referiu ainda, no que aos observadores internacionais diz respeito, que têm de respeitar a lei

eleitoral do país, como a sua soberania, não podem obstaculizar de forma alguma o processo eleitoral, nem

divulgar informação que seja falsa. Disse ainda que os observadores internacionais têm liberdade de

circulação e de comunicação com as entidades que acompanham o ato eleitoral.

Referiu-se ainda à relação da CNE com o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), órgão

responsável pela organização das atividades do dia da eleição, com experiência na organização de atos

eleitorais no passado.

No dia 17 de março, a Delegação deslocou-se para um encontro com a candidata Maria Ângela Freitas da

Silva. A candidata disse que se apresentou às eleições como independente, por entender evitar conflitos.

Começou por referir que um dos problemas ao desenvolvimento do país está diretamente relacionado com o

atual Presidente da República e candidato Francisco Lú-Olo Guterres, que, segundo a candidata, «tem

interferido com a economia do país». Referiu que a sua candidatura é uma de «nova liderança» e com visão

para o futuro.

Vê a sua candidatura como forma de ultrapassar um problema que considera ser um «conflito com o

passado», referindo-se aos candidatos mais antigos do país à eleição presidencial, sendo da opinião que a

mudança da mentalidade do país e o seu crescimento dever-se-á aos candidatos mais jovens. A avaliação que

realizou dos últimos anos da governação tem como resultado um saldo negativo pela falta de ideias novas.

Disse que caso os problemas do país não se resolvam, com a ajuda do Chefe de Estado, os mesmos tornar-

se-ão mais complexos.

Referiu por último que caso seja eleita, vai promover a reforma do sistema judicial e a dissolução do

Parlamento Nacional de Timor-Leste com o objetivo de «impor a ordem para assegurar a aplicação e o

1 A reunião foi marcada por parcas condições de audiovisual na sala de reunião, o que dificultou a compreensão da palavra proferida.

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respeito pelos Direitos Humanos».

Aberto um momento de perguntas e respostas, o Deputado Porfírio Silva perguntou à candidata se estava

satisfeita com o desenrolar do processo eleitoral. A candidata respondeu que o tempo que teve para se

preparar «foi manifestamente curto», imputando a culpa as entidades responsáveis pela organização do ato

eleitoral. Disse que existiam injustiças a decorrer como, por exemplo, a utilização de meios do Estado para a

deslocação aos distritos para fazer campanha eleitoral, violando o calendário eleitoral por membros do

Governo. Referiu que os membros do governo, ao utilizar meios do Estado, levam «água, dinheiro e até arroz»

aos eleitores, considerando a candidata uma violação do quadro legal.

Referiu que a presença das Missões de Observação Eleitoral em Timor-Leste, nomeadamente a da CPLP,

é relevante para «evitar a falsificação no processo de contagem», mas acusou ao mesmo tempo os

Presidentes dos Centros de Voto2 como sendo, na sua totalidade, militantes ativos da Frente Revolucionária

de Timor-Leste Independente (FRETILIN), o que, considerou, coloca em causa o processo eleitoral. Acusou

ainda a CNE timorense de uma «instituição corrupta» e aliada ao partido político no poder.

A candidata notou ainda que é «importante cumprir a Constituição» e assegurar a manutenção da relação

com a CPLP, Indonésia, Austrália e a Malásia.

Defendeu os setores produtivos do país, como os produtores de agricultura locais com o objetivo de

conseguir exportar os seus produtos para o estrangeiro para contrabalançar a dependência das exportações

do país.

Disse que, caso fosse eleita, garantiria a estabilidade política que é uma premissa das funções do

Presidente da República, tarefa que não tem sido alcançada pelo atual Chefe de Estado.

Em resposta à questão colocada sobre o papel da mulher na sociedade, disse ser «relevante no que diz

respeito ao trabalho doméstico» e destacou vários problemas que existem na sociedade timorense, como a

violação dos direitos das mulheres e de crianças e que é necessário criar uma estrutura de apoio a casos de

violação dos direitos das mulheres e das crianças.

Por último, referiu-se ao processo de descolonização imputando «responsabilidades ao Estado português»

que tem a «responsabilidade de ajudar na criação de infraestruturas» que apoiem o desenvolvimento,

nomeadamente no que diz respeito ao eixo da cooperação.

