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Quinta-feira, 26 de janeiro de 2023 II Série-D — Número 38

XV LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2022-2023)

S U M Á R I O

Delegações da Assembleia da República:

— Relatório da participação de uma Delegação da Assembleia da República na Reunião Interparlamentar da Comissão das Liberdades Cívicas, Justiça e Assuntos Internos (LIBE) do Parlamento Europeu, dedicada ao tema «A situação do Estado de direito na União Europeia», que decorreu em Bruxelas, no dia 1 de dezembro de 2022. — Relatório da participação de uma Delegação da Assembleia da República na Reunião Interparlamentar da Comissão Especial para Ingerência Estrangeira em Todos os

Processos Democráticos na UE, incluindo a Desinformação (ING2) do Parlamento Europeu, sobre «A resiliência legislativa, leis eleitorais ou campanhas de manipulação de informação», que decorreu em Bruxelas, no dia 1 de dezembro de 2022, por videoconferência e presencial. — Relatório da participação de uma Delegação da Assembleia da República na Reunião Interparlamentar da Comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade dos Géneros (FEMM) do Parlamento Europeu, com o tema «Convenções de Género», que decorreu em Bruxelas, no dia 8 de dezembro de 2022, por videoconferência.

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DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DE UMA DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA

REUNIÃO INTERPARLAMENTAR DA COMISSÃO DAS LIBERDADES CÍVICAS, JUSTIÇA E ASSUNTOS

INTERNOS (LIBE) DO PARLAMENTO EUROPEU, DEDICADA AO TEMA «A SITUAÇÃO DO ESTADO DE

DIREITO NA UNIÃO EUROPEIA», QUE DECORREU EM BRUXELAS, NO DIA 1 DE DEZEMBRO DE 2022

Da agenda da reunião, relativa à situação do Estado de direito na União Europeia, constavam os seguintes

pontos:

– Notas introdutórias

Juan Fernando López Aguilar, Presidente da Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos

Internos (LIBE) do Parlamento Europeu, deu as boas-vindas aos colegas dos parlamentos nacionais à reunião

para discussão do Estado de direito na União Europeia.

– Intervenções iniciais

Didier Reynders, Comissário Europeu para a Justiça, referiu-se ao último relatório anual da Comissão

Europeia sobre o Estado de direito, que apoia nos debates sobre o tema no Parlamento Europeu (PE) e nos

parlamentos nacionais. O relatório dá seguimento aos temas constantes dos relatórios anteriores, tendo sido

acrescentados tópicos importantes, como o serviço público e a imprensa e as recomendações que são dirigidas

aos parlamentos nacionais e PE, com práticas e reformas que devem ser levadas a cabo e problemas que

devem ser abordados. Mencionou de seguida os desenvolvimentos positivos identificados e as áreas de

preocupação, como a independência do sistema judicial e liberdade de imprensa em alguns Estados. Sugeriu,

no âmbito do acompanhamento desta matéria, que o PE pudesse prever um grupo de contacto informal, com a

presença de um representante da Comissão, Conselho e representantes dos parlamentos nacionais, e onde

pudessem acontecer debates regulares para promover o Estado de direito como responsabilidade comum.

Terminou dando nota da importância do relatório para o diálogo com os Estados-Membros, mas não descurou

a existência de outros mecanismos aplicáveis quando necessário, como o TJUE, o mecanismo de

condicionalidade e artigo 7.º. Recordou que esta discussão é importante não só dentro da UE, mas também com

os Estados candidatos.

Mikuláš Bek, Ministro dos Assuntos Europeus da República Checa, Presidência do Conselho da União

Europeia, aludiu ao compromisso da Presidência checa em defender os valores comuns da UE como a

democracia, o Estado de direito e os direitos fundamentais, principalmente com a situação vivida na Ucrânia.

A Delegação da Assembleia da República integrou os seguintes Deputados:

– Deputado Bernardo Blanco (IL), Vice-Presidente da Comissão de Assuntos Europeus – Chefe da

Delegação;

– Deputada Romualda Fernandes (PS), Comissão de Assuntos Europeus;

– Deputado Pedro Anastácio (PS), Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e

Garantias;

– Deputada Ofélia Ramos (PSD), Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e

Garantias.

A assessoria na reunião foi prestada por Catarina Ribeiro Lopes, representante da Assembleia da

República junto das instituições da União Europeia. A preparação desta reunião contou também com o

apoio das equipas da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e da

Comissão de Assuntos Europeus.

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Referiu que os princípios do Estado de direito servem como elemento de aproximação e não de separação dos

Estados, sendo a resiliência das instituições democráticas uma das cinco prioridades principais desta

Presidência, com a inclusão do tema do Estado de direito em todas as agendas das reuniões dos Conselhos de

Assuntos Gerais. Destacou ainda que foram seguidos os debates anuais nesta matéria, dedicados a diferentes

grupos de Estados-Membros e foram reforçados outros instrumentos, como o procedimento do artigo 7.º e o

mecanismo de condicionalidade, com audições da Hungria e da Polónia.

– Sessão I: Troca de pontos de vista sobre a situação do Estado de direito em 2022 – Especial ênfase

na resiliência das instituições democráticas

Na primeira sessão de debate, Claire Bazy Malaurie, Presidente da Comissão de Veneza, destacou a

importância dos relatórios sobre o Estado de direito como ponto de apoio para os especialistas ligados a

questões sobre a adesão à UE de outros Estados, assim como da análise da garantia da independência e

imparcialidade da justiça e a luta contra a corrupção, que promovem a perda de confiança na justiça e nos juízes

e prejudicam o êxito de algumas políticas a aplicar. Considerou, no entanto, que o reforço da luta contra a

corrupção pode levar a reformas excessivas que põem em causa o equilíbrio das normas, destacando ainda os

esforços do Conselho da Europa e da Comissão de Veneza, deixando uma questão relativa à capacidade das

sociedades de resistir ao exercício de poder que extravase as constituições.

