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Quarta-feira, 26 de abril de 2023 II Série-D — Número 52

XV LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2022-2023)

S U M Á R I O

Delegação da Assembleia da República:

Relatório da participação da Delegação Portuguesa na Semana Parlamentar Europeia — Conferência Interparlamentar sobre a Estabilidade, a Coordenação e a Governação Económica na União Económica e Monetária e Conferência sobre o Semestre Europeu, que se realizou em Bruxelas, nos dias 27 e 28 de fevereiro de 2023.

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Da agenda da reunião, constavam os seguintes pontos:

– SESSÃO DE ABERTURA: DESAFIOS ECONÓMICOS E SOCIAIS EM TEMPOS DE INCERTEZA

GEOPOLÍTICA

Roberta Metsola, Presidente do Parlamento Europeu, deu as boas-vindas a todos os presentes, sinalizando

o aniversário da invasão russa à Ucrânia, elogiando o povo ucraniano pela resistência encetada. Referiu os

impactos económicos e sociais do conflito, com especial incidência na inflação, energia e preço dos produtos

alimentares. Fez ainda referência à resposta europeia, defendendo que que os Estados-Membros (EM)

poderiam estar orgulhosos pela união em solidariedade à Ucrânia e pela forma de como foi possível proteger

os seus valores e economias. Mencionou igualmente o afastamento da dependência energética da Rússia,

sem subestimar a gravidade da situação. Nesse sentido, apelou a que não se cedesse à fadiga da guerra,

devendo a Europa recorrer aos seus maiores ativos, declarando a União Europeia (UE) como o maior mercado

único democrático do mundo. Defendeu que era necessário acelerar o investimento, fazendo referência ao

REPowerEU e ao NextGenerationEU, que potenciariam o crescimento sustentável, tendo também sido

considerado um eventual imposto extraordinário sobre o lucro das indústrias energéticas. A oradora concluiu a

sua intervenção, asseverando que pretendia fugir de uma corrida protecionista e defender uma UE unida e

corajosa, dando as boas-vindas aos Deputados dos parlamentos nacionais da Ucrânia, Moldávia e Bósnia-

Herzegovina.

De seguida, tomou a palavra Andreas Norlén, Presidente do Parlamento sueco, que começou por recordar

que já houvera passado mais de um ano desde a invasão russa, não se conhecendo ainda a extensão dos

impactos da guerra. Defendeu que esta situação ameaça a estabilidade na Europa, com consequências

económicas e sociais relevantes, para além da destruição de vidas e cidades, em especial do povo ucraniano,

afirmando também que a guerra colocou em causa a recuperação da pandemia de COVID-19. Ato contínuo,

referiu as quatro grandes prioridades apontadas pelo Parlamento sueco, como sendo a segurança, a

competitividade, a transação verde e digital e valores democráticos do Estado de direito. Neste sentido,

declarou que seria dado apoio económico e militar à Ucrânia, assim como seria promovido o combate às

alterações climáticas e a transição energética, concluindo com um resumo sobre os trabalhos da agenda da

Semana Parlamentar Europeia.

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA SEMANA PARLAMENTAR

EUROPEIA – CONFERÊNCIA INTERPARLAMENTAR SOBRE A ESTABILIDADE, A

COORDENAÇÃO E A GOVERNAÇÃO ECONÓMICA NA UNIÃO ECONÓMICA E MONETÁRIA E

CONFERÊNIA SOBRE O SEMESTRE EUROPEU

Bruxelas, 27 e 28 de fevereiro de 2023

Delegação:

– Bernardo Blanco (IL) – Membro da Comissão de Assuntos Europeus – Chefe da delegação

– Deputado Miguel Iglésias (PS) – Membro da Comissão de Assuntos Europeus

– Deputado Paulo Moniz (PSD) – Membro da Comissão de Assuntos Europeus

– Deputado Miguel Matos (PS) – Membro da Comissão de Orçamento e Finanças

– Deputado Alexandre Simões (PSD) – Comissão de Orçamento e Finanças

– Deputado Francisco César (PS) – Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão

– Deputada Clara Marques Mendes (PSD) – Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão

A assessoria foi prestada por Catarina Ribeiro Lopes, representante da Assembleia da República junto

das instituições da União Europeia, e pelo Assessor Parlamentar Jorge Gasalho, da equipa de apoio à

Comissão de Orçamento e Finanças.

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Foi dada a palavra a Valdis Dombrovskis, Vice-Presidente Executivo da Comissão Europeia, que

agradeceu o convite para participar, começando por sublinhar a invasão russa à Ucrânia e o sofrimento

subjacente, defendendo a integridade e soberania deste país. Recordou que houvera sido atribuído o estatuto

de país candidato à Ucrânia e garantiu que lhe seria fornecido apoio económico e social. Referiu a inflação, a

subida do custo da energia e a subida do custo de vida, apelando a apoios para mitigar estes efeitos, assim

como a um cabaz energético novo, assente em energias renováveis e menos dependente dos combustíveis

fósseis. Afirmou que se vive uma situação de grande incerteza, sendo necessário trabalhar para proteger as

empresas em maiores dificuldades. Relatou que os EM têm debatido como pode a governação económica ser

mais eficiente, através da combinação de políticas orçamentais que promova o investimento e a deteção

precoce de desequilíbrios, defendendo que seriam necessárias políticas de resiliência, crescimento e reforço

da industrialização na UE, frente à alteração da geopolítica mundial. Reportou-se ainda à neutralidade

carbónica como objetivo, assente na criação de um enquadramento legislativo mais previsível, no fomento ao

investimento em energias limpas e o alargamento da agenda comercial a outros mercados. Adiantou

igualmente que pretenderia a concretização da primeira fase do Pacto Ecológico, assim com a criação de um

fundo de soberania europeu, para proteger o mercado interno e manter a coesão.

Seguidamente, usou da palavra Mathias Cormann, Secretário-Geral da OCDE, que começou por agradecer

o convite para a presente sessão, iniciando o seu excurso com referência aos custos da guerra. Neste sentido,

asseverou que os EM adotaram uma série de iniciativas, em especial para diminuir a dependência energética,

afiançando, ainda assim, que seria necessário empreender um conjunto de reformas estruturais para uma

maior resiliência europeia. Declarou também que o crescimento, em termos de produtividade, na última

década, tinha abrandado em todos os países da OCDE. Apelou à diminuição das disparidades regionais, ao

investimento em infraestruturas, à diminuição dos encargos administrativos e à garantia do bom

funcionamento do mercado, assente numa lógica competitiva, sem atribuição de vantagens indevidas.

Mencionou o objetivo de emissão zero e transição digital, devendo os países partilhar as suas experiências e

qualificar as pessoas nas áreas relevantes. Fez ainda menção à forma de como lidar com o envelhecimento

populacional, defendendo o apoio dos trabalhadores ao longo de toda a sua vida e o combate à discriminação

em função da idade. Concluiu a sua intervenção, afirmando que é em eventos como o presente que se

estudam e debatem as soluções para os desafios atuais, desejando uma reflexão frutífera das reuniões

vindouras.

Andreas Norlén, Presidente do Parlamento sueco, agradeceu as intervenções e desejou uma boa

conferência a todos os presentes.

Por fim, Roberta Metsola, Presidente do Parlamento Europeu, agradeceu igualmente a presença dos

membros dos parlamentos nacionais e do Parlamento Europeu, relembrando as três reuniões de comissão a

ocorrer subsequentemente, encerrando a presente sessão.

– COMISSÃO DOS ASSUNTOS ECONÓMICOS E MONETÁRIOS (ECON)

Irene Tinagli, Presidente da Comissão ECON do Parlamento Europeu, e Niklas Karlsson, Presidente da

Comissão de Tributação do Parlamento sueco, dirigiram as duas sessões de debate.

Sessão I: Inflação alta – o enigma das políticas adequadas

Nesta primeira sessão, o orador Simone Tagliapietra, Senior Fellow, Bruegel, referiu que a crise energética

levou à criação de medidas orçamentais díspares entre os Estados-Membros, devendo estas medidas ser

isoladas ou de natureza temporária, o que não se verificava. Frisou ainda que os apoios não estavam

orientados para os agregados mais vulneráveis, sendo necessário atuar sobre a inflação, evitar distorções de

preços, considerar a equidade nas medidas futuras, e a necessidade de um reajuste estrutural dos mercados

energéticos. Por seu turno, Goeff Barnard, Economista Sénior, Macroeconomic Policy Division in the

Economics Department da OCDE, apresentou diversos dados sobre as medidas económicas adotadas no

combate à inflação e as causas do seu aumento, nomeadamente a subida dos preços da energia. Foram

apresentados os fatores que sustentaram esta subida, as variações da oferta e procura e impacto no mercado

de trabalho, as previsões do BCE e o apoio orçamental da União Europeia (UE), tendo concluído que os

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apoios eram sobretudo do lado dos preços, não orientados e não específicos.