Sobre o problema dos «grupos de artes marciais», associados ao partido político com assento parlamentar

KHUNTO, referiu que têm de ser criadas as leis que regulem o setor.

De seguida a MOE deslocou-se e reuniu com o candidato Martinho Gusmão que se definiu como um

«Padre com autorização do Papa para concorrer» às eleições presidenciais timorenses. Referiu que concorreu

por perceber que «as causas não estão em linha com os objetivos traçados no passado».

Referiu que Portugal «abandonou Timor-Leste», isolando o país na altura da independência, no

seguimento da revolução do 25 de Abril de 1974.

No que ao plano político se refere, indicou que existe uma rivalidade entre Xanana Gusmão (CNRT) e Mari

Alkatiri (FRETILIN) por concorrem para a liderança, através dos respetivos partidos políticos, do país.

Afirmou que o resultado será «surpreendente», levando a uma segunda volta das eleições, que serão

contestadas pelo próprio e pelo candidato José Ramos Horta (CNRT). Em tom assertivo previu conflitos

graves entre os apoiantes dos diferentes partidos políticos.

Referindo-se ao tópico da educação ressalvou a importância da formação dos jovens, através de um

ensino público de qualidade, que, sublinhou, tem merecido o apoio do Estado português nos últimos anos,

através dos programas de cooperação assinado entre os dois países, no eixo da educação.

Por último, referiu da existência de desigualdades dos candidatos no acesso aos meios de comunicações

social, dirigindo a crítica à CNE que «escolheu meios de comunicação privados» para a divulgação da

informação sobre as eleições, sendo que a maioria da população não tem acesso a esse meio de

comunicação social.

De seguida a MOE deslocou-se até à sede de candidatura de Rogério Tiago de Fátima Lobato que no

seguimento da apresentação dos membros da MOE, começou por afirmar que os «tribunais não são

independentes» e referiu que os tribunais em Timor-Leste trabalham tendo como base o «nepotismo, por isso

2 Corresponde, no caso português, ao Presidente da Assembleia de Voto.

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prejudica a apreciação dos processos». Disse que a capacitação dos membros do tribunal deveria ser

realizada por juízes portugueses.

O Deputado Porfírio Silva perguntou ao candidato se era da opinião de haver condições para que o sistema

de justiça se regularize, ao que o candidato respondeu: «o que existe em Timor-Leste é uma paz podre, a

população não está satisfeita», com o sistema (justiça) instalado.

Ao referir-se a Xanana Gusmão, disse que este último é aceite pelo povo, pelo que prevê que a vitória

recaia em José Ramos Hora. Notou que caso o candidato do CNRT ganhe as eleições, dissolverá o

Parlamento Nacional. Ao referir-se ao candidato Francisco Guterres Lú-Olo, disse que este não foi apoiado

pela FRETILIN, apesar de concorrer pelo histórico partido timorense, porque o partido está fracionado.

O candidato realizou e passou em revista o seu ponto de vista sobre a posição de Timor-Leste no que toca

à política extrema, nomeadamente as relações com os países asiáticos, que, disse, merecem ser reforçadas e

desenvolvidas em termos dos interesses bilaterais.

Questionado sobre o Fundo Soberano de Timor-Leste, criado para poupar e rentabilizar as receitas

petrolíferas do país, cujas receitas provêm da exploração petrolífera, no mar de Timor, disse que é um

instrumento de apoio ao desenvolvimento do país, mas que tem sido alvo de má gestão. Referiu que se as

receitas fossem bem geridas, como bem aplicadas, Timor-Leste «não estaria no estado em que está». Referiu

que o Fundo Soberano é auditado e controlado pelo Parlamento Nacional de Timor-Leste e que se fosse

controlado pelo Governo «não haveria dinheiro».

Por último referiu que as receitas da diáspora rondam os 30 milhões de dólares por ano, representando o

segundo lugar das receitas da economia do país.

No dia 18 de abril, os membros da MOE realizaram uma reunião de coordenação que distribuiu os

membros da MOE por equipas. Foi decidido, por consenso, que o desdobramento da missão fosse realizado

por equipas de oito observadores, sendo que quatro cobriram a área de Díli e as restantes divididas pelos

distritos de Aileu, Ermera, Manatuto e Liquiçá, onde acompanharam o dia da eleição, desde a abertura até ao

encerramento das urnas.