Edith Zeller, Presidente da Associação de Juízes Administrativos Europeus (AEAJ), apresentou diversos

casos e acórdãos importantes no que se refere à aplicação do Estado de direito, de que é exemplo a decisão

do Tribunal de Justiça da UE (TJUE) sobre a Polónia e o Plano de Recuperação e Resiliência e a independência

dos juízes, não devendo a jurisprudência ser ignorada.

Seguiu-se a intervenção de Petra Bárd, Professora na Radboud University e investigadora CEU Democracy

Institute, que deu nota, com preocupação, do declínio do Estado de direito na UE, sublinhando as suas violações

frequentes por parte dos Estados-Membros, dando como exemplo a autocracia eleitoral referida numa resolução

do PE relativamente à Hungria. Apelou a uma reação das instituições, com base no declínio também dos

processos por infração, sobretudo no que se refere ao Estado de direito, embora se tenha desencadeado o

procedimento do artigo 7.º. Frisou a existência da condicionalidade do Estado de direito no regulamento de

disposições gerais e a sua pouca aplicação, assim como os instrumentos baseados no diálogo que residem na

boa vontade dos Estados-Membros. Finalizou a sua intervenção com uma referência ao TJUE, que destacou

que o regulamento da condicionalidade não é um processo de sanções e que pode ser considerado ilegal se

utilizado dessa forma, considerando a confiança mútua importante no que se refere à distribuição de fundos.

Nick Aiossa, Diretor-Adjunto, Chefe de Policy and Advocacy, Transparency International, centrou a sua

intervenção no relatório Estado de direito e regulamento condicionalidade. Salientou as deficiências dos

Estados-Membros no cumprimento do Estado de direito, sendo necessário aplicar as recomendações

específicas por país e fomentar a partilha de boas práticas, melhorando a consciência sobre o Estado de direito.

Destacou a importância dos processos de transposição e os numerosos processos por infração nesta matéria,

da utilização de todos os mecanismos para garantir o Estado de direito, devendo a Comissão propor nova

legislação para suprir as lacunas nesta matéria, assim como deverá ser garantida a transparência das

instituições, os interesses financeiros da UE e adotada uma diretiva sobre SLAPP.

Por outro lado, Jan Berki, Membro da Comissão de Assuntos Europeus da Câmara dos Deputados checa,

referiu-se ao debate sobre a eficácia dos sistemas, entendendo-a como a resiliência das instituições e a forma

como os decisores políticos prejudicam o processo democrático, seguindo os seus interesses. Considerou faltar

uma comunicação sensível com os cidadãos e entre os partidos da oposição no PE. Associou ainda o processo

democrático e a resiliências das instituições democráticas à educação, dentro e fora do ambiente escolar.

A última intervenção coube a Ida Karkiainen, Presidente da Comissão da Constituição do Parlamento sueco

(Riksdag), que destacou o Estado de direito como fundamento para a democracia, devendo os Estados-

Membros recordar-se do propósito da UE: Paz e prosperidade com base em valores comuns, sendo um deles

o Estado de direito. Terminou referindo que quebrar o Estado de direito é quebrar a promessa de democracia

aos cidadãos.

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– Sessão de perguntas e respostas

Na sessão de perguntas e respostas sobre o tema foram abordadas questões ligadas à aplicação do artigo

7.º do Tratado, a sua utilidade na busca de soluções comuns, embora o seu objetivo não deva ser a aplicação

de sanções, mas sim prever formas de remover obstáculos ao Estado de direito, assim como as melhorias nos

sistemas judiciais e no que se prende com a defesa dos jornalistas e comunicação social (Marko Pavić,

Parlamento da Croácia). Foi também focado o enfraquecimento da resiliência das instituições e valores

nacionais, pondo em causa do Estado de direito na UE, que é atacado de forma direta e indireta, com base

noutros interesses, assim como a importância de priorizar o diálogo interparlamentar nesta matéria e os perigos

que representam os partidos populistas (Danuta Jazlowiecka, do Senado Polaco), posição não acompanhada

por José-María Sanchez, do Parlamento de Espanha. László Vigh, do Parlamento da Hungria, referiu ainda que

a Hungria continua a ser criticada pela sua Constituição e pelos valores conservadores que inclui, não atacando

a Hungria outros Estados-Membros relativamente às suas constituições, mas tendo sido privado de benefícios

que prejudicam muitos cidadãos húngaros e não o seu próprio governo. Foi ainda referida a importância de

atribuir centralidade aos parlamentos, por forma a atingir concertação das várias populações que representam

e garantir uma justiça mais acessível aos cidadãos.

Por parte do Parlamento Europeu foi destacada a ligação entre o Estado de direito e os direitos fundamentais

e a sua monitorização, a relação essencial entre o Estado de direito e a independência do poder judicial,

tendência de deterioração do Estado de direito e os abusos por parte da Hungria em relação ao Estado de direito

e a corrupção no país. Foram ainda nesta sede feitas referências à situação dos requerentes de asilo, aos limites

dos direitos fundamentais, aos direitos de os Estados-Membros protegerem as suas fronteiras externas, à

migração como direito base e à comparação do Estado de direito entre Estados-Membros sem critérios

uniformes.