Durante o período de debate foram referidos os valores elevados da inflação nos diferentes Estados, as

causas associadas à crise pandémica e à situação de guerra na Ucrânia, a importância da cooperação da UE,

medidas de apoio a famílias e empresas aplicadas pelos Estados-Membros, dificuldades dos agregados mais

vulneráveis e impacto dos custos elevados da energia e produtos alimentares, efeitos das políticas a curto,

médio e longo prazo no que respeita à poupança energética, efeitos nos transportes e regimes de

financiamento específicos.

Sessão II: Impacto da decrescente utilização do dinheiro e ao caso das moedas digitais.

Stefan Ingves, antigo Governador do Banco Central da Suécia, referiu-se à segurança dos novos

pagamentos digitais, não esquecendo a importância do dinheiro físico, embora se verifique um grande

decréscimo no seu uso, pela possibilidade de falha dos sistemas digitais. Salientou ainda as diferentes fases

de transição para os pagamentos digitais e a sua variação entre Estados, as dificuldades dos pagamentos

transfronteiriços e a necessidade de enquadramento legislativo das moedas digitais dos bancos centrais e de

garantia de pagamentos instantâneos.

Evelien Witlox, Gestora do Digital Euro Programme do BCE, referiu-se ao projeto do euro digital, explicando

a sua conceção e últimos desenvolvimentos.

Seguiu-se a intervenção de Monique Goyens, Diretora-Geral da European Consumer’s Organisation

(BEUC), que salientou, neste tema, a necessidade de acautelar mecanismos fora da moeda digital para os

cidadãos que pretendam manter a utilização convencional, o encerramento dos bancos e a obrigatoriedade de

utilização de sistemas digitais. Referiu que o dinheiro físico deveria manter presença no mercado, além do

dinheiro digital, não devendo o declínio do numerário ser uma forma de enriquecimento do setor financeiro.

Por fim, Vicky Van Eyck, Diretora Executiva da Positive Money Europe, deixou quatro mensagens

principais: (1) necessidade de proteger o acesso ao dinheiro, (2) o lucro que o euro digital representa para o

setor financeiro e não para os cidadãos, (3) devendo ter os mesmos benefícios do dinheiro vivo e ser uma e

(4) oportunidade para melhorar o sistema monetário no seu todo, tornando o dinheiro mais resiliente e

ajudando a combater as crises.

Durante o debate foi focada a necessidade de manter o numerário para transações comerciais, uma vez

que nem todos os cidadãos procuram utilizar moeda digital, o apoio ao projeto do euro digital como

complemento de opções de pagamento, os desafios dos criptoativos, proteção dos dados dos utilizadores de

pagamentos eletrónicos, necessidade de confiança nas instituições. Foram partilhadas as experiências

nacionais no uso de moeda eletrónica, questionadas as tecnologias utilizadas para o euro digital e salvaguarda

da privacidade dos cidadãos e levantadas preocupação com as situações de branqueamento de capitais.

Interveio nesta sessão o Sr. Deputado Miguel Matos (PS), tendo destacado o combate à inflação através

de um conjunto de medidas políticas orçamentais e monetárias, sendo necessário que estas medidas sejam

sinérgicas, evitando falar de medidas de contração, mas sim de expansão e apoio às famílias e empresas.

Frisou assim que não seriam apenas as famílias que deveriam assumir os encargos do impacto da inflação,

relevando a UE ter criado um imposto sobre os lucros excessivos em toda a UE. Defendeu que o apoio

político deveria ser o mais abrangente possível, incluindo também as classes médias, devendo olhar-se não

só para a procura mas também para a oferta, sendo ainda necessária uma política industrial, de autonomia

estratégica, destacando como exemplo o mecanismo ibérico que levou a uma redução dos preços da

energia em Portugal e em Espanha. Deixou ainda uma referência à necessidade de diálogo social, dando

nota do acordo celebrado entre o Governo português e associações sindicais para um aumento dos salários

em 20 % nos próximos quatro anos. Salientou serem medidas de curto prazo e de estabilização, mas que

implicam também uma mudança estrutural da longa duração para a transição energética. Terminou referindo

que não se deveria permitir que Estados com pouco espaço orçamental limitem a sua competitividade no

mercado internacional, devendo o mecanismo orçamental dar resposta aos desafios europeus futuros.

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– COMISSÃO DO EMPREGO E ASSUNTOS SOCIAIS (EMPL)

Sessão I: Consequências socioeconómicas da alta inflação e dos preços da energia e soluções

focadas nos agregados vulneráveis

Dragoş Pîslaru, Presidente da Comissão EMPL do Parlamento Europeu, manifestou o agrado em presidir a

sessão identificada supra, começando por fazer referência ao tema da mesma, afirmando que um em cada

dois europeus se encontrava a passar por dificuldades, constituindo, no seu entendimento, o aumento do

preço da energia o elemento que mais pesava para esta situação. No entanto, declarou que a UE tem atuado

no sentido de apoiar os estratos mais vulneráveis, incidindo a presente sessão sobre os problemas sociais

decorrentes da alta inflação e dos custos energéticos para os agregados mais desprotegidos, acrescentando

que seria relevante avaliar o ponto de vista da vida real dos cidadãos europeus, para além da perspetiva

puramente macroeconómica. Finalizando, afirmou que gostaria de ouvir a opinião dos convidados.

De seguida, tomou a palavra Juliana Wahlgren, Diretora da European Antipoverty Network, que elogiou

esta iniciativa europeia, numa perspetiva de monitorizar a pobreza. Salientou as dificuldades que as pessoas

têm enfrentado com a inflação e subida de preços, em especial no que toca ao sector da energia, declarando

ainda que a pobreza energética afeta de forma acentuada os lares mais vulneráveis. Neste sentido, afirmou

que não houve financiamento para apoiar estes agregados, que dependem cada vez mais de bancos

alimentares e ajuda externa, acrescentando que os benefícios sociais existentes não são suficientes para fazer

face a este problema. Referiu igualmente a eventual falta de competências digitais das pessoas, o que

aumenta a sua vulnerabilidade e dificulta a respetiva transição. Em jeito de conclusão, afirmou que gostaria de

ver uma maior intervenção das pessoas em situações vulneráveis, para que se tomassem medidas concretas

em seu abono, e pediu uma abordagem intersectorial, de modo a garantir um alinhamento na tomada de

medidas.

Usou da palavra Barbara Kauffmann, Diretora da Employment and Social Governance Analysis da DG

EMPL, que sublinhou a união como forma de fazer frente aos impactos advindos da invasão russa, mais

sentidos entre os sectores da população mais vulnerável. Asseverou que a inflação houvera atingido a Europa,

depois de vários anos de inflação baixa, tendo sido afetado o poder de compra dos sectores mais

desfavorecidos, em especial devido à subida de preços no sector da alimentação e da energia, que constituem

uma parte relevante do cabaz de despesas das famílias mais vulneráveis. Em termos de soluções, a oradora

referiu que era necessário garantir a redução da dependência energética russa, a segurança dos

fornecimentos, medidas de correção do mercado das energias e facilitação de apoios estatais. Concluiu,

afirmando que na UE existiriam mais de 400 medidas específicas, mas não focalizadas, pelo que seria, no seu

entendimento, imperativo redirecionar as mesmas, reportando-se ainda à qualificação das pessoas para a sua

inserção no mercado de trabalho.

Seguidamente, interveio Ondřej Benešík, Presidente da Comissão de Assuntos Europeus da Câmara dos

Deputados da República Checa, que adotou uma perspetiva mais interna, reportando-se às medidas tomadas

no seu país para fazer face ao aumento dos preços, nomeadamente a introdução de um apoio extraordinário

para os agregados vulneráveis que consomem mais de 30 % dos seus rendimentos em eletricidade, gás e

água; a introdução de um abono familiar atribuído às famílias de baixos rendimentos que tenham filhos, de

maneira a acautelar os seus custos; a fixação de tetos no sector das energias e a aplicação de poupanças

verdes ecológicas, para reduzir o consumo energético. Informou ainda que a República Checa houvera

recebido o número mais elevado de ucranianos per capita, no contexto da invasão russa.

