Página 1
Quarta-feira, 26 de julho de 2023 II Série-D — Número 65
XV LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2022-2023)
S U M Á R I O
Delegações da Assembleia da República: — Relatório da participação de uma Delegação da Assembleia da República na 12.ª Reunião do Grupo Especializado de Controlo Parlamentar Conjunto (GCPC) sobre a Europol, que se realizou em Estocolmo, nos dias 26 e 27 de março de 2023. — Relatório da participação de uma Delegação da Assembleia da República à União Interparlamentar (UIP) referente à reunião parlamentar por ocasião da 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP27), que se realizou em Sharm eI-Sheikh, no Egito, a 13 novembro de 2022, e a reuniões da COP27. — Relatório da participação de uma Delegação da Assembleia
da República à União Interparlamentar (UIP) referente à Audição Parlamentar Anual nas Nações Unidas, que se realizou em Nova Iorque, nos dias 13 e 14 de fevereiro de 2023. — Relatório referente à participação de uma Delegação da Assembleia da República nas Reuniões Bilaterais do Fórum das Mulheres Parlamentares da Assembleia Parlamentar do Mediterrâneo (APM), que se realizaram em Istambul, nos dias 14 e 15 de maio de 2023. — Relatório da participação de uma Delegação da Assembleia da República na Reunião Interparlamentar com a Comissão dos Assuntos Externos (AFET) do Parlamento Europeu, que se realizou em Bruxelas, em 27 de junho de 2023.
Página 2
II SÉRIE-D — NÚMERO 65
2
Delegação da Assembleia da República
Relatório da participação de uma Delegação da Assembleia da República na 12.ª Reunião do Grupo
Especializado de Controlo Parlamentar Conjunto (GCPC) sobre a Europol, que se realizou em
Estocolmo, nos dias 26 e 27 de março de 2023
Da agenda da reunião, constavam os seguintes pontos:
Notas introdutórias e adoção da agenda
Adam MARTTINEN, copresidente doGrupo Especializado de Controlo Parlamentar Conjunto (GCPC) e
Chefe da Delegação do Parlamento sueco ao GCPC, começou por dar as boas-vindas a todos, enaltecendo o
facto de a reunião poder realizar-se de forma presencial. De seguida, sobre os resultados da reunião da troica
e adoção da agenda, passou a palavra a Juan Fernando López Aguilar, copresidente do Grupo Especializado
de Controlo Parlamentar Conjunto (GCPC) e Chefe da Delegação do Parlamento Europeu ao GCPC.
Juan Fernando LÓPEZ AGUILAR, copresidente do Grupo Especializado de Controlo Parlamentar Conjunto
(GCPC) e Chefe da Delegação do Parlamento Europeu ao GCPC, salientou que tínhamos tido demasiadas
reuniões online e com dificuldades, pelo que era bom poder reunir novamente de forma presencial. Referiu que
não era necessário falar da importância da Europol no combate ao crime organizado na Europa, destacando a
importância do cumprimento da segurança e proteção dos direitos humanos, sem discriminação,
nomeadamente, no uso da inteligência artificial. Concluiu, informando que o relatório de atividades da Europol
tinha sido distribuído a todos e que em junho haveria uma nova reunião da administração da Europol.
De seguida, Adam MARTTINEN, retomou a palavra para informar sobre a reunião da troica presidencial,
nomeadamente que tinha sido aceite a constituição do Fórum Consultivo sobre os Direitos Fundamentais. Para
esse efeito, foi acordado criar um grupo de trabalho para elaborar o regulamento do fórum e respetivo mandato,
destacando que futuros contributos para esta finalidade seriam discutidos no âmbito do grupo de trabalho sendo
o método de decisão por consenso. Acrescentou que o grupo de trabalho deveria apresentar o resultado do seu
trabalho na próxima reunião do GCPC sobre a Europol em setembro de 2023, podendo este prazo ser
prorrogado. Por fim, informou que este grupo de trabalho seria liderado pela troica, podendo participar um
membro por cada delegação parlamentar, devendo ser manifestado à Presidência esse interesse até 14 de abril
de 2023.
Intervenção: Ylva Johansson, Comissária Europeia para os assuntos internos
A Comissária deu as boas-vindas a todos, enaltecendo o trabalho que o GCPC estava a realizar ao
representar os cidadãos no escrutínio das atividades da Europol. destacando a importância da transparência do
trabalho da Europol. Referiu que o crime organizado era um risco para a nossa sociedade, equivalente ao
Delegação:
– Deputada Claúdia Santos (PS) – Membro da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos,
Liberdades e Garantias
– Deputada Patrícia Gilvaz (IL) – Membro da Comissão de Assuntos Europeus
– Deputado Jorge Seguro Sanches (PS) – Membro da Comissão de Assuntos Europeus
– Deputado Bruno Nunes (CH) – Membro da Comissão de Assuntos Europeus
A assessoria foi prestada por Catarina Ribeiro Lopes, Representante da Assembleia da
República junto das instituições da União Europeia, e pelo assessor parlamentar Gonçalo Sousa
Pereira da equipa de apoio à Comissão de Assuntos Europeus.
Página 3
26 DE JULHO DE 2023
3
terrorismo, realçando que a Comissão Europeia (CE) tinha garantido que a Europol tivesse mais força e mais
competências, nomeadamente, para que pudesse processar big data, questão muito relevante. Focou a luta
contra o tráfico da droga e a violência que estava ligada a esta atividade, denunciando que a principal entrada
de cocaína na União Europeia (UE), proveniente da América Latina, era o porto de Antuérpia, acrescentando
que há 2 semanas se tinha deslocado à Colômbia, país onde os cartéis estavam a aumentar a produção de
cocaína. Informou que se estava a tentar cooperar com as autoridades locais para tentar combater este tráfico,
anunciando que esta deslocação tinha sido uma primeira parceria importante pelo facto de não ser possível
realizar este combate isoladamente.
Sobre o abuso de crianças, destacou que o Parlamento Europeu e o Conselho estavam a ultimar as suas
posições, realçando que 1 em 5 crianças eram abusadas, com tendência para piorar. Evidenciou a importância
no combate do abuso sexual em linha, referindo que as empresas da internet tinham aumentado as denúncias
de abuso e rapto de crianças e que a evidência demonstrava que o abusador era alguém de confiança.
Considerando o número estimado de 750 000 abusadores em linha, a Comissária reiterou a importância de
manter as crianças seguras, realçando que, enquanto legisladores, os presentes tinham obrigação de as
proteger com as leis. Neste contexto, referiu que a legislação da UE garantia uma maior proteção à vida privada,
mas se as empresas pretendessem continuar a detetar o abuso nas mensagens, a legislação teria de ser
ajustada e adaptada, pois caso seja vedado este acesso não será possível detetar as mensagens dos
abusadores nem aos 5 milhões de relatórios, pelo facto de, atualmente, a polícia apenas poder atuar quando há
uma denúncia das empresas. Assim, referiu que a sua proposta era a de que as empresas pudessem detetar,
durante um período específico e com tecnologia aprovada pela UE, sempre validada por um tribunal nacional,
garantindo que a sua proposta não permitia que as empresas pudessem ler mensagens dos cidadãos, dando
como exemplo o papel dos cães que farejam a droga, onde o suspeito ficaria marcado, podendo ser investigado
posteriormente. Por fim, referiu que era necessário garantir que as mensagens eram encriptadas, mas que, com
a tecnologia adequada, era possível encontrar os abusadores e manter a privacidade, desejando o maior
sucesso aos parlamentares no escrutínio da Europol, que eram os olhos e ouvidos dos cidadãos, mas também
eram legisladores, pelo que esperava que pudessem participar no debate.
Aberto o debate, os parlamentares questionaram qual o papel da Europol no combate aos crimes elencados
e como podiam atuar no combate ao tráfico de droga, destacaram a necessidade de adotar uma política, a nível
da UE, para combater o crime de tráfico de migrantes, nomeadamente, com maior cooperação com os países
de origem, demonstraram preocupação com o aumento de terrorismo ligado à extrema-direita, realçaram a
relevância do combate às finanças que sustentam o crime, concretamente, a lavagem de dinheiro, questionando
sobre o ponto de situação da constituição da agência europeia contra a lavagem de dinheiro, e, por fim, referiram
a importância de alocar mais recursos no combate ao abuso sexual de crianças em linha.