Intervieram nesta sessão os seguintes Deputados da Assembleia da República:

Bernardo Blanco (IL), tendo congratulado o relatório, saudado o debate e as melhorias de cada

Estado-Membro e alertado para a avaliação a realizar no próximo ano sobre as recomendações

apresentadas, uma vez que os governos podem aplicar medidas com pouca utilidade prática.

Alertou também os Deputados nacionais e europeus para que sejam vigilantes na defesa das

liberdades dos cidadãos, referindo que as emergências sanitárias, energéticas ou de outra

índole não devem significar a adoção de medidas inconstitucionais, suspensões judiciais e

restrições abusivas da liberdade. Notou ainda que a UE, mais que um mercado, é uma união

de valores, na qual se inclui o respeito pelo Estado de direito, tendo Portugal apoiado todos os

mecanismos (como o de condicionalidade) que tornam o cumprimento do Estado de direito

como critério para a atribuição de fundos europeus.

Ofélia Ramos (PSD), que saudou também o relatório da Comissão e a sua importância como

instrumento preventivo e orientador para os Estados-Membros, sobretudo porque o Estado de

direito, como garante da segurança jurídica, paz social e boa governação não pode ser dado

por garantido e está sempre em permanente construção. Referiu que esta inconstância ficou

patente na pandemia, com a compressão direitos e restrição de liberdades, que reafirmaram a

importância do Estado de direito na proteção dos valores fundamentais e liberdades individuais.

Destacou que, nesse sentido, todos os Estado-Membros deviam encarar a proteção do Estado

de direito como prioridade nacional e europeia, e os desvios apurados no relatório anual deviam

ser corrigidos. No que concerne a Portugal, referiu o reconhecimento da adequação e

pertinência das recomendações apresentadas, principalmente as atinentes à eficiência do

sistema judicial, em particular no que se refere aos tribunais administrativos e fiscais e

transparência na distribuição dos processos judiciais, manifestando essa preocupação e

garantindo que continuará a ser feito de forma intransigente o acompanhamento destas

matérias que inquinam o Estado de direito e o próprio prestígio do Estado.

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No final do debate, os oradores iniciais deram nota da elaboração de uma panorâmica, por parte da Comissão

de Veneza, sobre a resposta às medidas de emergência no âmbito do combate à pandemia, a ação rápida

necessária e a sua relação com o Estado de direito, aos mecanismos de condicionalidade e os seus limites e a

aplicação inequívoca das decisões do TJUE, à impossibilidade de um sistema democrático sem Estado de direito

e respeito pelos direitos fundamentais, com destaque para a liberdade de expressão, à reconsideração do

controlo do Estado de direito e democracia no PE e a votação no Conselho a favor do congelamento dos fundos

a atribuir à Hungria até ao cumprimento das metas estipuladas.

-– Sessão II: Reforço da liberdade dos meios de comunicação social e transparência enquanto pilares

chave da democracia

Nesta segunda sessão, Renate Nikolay, Diretora-Geral Adjunta da DG Communications Networks, Content

and Technology, da Comissão Europeia, começou por referir o retrocesso grave do pluralismo dos media a que

se assiste. Referiu-se à transição digital e às suas oportunidades, mas também à imposição de limitações aos

operadores da comunicação social, denotando situações preocupantes nos Estados-Membros, sobretudo na

influência sobre os media. Salientou que a Comissão avaliou essa situação, também através do relatório do

Estado de direito, desenvolvendo uma abordagem holística, com destaque para a recomendação preparada

sobre a segurança dos jornalistas, projeto de diretiva que se encontra em negociação e SLAPP, bem como para

a legislação europeia sobre a liberdade dos meios de comunicação social. Destacou o financiamento e

governação dos media que fornecem serviços públicos como uma preocupação, o mesmo se estendendo à

utilização de spyware e concentração de operadores. Sugeriu, por fim, a criação de um grupo europeu no qual

as autoridades de comunicação social possam colaborar de modo independente.

Julie Majerczak, Reporters Without Borders, lembrou que a liberdade de imprensa e pluralismo dos media

Romualda Fernandes (PS), que focou a sua intervenção no discurso de ódio, no incitamento à

violência contra minorias étnicas, no racismo e na xenofobia, referindo que estes, quando

usados no discurso político, ameaçam o Estado de direito. Enfatizou que atentar contra os

direitos humanos, dignidade humana, valores basilares da democracia e do Estado de direito

significa atentar contra a União Europeia, e que a violência contra os migrantes, refugiados e

requerentes de asilo nas fronteiras externas da UE constituía outro desafio para todos. Colocou

assim uma questão sobre o ponto de situação na aplicação do princípio da responsabilidade

no acolhimento dos migrantes e refugiados na União Europeia.

Pedro Anastácio (PS), sublinhou a importância desta reunião interparlamentar e do relatório

anual, assim como das recomendações específicas aos Estados-Membros. Na troca de pontos

de vista sobre o Estado de direito e com impacto na confiança dos cidadãos, ateve-se ao

combate à corrupção, dando nota do muito já feito por Portugal neste domínio, com ênfase na

estratégia nacional de combate à corrupção, mecanismo nacional de combate à corrupção com

função de caráter preventivo, consolidado no Orçamento de Estado, cumprindo assim uma das

recomendações que foi dirigida ao Estado Português. Referiu também o reforço dos

mecanismos nos tribunais administrativos e fiscais, o recurso à arbitragem e reforço de meios

humanos, embora ainda exista um longo caminho a percorrer. Aludiu ainda ao reforço das

regras de atribuição de processos aos juízes nos tribunais, à instalação de um mecanismo de

combate à corrupção e aos passos dados para que a entidade da transparência inicie o seu

funcionamento, assim como ao projeto piloto da pegada legislativa, que pretende detetar a

interferência de entidades externas num procedimento legislativo. Terminou frisando que todas

as recomendações dirigidas a Portugal estão a ser atendidas, muitas delas já com elevado grau

de execução, bem como a importância do Estado de direito para a identidade comum, paz e

prosperidade.