Interveio ainda Antonio Armando Ferrer Sais, Presidente da Comissão de Trabalho, Inclusão, Segurança

Social e Migração do Senado espanhol, que atalhou, tal como o orador anterior, pelas medidas tomadas a

nível interno, promovendo a ideia de proteção generalizada de todas as pessoas, para além dos mais

vulneráveis. Mencionou que seis pacotes de medidas foram tomados em Espanha, alguns ainda em 2021,

como sucedeu com a redução do IVA para a eletricidade. Para além do desagravamento fiscal, afiançou que o

rendimento mínimo também tinha sido aumentado, em linha com o Plano de Recuperação e Resiliência do

Governo espanhol. Sublinhou igualmente a reforma laboral, a formação para o emprego e a criação de mais

postos de trabalho. O orador comentou ainda a discrepância entre as famílias e algumas empresas, as quais

estariam a ter lucros avultados no contexto inflacionário. Por fim, fez referência aos apoios sociais, às medidas

contra os despedimentos, ao aumento das pensões e à proteção à habitação.

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Em seguida, foi dado início ao debate, no qual intervieram, na troca de pontos de vista, Deputados dos

parlamentos nacionais e do Parlamento Europeu, que sublinharam o aumento generalizado de preços e as

medidas tomadas pelos EM, em especial no sector energético e para proteção dos consumidores e dos mais

vulneráveis. Foi igualmente discutida a demarcação entre as políticas nacionais e comunitárias, assim como a

respetiva planificação e boas práticas europeias. A pobreza infantil na Europa e a urgência no apoio financeiro

e educacional no combate à mesma foram também discutidas, bem como o conceito de vulnerabilidade e o

impacto assimétrico da inflação. Adicionalmente, foi feita referência a medidas focalizadas em situações

concretas e à proteção de dados no âmbito da tomada das mesmas. Deve ainda salientar-se a troca de pontos

de vista entre a Eurodeputada Margarita de la Pisa Carrión e o Presidente da Comissão de Trabalho, Inclusão,

Segurança Social e Migração do Senado espanhol Antonio Armando Ferrer Sais, a propósito da criação e

eliminação de postos de trabalho.

Nas suas respostas, Juliana Wahlgren, Diretora da European Antipoverty Network, afirmou que a pobreza é

multidimensional e que a situação socioeconómica não é suficiente para concluir que as pessoas se

encontram, ou não, numa situação de pobreza. Aludiu também às boas práticas europeias dirigidas às

pessoas que mais sofrem com crise inflacionista, falando da possibilidade de construção de medidas

emergenciais com medidas estruturais, finalizando com um pedido de reforma no mecanismo do preço da

eletricidade.

Interveio igualmente Barbara Kauffmann, que direcionou o seu discurso no âmbito do rumo a seguir,

afirmando que não seria possível escolher uma única boa prática nacional, considerando as dinâmicas dos

vários EM. No tocante à focalização de medidas, previamente debatida, prometeu fazer os contactos

necessários e analisar a questão. Referiu igualmente a articulação entre as medidas nacionais e comunitárias,

a elaboração do orçamento comunitário, a meta da retirada de crianças da situação de pobreza e a promoção

do emprego.

De seguida Ondřej Benešík, Presidente da Comissão de Assuntos Europeus da Câmara dos Deputados da

República Checa, usou da palavra para afirmar que, num ponto de vista social, deveria haver uma maior

cooperação e entendimento entre os EM, com referência às potenciais assimetrias entre as riquezas dos

mesmos, bem como à integração das crianças ucranianas deslocadas e dos adultos no mercado de trabalho.

Antonio Armando Ferrer Sais, Presidente da Comissão de Trabalho, Inclusão, Segurança Social e

Migração do Senado espanhol, partilhou de muitas das opiniões expressadas no debate, em especial no que

tange à execução de medidas de apoio aos mais desfavorecidos, sublinhando que estas deveriam conter uma

Participou, por parte da delegação da Assembleia da República (AR), o Sr. Deputado Francisco César

(PS), que destacou o problema da inflação, asseverando que, por muito que os EM e a UE façam esforços e

tomem medidas, seria muito difícil alcançar todos os afetados. Neste sentido, atribuiu relevância à forma

através da qual são tomadas as medidas, enquadrando a assimetria da inflação ao atingir as famílias.

Referiu que os preços que mais subiram corresponderiam ao sector da energia, alimentação e

combustíveis, sendo que, em Portugal, a menor dependência do gás russo dever-se-ia ao investimento feito

em energias renováveis e ao Mecanismo Ibérico adotado recentemente, permitindo-se algum controlo sobre

os preços da eletricidade. Afirmou ainda que houvera uma intervenção cirúrgica nos preços dos transportes,

que tinham sido congelados, e no apoio direto às rações e adubos. Ainda assim, declarou que o custo do

cabaz alimentar tinha subido significativamente, acima da taxa média, afetando, de forma mais premente, as

famílias mais vulneráveis, sendo necessários apoios sociais e medidas cirúrgicas, citando exemplos como

as ajudas diretas às famílias, a gratuitidade total e progressiva das creches e medidas de apoio fiscal, tanto

no âmbito dos impostos sobre os rendimentos como dos impostos sobre o consumo. O Sr. Deputado

afirmou que, apesar do sucesso do referido, haveria uma subida de preços do cabaz alimentar muito acima

dos aumentos custos de produção, tendo sido mencionado o exemplo do azeite, cuja subida de valor não

teria, no seu entender relação direta com o aumento do preço dos transportes ou com o preço da energia.

Concluindo, apelou à atenção acrescida para produtos que constituem um custo relevante para o cabaz

alimentar das famílias mais vulneráveis e cujo aumento do preço iria muito além da subida dos custos de

produção.

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distinção por nível de rendimento. Nesse sentido, defendeu que seria necessário ampliar a base de aplicação

das mesmas, para abranger mais pessoas em situação de vulnerabilidade, em consequência do contexto

atual. Por fim, referiu a questão da proteção de dados das pessoas que recebem auxílios e refletiu sobre as

melhores políticas para posterior apresentação à UE.

Por fim, tomou a palavra Dragoş Pîslaru, Presidente da Comissão EMPL do Parlamento Europeu, tendo

afirmado que a perspetiva nacional manifestada na reunião teria sido muito importante e que haveria a

oportunidade para constatar o que houvera funcionado, através dos relatórios que seriam elaborados.

Defendeu ainda que as medidas não poderiam ser só colocadas em prática numa perspetiva nacional,

devendo-se ter em conta uma dinâmica de aplicação local, pelo que, num ponto de vista comunitário, dever-

se-ia não ter uma perspetiva EM a EM, mas, sim, atendendo aos segmentos específicos referidos.

Sessão II: Integrar melhor a dimensão social na revisão do quadro económico e orçamental da EU

Dragoş Pîslaru, Presidente da Comissão EMPL do Parlamento Europeu, introduziu a temática, declarando

que, nas últimas décadas, o pilar europeu dos direitos sociais está a tornar-se cada vez mais importante,

relacionando-o com a revisão do quadro económico e orçamental, que estaria no cerne das iniciativas da UE,

atendendo à proeminência das políticas económicas ao nível comunitário. Referiu que o Parlamento Europeu

tem refletido sobre esta temática, adotando uma posição de reforço da perspetiva social no quadro de

governação económica. Afirmou também que todas as medidas de cariz social teriam um aspeto distribucional

e salientou a relação da agenda social com os desequilíbrios macroeconómicos, apelando a um debate sobre

estas matérias.

De seguida, foi dada a palavra a Michael Arghyrou, Chefe do Conselho de Assessores Económicos do

Ministério das Finanças grego e professor na Universidade de Pireu, que começou por referir que a dimensão

social não era mencionada de forma explícita no quadro de governação económica, questionando se os

objetivos a ter em conta seriam os mais adequados e como incluir a dimensão social. Pediu uma maior

preocupação com dados absolutos, ao invés de relativos, apelando à sustentabilidade das finanças públicas e

do crescimento, defendendo que ambos são essenciais para a disponibilização de uma rede de segurança

eficaz. Também se reportou à questão da inclusão, assim como à necessidade de os EM elaborarem um plano

orçamental estrutural que corresponda às suas posições de partida, garantindo a elaboração de programas

que garantissem o investimento no capital humano. Por fim, concluiu pela necessidade de uma capacidade

fiscal abrangente para alavancar todas as áreas.