Em resposta às questões suscitadas pelos Deputados, a Comissária confirmou a importância do combate ao
tráfico humano, realçando que na Europol existiam especialistas nestas áreas, mas era necessário incluir os
países de origem e de trânsito, avançando que a União tinha recebido um milhão de pedidos de asilo. Sobre o
terrorismo, o mais presente era o jihadista, mas o que mais crescia era o de extrema-direita. Sobre o combate
à lavagem de dinheiro, destacou que havia nova legislação sobre essa matéria, acrescentando a apresentação
de propostas relativamente ao confisco de bens. Sobre o acesso às mensagens em linha, esclareceu que a sua
proposta era baseada no Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD), acrescentando que existia,
igualmente, a Lei dos Serviços Digitais da UE, que era sempre cumprida, esclarecendo que a tecnologia a utilizar
não teria acesso ao teor das mensagens mas que acederia apenas aos indicadores, tendo reforçado que tinha
previsto na sua proposta que as empresas tinham as suas ferramentas de inteligência artificial e que estas teriam
de ser reguladas. Concluiu referindo que os parlamentares eram o escrutínio democrático da Europol e que era
necessário dar confiança aos cidadãos no Estado direito e na aplicação da lei.
Atividades da Europol – Outubro de 2022 a março de 2023
Catherine De Bolle, Diretora Executiva da Europol, iniciou a sua intervenção referindo que o foco atual era
na Estratégia 2020 + da Europol, tendo em conta o mandato reforçado da agência. Referiu que, internamente,
estavam a decorrer algumas discussões para adotar novos passos, nomeadamente a presença, em tempo real,
da Europol nas investigações das fronteiras. Realçou que a perícia e as competências teriam de ser melhoradas
Página 4
II SÉRIE-D — NÚMERO 65
4
para acompanhar a evolução e a digitalização dos crimes, com recurso a inteligência artificial, para se conseguir
proceder à análise de dados, informando que a pretensão da agência era direcionar a sua investigação para as
áreas prioritárias da UE. Informou, ainda, que o responsável pelos direitos fundamentais tinha sido nomeado e
estava a exercer as suas novas funções, aditando que pretendiam cooperar com o Fórum Consultivo sobre os
Direitos Fundamentais, a ser constituído.
De seguida, realçou alguns pontos relevantes para a agência, como a categorização dos dados, onde a
Europol já tinha ajustado o seu trabalho de acordo com a alteração do seu mandato, reforçando que a Europol
levava a proteção de dados com muita seriedade, anunciando o grande investimento realizado nessa área.
Neste contexto, referiu que das recomendações de melhoria propostas à Europol pela Autoridade Europeia para
a Proteção de Dados, tinham conseguido cumprir 79 % destas estando apenas 21 % em falta, na parte relativa
ao arquivo de dados, pelo facto de necessitarem de obter tecnologia adequada para esse fim. Sobre as relações
com os países de origem, destacou que o combate ao tráfico de droga era uma prioridade, demonstrando apreço
pela visita da Comissária Ylva Johansson à América latina. Referiu ainda que a agência tinha concluído um
acordo de cooperação com a India e que se encontravam em negociações acordos com Singapura e com o
Peru no combate ao tráfico de armas químicas. Relativamente à Ucrânia, realçou que era o seu maior parceiro
no Leste, denotando que a agência tinha um agente de ligação no país e acreditava que era necessário aumentar
o departamento na Europol dedicado à Ucrânia, manifestando preocupações quanto à situação da Moldávia.
Referiu que, neste âmbito, a agência estava atenta ao tráfico humano pelo facto de a guerra ser um risco
adicional e que a Europol centrava a sua ação nos crimes de guerra, em cooperação com a Eurojust. Por fim,
reforçou que tinham sido adotadas medidas para o combate à corrupção na Europol, urgindo que os
colegisladores pudessem apresentar um enquadramento legal para o combate ao crime organizado, bem como
para o combate aos crimes em linha.
Interveio, de seguida, Jérôme Bonet, Presidente do Conselho de Administração da Europol, que informou
que o seu mandato terminaria na Presidência sueca. Referiu que o Conselho de Administração tinha conduzido
a agência em áreas muito estratégicas, e que o sucesso do apoio da Europol aos Estados-Membros era
essencial para as investigações. Sobre a reflexão das estratégias, destacou algumas delas como o
processamento dos dados pessoais, onde tinham sido já adotadas as recomendações da Autoridade Europeia
para a Proteção de Dados. Destacou que o Conselho de Administração iria convidar o GCPC para a próxima
reunião de junho, mencionando que já tinha sido nomeado o novo Responsável pelos Direitos Fundamentais.
Por fim, referiu que o Conselho de Administração tinha como pretensão estabelecer parcerias mais eficazes
para o futuro.
Na fase do debate, os parlamentares questionaram como tinha funcionado o processo de seleção do
Responsável pelos Direitos Fundamentais e se as cinco prioridades da Estratégia 2020 + já tinham sido
avaliadas; qual o papel da Europol no Catargate; quais tinham sido as ações dos Estados-Membros na
implementação da proteção de dados obtidas no âmbito das investigações e se as regras aplicáveis estavam a
ser cumpridas; como se poderia melhorar a troca de informações entre a agência e os Estados-Membros; como
os Estados-Membros poderiam dar mais competências às suas agências nacionais, nomeadamente no acesso
aos dados e, ainda assim, proteger os seus cidadãos; o que tinha feito a Europol para combater o racismo na
polícia; como se poderia ter leis mais eficazes para combater este crime; o que se previa para a agência com a
revisão do pacto para as migrações e asilo e no combate de crimes ambientais; e, por fim, se subsistia um maior
risco de tráfico de armas na Ucrânia, com o cenário de guerra existente, e como resolver o problema do aumento
do crime organizado em determinados Estados-Membros.
Em resposta, Catherine De Bolle, referiu que tinham sido apresentadas 77 candidaturas para o cargo de
Responsável pelos Direitos Fundamentais, tendo o mesmo sido escolhido pelo Conselho de Administração após
entrevista e exame escrito. Relativamente ao Catargate referiu que a investigação já estava a decorrer no
Estado-Membro em causa e, quando relevante, a agência intervinha, acrescentando que tinham assinado um
Acordo de Cooperação com o Catar com base na lista de prioridades definidas pelo Conselho de Administração
em outubro de 2022. Quanto à proteção de dados, salientou que a Europol não aferia a ilegalidade da recolha
de provas, focando o seu apoio nas investigações nacionais uma vez que a validação dessa recolha era
realizada pela jurisdição nacional. Sobre a troca de informações e proteção dos cidadãos, destacou que a
agência não intercetava qualquer dado, apenas recebia os dados disponibilizados pelos Estados-Membros,
reforçando a existência de validação por magistrados judiciais nestes processos, tendo acrescentado que a
Página 5
26 DE JULHO DE 2023
5
partilha de informação era importante para combater crimes como a violência doméstica, devendo sempre ser
encontrado o melhor equilíbrio entre a concretização do trabalho das agências e a proteção de dados dos
cidadãos. Relativamente ao racismo nas autoridades policiais, referiu que na Europol tinha sido implementado
um plano para combater o racismo, acrescentando que as minorias das comunidades policiais eram integradas,
dando o exemplo das autoridades da Hungria que tinham um programa com a comunidade cigana e as
autoridades policiais. Quanto ao risco de tráfico de armas derivado da guerra da Ucrânia, salientou que a agência
estava em contacto com os Estados-Membros e com as autoridades ucranianas, aditando que tinham já
informações de roubos de armas nesse país, destacando que no fim da guerra haveria muitas armas pelo que
era importante evitar que estas não caíssem nas mãos dos traficantes. Por fim, sobre o crime organizado,
explicou que existiam diferenças entre os Estados-Membros, desconhecendo se a discrepância de número era
por falta de reporte ou por, efetivamente, haver menos crimes desse género, acrescentando que a diferença
visível entre os Estados-Membros eram as infraestruturas, dando o exemplo da cooperação com os portos
marítimos para o combate ao tráfico de droga.