Os membros da Delegação da AR à AP-CPLP foram distribuídos pelas seguintes equipas/distritos:

Distrito de Aileu:

• Deputado Porfírio Silva.

Distrito de Díli:

• Deputada Maria Antónia de Almeida Santos;

• Assessor Parlamentar Rodrigo Knopfli.

Distrito de Manatuto:

• Deputado Luis Moreira Testa.

Realizada a distribuição, o Assessor do Secretariado Executivo da CPLP explicou os objetivos da missão

de observação, a necessidade de observar a aberturas das estações e centros de voto, verificar se o material

da eleição se encontrava inviolado, o selar das urnas, a necessidade de acautelar tempo entre deslocação das

estacões ou mesas de voto, a forma de preenchimento das fichas de observação, a necessidade de respeitar

o manual de observação eleitoral da CPLP e a forma de interação, nessa eventualidade, dos observadores

com a comunicação social.

No decorrer da reunião foi rececionada a aceitação do pedido de agendamento com alguns candidatos, o

que o levou o Deputado Porfírio Silva com outros membros da MOE a reunir com o candidato Francisco

Guterres Lú-Ólo, apoiado pela FRETILIN (que acabou por receber a Missão na qualidade de Presidente da

República e não na qualidade de candidato), e os Deputados Maria Antónia Almeida Santos e Luís Moreira

Testa reunir com a candidata Maria Helena Lopes de Jesus Pires, tendo o Assessor Parlamentar Rodrigo

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Knopfli, permanecido na reunião de coordenação da MOE.

De seguida, a MOE recebeu a confirmação da possibilidade de reunir com o candidato José Ramos-Horta,

apoiado pelo CNRT. A MOE deslocou-se até à residência oficial onde reuniu com o candidato. No seguimento

da apresentação da MOE, José Ramos Horta começou por referir que podia descrever a situação política em

Timor-Leste como sendo resultado de «assaltos à Constituição». Referiu que o Presidente da República

usurpou dos poderes que lhe são conferidos na constituição, o que o levou a tomar, no passado, decisões

imparciais, referindo-se à crise política que se viveu no país.

Indignado, referiu que durante a pandemia não havia líderes políticos timorenses no interior do país, o que

resultou num maior isolamento das populações com a capital. Notou que era o único líder que lia e estava

atento aos assuntos da COVID e que tentou avisar o Presidente da República e o Primeiro-Ministro para o

surgimento da pandemia.

No que se refere aos jovens foi assertivo na sua alocação que tem como objetivo estabelecer um canal de

comunicação com essa camada da sociedade, com o objetivo de perceber os seus problemas e dar resposta

aos mesmos.

Indicou estar insatisfeito com o trabalho realizado em volta dos Orçamento do Estado no Parlamento

Nacional de Timor-Leste e foi perentório quando afirmou que, sendo eleito, dissolverá o Parlamento

Nacional de Timor-Leste, o que obrigará a realização de eleições legislativas antecipadas.

Referindo-se à economia do país, notou que entre 2007 e 2013 o crescimento do país rondou os 12%, pela

via do Fundo de Petróleo, que, com as suas receitas, «alcatroou 95% do país». Disse ainda que graças a

Xanana Gusmão Timor conseguiu alargar a sua zona de exploração do poço de petróleo «Greater Sunrise»,

no mar de Timor.

Sobre a alegada polémica instalada em torno de eventuais fraudes do processo e resultado eleitoral, referiu

que «não serão suficientes para alterar os resultados».

Sobre o tema da saúde, disse que não havia justificação para o problema da subnutrição infantil. Disse que

«eliminaram a malária em 2015» e que o dengue é muito difícil de erradicar devido à dificuldade em resolver o

problema de estagnação das águas no país. Concluiu, referindo estar satisfeito com a formação de médicos

que tem vindo a aumentar em número ao longo dos últimos anos.

Abordando o tema da justiça em Timor-Leste, é da opinião de ser eficaz, apesar de reconhecer que no

passado foram cometidos erros de apreciação e decisão de processos.

Em resposta a uma questão colocada pelo Deputado Porfírio Silva, sobre a política externa, disse que a

Associação das Nações do Sudoeste Asiático (ASEAN) é uma prioridade para o país, nomeadamente a

aceitação de Timor-Leste como membro de pleno direito na organização.