Foi passada a palavra a Katia Berti, Chefe de Unidade do Semestre Europeu da DG EMPL. Referiu as

orientações da Comissão Europeia emitidas em novembro, atinentes à diminuição dos rácios de dívida

pública, assim como à experiência dos instrumentos de recuperação e resiliência, a apropriação nacional de

medidas já avançadas e a determinação mais eficaz das prioridades. Adicionalmente, afirmou que os desafios

nos mercados laborais e sociais deveriam ser salientados no quadro de governação económica, para garantir

o modelo social europeu. A oradora ateve-se também no desenvolvimento, através do quadro de governação

económica, da área digital, ecológica, social e de proteção dos consumidores, fazendo ainda referência à

concretização de uma nova estrutura de incentivos, vigilância macroeconómica e reforma orçamental.

Declarou que o Semestre Europeu continuará a ter um papel essencial no futuro, como elemento para

coordenar os esforços e investimentos adequados a fazer frente às transformações no contexto europeu.

Defendeu ainda que o quadro económico teria de ser robusto, por forma a integrar o pilar dos direitos sociais,

finalizando com referência às respetivas prioridades, no que toca à sua monitorização e reforço da

convergência social.

Antón Gómez-Reino Varela, Presidente da Comissão de Trabalho, Inclusão, Segurança Social e Migração

do Congresso dos Deputados espanhol, abordou a temática das crises a curto e longo prazo, bem como a

falta de legitimidade de algumas medidas tomadas no contexto das mesmas. Neste sentido, afirmou que,

durante a crise financeira de 2008, a UE houvera tomado algumas medidas baseadas em austeridade, o que,

no seu entender, teriam afetado o projeto europeu e o seu escopo social, acrescentando que, entretanto, após

a referida crise financeira, pandemia e guerra na Ucrânia, a situação seria muito diferente. Citou o exemplo de

Espanha, em especial no sector laboral, no que tange à intervenção do Estado na economia, enquanto

defendeu, num plano europeu, a colocação da parte social no âmago das políticas económicas. Colocou ainda

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a tónica na representação dos cidadãos e na defesa do rendimento mínimo europeu e no combate às

desigualdades, incluindo entre os EM.

Em seguida, foi dado início ao debate, no qual intervieram, na troca de pontos de vista, Deputados dos

parlamentos nacionais e do Parlamento Europeu, que focaram as suas intervenções na crítica à tónica

colocada na tributação, em detrimento da parte social, e à necessidade das políticas e prioridades estruturais

comuns, bem como, mais concretamente, à concretização do auxílio à terceira idade e cuidados dedicados a

idosos, ao salário mínimo e à inclusão. Foram também salientadas as diferentes formas de ver estas

temáticas, tanto a nível interno como entre os EM, questionando-se a melhor maneira de as integrar de forma

robusta no quadro orçamental. Deve ainda fazer-se referência à intervenção da Eurodeputada Margarita de la

Pisa Carrión, que reforçou o papel social da família.

Em resposta, Michael Arghyrou, Chefe do Conselho de Assessores Económicos do Ministério das Finanças

grego e professor na Universidade de Pireu, afirmou que, na conjuntura em que a Europa se encontra, os EM

deveriam reduzir a dívida pública, no contexto dos mercados em situação de alerta. Estabeleceu também a

relação entre a vertente económica e a social, recordando que a economia é uma ciência social, focada no

estudo do comportamento humano: daí o vínculo entre as duas dimensões, defendendo que a previsibilidade

daquele garantiria estabilidade. Declarou também que era necessário garantir a igualdade e promover políticas

tendentes a este objetivo, atribuindo verbas para desenvolver áreas como a educação ou a saúde, realçando

ainda o papel da comunicação social. Por fim, recorreu ainda ao processo de adesão ao Euro, quando cada

EM adotou um plano baseado em regras comuns, através do qual foi possível crescer e avançar,

salvaguardando, todavia, que as medidas a adotar atualmente não poderiam seguir um padrão único.

Respondeu igualmente Katia Berti, Chefe de Unidade do Semestre Europeu da DG EMPL, que fez

referência ao pilar dos direitos sociais da UE, pedindo uma maior convergência dentro da União e

asseverando que a dimensão social se encontra plasmada nos tratados comunitários. Referiu ainda que as

medidas de coordenação e emprego deveriam passar pela intervenção não só da UE como também dos

demais EM, assim como defendeu que as orientações relativamente ao emprego se refeririam ao quadro de

convergência, cujos principais objetivos deveriam ser a promoção de postos de trabalho de qualidade e

políticas ativas de trabalho, reportando-se ainda a outras diretrizes de cariz social, como o apoio às crianças e

ao envelhecimento. A oradora enalteceu o Semestre Europeu, afirmando que uma das grandes vantagens do

mesmo seria a promoção de uma abordagem integrada das matérias discutidas

Em seguida, tomou a palavra Antón Gómez-Reino Varela, Presidente da Comissão de Trabalho, Inclusão,

Segurança Social e Migração do Congresso dos Deputados espanhol, que salientou a concordância com o

discurso geral, embora salvaguardando as ideologias diferentes que assistiram às intervenções. Questionou

se os mercados poderiam determinar as medidas políticas de Governos e Estados democraticamente eleitos,

tendo respondido negativamente, no sentido de estes deverem atuar com a legitimidade concedida, sem a

limitação dos primeiros. Chamou a atenção para a situação de Espanha, afirmando que a extrema-direita

houvera votado em diversas ocasiões contra medidas de apoio à família, apesar de a defender. Em conclusão,

insistiu que era essencial ir mais além no tocante ao pilar social, para que este estivesse no âmago do

Semestre Europeu e das políticas europeias.

A final, respondeu Dragoş Pîslaru, Presidente da Comissão EMPL do Parlamento Europeu, que declarou

que as metas definidas são adequadas, não havendo nenhum político que não desejasse a convergência;

havendo mais dúvidas no que tange aos meios adequados para atingir os objetivos. Questionou também como

neutralizar as divergências políticas quanto à opção política correta, apelando a cedências de parte a parte,

assim como sublinhou a diferença entre uma visão tecnocrata e uma visão política. Afirmou que ainda

existiriam tensões na Europa, sendo a questão geográfica importante, terminando o seu discurso com

referência ao conceito de coesão, quer em termos absolutos, quer relativos, encerrando a presente sessão.

– COMISSÃO DOS ORÇAMENTOS (BUDG)

Sessão I: Alterações climáticas, energia e inflação - que papel para o Quadro Financeiro Plurianual e

os Recursos Próprios, e como criar melhores sinergias com as intervenções nacionais?

Johan Van Overtveldt, Presidente da Comissão BUDG do Parlamento Europeu, começou por identificar as

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principais problemáticas subjacentes à epígrafe da sessão em decurso, assim como as medidas mais urgentes

a tomar. Nesta sequência, fez um excurso sobre a dimensão social da tarifa sobre o carbono, sem prejuízo de

apoios para famílias e empresas mais vulneráveis, referindo o Fundo Social para o Clima. Seguidamente,

reportou-se ao empréstimo comum, ao Programa NextGenerationEU e à gestão da dívida pública, afirmando

que a UE passou a poder emitir obrigações soberanas. Declarou que, embora a notação da UE mantivesse

uma classificação positiva, estaria um pouco menos favorável nos últimos meses. Apelou ainda ao Parlamento

Europeu para que apertasse o cerco ao escrutínio que lhe competiria, em especial no que toca à gestão dos

preços. O orador densificou também as iniciativas em desenvolvimento, o Fundo de Soberania e o reforço da

estabilidade e resiliência.

De seguida, usou da palavra Edward Riedl, Presidente da Comissão de Finanças do Parlamento sueco,

que principiou o seu discurso com referência à resposta comum aos desafios climáticos, defendendo a

manutenção de objetivos ambiciosos neste nível, congratulando as empresas europeias que estariam a

concretizar as metas ambientais e a contribuir para a circularidade da economia. Todavia, salientou os

impactos da agressão russa à Ucrânia, que houveram afetado duramente as empresas e famílias mais

vulneráveis, especialmente no que toca ao preço da energia e inflação. Em conclusão, sublinhou a

continuação do projeto de transição energética.