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são essenciais nas comunidades democráticas, e que vários jornalistas foram vítimas de intimidação, ataques

diferenciados, assédio judicial, vigilância através de software de espionagem e até homicídio. Mencionando esta

hostilidade, referiu que a imprensa sofria uma crise de confiança, muito por causa da desinformação. Referiu

assim a importância de agir para corrigir esta situação e saudou a legislação europeia sobre a liberdade dos

meios de comunicação social, reconhecendo o direito a informação pluralista e independente e a norma de auto-

regulação (journalism trust initiative). Criticou, no entanto, algumas disposições sobre a independência editorial,

moderação de conteúdos e interesses públicos.

Gábor Polyák, professor e chefe do Eötvös Loránd University Media and Communication Department,

começou por destacar que a condicionalidade, em relação à Hungria, não abrange a área da liberdade de

imprensa, justificando que a legislação europeia sobre a liberdade dos meios de comunicação social procura

resolver os problemas na Hungria e na Europa de Leste, mas não resolve os três problemas chave: Falta de

independência das autoridades de comunicação social, influência política forte nos serviços públicos de

comunicação social e a distribuição discriminatória de publicidade pública.

Martin Exner, membro da Comissão de Assuntos Europeus da Câmara dos Deputados checa, referiu-se à

desinformação como um instrumento de guerra, sendo por isso necessários meios de comunicação social

públicos, fortes e independentes, com financiamento adequado. Deu ainda nota que alguns Estados-Membros

não respeitam a liberdade dos media e por isso deve existir proteção europeia nestes casos. Mencionou também

os meios de comunicação social e a necessidade de estes serem mais responsáveis pelos seus conteúdos,

nomeadamente tendo em conta os discursos de ódio, notícias alarmistas e desinformação, que perturbam a

unidade dos povos, sendo ainda necessário melhorar a educação quanto a esta matéria.

Pere Joan Pons Sampietro, membro da Comissão Mista para os Assuntos Europeus do Parlamento de

Espanha, começou por referir preocupações com o futuro da democracia e a polarização, o papel dos Estados-

Membros e a sua capacidade de resiliência. Recomendou assim que a desinformação fosse seguida e analisada

com mais atenção, criando uma maior responsabilização.

– Sessão de perguntas e respostas

No período de debate que se seguiu foram colocadas questões sobre como quebrar o impasse sobre as

SLAPP no Conselho, uma vez que vários Estados não legislaram sobre esta matéria (de Battista, do Parlamento

de Malta), referida a criação de um grupo de trabalho específico na Eslovénia para alterar os direitos televisivos,

proteger os denunciantes, fixar medidas específicas para comissões de investigação (Darko Krajnc, Parlamento

esloveno), e apresentados problemas relativos à desinformação, à sua circulação sem regras e o

reconhecimento do poder mediático como ator público (Lucía Muñoz, do Parlamento de Espanha). Foi ainda

reiterada a liberdade de imprensa como pedra angular da democracia e o nível de liberdade elevado que existe

na Grécia, com respeito pelos direitos dos jornalistas com legislação inovadora para evitar espionagem, mas

também em termos de propriedade dos meios de comunicação social (Ioannis Michail Loverdos, da Grécia),

tendo Péter Balassa, do Parlamento húngaro, dado nota que os vários recursos existentes na UE sobre a

liberdade de imprensa húngara faz os cidadãos sentir que estão a ser punidos e prejudicados pela situação do

seu governo, não tendo as negociações em conta essas condições, concordando que é difícil encontrar

informação fidedigna no país, encontrando-se o Parlamento a debater a questão sem ter, no entanto, alcançado

ainda um consenso.

Por parte do Parlamento Europeu, foi considerado que as agressões ao Estado de direto devem ter sanções

atribuídas, devendo esta mensagem chegar aos Estados onde há diversos problemas de corrupção e onde

existem democracias não liberais, agências de segurança como agentes fiscalizadores, falta de pluralismo na

comunicação social e perseguição.

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No final do debate, os oradores teceram considerações finais sobre o tema.

– Conclusões

Juan Fernando López Aguilar, Presidente da Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos

Internos (LIBE) do Parlamento Europeu, encerrou a reunião, agradecendo a todos a presença e destacando a

importância da discussão deste tema.

O registo vídeo da reunião encontra-se disponível aqui.

Assembleia da República, 17 de janeiro de 2022.

O Chefe da Delegação da Assembleia da República, Bernardo Blanco.