Atividade da Autoridade Europeia para a Proteção de Dados
Wojciech Wiewiórowski da Autoridade Europeia para a Proteção de Dados (AEPD), no âmbito da
apresentação do relatório de atividade da AEPD, destacou o relatório de inspeção de 2021, 2022 e as novas
regulamentações da Europol. Demonstrado interesse dos parlamentares sobre o PERCI (Plateforme
Européenne de Retraits de Contenus Illégaux sur Internet), nas perguntas remetidas, informou que este projeto
era referente à pretensão da Europol de dotar os Estados-Membros das ferramentas necessárias para retirar as
ameaças terroristas em linha. Referiu que era a primeira vez que a AEPD dava luz verde ao uso de dados em
clouds públicas pela Europol, destacando que esta avaliação era de grande complexidade. Relativamente ao
relatório da inspeção de 2022, salientou que a AEPD decidiu alterar as audições à Europol, que anteriormente
resultavam em recomendações não vinculativas, aditando que, nos termos da nova regulamentação, caso
existisse alguma violação normativa, era aberta de imediato uma investigação. Sobre os resultados da inspeção
de 2021, foram abertas duas investigações, sendo uma delas relativa à deficiente proteção de dados que punha
em causa o quadro legal em vigor e a outra referente ao acesso ao sistema de informações internacionais.
Relativamente ao novo regulamento da Europol, destacou que a área de foco da AEPD era o processamento
de dados sem a devida categorização num processo específico e o pedido de acesso aos dados da Europol,
uma vez que a nova regulamentação alterava a forma como os pedidos de acesso eram realizados. Sobre esta
alteração regulamentar, referiu que a AEPD já tinha emitido uma opinião sobre esta entrega de dados,
considerando que não deviam ser excluídos, a priori, os dados referentes a um pedido solicitado. Por fim,
salientou que com uma boa gestão era possível cumprir com os objetivos definidos e alcançar os resultados
pretendidos.
Na troca de pontos de vista, os Deputados questionaram sobre o perigo da inteligência artificial,
nomeadamente o ChatGPT, a possibilidade de prevenção de crimes futuros através da análise de big data, quais
os planos para a implementação do rastreio dos viajantes, solicitaram exemplos da deficiente proteção de dados
operada pela Europol e como era assegurada a proteção de dados com a ferramenta PERCI.
Neste painel, interveioo Deputado Jorge Seguro Sanches (PS), referindo que, na última reunião do
GCPC sobre a Europol, a Delegação Portuguesa, através da Deputada Cláudia Santos (PS), tinha colocado
uma questão sobre o acesso aos metadados, aditando que os problemas à data elencados se mantinham.
Salientou que era do conhecimento de todos que a diretiva de 2006 era bastante aberta no que ao acesso
aos metadados dizia respeito e que a jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia tinha
restringido esse acesso, concluindo que era pertinente encontrar um equilíbrio nesta matéria. Suscitou o
facto de, pelo menos 25 países e mais de três dezenas de dirigentes da polícia da União Europeia, do Espaço
Schengen e do Reino Unido, participarem na conferência internacional de alto nível Metadata Law
Enforcement Conference, que terá lugar nos próximos dias em Lisboa, com o objetivo de aprovar uma
declaração conjunta que contribua para uma «solução equilibrada» para os direitos fundamentais e, ao
mesmo tempo, possa dar à polícia os instrumentos essenciais no combate a uma criminalidade cada vez
mais complexa.
Página 6
II SÉRIE-D — NÚMERO 65
6
Em resposta às perguntas apresentadas, Wojciech Wiewiórowski esclareceu que o programa que recorria
à inteligência artificial utilizada na Europol tinha sido suspenso por subsistirem lacunas, considerando como
positivo o facto de a AEPD ter sido consultada nesta questão. Relativamente às predições de crimes, referiu que
a base do sistema penal era sempre a presunção de inocência do indivíduo, acrescentando que a decisão de
que no futuro alguém seria criminoso, podia ser feita numa base social, mas nunca numa base legal, dando,
contudo, como exemplo a existência de sistemas como a Compass, sistema americano, que auxiliava os
magistrados a compreender mais facilmente quem já tinha sido preso ou cometido crimes. Referiu que existia
uma base legal forte para atuação da Europol, salientando que o regulamento da agência tinha sido revisto em
2017 e 2022. Sobre os metadados, referiu que, desde 2011, os dados eram retidos, mas a questão pertinente
era o acesso a esses mesmos dados, referindo a pertinência na harmonização deste tipo de regulamentação,
recordando a decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia que tentou harmonizar a forma de uso da
retenção de dados. Sobre a Conferência em Lisboa, felicitava a oportunidade para se aferir os prós e contras
sobre a retenção dos dados bem como sobre o sistema atual de acesso aos dados. Relativamente aos dados
que os Estados-Membros remetiam para a Europol, salientou que o abuso sexual de crianças era o maior desafio
que tinha na AEPD, compreendendo a pressão do tema. Por fim, referiu que o apoio da Comissão Europeia
nesta matéria era meritório, manifestando, contudo, preocupações relativamente à possibilidade de acesso a
mensagens encriptadas e na obrigatoriedade do controlo das mensagens online pretendida implementar pela
CE.
Prioridades da Presidência sueca na área da segurança interna
Gunnar Strömmer, Ministro da Justiça da Suécia, referiu que a atualidade trazia momentos desafiantes para
os Estados-Membros, sendo uma das prioridades da Presidência sueca a segurança e o apoio à Ucrânia. Neste
contexto, referiu que era necessário estar-se preparado para qualquer alteração que afetasse a segurança
interna, salientando que pretendiam reforçar a ligação e partilha de informações, uma vez que se mantinha a
ameaça das organizações de crime organizado, que operavam de forma transnacional, pondo em causa o modo
de vida europeu. Destacou que para se desenvolver uma eficiente aplicação da lei e um maior respeito pelos
direitos fundamentais era necessário estabelecer prioridades, enunciando o combate à lavagem de dinheiro
como crucial para combater o crime organizado, recordando a pertinência da diretiva sobre confisco de ativos
que se previa adotar em junho. Na área digital, referiu que era preciso garantir que as autoridades policiais
estavam equipadas para combater os crimes perpetuados em linha e fora da linha, aditando que questão de
acesso aos dados era um desafio, mas acreditava que se devia ter um maior diálogo sobre isto, referindo mesmo
que a Presidência sueca pretendia ter uma reunião de alto nível com os peritos para debater estas questões.
Sobre a segurança interna e controlo de passageiros, destacou que estava em negociação uma diretiva sobre
este tema e que a Presidência sueca ambicionava ter o documento aprovado em junho. Relativamente à
segurança, para além das duas prioridades anteriormente referidas, sublinhou o radicalismo e extremismo,
denotando que o extremismo islâmico era o maior risco, mas já surgiam também evidências de risco da extrema-
direita. Quanto ao combate do abuso sexual de crianças, referiu que estavam em negociação propostas
controversas, mas considerou ser possível alcançar o máximo de consenso antes de passar o dossier para a
Presidência espanhola do Conselho da UE.
Debate temático I: Apoio operacional da Europol aos Estados-Membros – Com especial foco no
conceito de High Value Targets/Operational Task Force
Linda Staaf, Comissária da Polícia, e Johan Sone, Superintendente da polícia sueca, saudaram todos os
presentes referindo que, para a polícia sueca, a Europol era um hub informativo, destacando que a troca de
dados ajudava no combate ao crime organizado, uma vez que, através do cruzamento de dados, facilitava o
apuramento de suspeitos. Recordaram que havia 51 gabinetes de ligação com os Estados-Membros, com
Estados associados, bem como organizações internacionais, sendo muito útil a ligação e partilha de informações
entre os técnicos e staff especializado. Destacaram que a rede de contatos era muito importante para
compreender a aplicação da lei em cada país, reiterando a utilidade em garantir os gabinetes de ligação com a
Página 7
26 DE JULHO DE 2023
7
Europol pela sua agilidade. Relativamente aos processos com high value targets, referiram que a Europol
apoiava estas operações, realçando que ferramentas como EncroChat, ANOM e SkyECC (plataforma
encriptada) eram muito importantes para as investigações, acrescentando que a troca de informação tinha
contribuído para o confisco de drogas, armas e dinheiro, tendo o acesso aos dados encriptados prevenido mortes
e salvo vidas, colocando mesmo vários criminosos na cadeia. Salientaram que, devido ao acesso a estas
informações, era necessário ajustar atuação das forças policiais, o que por vezes não era fácil, pelo que era
pertinente disseminar todas as descobertas realizadas durante as investigações por toda a rede interna, bem
como com a Europol, de modo a escalar a avaliação destas informações. Salientaram que o acesso direto pelos
Estados-Membros à informação recolhida através das operações conjuntas, evitava deslocações
desnecessárias ao centro da Europol em Haia, realçando que havia limites em que a Europol esbarrava, na
troca de informações. Para concluir, referiram que na Suécia havia crimes graves com recurso a bombas e
mortes, perpetrados por menores, explicando que não tinham nenhuma razão em concreto para esse fenómeno,
mas parecia estar ligado à guerra no mercado da droga, acrescentando que estes crimes tinham ligação
internacional, daí a necessidade de participação da Europol.