Neste momento, tomou a palavra Iain Begg, Professorial Research Fellow at the European Institute,

London School of Economics and Political Science, que salientou a diferença entre finanças e orçamento,

afiançando a complexidade deste último conceito, especialmente na parte das despesas e investimentos.

Salientou a natureza não redistributiva do orçamento comunitário, assim como o seu caráter multianual.

Defendeu que o orçamento europeu não contribuiria para a estabilidade da economia, ao contrário do que

sucedia, no seu entender, com os orçamentos nacionais, mais acrescentando que pouco houvera mudado no

status quo do primeiro desde o seu aparecimento, considerando a sua rigidez. Refletiu ainda no fosso entre as

expectativas exigidas à UE e à sua capacidade em fazer frente a crises e desafios macroeconómicos,

afirmando faltarem recursos orçamentais adequados. Por fim, em conclusão, o orador detalhou o conjunto de

recursos europeus próprios e as respetivas fontes de financiamento, bem como a temática dos novos

instrumentos financeiros fora do quadro financeiro plurianual.

Em seguida, foi iniciado o debate, no qual participaram Deputados dos parlamentos nacionais e do

Parlamento Europeu, tendo sido abordados programas como o Pacto Europeu Verde e a Estratégia de

Mobilidade Sustentável e Inteligente. Foram também referidas as alterações climáticas e a maneira de como

seriam passíveis de afetar o sector financeiro, sublinhando-se o papel do BCE nesta matéria, a capacidade de

resposta da UE a crises, com referência à crise financeira de 2008, à pandemia e potenciais catástrofes

naturais, o modo de financiamento dos recursos próprios, o impacto da inflação âmbito social e o custo dos

empréstimos a longo prazo.

Em sede de debate, deve salientar-se a intervenção da Eurodeputada Margarida Marques, que

desenvolveu o tema da revisão do Quadro Financeiro Plurianual, sublinhando a apresentação de Iain Begg,

particularmente no âmbito da complexidade das fontes de financiamento da UE e dos novos desafios que esta

enfrenta. Recordou que, na última reunião plenária de 2022, fora pedida à Comissão Europeia a revisão do

Quadro Financeiro Plurianual, na medida em que o corrente não responderia aos desafios mencionados

acima. Neste contexto, admitiu ter havido alguma reação por parte de alguns EM, designadamente porque

estes não estariam dispostos a rever os seus envelopes nacionais, asseverando que uma das salvaguardas

de uma potencial revisão seria a manutenção dos envelopes de todos os EM, definida em sede do Quadro

Financeiro Plurianual 2021-27, sublinhando que o objetivo da referida revisão seria preparar o orçamento

comunitário para responder aos desafios atuais. Neste sentido, enunciou o reforço das linhas orçamentais, a

proteção da política de coesão e a criação de um mecanismo permanente que possa ser acionado de forma

imediata em caso de crise como os pontos fundamentais para a supracitada revisão, de maneira a dotar a UE

de instrumentos adequados e eficazes para fazer frente aos desafios propostos.

Cumpre também referenciar a intervenção do Eurodeputado José Manuel Fernandes, que reiterou a

necessidade de revisão do Quadro Financeiro Plurianual, afirmando que o orçamento comunitário, atualmente,

é reduzido e encontra-se esgotado. Defendeu igualmente que a inserção do pagamento da dívida no mesmo é

um erro, constituindo o custo da mesma, a longo prazo, a mais de 10 % do orçamento, apelando à criação de

novos recursos próprios. Neste sentido, declarou que o Conselho assegurava o EU Emissions Trading

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System, a revisão das licenças de emissão, o mecanismo de ajustamento das fronteiras e o primeiro pilar da

OCDE, asseverando que existiriam outras propostas a serem discutidas, como a taxa sobre as transações

financeiras e relativamente às criptomoedas. Adicionalmente, salientou que os cidadãos não deveriam ser

sobrecarregados no âmbito do financiamento dos recursos da UE, devendo estes ser alinhados com os seus

objetivos. Por fim, discursou sobre a necessidade de garantir uma concorrência mais leal, atingir as metas

climáticas e combater a fraude e evasão fiscal.

Salienta-se igualmente a intervenção de Ibrahim Aydin, membro do Planning and Budget Committee of

Grand National Assembly, agindo em representação da Turquia, enquanto país observador, que fez referência

ao terramoto ocorrido na Turquia e na Síria, com todos os impactos sociais e económicos subjacentes, tendo

destacado a importância da solidariedade e cooperação da UE no âmbito do auxílio prestado, referindo os

mecanismos de crise política e de proteção civil passíveis de serem utilizados, defendendo o aprofundamento

das relações existentes.

Por fim, deve ainda referenciar-se o discurso de Kacper Płażyński, membro do EU Affairs Comittee do

parlamento polaco, que defendeu a flexibilidade do orçamento comunitário, de maneira a contemplar vários

objetivos, para além, por exemplo, das alterações climáticas, observando que deve basear-se numa política

não centralizada no ponto de vista económico, para atender às pretensões próprias de cada EM. Falou ainda

da utilização da energia atómica pela UE, como um sector essencial e crítico, apesar das polémicas envoltas.

Na resposta, Iain Begg, Professorial Research Fellow at the European Institute, London School of

Economics and Political Science, observou que seria fácil afirmar que os novos recursos próprios iriam

resolver os problemas e diminuir as contribuições nacionais; contudo, defendeu que aqueles traduzir-se-ão, a

final, num imposto a imputar a cidadãos e empresas, pelo que o ónus recairia sobre estes destinatários

quando fosse retirado dinheiro dos cofres dos EM. O orador notou ainda que pouco se houvera falado sobre a

dimensão geral do orçamento comunitário, assim como da articulação entre a angariação de fundos por parte

da UE e a concessão de empréstimos.

Tomou ainda a palavra Pierre Larrouturou, que pretendeu questionar o orador anterior se, enquanto

consumidor de serviços financeiros, estaria disposto a pagar uma taxa sobre transações financeiras.

Johan Van Overtveldt, Presidente da Comissão BUDG do Parlamento Europeu, encerrou a discussão,

pedindo aos presentes que considerassem os temas debatidos, tanto no Parlamento Europeu como nos

parlamentos nacionais, para que não existissem impasses na tomada de medidas.

Sessão II: Apoio à Ucrânia – respostas nacionais e da UE à crise orçamental e o papel dos

Parlamentos

Edward Riedl, Presidente da Comissão de Finanças do Parlamento sueco, deu as boas-vindas aos

membros do Parlamento ucraniano presentes e ao Ministro-Adjunto das Finanças da Ucrânia, afirmando que o

apoio a este país constituía uma prioridade-chave da UE, manifestando orgulho na ajuda prestada e apelando

à responsabilidade de todos neste sentido.

Usou da palavra Johan Van Overtveldt, Presidente da Comissão BUDG do Parlamento Europeu, que

reiterou o que o orador anterior houvera tinha referido. Asseverou que o orçamento comunitário teria

limitações, tanto no volume como na capacidade de intervenção, mas notou que o quadro orçamental nunca

houvera sido utilizado para lidar com crises ou urgências. Mais acrescentou que seria difícil considerar, para

já, um cenário pós-guerra e de reconstrução; porém, afiançou que tal deveria ser contemplado, de maneira a

aproximar a Ucrânia à UE.

De seguida, discursou Johannes Hahn, Comissário Europeu para o Orçamento e Administração, que

começou por dar as boas-vindas aos representantes ucranianos citados supra, salientando que se celebrava o

primeiro aniversário da agressão russa à Ucrânia, reiterando o apoio comunitário à mesma. Afirmou que a UE

estaria a contribuir para a resiliência ucraniana, através de subsídios e empréstimos, para que as

infraestruturas continuassem a funcionar. Em concreto, o orador fez referência à ajuda prestada às

organizações da sociedade civil e à cibersegurança, bem como à restauração e manutenção da rede elétrica

ucraniana, ao acolhimento de quatro milhões de ucranianos e à assistência militar. Referiu ainda que o

reembolso dos empréstimos mencionados só ocorreria a partir de 2032, asseverando que os auxílios estariam

a ser concretizados em conformidade com os valores europeus, estando garantida a eficiência e transparência

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daqueles. Aproveitou ainda para contrapor a perspetiva europeia, de caráter democrático, ao lado russo. Em

finalização, fez referência à plataforma de doadores, à reconstrução da Ucrânia e à potencial adesão à UE,

que se deveriam reforçar entre si.