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DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DE UMA DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA

REUNIÃO INTERPARLAMENTAR DA COMISSÃO ESPECIAL PARA INGERÊNCIA ESTRANGEIRA EM

TODOS OS PROCESSOS DEMOCRÁTICOS NA UE, INCLUINDO A DESINFORMAÇÃO (ING2) DO

PARLAMENTO EUROPEU, SOBRE «A RESILIÊNCIA LEGISLATIVA, LEIS ELEITORAIS OU CAMPANHAS

DE MANIPULAÇÃO DE INFORMAÇÃO», QUE DECORREU EM BRUXELAS, NO DIA 1 DE DEZEMBRO DE

2022, POR VIDEOCONFERÊNCIA E PRESENCIAL

A Delegação da Assembleia da República integrou os seguintes Deputados:

– Deputado Pedro Anastácio (PS), Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e

Garantias – Chefe da Delegação;

– Deputada Ofélia Ramos (PSD), Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e

Garantias;

– Deputada Rosário Gambôa (PS), Comissão de Assuntos Europeus;

– Deputada Isabel Meirelles (PSD), Comissão de Assuntos Europeus.

A assessoria foi prestada por Catarina Ribeiro Lopes, representante da Assembleia da República junto

das instituições da União Europeia, e pelas equipas de apoio da Comissão de Assuntos Constitucionais,

Direitos, Liberdades e Garantias e da Comissão de Assuntos Europeus.

O Deputado Bernardo Blanco (IL) interveio neste ponto para referir que nenhum órgão de

comunicação social deve estar dependente do governo, uma vez que um dos seus principais

propósitos é fiscalizá-lo. Salientou que a legislação sobre a liberdade dos meios de

comunicação social tem muitas vantagens, mas também um ponto preocupante relativo à

intromissão nas competências dos Estados-Membros e que se relaciona com o financiamento

de canais públicos por parte do Estado. Informou que em Portugal existem diversos canais

públicos e rádios, cujos contribuintes pagam na fatura energética e que não se distingue de

outros, tendo sido já sujeito a interferências políticas, esperando que na versão final da

legislação europeia essa obrigação desapareça, reforçando que as entidades não são

independentes dos seus financiadores, sendo importante ter vários e diversos e não apenas

um, sobretudo se for o governo.

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Esta reunião interparlamentar, organizada pela Comissão ING2 com o intuito de debater a resiliência

legislativa, leis eleitorais ou campanhas de manipulação de informação, contou com a presença dos parlamentos

nacionais nos quais decorreram eleições em 2022 ou que teriam eleições no início de 2023, incluindo, além da

Assembleia da República, os Parlamentos da Alemanha, Bulgária, Dinamarca, Eslovénia, Finlândia, França,

Hungria, República Checa e Suécia.

Da agenda da reunião constavam os seguintes pontos:

– Notas introdutórias

Raphaël Glucksmann, Presidente da Comissão Especial para Ingerência Estrangeira em Todos os Processos

Democráticos na UE, incluindo a Desinformação (ING2) do Parlamento Europeu, deu as boas-vindas aos

participantes, apresentando o tema da reunião e solicitando aos colegas dos parlamentos nacionais nos quais

decorreram processos eleitorais no ano corrente que pudessem partilhar a sua experiência e que pode apoiar

os parlamentos presentes em que as eleições decorreram no próximo ano. Mencionou ainda que a democracia

é o bem mais precioso, mas também mais frágil, de que as sociedades dispõem, bem como o conflito na Ucrânia

e a sua influência na discussão destas matérias.

– Intervenções

Seguiu-se a intervenção de Liubov Tsybulska, fundadorado Centro para Comunicações Estratégicas e

Segurança de Informação do Ministério da Cultura e Política de Informação da Ucrânia, que aludiu à agressão

russa contra a Ucrânia, pondo em perigo todos os Estados-Membros e não só os países vizinhos, e dando nota

que esta guerra decorre, de forma silenciosa, há vários anos, tendo mostrado um vídeo ilustrativo a este respeito.

Salientou depois quatro dimensões da ingerência russa noutros países: Influência política, espelhada no

investimento da Rússia nos partidos políticos, com personalização de campanhas, incluindo de forma digital;

manipulação das fontes de informação; influência e chantagem económica; e cibersegurança. Para combate a

estas situações considerou ser necessário identificar os diferentes atores, individuais ou empresas, sobretudo

tecnológicas, que contribuem para estas formas de ingerência, deixando claro que, na sua opinião, este será o

momento de atuar.

Jaume Duch Guillot, Diretor-Geral para a Comunicação e Porta-Voz do Parlamento Europeu, deu nota que o

Parlamento Europeu (PE) tem vindo a desenvolver os seus instrumentos para combater a desinformação desde

2014. Referiu o impacto das ingerências estrangeiras na qualidade da democracia na Europa, de que são

exemplos as eleições presidenciais dos EUA em 2016 e no referendo do Brexit, e a criação, com o aproximar

das eleições europeias de 2019, de uma equipa especial, no quadro dos serviços de comunicação do PE, para

desenvolver uma estratégia contra a desinformação, modelo replicado para áreas como a cibersegurança e a

resiliência dos processos eleitorais. Referiu que todas as instituições da UE procuraram criar uma resiliência

administrativa através da criação de redes de partilha de boas práticas e coordenação de esforços. Salientou

que estas campanhas de desinformação se tornaram mais desenvolvidas e, por isso, o PE adotou uma

abordagem de combate baseada na resiliência, no trabalho direto contra a ingerência estrangeira com base na

investigação, na monitorização de redes sociais, na cooperação entre instituições e com analistas de dados, na

identificação de boas práticas de outros parlamentos, iniciativas de literacia dos média, em colaboração com

entidades públicas e sociedade civil. Terminou referindo que a principal lição a retirar desta análise é a

necessidade de cooperação para um combate mais forte à desinformação.

