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Terça-feira, 20 de dezembro de 2022 II Série-D — Número 32

XV LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2022-2023)

S U M Á R I O

Delegação da Assembleia da República: — Relatório da participação de uma Delegação da Assembleia da República à Assembleia Parlamentar para a Segurança e Cooperação na Europa (APOSCE) – Missão de Observação Eleitoral às Eleições Intercalares nos Estados Unidos da América −, que teve lugar em Washington, entre os dias 5 e 9 de novembro de 2022.

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DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DE UMA DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA À

ASSEMBLEIA PARLAMENTAR PARA A SEGURANÇA E COOPERAÇÃO NA EUROPA (APOSCE) –

MISSÃO DE OBSERVAÇÃO ELEITORAL ÀS ELEIÇÕES INTERCALARES NOS ESTADOS UNIDOS DA

AMÉRICA −, QUE TEVE LUGAR EM WASHINGTON, ENTRE OS DIAS 5 E 9 DE NOVEMBRO DE 2022

A Missão de Observação Eleitoral às Eleições Intercalares nos Estados Unidos da América decorreu de 5 a

9 de novembro e foi organizada pela Assembleia Parlamentar da Organização para a Segurança e

Cooperação na Europa (APOSCE), pelo Escritório para Instituições Democráticas e Direitos Humanos

(ODHIR), e na qual participou a Deputada Marta Freitas (PS) e o Deputado André Coelho Lima (PSD),

membros da Delegação da Assembleia da República à Assembleia Parlamentar da Organização para a

Segurança e Cooperação na Europa (APOSCE), destacados na região de Washington.

Deputada Marta Freitas

Os Estados Unidos têm um sistema bicameral, dividindo-se o Congresso entre a

Câmara dos Representantes, ou câmara baixa, e o Senado, ou câmara alta. Em

conjunto, estas câmaras detêm o poder legislativo a nível federal. Para a Câmara

dos Representantes, os candidatos são eleitos a cada dois anos e os senadores

exercem um mandato de seis anos, elegendo cada estado dois senadores, sendo

que um terço dos lugares é sujeito a votos de dois em dois anos. Nestas eleições

intercalares foi eleita assim uma nova composição do Congresso.

Assim no dia 8 de novembro, os cidadãos norte-americanos votaram para eleger

435 congressistas (a totalidade) e 35 senadores (de 100 lugares), paralelamente com outras eleições

estaduais de governadores, assembleias legislativas, procuradores e referendos legislativos.

Nos dias em que estivemos presentes no Estados Unidos da América, a convite da OSCE PA (Assembleia

Parlamentar da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) e indicados pela Assembleia da

República, para observação eleitoral, houve a oportunidade de ouvir vários convidados e especialistas, num

briefing nas várias dimensões que abrangem estas eleições intercalares, num sistema que comparativamente

ao sistema eleitoral europeu, poderá ser visto como um processo mais complexo, atendendo à pluralidade de

regras administrativas que se diferenciam de Estado para Estado, ao contrário da centralização observada na

Europa. Assim, assistimos a painéis de discussão sobre administração e legislação eleitoral; segurança

eleitoral e integridade; campanha e financiamento (Democratas e Republicanos); votação e análise; sendo

estes apresentados e abordados por vários especialistas convidados, com oportunidade final para discussão

sobre estes temas.

Nestas eleições intercalares estiveram em destaque no debate político matérias como o aborto, alterações

climáticas, controle de armas, economia e inflação.

A questão do aborto esteve em permanente discussão e em destaque no decorrer da campanha eleitoral,

após se ter verificado a reversão de uma jurisprudência, pelo Supremo Tribunal dos EUA, dando aos governos

estaduais a capacidade de decisão sobre o direito, ou não, ao aborto, deixando de ser uma lei federal. Este

tema foi fortemente abordado pelos democratas, com uma posição dos republicanos mais conservadora. As

questões climáticas foram também levantadas pelos democratas, relembrando a decisão de Joe Biden de

reverter a saída do Tratado de Paris anteriormente aprovada pelos republicanos.

Outro tema igualmente levantado concerne com a integridade eleitoral, atendendo ao facto de em 2020 os

resultados das eleições terem sido questionados pelo anterior Presidente Donald Trump, constatando-se

também uma forte preocupação com a desinformação e descredibilização relacionada com o processo

eleitoral, sendo no período pré-eleitoral as autoridades eleitorais e as empresas de tecnologia desafiadas para

combater informações falsas distribuídas, essencialmente, pela Internet.

Mais, dentro de outras preocupações dos cidadãos norte americanos, estavam o crescimento da inflação, a

habitação, bem como a violência e a imigração sem visto.