Neste momento, por videoconferência, tomou a palavra o Ministro-Adjunto das Finanças da Ucrânia Yuriy

Drahanchuk, na ausência do Ministro das Finanças Sergii Marchenko, que começou por mencionar os danos

causados pela Rússia à Ucrânia, bem como as respetivas consequências, acrescentando que que a economia

teria contraído mais do que o esperado. Não obstante, afirmou que a inflação estaria a diminuir um pouco, que

90 % das empresas estavam em funcionamento, que o défice elétrico tem sido trabalhado e que fora possível

diminuir o défice orçamental em 2023. Manifestou gratidão à UE na contenção da máquina de guerra russa e à

ajuda macroeconómica. Adicionalmente, referiu que a outorga de país candidato é um incentivo à Ucrânia para

empreender as reformas estruturais necessárias. O orador fez também referência à plataforma de doadores, à

qual o Ministro das Finanças ucraniano copreside, e garantiu que as ajudas financeiras da UE seriam bem

aplicadas na Ucrânia. Por fim, declarou estar a aguardar auxílios comunitários adicionais, destinados, em

especial, às infraestruturas críticas, reconstrução prioritária, desminagem e setor energético, agradecendo ao

Parlamento Europeu.

Após as referidas intervenções, foi principiado o debate, no qual participaram Deputados dos parlamentos

nacionais e do Parlamento Europeu, incidindo a discussão sobre os apoios bilaterais providenciados por cada

país, as medidas de cariz macroeconómico e a mobilização de recursos no contexto da margem de manobra

permitida pelo orçamento comunitário. Adicionalmente, foi referida a questão do acolhimento de refugiados, a

potencial utilização de fundos russos congelados para financiar as plataformas de apoio e na reconstrução

subsequente da Ucrânia.

Deve sublinhar-se a intervenção da Eurodeputada Margarida Marques, que referenciou três pontos

relevantes. Em primeiro lugar, realçou a necessidade do equilíbrio entre as medidas de apoio à Ucrânia e

medidas de apoio aos europeus, ou seja, a par das primeiras, a existência de um conjunto de iniciativas que

visem mitigar o impacto da guerra na UE. Em segundo lugar, afirmou o apoio dado à Ucrânia, não só no ponto

de vista comunitário como sob a perspetiva dos contributos prestados por cada EM. Em terceiro lugar,

dirigindo-se ao Comissário Johannes Hahn, questionou como iria o apoio à Ucrânia ser transposto para

proposta de revisão do Quadro Financeiro Plurianual.

Merece menção, igualmente, o discurso de Marietta Karamanli, membro da Committee on European

Affaires da Assembleia Nacional de França, que introduziu no debate os impactos da guerra nas exportações

agrícolas da Ucrânia e potenciais percursos alternativos para o transporte de cereais.

Também se refere a intervenção de Kacper Płażyński, membro do EU Affairs Comittee do parlamento

polaco, que defendeu ser necessário não só o foque na reconstrução da Ucrânia, mas também na resposta

forte por parte da UE a dar à Rússia.

Por fim, deve dar-se nota do discurso do Eurodeputado José Manuel Fernandes, que sublinhou a larga

maioria no Parlamento no sentido de apoiar a Ucrânia, defendendo que o orçamento comunitário deveria ser

usado da melhor maneira possível para esse efeito, afirmando, contudo, que seria necessário rever o Quadro

Financeiro Plurianual. Asseverou que os EM também deveriam ajudar com o Fundo existente para a paz,

apelou a uma solidariedade mais reforçada com a Ucrânia, baseada em mais subsídios do que empréstimos, e

pediu a quantificação do montante necessário para a reconstrução da mesma.

Participou, por parte da delegação da Assembleia da República (AR), o Sr. Deputado Miguel Iglésias (PS),

que saudou a Assistência Macrofinanceira+, o novo instrumento de apoio à Ucrânia, que prestaria ajuda de

cariz financeiro de forma eficaz às necessidades imediatas e infraestruturas críticas ucranianas, notando a

solidariedade à UE. Sublinhou também toda a assistência bilateral dada por Portugal à Ucrânia, no âmbito

da habitação, apoio social, saúde e acolhimento, bem como o acordo bilateral assinado pelo Governo

português no valor de duzentos e cinquenta milhões de euros de cedência de direitos especiais de saque

no FMI. O Sr. Deputado finalizou a sua intervenção, apelando à agilização dos processos legislativos de

apoio aos executivos que necessitassem, afirmando que Assembleia da República estaria empenhada

neste objetivo, apresentando esta iniciativa como um exemplo da solidariedade e apoio na defesa da

Ucrânia.

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Na fase das respostas, Johannes Hahn, Comissário Europeu para o Orçamento e Administração, afirmou

que a Comissão Europeia estava focada em encontrar recursos financeiros suplementares para fazer frente a

todas as necessidades internas externas que fossem surgindo, citando, a título de exemplo, para além da

situação ucraniana, o apoio humanitário prestado no contexto do terramoto ocorrido na Turquia e Síria.

Asseverou que era necessária uma maior flexibilidade do orçamento comunitário, com menor afetação de

verbas.

Para encerrar o debate, tomou a palavra Edward Riedl, Presidente da Comissão de Finanças do

Parlamento sueco, que reiterou que a segurança e liberdade dos ucranianos era uma prioridade, procurando a

UE fazer a diferença.

– SESSÃO PLENÁRIA: REVISÃO DO QUADRO DE GOVERNAÇÃO ECONÓMICA DA UE – TROCA DE

PONTOS DE VISTA

Othmar Karas, Primeiro Vice-Presidente do Parlamento Europeu, principiou a presente sessão, tendo

defendido que uma coordenação orçamental, por si só, poderia traduzir-se em grandes vantagens

económicas; porém, defendeu que, atualmente, seria necessário falar muito mais do que enfrentar uma crise,

devendo-se aprender com o passado. Celebrou o mercado interno da UE, com trinta anos, salientando que

ainda não estava concretizado em matérias como as energias, saúde, defesa e economia. Apelou a uma

coordenação mais eficiente, para garantir uma política orçamental estável, um investimento sustentável e um

controlo eficiente da dívida pública. Neste sentido, referiu, a título de exemplo, que a Comissão Europeia

houvera apresentado, ainda em 2021, um pacote exaustivo de medidas, afirmando que a coordenação referida

só poderia ser concretizada se os parlamentos dos EM as adotassem, asseverando que só cerca de 20 % dos

países estavam a implementar as recomendações. Adicionalmente, aconselhou a criação de um mecanismo

de sanções para quem não cumprisse o quadro de coordenação e regras referentes aos procedimentos no

Parlamento Europeu mais transparentes.

Tomou a palavra Edward Riedl, Presidente da Comissão de Finanças do Parlamento sueco, que começou

por sublinhar o contexto económico e geopolítico vivido, fazendo referência à transição para uma economia

verde e sustentável, mais acrescentando que o crescimento de hoje se iria traduzir na prosperidade de

amanhã. Defendeu igualmente que o apoio à Ucrânia tinha de ser uma prioridade.

De seguida, discursou Paolo Gentiloni, Comissário Europeu para a Economia, que começou por recordar

que a discussão sobre a revisão das regras orçamentais já houvera começado em 2019, numa altura em que

o contexto económico e geopolítico era diferente do atual, este último caraterizado por uma dívida elevada,

inflação e grande necessidade de investimento. Apesar de considerar que a economia estaria melhor do que

inicialmente se previu, declarou que ainda existe muita incerteza; como tal, as propostas apresentadas visam

atingir um quadro mais transparente e credível, assegurando que a sustentabilidade da dívida não seria

executada contra o crescimento e investimento, por forma a garantir um equilíbrio. Afirmou ainda que a

simplificação das regras era um objetivo, assim como uma maior apropriação nacional das mesmas, para

garantir a democratização do processo.