– Troca de pontos de vista entre os membros da ING2 e os membros dos parlamentos nacionais sobre

resiliência legislativa, leis eleitorais ou campanhas de manipulação de informação

Durante o período de debate os membros dos parlamentos nacionais focaram sobretudo as experiências

nacionais, tendo a representante do Parlamento búlgaro referido o debate em curso no seu parlamento sobre o

código eleitoral, por forma a salvaguardar a democracia e garantir eleições livres, dando nota de que o país

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sofre com a desinformação e propaganda russas e que é necessário utilizar novas tecnologias para que os

processos de interferência sejam mitigados (Denitsa Simeonova). Foram também colocadas questões sobre a

perceção tardia da ingerência russa e a desinformação na Ucrânia (Victoria Tiblom, Parlamento da Suécia),

referida a importância da liberdade de expressão nas diferentes plataformas (Sebastian Tynkkynen, Parlamento

finlandês), preocupação com o combate aos ciberataques e à desinformação mantendo os interesses nacionais

em mente, assim como a garantia da resiliência dos países dos Balcãs Ocidentais (László Vigh, do Parlamento

húngaro), a existência de Estados com eleições livres mas não justas, nas quais a estrutura dos media não tem

independência e lança campanhas de desinformação dirigidas a determinados grupos (Lucie Potůčková,

Parlamento checo), assim como legislação para eliminar esta interferência dos media na política (Sandra

Gazinkovski da Eslovénia). O senador francês Andre Gattolin deu ainda nota da interferência estrangeira nas

eleições em França em 2017 e 2022, a falta de eficácia da lei contra a manipulação de informação e as

dificuldades neste campo em África e no Médio Oriente.

Por parte do Parlamento Europeu, foram colocadas questões sobre a preparação para este tipo de ataques

e os progressos feitos nesta área após a invasão russa da Ucrânia, cooperação com os Estados-Membros nas

eleições europeias, o que fazer para o PE estar preparado nessa ocasião, se a Comissão Europeia ou o

Conselho foram alvos também de ciberataques e se existe uma forma de proteção eficaz nesta matéria.

Sanchez-Amor referiu que a ingerência nas eleições não é manipulação dos números mas sim das mentes e

que a falta de liberdade é também causada pelo aumento da polarização, e Markéta Gregorová deu nota do

perigo que significa a atribuição a forças externas de processos que são problemas domésticos. Por fim, Sandra

Kalniete deixou claro que todos os parlamentos nacionais devem definir as suas entidades responsáveis por

estas matérias, sugerindo que seja definido um formato para trocas regulares de informação sobre estes

assuntos, sobretudo quando se aproximem datas de eleições importantes.

Intervieram neste debate os Deputados da Assembleia da República:

Rosário Gamboa (PS), saudou também a organização desta reunião e, referindo-se às eleições

de 2022 em Portugal, relevou a existência de um conjunto de atitudes e manipulações dirigidas

à credibilidade do Estado português e das suas instituições com mistificações sobre a

corrupção e a postura dos políticos. Denotou que Portugal tem uma entidade reguladora, com

legislação sólida e eficaz, mas sem poder sancionatório, e, por isso, considerou necessária a

existência de regulamentação sobre a desinformação a nível europeu que seja mais eficaz para

a atuação em conjunto, uma vez que não existe apenas uma dimensão nacional e europeia

mas sim um movimento a nível global. Destacou a importância de uma atuação precoce, com

atitudes de desmontagem, prevenção, ação junto da sociedade civil, cooperação, meios

tecnológicos mais eficazes, regulação mais harmonizada e literacia mediática.

Pedro Anastácio (PS), sublinhando a pertinência da discussão, o trabalho já desenvolvido e

esforço conjunto entre o PE e os parlamentos nacionais. Referiu que as ações em discussão

constituem uma violação das liberdades fundamentais de expressão, colocando em perigo os

processos democráticos. Sendo uma discussão sobre direitos fundamentais, salientou que as

medidas a adotar devem passar o triplo teste de compatibilidade: necessidade, adequação e

proporcionalidade. Frisou a importância de uma atuação conjunta e concertada, a necessidade

de esforços europeus contra ataques externos, com mecanismos de coordenação para

verificação das notícias e reforçando, no âmbito da cibersegurança, infraestruturas chave dos

Estados-Membros. Sobre Portugal, referiu que o País já tem alguns instrumentos legislativos

para combate à desinformação, como a Carta dos Direitos Humanos na Era Digital, embora do

ponto de vista da interferência eleitoral não existam meios efetivos para combater o fenómeno.

Terminou aludindo à revisão da lei eleitoral, à importância da cidadania e ao plano de literacia

mediática desenvolvido pelo governo português, que poderá ser uma ferramenta para uma

cidadania preparada para enfrentar o desafio da desinformação em contexto eleitoral.

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No final do debate, Jaume Duch Guillot respondeu a várias das questões colocadas e teceu considerações

finais sobre esta matéria, destacando a colaboração com o parlamento ucraniano e ações a nível europeu para

proteger as próximas eleições.

– Conclusões

Raphaël Glucksmann encerrou os trabalhos, agradecendo a presença dos colegas dos parlamentos

nacionais.

O registo vídeo da reunião encontra-se disponível aqui.

Assembleia da República, 27 de janeiro de 2022.

O Chefe da Delegação da Assembleia da República, Pedro Anastácio.