Sobre a CPLP, disse que é importante «manter as relações» com os Estados-membros da Comunidade,

pelos benefícios que decorrem da manutenção e reforço desses laços de amizade e de cooperação,

mormente nos eixos da educação, língua e na saúde.

Concluiu a sua intervenção referindo que com a realização de eleições legislativas antecipadas, no

seguimento da dissolução do Parlamento Nacional de Timor-Leste, Xanana Gusmão está «a apontar para

uma maioria absoluta».

Da parte da tarde, a MOE teve um encontro com as Embaixadas da CPLP acreditadas no país, Portugal e

Brasil, onde, através da representação portuguesa, se realizou um ponto de situação sobre a realidade política

do país, o desenvolvimento da economia, o processo eleitoral. Os membros da MOE foram alertados para o

surgimento de eventuais confrontos de fações políticas no seguimento do anúncio dos resultados eleitorais.

Às eleições presidenciais de 19 de março concorreram 16 candidatos, disputando o voto de mais de

859 613 eleitores de uma população (projeção de 2019), 1 280 743 de habitantes.

Nestas eleições concorreram os seguintes candidatos:

1 – Isabel Ferreira;

2 – Hermes da Rosa Correia Barros;

3 – Ângela Freitas;

4 – Rogério Lobato;

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5 – Anacleto Ferreira;

6 – Francisco Guterres Lú-Olo;

7 – Milena Pires;

8 – Lere Anan Timur;

9 – Armanda Berta dos Santos;

10 – Antero Bendito da Silva;

11 – Constâncio Pinto;

12 – Virgílio Guterres;

13 – Martinho Gusmão;

14 – José Ramos-Horta;

15 – Felisberto Araújo Duarte;

16 – Mariano Assanami Sabino.

No dia 19 de abril os membros da Delegação da AR à AP-CPLP, já desdobrados nas equipas, por distrito,

partiram em direção Centros de Votação para observar o início do ato eleitoral que compreendia, por parte de

elementos do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral, a verificação do material de voto, como dos

membros de cada estação de voto, o selar das urnas de voto.

Foi notório que a véspera das eleições foi marcada por um clima de alguma tensão entre os partidos, mas

o processo de eleição decorreu com tranquilidade, em que os candidatos procuraram estabelecer pontes com

a população no sentido de fortalecer o processo eleitoral.

A Delegação portuguesa procedeu assim à missão de observação eleitoral nos respetivos distritos Aileu,

Manatuto e Díli, cabendo a cada equipa a tarefa de organizar a distribuição da observação considerando os

locais do centro de votação, os tempos de deslocação entre cada centro de votação, os eleitores por cada

distrito e a necessidade de cumprir e preencher as fichas de observação entregues pelo Secretariado

Executivo da CPLP.

Note-se que o distrito de Aileu compreende 33 603 eleitores, o distrito Díli 190 710 eleitores e o distrito de

Manatuto 48 876 eleitores.

A missão de observação decorreu em conformidade com a abertura e encerramento dos centros de voto,

respetivamente das 07:00 às 15:00 horas. No entanto, as equipas da MOE permaneceram nos centros de voto

e presenciaram o corte dos selos das urnas, que, por conseguinte, se procedeu à contagem e publicação dos

resultados por estação de voto.

No dia 20 de março, a MOE realizou uma reunião de coordenação para troca de informações e análise do

observado no terreno no dia da votação.

O dia 20 foi também dedicado ao acompanhamento e divulgação dos resultados eleitorais, que refletiam

um destaque de posição do candidato José Ramos Horta (CNRT) em relação aos demais candidatos.

Na mesma reunião e com os contributos da Delegação da Assembleia da República à AP-CPLP, foi

redigida e melhorada a Declaração Preliminar, que se anexa, da Missão de Observação Eleitoral da

Comunidade dos Países de Língua Portuguesa às Eleições Presidenciais em Timor-Leste.

Os resultados deste ato eleitoral estão refletidos no factsheet que se anexa ao presente relatório.

No dia 21 de março, os membros da Delegação da Assembleia da República à AP-CPLP, regressaram a

Lisboa, tendo aterrado em Lisboa pelo meio-dia do dia 22 de março.

Palácio de São Bento, 29 de junho de 2022.

O Presidente da Delegação da Assembleia da República à Assembleia Parlamentar da CPLP, Porfírio

Silva.