Usou da palavra Lars Heikensten, Presidente do Swedish Fiscal Policy Council, que começou por falar da

sua experiência em diversos gabinetes e na resolução de crises passadas, referindo que, atualmente, na

Suécia, vigoraria um regime económico que permitia baixar a inflação. Nesse sentido, apontou três lições que

considerou relevantes para a revisão do quadro de governação económica: a necessidade de apropriação

nacional por parte dos parlamentos, uma discussão aberta e factual e um enquadramento político realista,

salientando que a estratégia de multar, per se, não caberia aqui. Afirmou que a proposta de revisão não seria

tão mecânica quanto o atual quadro de governação económica, apelando a uma análise económica clara, com

base na discussão para reforçar a apropriação nacional, de maneira a envolver os parlamentos nacionais, bem

como um equilíbrio entre a prudência orçamental e o investimento.

Philippa Sigl-Glöckner, Diretora do Dezernat Zukunft, sublinhou a importância do percurso a seguir pelos

países com maior dívida face ao PIB, baseando-se na análise da sustentabilidade da dívida. Considerou que a

medida em que é possível prever o futuro, num ponto de vista económico, é essencial para a determinação de

políticas monetárias e orçamentais, reiterando ainda o que já houvera sido mencionado na presente sessão,

quanto ao equilíbrio entre o crescimento e a consolidação fiscal, referindo-se ainda à dificuldade de conciliação

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entre os objetivos e necessidades de despesa e redução da dívida pública.

Em seguida foi dado início ao debate, no qual foram abordados os temas da proteção dos cidadãos através

das políticas orçamentais, o potencial carácter obsoleto do Pacto de Estabilidade e Crescimento e referência à

respetiva clausula de derrogação, especialmente para EM com dívida elevada, atentando-se às

especificidades de cada um na tomada de medidas, e a simplificação do quadro de governação económica.

Adicionalmente, apelou-se à urgência nas negociações neste âmbito, à utilização da política monetária não só

como um mecanismo de combate à inflação, mas também ao serviço do sector produtivo, e a diferença de

estratégia económica e financeira para fazer face a crises, passando-se de uma política de austeridade para

uma política de constante investimento.

Deve ser tida em conta a intervenção da Eurodeputada Margarida Marques, que reconheceu o esforço da

Comissão Europeia no anúncio da revisão das regras de governação económica, afirmando que esta

instituição teria tomado em conta um relatório aprovado em 2021, pelo Parlamento Europeu, atinente a um

conjunto de princípios sobre esta matéria, baseados numa maior simplicidade, transparência e apropriação

dos Estados-Membros, referindo a democratic accountability. Explicitou também as razões que considerou

estarem na base da não adoção de recomendações por vários EM, ligadas à não apropriação e incapacidade

financeira dos mesmos em desenvolverem reformas. Aproveitou ainda para afirmar que a proposta de revisão

também padecia de algumas deficiências, como a não explicitação da capacidade orçamental,

salvaguardando, por outro lado, o aspeto positivo que correspondia à coordenação entre as políticas

orçamentais e monetárias. Deixou ainda uma questão ao Comissário Paolo Gentiloni, no sentido de saber

quais seriam as orientações em matéria do PEC e do Semestre Europeu subjacentes às propostas legislativas

da Comissão Europeia.

Cumpre ainda salientar a intervenção do Eurodeputado Zbigniew Kuźmiuk, que questionou o Comissário

Paolo Gentiloni, em especial, sobre a despesa na área da defesa, na área social e nas ajudas de Estado.

Interveio igualmente o Sr. Deputado Miguel Matos (PS), que referiu o que considerava serem as

consequências das atuais regras orçamentais, como sendo a desvantagem competitiva em relação aos

EUA e China, a emigração de jovens qualificados, a inflação alta, a falta de investimento nas transições

digitais e climáticas e a vulnerabilidade perante as crises energéticas. Reiterando o carácter obsoleto das

normas citadas, afirmou que seria necessário reformar e adaptar as regras fiscais, de modo a garantir a

estabilização da procura e a expansão da oferta. Referiu ainda que a Alemanha tem um quarto da

produção da Europa, mas detém metade das ajudas de Estado, o que constitui uma ameaça ao mercado

único. O Sr. Deputado prosseguiu, defendendo que a UE não pode ser uma comunidade que não esteja

assente nos valores democráticos; como tal, as recomendações específicas por país não poderiam ser

impostas, devendo existir a possibilidade de negociar essas propostas. Sublinhou que seria um erro a UE

focar-se na despesa, assim como em indicadores pouco fiáveis, apelando a uma avaliação da despesa

primária líquida, reportando-se às despesas e receitas fiscais, de modo a assegurar um maior controlo do

défice.

Participou, por parte da delegação da Assembleia da República (AR), o Sr. Deputado Paulo Moniz

(PSD), que levou ao debate a questão da energia, como algo que afeta a condição económica dos EM;

em especial, a necessidade de considerar e acautelar as necessidades energéticas das realidades

arquipelágicas. Referiu que há modelos no RePowerEU, que permitem fazer transferências energéticas no

âmbito pan-europeu, afirmando que é preciso reforçar o pacote do mencionado programa para o contexto

das ilhas europeias, as quais têm uma maior dificuldade de se ligar à rede elétrica. Nesse sentido, citou a

situação específica da ilha das Flores, que teria, no seu entender, um problema energético de

fornecimento de gás. Assim, considerou que se o armazenamento de renováveis e capacidade de

utilização de energia verde, tão apregoada pela UE em sede da transição energética, fossem objeto de

atenção especial, seguramente que o problema de abastecimento de gás não teria o impacto que hoje

tem, podendo as necessidades energéticas da ilha das Flores, em particular, ser satisfeitas com recurso

às energias renováveis. O Sr. Deputado concluiu a sua intervenção, defendendo que esta situação não

seria exclusiva das ilhas dos Açores, assistindo a todas as realidades arquipelágicas e para as quais a

Europa ainda não houvera conseguido encontrar uma solução completa e adequada.

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Após o debate, usou da palavra Philippa Sigl-Glöckner, Diretora do Dezernat Zukunft, que questionou, face

às intervenções que apelaram a um maior investimento público, o que se pretenderia fazer em concreto.

Afirmou que flexibilizar as regras orçamentais sem ter capacidade orçamental levaria, consequentemente, a

uma maior submissão de capital, finalizando o seu discurso ao asseverar que a soberania dos EM estaria

relacionada com a sustentabilidade da dívida.

Em seguida, pronunciou-se Lars Heikensten, Presidente do Swedish Fiscal Policy Council, afirmando que

as políticas orçamentais deveriam ser uniformizadas, sem que os EM pudessem, simplesmente, tomar as

decisões que quisessem a título individual. Afirmou ainda que os planos a médio prazo eram de difícil

concretização, na medida em que partem de pressupostos incertos. Pediu critérios claros para a determinação

da sustentabilidade da dívida, declarando que é necessário reformular a maneira de como a política

orçamental é definida em alguns EM.

Por fim, Paolo Gentiloni, Comissário Europeu para a Economia, observou haver consenso em torno da

revisão do quadro de governação económica, visto que, não obstante ainda existirem regras em vigor úteis,

não permitem promover o investimento e crescimento nem diminuir a dívida. Reafirmou a perspetiva a médio

prazo, baseada na transparência e adaptabilidade aos ciclos económicos, incluindo nacionais. Defendeu que o

investimento público seria essencial para diminuir a dívida e enfrentar os desafios atuais, bem como o reforço

do papel dos parlamentos nacionais, concluindo a intervenção com referência ao crescimento económico da

UE no ano anterior, superior aos EUA e China.

Após o referido, para encerrar a sessão, Edward Riedl, Presidente da Comissão de Finanças do

Parlamento sueco, agradeceu todos os intervenientes, acreditando que o trabalho comum levará à

prosperidade do povo europeu.

– SESSÃO PLENÁRIA: TRABALHO REMOTO NA UE - DESAFIOS FISCAIS

Dita Charazová, Vice-Presidente do Parlamento Europeu, introduziu o tema, declarando que a pandemia

tinha sido um catalisador a nível laboral, tornando-se o teletrabalho um novo normal. Neste quadro, afirmou

que agora existem pessoas que se encontram fisicamente num determinado país e trabalham noutro, que não

corresponde à sede da sua empresa, colocando-se a questão de saber onde se devem pagar os impostos.