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DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DE UMA DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA

REUNIÃO INTERPARLAMENTAR DA COMISSÃO DOS DIREITOS DAS MULHERES E DA IGUALDADE

DOS GÉNEROS (FEMM) DO PARLAMENTO EUROPEU, COM O TEMA «CONVENÇÕES DE GÉNERO»,

QUE DECORREU EM BRUXELAS, NO DIA 8 DE DEZEMBRO DE 2022, POR VIDEOCONFERÊNCIA

Da agenda da reunião, subordinada ao tema Convenções de Género, constavam os seguintes pontos:

– Sessão de abertura e notas introdutórias

Robert Biedroń, Presidente da Comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade dos Géneros do

Parlamento Europeu, deu as boas-vindas aos colegas dos Parlamentos nacionais e referiu-se à transversalidade

do género como ponto essencial para garantir a igualdade entre homens e mulheres, direito base consagrado

na legislação europeia e que deve ser refletido em todas as suas políticas. Deu nota que 39 % dos membros do

Parlamento Europeu (PE) são mulheres (mais do que nos parlamentos nacionais, onde são cerca de 30 %) e

frisou que o PE tem tentado reforçar a igualdade, seguindo um plano de ação de género e também combatendo

o assédio, reconhecendo, no entanto, que ainda muito havia a fazer neste âmbito.

Por seu turno, o Vice-Presidente do Parlamento Europeu, Dimitrios Papadimoulis, referiu, nas suas breves

notas introdutórias, a importância do debate deste tema com os parlamentos nacionais e a troca de boas práticas

A Delegação da Assembleia da República integrou os seguintes Deputados:

– Deputada Patrícia Faro (PS), Subcomissão para a Igualdade e Não-Discriminação da Comissão de

Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias – Chefe da Delegação;

– Deputada Catarina Rocha Ferreira (PSD), Subcomissão para a Igualdade e Não-Discriminação da

Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias;

– Deputado Bruno Nunes (CH), Subcomissão para a Igualdade e Não-Discriminação da Comissão de

Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.

A assessoria foi prestada por Catarina Ribeiro Lopes, representante da Assembleia da República junto

das instituições da União Europeia, e pelo assessor da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos,

Liberdades e Garantias, Manuel Gouveia.

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neste âmbito. Mencionou a aplicação pelo PE de um roteiro para avançar nas questões de igualdade, integrando-

a nas políticas da instituição, não só na esfera política, mas também no que se refere aos trabalhadores do PE.

Embora com melhorias visíveis, admitiu que o PE ainda não atingiu os números que pretendia no âmbito do

preenchimento, por mulheres, de cargos de chefia e de direção. Recordou a importância dos indicadores de

participação feminina e da sua análise para continuar a criar planos e roteiros para a igualdade de género. Sobre

o assédio, reiterou que a política do PE é de tolerância zero, estando em vista a criação da figura de mediador

para apresentação e deteção precoce destas situações, bem como ajuda às vítimas, procurando ultrapassar o

obstáculo da desconfiança.

– Sessão I: Políticas anti-assédio – implementação e sanções

A primeira oradora, Irène Tolleret, Co-relatora Permanente sobre Convenções de Género da Comissão

FEMM, focou a sua intervenção no papel do PE enquanto legislador, mas também empregador, no combate ao

assédio, devendo ser exemplar nesta matéria, mantendo os seus membros uma conduta irrepreensível no

exercício das suas funções. Destacou o trabalho da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa na

prevenção do assédio no local de trabalho e o trabalho do comité consultivo no PE, que redige e publica

recomendações neste âmbito, bem como a formação disponível para os membros do PE. Teceu ainda breves

considerações sobre o movimento #MeToo, a política de tolerância zero ao assédio e a necessidade de denúncia

desta prática e identificação de comportamentos neste sentido.

Seguiu-se a intervenção da Primeira Vice-Presidente da Comissão para a Igualdade e Não Discriminação da

Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, Béatrice Fresko-Rolfo, que deu nota dos trabalhos já

realizados neste tema pela assembleia parlamentar, incluindo o estudo realizado em 2018 e os seus resultados

alarmantes relativamente à violência contra as mulheres. Além do movimento #MeToo, referiu a ação Not in My

Parliament, como formas de sensibilização para o tema. Terminou referindo a importância de alterar

mentalidades, reconhecendo que o assédio se baseia numa ideia enraizada de desigualdade de género.

Tatyana Teplova, Chefe de Divisão – Policy Coherence for SDGs, Senior Counsellor, Justice, Gender,

Inclusiveness, Public Governance Directorate, OCDE, divulgou o trabalho realizado de investigação, de

identificação de prioridades e de colmatar lacunas no âmbito da igualdade de género na vida pública, devendo

esta ser uma prioridade política. Destacou a importância de, no seu trabalho, reunir dados relativamente a

questões sobre a igualdade, implementar a normas da OCDE e definir medidas para alcançar um processo

decisório equilibrado do ponto de vista do género. Apresentou ainda os progressos já alcançados nesta sede, a

toolbox disponível e em atualização, assim como o plano de ação geral desenvolvido pelo Gender Mainstreaming

Governance.

No período de debate que se seguiu foram referidas as experiências nesta área na Suécia, sendo um dos

países com maiores índices de igualdade de género, embora ainda sejam necessários desenvolvimentos em

termos salariais, apontando a igualdade económica como o grande desafio (Helena Vilhelmsson, Riksdag), bem

como a experiência do Senado francês e a referência a um quadro jurídico sólido, que incorpore a violência

contra as mulheres (Pascale Gruny, Senado de França). Em Itália, a lei eleitoral estabelece regras para a

igualdade entre homens e mulheres, mas a complexidade da legislação não permite resultados paritários, tendo

o número de mulheres no parlamento diminuído, sendo a igualdade mais fácil de alcançar a nível regional e

local, conforme referido por Alessandra Maiorino, do Senado italiano, que referiu ainda que a linguagem geral

privilegia o género masculino e que atual o Governo italiano negava a utilidade das quotas. Foram ainda referidas

as melhorias que se verificaram nesta matéria na Polónia, sobretudo com o desenvolvimento de políticas pró-

família e de conciliação da vida profissional e familiar (Teresa Wargocka do Sejm da Polónia).