Neste painel, interveio, também, Jean-Philippe Lecouffe, Diretor-Executivo Adjunto da Europol, que
destacou o aumento da violência no crime organizado, tal como aludido pelos colegas suecos, com bombas,
assassínios e tortura. Salientou que a estrutura criminal na UE era fluida e flexível, sendo que os criminosos
operavam livremente com prestadores de serviços especializados ao nível internacional. Nesse contexto, referiu
ser preciso um esforço de melhoria na cooperação internacional da aplicação da lei no âmbito da UE, aditando
que a resposta da agência foi a de desenvolver este conceito de high value target em 2018, pois com esta
identificação era possível priorizar os suspeitos e suas organizações. Com a internacionalização dos crimes,
destacou que as operational task forces precisavam de mais cooperação na investigação dos high value targets,
com base na confiança entre os países. Clarificou que as operational task forces focavam-se nos criminosos e
envolviam a análise em volumes significativos de dados pelo que este tipo de operações eram compromissos
de longo termo e com custos elevados. Referiu que este conceito operacional era um sucesso, aumentava o
impacto no crime organizado, tendo os Estados-Membros reagido bem ao conceito. Neste âmbito, adiantou que
652 operational task forces tinham sido criadas desde 2018, contando com a participação de 25 Estados-
Membros, 10 países terceiros, como ainda contava com a participação da Eurojust. Como resultado destas
operações, destacou que várias centenas de pessoas já tinham sido detidas bem como confiscados vários
ativos, evidenciando que sem a cooperação e confiança no âmbito das operational task forces estes resultados
não seriam conseguidos. Por fim, destacou que as operational task forces eram muito importantes, mas havia
outras ferramentas usadas pela Europol que funcionavam, identificando como desafios para o futuro deste tipo
de operações, a necessidade de garantir a eficácia dos peritos, aumentar o uso de ferramentas técnicas,
aumentar a partilha em tempo real da informação e facilitar a cooperação operacional entre Europol e países
terceiros.
Na fase de debate, os parlamentares questionaram como se concretizava a cooperação na aplicação das
sanções à Rússia, se era no âmbito da EMPACT, o que seria feito, de futuro, na seleção de alvos em contexto
de crimes transnacionais, a alocação de recursos nas operational task forces permitia que houvesse recursos
para as outras operações em curso, quais os apoios que as autoridades locais e nacionais deviam receber da
Europol para combater o aumento do crime organizado e como se lidava com os portos de destino do tráfico de
droga, nomeadamente, como se detinham os funcionários corruptos que permitiam tais crimes.
Em resposta, Linda Staaf e Johan Sone referiram que, assim que a UE adotou sanções contra a Rússia, foi
constituída a operação OSCAR, liderada pelo Centro Europeu da Criminalidade Financeira e Económica da
Europol, onde eram identificados os ativos com equipas preparadas para essa investigação. Relativamente ao
processo de seleção dos high value targets, o mesmo era realizado de forma contínua, com o apoio dos Estados-
Membros, acrescentando que este processo era complementar com o processo da EMPACT, portanto, consistia
num trabalho contínuo, com troca permanente de informação. Sobre a alocação dos recursos, referiram que se
tentava ter recursos para tudo, mas priorizavam essa alocação, acrescentando que não focavam apenas nos
high value targets, mas era necessário dar mais enfâse a estas investigações pois existia muita informação de
onde se poderia identificar novos alvos. Quanto ao aumento do crime organizado, salientou que a globalização
poderia ser uma questão por facilitar o crime, aditando que era pertinente desenvolver a prevenção destes
crimes e que, no passado, tinha-se focado muito no terrorismo, tendo-se negligenciado o crime organizado. Por
Página 8
II SÉRIE-D — NÚMERO 65
8
fim, sobre o tráfico de droga nos portos, destacaram que existia uma iniciativa conjunta com vários portos, onde
se debatia o modo de funcionamento deste crime e quais as medidas preventivas que poderiam ser adotadas
para combater estes crimes.
Debate temático II: Combate ao tráfico de seres humanos
Diane SCHMITT, Coordenadora EU Anti-Trafficking, começou por dar alguns números referentes ao tráfico
de seres humanos, realçando que o tráfico acontecia não só para países terceiros, mas também dentro dos
próprios países. Destacou que havia uma maior tendência de ocorrência do crime de tráfico humano em países
como Nigéria, China e Marrocos, sendo as raparigas e mulheres os alvos maioritários do tráfico. Referiu que a
exploração sexual tinha sido o maior propósito na perpetuação do tráfico humano, salientando que subsistia um
problema na dedução de acusações e na aplicação de sentenças julgadas pelos tribunais. Evidenciou que a
Ucrânia tinha integrado o grupo de países origem do tráfico, sendo que as agências da UE e as organizações
não governamentais tinham preparado planos para os refugiados da guerra da Ucrânia, de modo a prevenir a
concretização destes crimes. Referiu que a cooperação era muito importante no combate ao tráfico,
nomeadamente na parte digital, acrescentando que o seu papel era coordenar a ação de todas as agências de
modo a evitar duplicação e incoerências no combate deste crime. Realçou que estava em vigor uma diretiva de
combate ao tráfico de seres humanos, para a qual tinham sido apresentadas propostas de alteração, salientando
que era um bom instrumento, mas era preciso acompanhar a evolução dos crimes, devendo ser incluídos como
crimes os casamentos forçados e a parte digital, daí a necessidade de tornar obrigatória a troca de informações
entre todos os intervenientes. Concluiu referindo que estava em permanente contacto com a Europol e que este
crime gerava muito dinheiro, pelo que era importante seguir o seu rasto sendo a chave para o sucesso no
combate deste crime o confisco de ativos.
Jean-Philippe LECOUFFE, Diretor-Executivo Adjunto da Europol, referiu que o tráfico de seres humanos
tinha várias dimensões, destacando que este tipo de crime era muito lucrativo pois não carecia de investimento
inicial, como era necessário no tráfico de droga, sendo os alvos mais comuns os jovens e os menores. Destacou
que havia um grande número de vítimas deste crime na UE, mas a maioria das vítimas era da América do Sul.
Relativamente à exploração sexual, permanecia como a maior finalidade do crime de tráfico de seres humanos,
salientando que o ambiente em linha era a chave para perpetuação destes crimes. Referiu que o uso de violência
era raro, mas era usada a manipulação e coação moral, adiantando que a resposta da Europol a estes crimes,
tinha sido a criação de projeto Analysis Project Phoenix, em 2007, para apoiar os Estados-Membros no combate
a este crime. Por fim, referiu que se tinha constatado um aumento do uso da internet na prática deste crime,
realçando que não havia ainda recursos adequados para o seu combate neste nível.