Afirmou que, mesmo no pós-covid, há mais flexibilidade por parte das empresas no que toca à prestação da

atividade, tendo-se verificado um aumento do trabalho transfronteiriço. Frente a esta realidade, a oradora

declarou a existência de desafios tributários relevantes, pronunciando-se sobre acordos bilaterais celebrados

entre os Estados, ao mesmo tempo que admitiu a existência de problemas, caso os EM estivessem em

desacordo no que toca à política tributária neste âmbito.

Tomou a palavra Niklas Karlsson, Presidente da Comissão de Tributação do Parlamento sueco, que

sustentou que a digitalização do trabalho levara a uma prestação de trabalho transfronteiriço mais frequente,

havendo consequências para os EM envolvidos. Deste modo, afirmou que gostaria de ouvir a opinião dos

intervenientes nesta matéria.

Neste momento, principiou o seu discurso David Bradbury, do Centre for Tax Policy and Administration,

OCDE, reportando-se à digitalização do trabalho e à mobilidade transfronteiriça como fenómenos cada vez

mais frequentes da atualidade, traduzindo-se tal em grandes alterações no mercado laboral. Afirmou que não

só há cada vez mais trabalhadores a quererem trabalhar num modelo transfronteiriço, como existem cada vez

mais empresas a considerar o teletrabalho como uma prioridade, referindo ainda a situação dos nómadas

digitais e dos respetivos benefícios fiscais. Nesta sequência, o orador assegurou que as empresas clamam por

mais certeza tributária. Por outro lado, afirmou que fatores não associados ao fisco são passíveis de restringir

ou promover o trabalho transfronteiriço, como a tecnologia, os horários, a lei laboral ou a lei de imigração,

podendo as decisões que levaram ao mesmo ser de cariz económico, social e ambiental. O orador concluiu a

intervenção, afiançando que, na OCDE, continua-se a trabalhar nestas áreas e a procurar consensos.

Usou da palavra Stefan Olsson, Diretor-Geral da EMPL (Comissão Europeia), que focou o seu excurso na

perspetiva da segurança social, ainda que relacionada com a temática da tributação. Concordou com o que já

fora referido, no sentido de que o teletrabalho aumentou, impulsionado pela pandemia, havendo uma

tendência crescente para o trabalho transfronteiriço. Frente a estas realidades, o orador declarou a existência

de questões relacionadas com as condições de trabalho e o chamado «direito a desligar» para os

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trabalhadores à distância, assegurando estarem a decorrer negociações neste sentido. Referiu existir a

possibilidade de um trabalhador ser tributado num determinado EM e descontar para a segurança social

noutro diferente, o que, defendeu, não seria uma situação ideal. Por fim, afirmou que que a coordenação dos

sistemas de segurança social está a ser trabalhada e que haveria uma investigação em curso nesta matéria.

Reinhard Biebel, Diretor-Geral da TAXUD (Comissão Europeia), sustentou que o trabalho à distância veio

para ficar, defendendo que tal se vai traduzir em impactos vários. O orador focou-se essencialmente nos

aspetos fiscais, afirmando que os EM já tinham começado a renegociar os seus tratados bilaterais, citando o

exemplo do BENELUX, devido à intensa mobilidade vivida neste quadro, declarando ainda que a convenção

da OCDE era a base dos acordos bilaterais dos EM. Informou os presentes que a Comissão Europeia fora

contactada por cidadãos e empresas que tinham comunicado a existência de obstáculos ao teletrabalho,

asseverando que pretendia suprimir os mesmos e criar mercados transfronteiriços vibrantes, apesar das

dificuldades. Apresentou ainda a ideia de uma espécie de balcão único, para a redução dos encargos

administrativos, e mecanismos de compensação entre os Estados no que toca à fiscalidade, assim como a

existência de um número limite de dias que o trabalhador pode trabalhar no domicílio, com base no qual os EM

podem determinar que não há consequências fiscais, referindo o exemplo de França e Suíça a título de

acordos bilaterais. O orador finalizou, mencionando o «direito a desligar».

Em seguida, foi iniciado o debate, que incidiu sobre a definição de teletrabalho, o equilíbrio entre a vida

profissional e familiar, as potenciais desigualdades entre as políticas das empresas relativamente à matéria do

trabalho remoto e a atualização das regras vigentes, no sentido de não desincentivar os empregadores a

utilizar o teletrabalho. Numa perspetiva mais fiscal, foram referenciadas as questões da dupla tributação, a

uniformização do critério de determinação da residência fiscal e o apelo à criação de um balcão único para as

matérias relacionadas com o teletrabalho. Foi ainda discutida a conciliação do tempo de trabalho com a vida

pessoal, a agilização da organização do trabalho no âmbito dos trabalhadores mais qualificados, como um

fator de produtividade para as empresas e de bem-estar para os trabalhadores, os benefícios do teletrabalho a

nível ambiental e a criação de normas não só a nível europeu, mas também mundial.

Após o debate, interveio David Bradbury, do Centre for Tax Policy and Administration, OCDE, que afirmou

a existência de interesse em regulamentar, no sentido da flexibilização, o âmbito do teletrabalho, sendo que as

questões levantadas serão diferentes se tudo se mantiver dentro da mesma jurisdição ou se existir a prestação

de trabalho transfronteiriço, onde se colocam as principais questões fiscais. Como conclusão, apelou a um

debate à larga escala entre os países da OCDE.

Stefan Olsson, Diretor-Geral da EMPL (Comissão Europeia), abordou o tema das condições mínimas a

garantir aos trabalhadores por todos os EM, a segurança e saúde no trabalho e ainda o direito à desconexão,

já densificado ao longo da presente sessão.

Usou da palavra Reinhard Biebel, Diretor-Geral da TAXUD (Comissão Europeia), que admitiu haver um

consenso entre os intervenientes da reunião, tanto na perspetiva da promoção da flexibilidade como das

limitações de âmbito laboral existentes. Afirmou que era relevante determinar se os obstáculos constituíam

uma natureza regional, europeia ou global, residindo a eventual solução numa abordagem harmonizada.

Considerou que era necessária a participação de todos os EM nesta discussão, e aconselhou que todos

estivessem cientes dos desafios subjacentes a novas definições (como o local de trabalho ou a residência

Participou, por parte da delegação da Assembleia da República (AR), o Sr. Deputado Bernardo Blanco

(IL), que afirmou a existência de desigualdades fiscais no sistema português, resultantes de diferentes

regimes fiscais para a atração de pessoas para o trabalho remoto, seja a título permanente ou temporário,

como sucede com os chamados «nómadas digitais». O Sr. Deputado defendeu que em Portugal existe um

sistema fiscal bipolar, no qual aos estrangeiros é aplicável uma taxa única de IRS de 20 %, enquanto

existem praticamente nove escalões progressivos para os cidadãos nacionais, alguns a atingir quase 50 %.

Neste quadro, referiu que estes residentes não habituais, muitos deles trabalhadores remotos, têm salários

muito mais elevados, o que se traduz num poder de compra mais alto, levando a uma subida generalizada

dos preços, em especial no sector do imobiliário. O Sr. Deputado prosseguiu, declarando que é legítimo os

EM utilizarem a sua política fiscal como instrumento de atração de capital humano e financeiro, mas

assegurou não aceitar que dentro do mesmo país existam dois sistemas, devendo os nacionais ter acesso

ao mesmo regime fiscal que os estrangeiros, de maneira a garantir a igualdade perante a lei.

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fiscal). Declarou ainda que o debate deveria continuar, devendo haver articulação entre as entidades fiscais, a

segurança social e as autoridades responsáveis pelo direito laboral, pedindo a partilha de conhecimentos.

Niklas Karlsson, Presidente da Comissão de Tributação do Parlamento sueco, pretendeu concluir, fazendo

alusão às mudanças no mercado laboral, advindas das novas modalidades de trabalho, devendo estes ser

encarados como um desafio para os sistemas fiscais e de previdência social. Garantiu que a discussão iria

continuar, carecendo os problemas transfronteiriços de soluções transfronteiriças.

No final, Dita Charazová, Vice-Presidente do Parlamento Europeu, agradeceu a todos os presentes o

debate ocorrido, salientando que a pandemia tinha mudado o paradigma laboral, sendo os intervenientes

políticos chamados a solucionar os problemas comuns da nova realidade. Relembrou ainda a próxima reunião

interparlamentar, a ocorrer no mês de julho, em Madrid.

Assembleia da República, 29 de março de 2023.

O Chefe da Delegação

[Deputado Bernardo Blanco (IL)]

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

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