As oradoras comentaram as intervenções dos parlamentos nacionais, reiterando a necessidade de mais

políticas e mais monitorização sobre o assédio, sobretudo no local de trabalho, assim como a adesão total à

Convenção de Istambul.

– Sessão II: Planos de ação de género

Gwendoline Delbos-Corfield, Co-relatora Permanente sobre Convenções de Género da Comissão FEMM, foi

a primeira oradora deste painel, tendo referido os trabalhos da Comissão FEMM e a inclusão da perspetiva de

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género nas atividades do PE, os planos de ação de género de todas as comissões e o procedimento aplicado

no início da legislatura em torno da perspetiva de género em todos os elementos da vida parlamentar. Salientou

a importância da recolha de dados neste campo e o impacto da recuperação da pandemia na igualdade de

género.

Seguiu-se a apresentação da Professora Agnes Hubert, Professora do Colégio da Europa, Presidente do

G5+, membro do Alto Conselho para a Igualdade de França, que destacou a importância da transversalidade

neste tema, apresentou uma perspetiva histórica da evolução dos planos de ação de género e um caso prático

sobre o tema. Apresentou ainda três elementos essenciais para o êxito destes planos: Capacitar (os atores),

imbuir (o plano deve conter indicadores, incentivos, ações e estar dentro do trabalho de forma permanente e

contínua), usufruir (celebrar os resultados e progressos).

A última intervenção deste painel coube a Helena Morais Maceira, investigadora na área das convenções de

género, European Institute for Gender Equality (EIGE), que focou a sua intervenção na institucionalização dos

instrumentos relativos à perspetiva de género e à importância da autoavaliação, tendo o EIGE lançado um

instrumento para o efeito, utilizado pelos parlamentos da UE para analisar os resultados e apresentar propostas

ou criar os planos de ação de género, considerando que a única forma de adequar o plano a cada parlamento

é criá-lo a partir da análise e diagnóstico.

Na sessão de debate, foi apresentado brevemente o plano nacional de género grego, tendo sido

mencionadas as suas três prioridades: Combater a violência de género, participação igual das mulheres do

mercado de trabalho e participação igual das mulheres nos processos de tomada de decisão (Anna Efthymiou,

Parlamento helénico). A perspetiva grega foi também partilhada por Eirini-Eleni Agathopoulou, dando nota das

mudanças legislativas para estabelecer uma quota de 40 % para presença nas listas eleitorais e das dificuldades

relativas às mulheres no mercado de trabalho. No caso do Parlamento checo, foi lançada uma iniciativa que

procura conciliar a vida familiar e profissional, encorajando as mulheres a participar na vida política (Lucie

Potuckova, do Parlamento da República Checa), e no caso da Roménia foi destacado o baixo número de

mulheres no parlamento e as dificuldades em fazer aprovar projetos de lei que permitam uma maior presença

das mulheres nos cadernos eleitorais e nos conselhos de administração das empresas, assim como a relevância

de rubricas orçamentais destinadas as políticas de igualdade de género (neste sentido, Anca Dana Dragu, do

Senado da Roménia). A questão orçamental e igualdade salarial foi também referida por Heléne Fritzon do PE

e por Mireille Clapot, da Assembleia Nacional francesa, assim como a facilidade de maior presença das mulheres

na vida política local e a elaboração de um guia de orientação para empresários que procuram apoiar a

integração das mulheres nas suas empresas (Teresa Wargocka, Sejm).

As oradoras, nas suas notas finais, relevaram a necessidade de pensar na existência de regras de igualdade

de género dentro dos próprios grupos políticos, a importância da independência económica das mulheres e o

trabalho que o PE pode desenvolver com os parlamentos nacionais na adoção de perspetivas de género.

A Deputada Patrícia Faro (PS) interveio nesta discussão para dar nota que, em Portugal,

apesar dos já 50 anos a viver em democracia, ainda não foi atingido o patamar dos 50 % de

mulheres nos setores público e privado, com destaque para a dificuldade de chegar a lugares

de topo e de decisão. Aludiu também às disposições estatutárias para promover a igualdade,

assim como à estratégia nacional para combate à discriminação entre homens e mulheres,

violência contra as mulheres e discriminação com base na orientação sexual, assim como às

medidas e orientações que serão lançadas para os próximos quatro anos. Frisou que a

Assembleia da República ainda não é paritária e a importância de inclusão da dimensão de

género no orçamento do Estado e do trabalho a desenvolver ao nível das profissões nas quais

um dos géneros se encontra sub-representado. Terminou destacando a importância de

envolver toda a comunidade e sociedade nesta luta pela igualdade, referindo-o como um

compromisso conjunto que pode mudar a realidade.

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– Sessão de encerramento

Robert Biedroń agradeceu aos colegas dos parlamentos nacionais a presença e as ideias avançadas no

sentido do progresso nestes temas.

O registo vídeo da reunião encontra-se disponível aqui.

Assembleia da República, 25 de janeiro de 2023.

A Chefe da Delegação da Assembleia da República, Patrícia Faro.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

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