Petra BAKKER, Comissária da Polícia UE para os Países Baixos, Coordenadora Nacional EMPACT, referiu
que a EMPACT ligava agências e Estados-Membros e outras entidades. Destacou que tinham sido definidas as
prioridades pelos Estados-Membros, existindo 10 áreas de cooperação no combate ao crime, incluindo-se
nestes o tráfico de seres humanos e a exploração sexual de crianças. De seguida, focou a plataforma EMPACT,
dedicada ao tráfico de seres humanos, salientando que tinham vários cocoordenadores, bem como que tinham
estabelecido várias parcerias com diversos países terceiros, agências europeias e missões civis. Referiu a
importância de existirem de objetivos comuns estratégicos da EMPACT, destacando como prioritária a recolha
de informações criminais, a coordenação nas operações com alvos definidos ligados à prestação de serviços e
bens ilícitos em linha e fora da linha, a lavagem de dinheiro e recuperação de ativos, a fraude documental, o
aumento da dimensão externa da ação através da cooperação com países fora da União e, por fim, a
aproximação administrativa. Concluiu que na EMPACT avaliavam as tendências e os novos modus operandi
dos crimes, sendo estas informações partilhadas por todos os participantes e atualizadas de 6 em 6 meses.
No debate que se seguiu, focou-se a necessidade de melhorar a cooperação na repatriação, havendo um
grande foco em adotar leis que aumentassem o auxílio no combate deste crime, a constatação de um baixo
número de condenações pela prática dos crimes de tráfico de seres humanos, a problemática de não se
comunicar nas línguas das vítimas, suscitando a importância de ensinar os operacionais a detetar os sinais
destes crimes e a existência de tráfico de órgãos.
Página 9
26 DE JULHO DE 2023
9
Em resposta às questões colocadas, Diane SCHMITT, Jean-Philippe LECOUFFE e Petra BAKKER
referiram a importância da prevenção no combate deste crime nos países de origem para que as vítimas
reconhecessem quais os riscos, dando enfoque aos grupos de crime organizados e na prevenção junto dos
jovens. Sobre as vítimas do tráfico, destacaram ser um desafio perceber quem eram as vítimas, que por vezes,
o eram por pressão das próprias famílias, salientando que o mais importante era treinar as pessoas que estariam
em contacto com estas vítimas para estarem atentos aos sinais, tendo a internet um importante papel na sua
identificação e alerta. Sobre o baixo número de condenações, referiram que a condenação dos criminosos era
difícil pois tinham a informação, mas por vezes não tinham provas uma vez que era necessário, em determinados
casos, o testemunho das vítimas. Relativamente à dificuldade de comunicação com as vítimas, salientaram que
era, de facto, difícil esse contato reconhecendo a necessidade de se obter melhores ferramentas. Por fim, sobre
o tráfico de órgãos, referiram que não se detetava muita ocorrência deste tipo de crime.
Sessão de encerramento
Adam MARTTINEN, agradeceu a todos a presença e o debate muito produtivo, esperando encontrar, de
novo, todos os presentes na reunião em Bruxelas a decorrer em setembro sob a Presidência espanhola do
Conselho da UE.
Caterina CHINNICI (PE), em substituição de Juan Fernando LÓPEZ AGUILAR, agradeceu, também, a
presença de todos, referindo, em conclusão, que o trabalho da Europol era muito pertinente e que se devia
continuar a trabalhar na implementação da nova regulamentação da Europol.
Assembleia da República, 21 de junho de 2023.
A Delegação: Cláudia Santos — Patrícia Gilvaz — Jorge Seguro Sanches — Bruno Nunes.
———
Delegação da Assembleia da República
Relatório da participação de uma Delegação da Assembleia da República à União Interparlamentar
(UIP) referente à reunião parlamentar por ocasião da 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre
Alterações Climáticas (COP27), que se realizou em Sharm eI-Sheikh, no Egito, a 13 novembro de 2022,
e a reuniões da COP27
O Presidente da Delegação da Assembleia da República à União Interparlamentar (UIP), Deputado Joaquim
Barreto, participou na reunião parlamentar da UIP por ocasião da 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre as
A Deputada Cláudia Santos (PS) referiu que o Governo português tinha definido como prioritário o
combate ao crime de tráfico de seres humanos, evidenciando que o maior problema centrava-se na
dificuldade de detetar quais as vítimas destes crimes, uma vez que estas, estando muito vulneráveis e
aterrorizadas, raramente pediam ajuda. Destacou que havia muitas condenações por crimes de tráfico de
droga, mas não por tráfico de seres humanos, sugerindo que, estranhamente, parecia mais fácil esconder as
vítimas do tráfico de seres humanos do que a droga. Salientou que as vítimas de tráfico podiam falar e pedir
ajuda, mas raramente o faziam, pois, elas próprias, não se identificavam como vítimas desse crime por
recearem ser elas próprias tratadas como agentes de crimes associados à entrada ilegal em país estrangeiro.
Concluiu questionando sobre o que poderia ser feito para que as vítimas confiassem na ajuda do Estado,
reconhecessem a sua situação de fragilidade e perigo e que avançassem com pedidos de ajuda.
Página 10
II SÉRIE-D — NÚMERO 65
10
Alterações Climáticas, COP27. Também o Vice-Presidente da Delegação, Deputado Duarte Pacheco, participou,
na sua qualidade de Presidente da UIP.
Esta reunião parlamentar foi organizada pela UIP e pela Câmara dos Representantes do Egito no dia 13 de
novembro de 2022.
Os Deputados foram recebidos pelo Presidente da Câmara dos Representantes do Egito, Hanafy Gebaly e
pelo Presidente da UIP, Deputado Duarte Pacheco. Tiveram também oportunidade de ouvir o Presidente do
Conselho Nacional Federal, Emirados Árabes Unidos, Saqr Ghobash e a Diretora e Consultora Jurídica
Principal, Divisão de Assuntos Jurídicos, Secretariado das Nações Unidas para as Alterações Climáticas
(UNFCCC), Christine Adam.
A primeira sessão subordinada ao tema «Vozes da linha da frente» centrou-se na urgência de abordar a crise
climática. Foram apresentadas as últimas descobertas científicas que destacam os fatores e impactos das
alterações climáticas. Estas descobertas apontam também o que é necessário fazer para limitar o aquecimento
global a 1,5 ºCelsius. Os Deputados de países altamente vulneráveis (como o Paquistão) partilharam as suas
experiências nacionais e descreveram o que é viver na linha da frente da mudança climática.
A sessão teve como moderador o Deputado Saber Chowdhury, do Bangladesh e Presidente honorário da
UIP. Os oradores foram Sherry Rehman, Ministra Federal das Alterações Climáticas e membro do Senado do
Paquistão, Bertrand Piccard, explorador e Presidente da Fundação Solar Impulse e foi ainda ouvida uma
mensagem de vídeo do Diretor do Instituto de Investigação do Impacto Climático de Potsdam, Johan Rockstr.
A segunda sessão teve por tema a«Ação climática e desenvolvimento sustentável: como podem os
Parlamentos abordar as interligações para um mundo mais resiliente».
Nesta sessão foi dado destaque às interligações críticas entre a ação climática e o desenvolvimento
sustentável. Os Deputados ouviram como os Parlamentos podem apoiar um desenvolvimento sustentável e
resistente ao clima, bem como a ação climática que contribui para o desenvolvimento sustentável.
Foram abordados os desafios particulares do desenvolvimento da segurança alimentar, deslocações,
conflitos e Estados frágeis, e energia, e a sua relação com as alterações climáticas.
Os Deputados tiveram oportunidade de ouvir sobre formas concretas de os Parlamentos poderem utilizar os
seus poderes para abordar questões de clima e desenvolvimento simultâneos.
Os oradores da sessão foram Saqr Ghobash, Presidente do Conselho Nacional Federal, Emirados Árabes
Unidos, Gernot Laganda, Diretor do Clima, Programa Alimentar Mundial (PAM), e Andrew Harper, Conselheiro
Especial para a Ação Climática, Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
(ACNUR).
O Diretor de Comunicação da UIP, Thomas Fitzsmons, apresentou a campanha da UIP para mobilizar os
Parlamentos a tomarem medidas sobre a emergência climática – Parlamentos para o planeta.
A sessão seguinte teve por tema «Dar prioridade à responsabilização pela justiça climática» e centrou-se na
questão da responsabilização como um dos principais motores da injustiça climática.
Houve um debate sobre o fracasso dos países desenvolvidos e de alto rendimento em cumprirem as suas
promessas de proporcionar um amplo financiamento climático e transferência de tecnologia para os países em
desenvolvimento e mais vulneráveis.