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Anexo

Declaração Preliminar da Missão de Observação Eleitoral da Comunidade dos Países de Língua

Portuguesa às Eleições Presidenciais em Timor-Leste, ocorridas a 19 de março de 2022

No seguimento do convite formulado pelas autoridades timorenses, a Comunidade dos Países de Língua

Portuguesa (CPLP) constituiu uma Missão de Observação às Eleições Presidenciais na República

Democrática de Timor-Leste, realizadas a de 19 de março de 2022.

A Missão de Observação Eleitoral (MOE) da CPLP é chefiada pelo Embaixador José Guerreiro Alves

Primo, e integra 16 observadores, incluindo Parlamentares designados pela Assembleia Parlamentar da

CPLP, diplomatas e técnicos indicados pelo Estados-Membros, assim como funcionários da Organização.

Presente no país entre 11 e 27 de março, a MOE da CPLP manteve encontros com as várias partes

envolvidas na condução do processo eleitoral, de entre os quais a Comissão Nacional de Eleições, o

Secretariado Técnico de Administração Eleitoral, bem como com diversos candidatos presidenciais, com os

representantes do Grupo CPLP, tendo estado, igualmente, em contacto com outras Missões de Observação

Eleitoral internacionais.

No dia da votação, a MOE da CPLP desdobrou-se em 7 (sete) equipas, que cobriram os municípios de Díli

(3 equipas), de Aileu, de Ermera, de Liquiçá e de Manatuto (com 1 equipa cada).

Os observadores acompanharam a fase final da campanha eleitoral, em Díli; o dia da votação, incluindo a

abertura e o encerramento das urnas; e a contagem ao nível do Centro de Votação distrital.

No dia das eleições, a Missão observou um total de 131 Centros de Votação, correspondentes a um

universo de 142 624 inscritos, não tendo registado qualquer impedimento ao normal funcionamento dos

mesmos.

No quadro das operações do processo eleitoral que teve oportunidade de observar, a Missão da CPLP

considera que as Eleições decorreram em consonância com as práticas internacionais de referência, no

respeito dos princípios democráticos e direitos políticos consagrados na Constituição da República

Democrática de Timor-Leste, e de acordo com os preceitos estabelecidos nas leis e procedimentos eleitorais

em vigor no país.

A Missão da CPLP constatou, igualmente, que foram asseguradas as liberdades cívicas e os direitos dos

cidadãos, designadamente a participação no processo político do país, através do exercício do direito de voto,

no respeito da igualdade do sufrágio universal, e da liberdade de expressão e de associação.

Por conseguinte, a MOE da CPLP congratula as autoridades de Timor-Leste pela realização de eleições

credíveis, livres e pacíficas, que muito contribuem para o reforço das instituições democráticas, para a coesão

nacional e para o amplo exercício da cidadania e participação política.

A MOE da CPLP reafirma, ainda, a sua confiança no respeito, por parte de todos os atores políticos

envolvidos, da vontade expressa pelos eleitores timorenses.

Do mesmo modo, a MOE da CPLP destaca a capacidade demonstrada pela Comissão Nacional de

Eleições e pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral na organização e realização deste ato

eleitoral e felicita o desempenho responsável e de elevada competência dos membros dos Centros de Votação

no cumprimento dos procedimentos estabelecidos, no esclarecimento dos eleitores e na implementação de

uma eleição resiliente à COVID-19.

A MOE da CPLP regista, igualmente, com particular agrado a elevada participação de mulheres e de

jovens nas mesas dos Centros de Votação.

Cumpre, também, sublinhar o contributo prestado pelas forças de manutenção da ordem pública, dos

agentes da Comissão Nacional de Eleições, dos observadores nacionais, bem como de todos os atores

políticos que acompanharam o processo de votação.

Por último, e recordando que eleições democráticas e participadas são um pilar fundamental da boa

governação, da estabilidade e do desenvolvimento económico e social, a Missão de Observação Eleitoral da

CPLP saúda o povo da República Democrática de Timor-Leste pela forma exemplar como exerceu o direito de

voto, demonstrando civismo e serenidade, contribuindo para o reforço da Democracia e do Estado de direito

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no país, e por conseguinte, para a coesão e afirmação internacional da Comunidade dos Países de Língua

Portuguesa.

Díli, 20 de março de 2022.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

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