As decisões dos americanos nas eleições intercalares foram de grande importância para os EUA e

indicativas das eleições presidenciais que se seguem, resultando na manutenção da liderança pelos

democratas no Senado e na vitória para governadores em vários Estados e numa maioria republicana na

Câmara dos Representantes, ao contrário da expectável «onda vermelha» republicana que poderia sair

vitoriosa em todo o Congresso. O Presidente Biden terá assim melhores condições para continuar a avançar

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com a sua agenda política no restante mandato, ao contrário do que historicamente se tem registado nas

eleições intercalares norte-americanas. Até porque efetivamente continuamos a observar duas conceções

completamente diferentes da vida em sociedade, das prioridades de desenvolvimento, e de uma cultura de

vida, com parcas pontes de negociação entre ambas, ou seja, entre democratas e republicanos, adotando

posicionamento extremos e contrários em vários dossiers.

Ainda assim, na Câmara Baixa podemos voltar a observar, como no passado, um conflito partidário até às

eleições presidenciais, travando avanços legislativos, que apenas poderão ser revertidos pelo Senado de

maioria democrata. Caberá ao Presidente Joe Biden, ser capaz de dialogar com o lado republicano para

aprovar legislação, tendo já conseguido no passado com a aprovação de algumas leis estruturais, por ambos

partidos, como na lei das infraestruturas.

Antecipa-se, também, incertezas na economia norte-americana, à semelhança do que se verifica na

Europa, com a guerra na Ucrânia e aumento da inflação. Veremos então como estes dois anos irão influenciar

as próximas eleições presidenciais e de que forma poderá trazer impacto noutros países, dada a influência dos

EUA política, económica e cultural no mundo.

Quanto à observação eleitoral em concreto, tanto no distrito de Columbia (Washington) e no Estado de

Virgínia, foi possível ter oportunidade de ver quão diferenciador é o sistema eleitoral americano em relação à

Europa e, em particular, a Portugal. Em vários Estados, como o de Virgínia, é possível ao cidadão registar-se

para votar no próprio dia (sendo este voto considerado provisório até verificação da viabilidade para votação

do eleitor, que faz esse registo e, nessa localidade), sendo igualmente possível votação antecipada, seja por

correio ou net-online, na qual o período previsto também pode variar de Estado para Estado.

Diferenciador é também o equipamento utilizado para votação, por exemplo em Washington observou-se

tanto o touch screen para voto eletrónico como o voto em papel. O primeiro permite uma votação mais

inclusiva, pois vota de igual modo qualquer cidadão com ou sem deficiência, adaptando-se o aparelho às

necessidades dos eleitores. Sem dúvida um bom exemplo. No Estado de Virgínia apenas observou-se o voto

em papel, havendo nas várias assembleias de voto um aparelho eletrónico disponível para votação acessível

pelas pessoas com deficiência visual.

De forma geral, apesar de algumas melhorias ou correções poderem ser sempre feitas no processo

eleitoral (e que ficou em nota num formulário próprio entregue pela APOSCE), encontrou-se em ambas as

localidades uma boa organização eleitoral, garantindo o direito a voto, a sua confidencialidade e o livre arbítrio.

Não se verificou qualquer intimidação ou interferência, mesmo perante a presença possível e autorizada de

ativistas políticos no exterior das assembleias de voto, bem como de alguns observadores de grupos políticos

dentro das mesmas. Todo o processo eleitoral verificado ocorreu dentro da normalidade e de forma segura,

constatando-se uma confiança sentida, neste processo, por parte dos cidadãos norte-americanos.

Por fim, assistiu-se ao encerramento das assembleias de votos e pôde-se constatar que a recolha das

urnas é segura, realizada por agentes policiais e perante alguma anomalia do sistema informático (consistindo

a urna num scanner com um depósito fechado para os votos, inseridos pelo cidadão), são logo contactadas as

autoridades eleitorais locais, para acompanhar o encerramento da assembleia de voto.

Como observadores eleitorais, não ficámos com qualquer dúvida relativa à veracidade e confiabilidade

destas eleições e foi essa a informação transmitida no briefing final à APOSCE, junto com a entrega de um

formulário de avaliação, preenchido em cada assembleia de voto observada.

Para além da observação eleitoral os Deputados presentes na Missão, tiveram

oportunidade de realizar um encontro com o Embaixador de Portugal nos Estados

Unidos da América, Embaixador Francisco Duarte Lopes.

Membro da Delegação da AR à APOSCE,

Deputada Marta Freitas

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

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