Foram também exploradas formas para os Parlamentos poderem promover a responsabilização e assegurar
que os países desenvolvidos desempenham o seu papel na luta contra as alterações climáticas, reduzindo as
emissões, e aumentando o financiamento, particularmente para a adaptação.
A sessão teve por oradores Gernot Laganda, Diretor do Clima, Programa Alimentar Mundial (PAM), Andrew
Harper, Conselheiro Especial para a Ação Climática, Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
(ACNUR), Sahar Albazar, Presidente do Fórum de Jovens Parlamentares da UIP, por mensagem de vídeo.
Após um debate com perguntas e respostas dos oradores seguiu-se a última sessão com o tema «Aumentar
a ambição e acelerar a transição da energia limpa: o papel do Parlamento na alimentação sustentável do nosso
futuro».
Nesta sessão foi destacada a necessidade urgente de aumentar as ambições sobre as metas de redução de
emissões.
Os Deputados ouviram os especialistas sobre a importância crítica de acelerar a transição de energia limpa
para alcançar os objetivos do Acordo de Paris e promover o desenvolvimento sustentável.
Página 11
26 DE JULHO DE 2023
11
Foram apresentados pontos de partida para facilitar a transição energética e assegurar que seja feita de uma
forma justa e inclusiva.
Os Deputados foram também informados sobre práticas inovadoras de energia renovável que estão a ter
lugar em todo o mundo.
A sessão teve por oradores Saleemul Huq, Diretor, Centro Internacional para as Alterações Climáticas e o
Desenvolvimento (ICCCD), Anna McMorrin, Deputada do Parlamento do Reino Unido, Amira Saber, Deputada
da Câmara dos Representantes do Egipto.
Seguiu-se a aprovação do documento final1 e encerramento da reunião. A sessão foi conduzida pelo relator,
Karim Darwish, nomeado pela Câmara dos Representantes egípcia.
O Deputado Joaquim Barreto reuniu com o Deputado Duarte Pacheco, na sua qualidade de Presidente da
UIP, e teve oportunidade de abordar a importância da reunião da UIP antes da COP27 e da informação relevante
e útil transmitida. Foi também possível cumprimentar a delegação do Brasil que esteve presente na reunião da
UIP.
Já no âmbito da COP27, o Deputado Joaquim Barreto teve um encontro com o Presidente da Comissão de
Ambiente, Deputado Tiago Brandão Rodrigues, e membros da Comissão. Os Deputados tiveram oportunidade
de falar sobre os debates promovidos na reunião da UIP e as reuniões seguintes previstas no programa da
COP27.
O Deputado Joaquim Barreto assistiu a reuniões da COP27 dando destaque ao 5.º Diálogo ministerial de alto
nível sobre finanças climáticas e ao debate de especialistas que alertaram para o contínuo aumento de
investimentos em projetos de petróleo, gás e carvão reiterando a necessidade de uma transição para fontes
renováveis e redução de emissões para manter a temperatura global dentro das metas previstas no Acordo de
Paris.
Após o término dos seus trabalhos, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas
resumiu as conclusões em cinco pontos:
1 – A criação de um fundo específico para perdas e danos – foi feito um acordo inovador que prevê o
financiamento de perdas e danos para os países vulneráveis duramente afetados por secas, inundações e outras
catástrofes climáticas. Pela primeira vez os países reconheceram a necessidade de financiamento para
responder às perdas e danos associados aos efeitos devastadores das alterações climáticas. Foi assim
acordada a criação de um fundo e as disposições de financiamento necessárias.
2 – Manter 1,5 ºC ao alcance – foi estabelecido um programa de trabalho com vista à atenuação das
alterações climáticas e o aumento urgente da aplicação das medidas de atenuação. O programa irá prolongar-
se até 2026. Foi também reiterado junto dos governos a necessidade de reforço da ação para alcançar os
objetivos para 2030 nos planos nacionais para o clima até ao final de 2023. Foi igualmente reforçada a
necessidade de aceleração dos esforços para a eliminação progressiva da produção ininterrupta de energia a
carvão e eliminação progressiva dos subsídios aos combustíveis fósseis.
3 – Responsabilização das empresas e instituições – foi reiterada a prioridade na responsabilização no que
diz respeito aos compromissos assumidos pelos setores, empresas e instituições. A transparência dos
compromissos assumidos pelas empresas e instituições será uma prioridade das alterações climáticas da ONU
em 2023. O Secretário-Geral da ONU solicitou à COP27 um plano, no início de 2024, sobre a forma de garantir
a transparência e a responsabilização dos atores não estatais.
4 – Mobilizar mais apoio financeiro para os países em desenvolvimento – a mitigação, adaptação, perdas e
danos, tecnologia climática, requerem fundos suficientes para funcionar corretamente e produzir os resultados
desejados.
A COP27 criou uma via para alinhar os fluxos financeiros mais alargados com as baixas emissões e o
desenvolvimento resiliente às alterações climáticas. No plano de implementação de Sharm el-Sheikh é
salientada a exigência de investimento de pelo menos 4-6 mil milhões de dólares por ano para uma
transformação global para uma economia de baixo carbono. A disponibilização desse financiamento irá exigir
uma transformação rápida e abrangente do sistema financeiro e das suas estruturas e processos, envolvendo
Governos, bancos centrais, bancos comerciais, investidores institucionais e outros atores financeiros.
1 Documento final (en).
Página 12
II SÉRIE-D — NÚMERO 65
12
Um dos principais resultados das várias decisões sobre o financiamento da luta contra as alterações
climáticas é um apelo às Partes que são países desenvolvidos para que disponibilizem recursos para a segunda
reconstituição do Fundo Verde para o Clima.
5 – Fazer a viragem para a implementação – o pacote de decisões adotado na COP27 tem um forte enfoque
na implementação, visa reforçar a ação dos países para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e
adaptar-se aos impactos inevitáveis das alterações climáticas, bem como aumentar o apoio financeiro,
tecnológico e de desenvolvimento de capacidades necessário aos países em desenvolvimento.
No seu discurso de encerramento da COP27, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres,
concluiu que «a COP27 termina com muitos trabalhos de casa e pouco tempo».
O Primeiro-Ministro de Portugal, António Costa, discursou na COP27, a 8 de novembro, tendo dito que
«Portugal, que há mais de 15 anos iniciou a aposta nas energias renováveis, é um exemplo de como investir
cedo nesta transição nos garante que somos menos dependentes e mais seguros do ponto de vista energético».
Discurso completo
Assembleia da República, 19 de julho de 2023.
A assessora parlamentar, Suzana Santos Monteiro.
———
Delegação da Assembleia da República
Relatório da participação de uma Delegação da Assembleia da República à União Interparlamentar
(UIP) referente a Audição Parlamentar Anual nas Nações Unidas, que se realizou em Nova Iorque, nos
dias 13 e 14 de fevereiro de 2023
A Delegação da Assembleia da República à União Interparlamentar (UIP) participou na Audição Parlamentar
Anual na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, que se realizou nos dias 13 e 14 de fevereiro de 2023. A
Delegação foi representada pelo Presidente, Deputado Joaquim Barreto (PS) e pelo Deputado Miguel Santos
(PSD), membro da delegação.
O Deputado Duarte Pacheco (PSD), Vice-Presidente da Delegação, participou nesta reunião na qualidade
de Presidente da UIP.
A Audição Parlamentar Anual na sede das Nações Unidas foi coorganizada pela UIP e pelo Presidente da
Assembleia Geral e teve por tema «Água para as pessoas e para o planeta: parar o desperdício, alterar o jogo,
investir no futuro». Participaram cerca de 150 parlamentares de 46 países.
Os trabalhos das reuniões foram organizados em painéis de debate com a participação de especialistas em
questões de água e saneamento, em preparação para a Conferência das Nações Unidas da Água 2023, que se
realizou entre os dias 22 e 24 de março, e uma sessão de informação especial sobre o futuro do multilateralismo
e o papel que os parlamentares poderão desempenhar.
Os participantes foram convidados a responder a algumas questões para identificação de posições-base e
tendências através de uma aplicação online. Os resultados foram comentados pela moderadora Betsy Otto, da
Alliance for Global Water Adaptation.
Seguiu-se um debate sobre o Objetivo de Desenvolvimento 6 – ODS 6 – Água potável e saneamento, tendo
sido pedido aos participantes que abordassem a questão de forma a responder a quais os principais desafios
para alcançar o ODS 6 e como é que os compromissos assumidos podem ser traduzidos em ações; quais as
expetativas em relação à Conferência da ONU sobre a Água e ainda como o desafio da água é diferente em
todo o mundo.
Os Deputados foram chamados a debater o acesso à água potável e ao saneamento como um direito
humano, tendo por base a resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas de 2010, que reconhece o direito
Página 13
26 DE JULHO DE 2023
13
à segurança e água potável limpa e saneamento como um direito humano essencial para o pleno gozo da vida
e o cumprimento de todos os direitos humanos.
Os resultados do debate demonstraram que os Deputados identificaram os obstáculos para se alcançar o
ODS 6.
Entre outros obstáculos foram referidos a vontade política, sendo este um dos maiores desafios dado que a
água não é vista como prioridade e raramente consta da agenda política. Também a fragmentação do tratamento
do tema por diversos serviços e entidades gera uma ineficaz gestão da água. A falta de um enquadramento
legal, o financiamento insuficiente, um incorreto tratamento dos dados e da sua partilha, as alterações climáticas
com o aumento da poluição e eventos meteorológicos extremos, a falta de consciencialização do público foram
alguns dos desafios a que os Deputados tentaram dar resposta com a partilha de exemplos.
Para além de sugerirem uma participação de alto nível na Conferência sobre a Água, os participantes
propuseram a nomeação de um relator especial das Nações Unidas, ou um representante especial para a água,
e um enquadramento global sobre a sustentabilidade da água e esforços para a sua conservação.
Os participantes debateram também sobre o acesso à água e saneamento como um direito humano.
Referiram a responsabilidade legal dos Governos em respeitar, proteger e cumprir com o direito à água e
saneamento das pessoas.
Foram sugeridas recomendações aos parlamentares no sentido de ajudar as pessoas a concretizarem o seu
direito à água e ao saneamento com a aprovação de legislação que incorpore as obrigações em matéria de
direitos humanos nas leis nacionais.
Alguns dos exemplos de recomendações dadas foram a aprovação de orçamentos destinados a esses
recursos; a responsabilização dos Governos; cooperação bilateral e multilateral; envolver minorias vulneráveis
como os mais desfavorecidos e marginalizados, raparigas e mulheres, comunidades indígenas e comunidades
rurais e mais remotas.
Os participantes tiveram ainda oportunidade de discutir formas de ganhar resiliência face às alterações
climatéricas e à escassez de água, assim como a conservação da água.
O tema do financiamento da água e dos serviços de saneamento foi também debatido, tendo o Presidente
da Delegação da AR à UIP, Deputado Joaquim Barreto, feito a sua intervenção no painel «Financiamento de
infraestruturas para serviços de saneamento e água: o desafio de um bilião de dólares»:
«Caros Colegas, estamos a debater nesta reunião a água para as pessoas e para o planeta: acabar com o
desperdício, mudar o jogo, investir no futuro.
Hoje estamos a abordar o subtema do financiamento de infraestrutura de saneamento e serviços de água: o
desafio de triliões de dólares.
Pretende-se com esta sessão, segundo os conteúdos da ordem de trabalhos, dar uma visão geral dos
progressos no âmbito dos objetivos do desenvolvimento sustentável, destacando os obstáculos que impedem a
plena implementação até 2030. Uma das dificuldades é obter o financiamento das infraestruturas de saneamento
e serviços de água.
A água e o saneamento são essenciais à vida e ao desenvolvimento humano, bem como à atividade
económica.
Assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos é a chave para a
implementação do quadro dos ODS.
Considero que, como referido nas notas da reunião, a atual taxa de progresso precisa de um impulso para
se alcançar o acesso universal à água, ao saneamento e à higiene, e o bem-estar de todas as pessoas.
Para concretizarmos estes objetivos é necessária uma aposta financeira nas infraestruturas ligadas à água
e ao saneamento, quer por parte dos Governos, através do investimento público, quer por parte dos parceiros
privados.
Sabemos bem das dificuldades em obter financiamentos para esses setores e de colocá-los com prioridade
na agenda política e nos modelos de governação, desde o poder local ao poder regional até ao poder central
dos diferentes Estados.
Igualmente difícil é envolver as comunidades de modo a direcionar as receitas dos grupos privados para
estas áreas ligadas ao ambiente e à qualidade de vida dos cidadãos.
Página 14
II SÉRIE-D — NÚMERO 65
14
O uso eficiente da água é, pois, determinante.
É um dever de todos nós informar, sensibilizar e consciencializar os poderes públicos e do setor privado para
o estabelecimento de uma relação profícua para se alcançar objetivos que nos levem a conseguir os
financiamentos necessários para a execução das infraestruturas que conduzam ao desenvolvimento,
económico, social e ambiental, que promovam a qualidade vida de todos os povos.
Assim pergunto se esta sugestão, de uma campanha informativa e de sensibilização da sociedade, poderá
fazer parte das conclusões desta nossa reunião.
Obrigado.»
O ex-Presidente Danilo Türk, membro do Conselho Consultivo de Alto Nível sobre o Multilateralismo Eficaz
(HLAB), criado pelo Secretário-Geral das Nações Unidas em abril de 2022 no âmbito da Nossa Agenda Comum,
fez uma apresentação sobre os esforços para revitalizar o futuro do multilateralismo: desafios e oportunidades
para as Nações Unidas.
O ex-Presidente referiu o relatório a apresentar em abril de 2023 e que se deverá centrar em seis áreas para
transformar a governação mundial: a) segurança coletiva, incluindo a reforma do Conselho de Segurança das
Nações Unidas para tornar o órgão mais representativo e inclusivo, e construção da paz, de modo a centrar-se
não só na prevenção de conflitos, mas também em tornar as sociedades mais resilientes; b) financiamento
abundante e sustentável que proporcione a todos, nomeadamente através de reformas das infraestruturas
financeiras internacionais e de um maior envolvimento do setor privado; c) governação climática, com ênfase na
transição ecológica e no reforço das dimensões ambientais na tomada de decisões; d) transição digital, para
que todos possam usufruir dos benefícios da era digital e para que os dados sejam seguros e protegidos; e)
riscos transnacionais atuais e emergentes, incluindo a inteligência artificial, o espaço exterior, o crime organizado
transnacional, os riscos biológicos e os vírus; f) multilateralismo inclusivo e responsável, que inclua as partes
interessadas de todos os níveis da sociedade.
Os Deputados foram encorajados a darem o seu contributo para o relatório, a pressionarem os seus
Governos para que incluam os Deputados nas reuniões de alto nível da ONU e a procurarem a mudança através
do exercício dos seus poderes parlamentares, incluindo audições em comissões, consultas públicas e aprovação
de legislação e orçamento.
Nos comentários finais, o Presidente da UIP, Deputado Duarte Pacheco, referiu que, sem o envolvimento
dos Deputados, não seria possível fazer progressos no domínio da água e que nenhum país está imune aos
problemas relacionados com a água, sendo necessário que os membros dos Parlamentos pressionem os seus
Governos para que coloquem a água na primeira linha da sua agenda.
Também o Subsecretário-Geral de Políticas da ONU, Guy Ryder, disse que o mundo estava a meio caminho
da Agenda 2030, mas não estava no caminho certo para realizar os ODS. Este é um momento crítico que exige
esforços redobrados para cumprir as metas dos ODS – para o bem de todas as pessoas e do planeta. As
próximas reuniões na ONU oferecem uma oportunidade para dar maior visibilidade à água na agenda política
internacional. Os Deputados têm de levar repetida e persistentemente os pontos de vista dos seus constituintes
à ONU e participar no trabalho multilateral que é essencial para lidar com as muitas áreas transversais da água.
Assembleia da República, 18 de julho de 2023.
A assessora parlamentar, Suzana Santos Monteiro.
———
Página 15
26 DE JULHO DE 2023
15
Delegação da Assembleia da República
Relatório referente à participação de uma Delegação da Assembleia da República nas Reuniões
Bilaterais do Fórum das Mulheres Parlamentares da Assembleia Parlamentar do Mediterrâneo (APM),
que se realizaram em Istambul, nos dias 14 e 15 de maio de 2023
Introdução
Nos dias 14 e 15 de maio de 2023, após a Missão de Observação Eleitoral da Assembleia Parlamentar do
Mediterrâneo (APM), que tivera lugar entre os dias 12 e 15 de maio, realizaram-se duas reuniões bilaterais do
Fórum das Mulheres Parlamentares da APM, uma de carácter interno, outra com o Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD), Hub regional da Eurasia, com sede em Istambul1.
Participaram na reunião a Deputada Joana Lima (PS), Presidente da Delegação da Assembleia da República
à APM e Presidente do Fórum das Mulheres Parlamentares da APM (FMPAPM), a Deputada Fatma Zohra Abdi
(Argélia), Vice-Presidente do FMPAPM, o Secretário-Geral da APM, Sérgio Piazzi, e a signatária, na qualidade
de assessora da Delegação da Assembleia da República à APM.
Reunião com a Vice-Presidente do Fórum das Mulheres Parlamentares da APM e o Secretário-Geral
da APM
Pelas 20h30m do dia 15 de maio, ocorreu a reunião da Deputada Joana Lima, Presidente do FMPAPM, com
a Deputada Fatma Zohra Abdi (Argélia), Vice-Presidente do FMPAPM, e o Secretário-Geral da APM, Sérgio
Piazzi. O objetivo desta reunião foi abordar as atividades futuras do Fórum e coordenar a preparativos da
2.ª sessão plenária do FMPAPM.
Relativamente às atividades futuras, a Deputada Fatma Zohra Abdi (Argélia) informou os participantes de
que iria acolher, em setembro de 2023, a 2.ª reunião da Comissão Executiva do FMPAPM. Por esta ocasião,
convidou os restantes membros do Fórum a visitarem algumas instituições e campos de refugiados argelinos.
No que se refere à 2.ª sessão plenária do FMPAPM, está previsto que a mesma ocorra nos dias 5 e 6 de
setembro em Amã, na Jordânia. Todavia, ainda não houve uma confirmação por parte da Câmara dos
Representantes do Reino da Jordânia a comprometerem-se com este evento. Nesta sequência, ficou acordado
entre os presentes na reunião que, na ausência de um compromisso até ao final do mês de maio, seriam
analisadas alternativas junto dos Estados-Membros para acolher este evento, tais como os Emirados Árabes
Unidos (EAU) ou a Roménia, entre outros.
Reunião com o PNUD Hub regional da Eurasia
Pelas 10h30m do dia 15 de maio, na sede do hub regional da Eurasia do PNUD, em Istambul, teve lugar a
reunião e visita do FMPAPM. Participaram na reunião a Deputada Joana Lima (PS), a Deputada Fatma Zohra
Abdi (Argélia) e a Administradora Adjunta e Diretora do PNUD em Istambul, Ivana Živković. Nesta reunião foi
abordado o papel desta organização para o desenvolvimento regional, especialmente das zonas menos
desenvolvidas junto aos Mares Negro e Mediterrâneo. Também foi abordada a operação humanitária para as
zonas afetadas pelo terramoto que assolou a Turquia no dia 6 de fevereiro de 2023.
A Presidente do FMPAPM agradeceu à Administradora Adjunta e Diretora do PNUD em Istambul pela
receção e apresentou o projeto do FMPAPM. Referiu que a Turquia tem em mãos o papel de estabilizador da
região do Mar Negro e do Médio Oriente, enaltecendo a necessidade de coordenação entre as organizações
internacionais e as entidades governamentais para fazer avançar as questões de género na região.
A Administradora Adjunta e Diretora do PNUD em Istambul, Ivana Živković, referiu que o objetivo do PNUD
na Europa e na Ásia Central seria ajudar a erradicar a pobreza em todas as suas formas, acelerar a transição
para o desenvolvimento sustentável e garantir que os países e as pessoas são capazes de resistir a crises e
1 Anexo 1 – Agenda de Trabalhos: «Outras reuniões».
Página 16
II SÉRIE-D — NÚMERO 65
16
choques. Procuram acima de tudo garantir que os mais vulneráveis e excluídos não sejam deixados para trás,
desenvolvendo soluções inovadoras para acelerar o desenvolvimento sustentável.
Ivana Živković enalteceu ainda que, embora a pobreza extrema tenha sido em grande parte erradicada, os
países dos Balcãs Ocidentais, do Sul do Cáucaso e da Ásia Central continuam a enfrentar múltiplos desafios de
desenvolvimento. A exclusão era generalizada e as desigualdades estariam a aumentar. Em muitos países, o
emprego digno era escasso e as redes de segurança social estariam desatualizadas. A participação das
mulheres no mercado de trabalho e na política contínua era limitada e evidenciou que os jovens estariam
particularmente expostos ao risco de serem marginalizados numa época de rápidas mudanças económicas.
Referiu ainda que, no âmbito dos terramotos que assolaram a Turquia e a Síria em fevereiro de 2023, o
PNUD ajudou o Governo turco a desenvolver o Programa de Avaliação da Recuperação e Reconstrução dos
Terramotos na Turquia (TERRA), em coordenação com o Banco Mundial e a União Europeia (UE).
Informou que o TERRA estimava que os custos de recuperação e reconstrução para a Turquia ascendiam
aos 103,6 mil milhões de dólares, o que equivalia a 9 % do produto interno bruto (PIB) turco previsto para 2023.
Este montante refletiu a terrível devastação causada pelo terramoto e o longo caminho para a recuperação. O
êxito dependeria do apoio da comunidade internacional.
A Administradora Adjunta e Diretora do PNUD em Istambul concluiu, informando que os maiores desafios do
PNUD seriam conciliar o crescimento económico com o progresso social e a sustentabilidade ambiental. As
alterações climáticas já estavam a exercer pressão sobre os recursos naturais comuns e a provocar fenómenos
meteorológicos devastadores. Em adição, em alguns países, persistiam conflitos e problemas de governação,
exacerbados por uma fraca coesão social, tensões étnicas e extremismo violento.
Com o fim desta reunião ficaram concluídas as reuniões bilaterais do dia 15 de maio de 2023, em Istambul.
Palácio de São Bento, 18 de maio de 2023.
A assessora parlamentar, Nádia Loureiro.
(*) Relatório elaborado com base em anotações retiradas durante a referida reunião.
Página 17
26 DE JULHO DE 2023
17
Anexo 1 – Agenda de trabalhos: «Outras reuniões»
———
Página 18
II SÉRIE-D — NÚMERO 65
18
Delegação da Assembleia da República
Relatório da participação de uma Delegação da Assembleia da República na Reunião
Interparlamentar com a Comissão dos Assuntos Externos (AFET) do Parlamento Europeu, que se
realizou em Bruxelas, em 27 de junho de 2023
Da agenda da reunião, constavam os seguintes pontos:
Sessão de abertura e notas introdutórias
David McAllister, Presidente da Comissão dos Assuntos Externos (AFET) do Parlamento Europeu, deu as
boas-vindas a todos os presentes, salientando que, no decorrer da sessão, iria intervir a Ministra dos Negócios
Estrangeiros do Senegal, Aïssata Tall Sall. Esclareceu alguns detalhes técnicos da reunião, referindo que na
primeira sessão seria focado o custo de não alargamento, concluindo que era necessário garantir um
alargamento credível com o propósito de ser uma ferramenta útil para a manutenção da democracia e do Estado
de direito.
Sessão I: Os custos do não alargamento
Michela Matuella, Diretora Interina para os Balcãs Ocidentais da Direção-Geral para a Política de Vizinhança
e Negociações de Alargamento da Comissão Europeia destacou que já se tinham passado 20 anos desde a
Declaração de Salónica, recordando que, nessa reunião, os líderes europeus tinham declarado o compromisso
de integrar os Balcãs Ocidentais na União Europeia (UE). Referiu que a guerra da Ucrânia tinha mudado a
Europa, destacando a rápida e unida reação da União, que contou com o apoio dos Balcãs Ocidentais. Salientou
as consequências da atual política de alargamento, que voltou ao centro da discussão, salientando a abertura
do processo referente à Albânia e à Macedónia do Norte, uma vez que tinham sido apresentados pedidos de
adesão formais por parte desses dois países. Referiu o evidente abrandamento na agenda do alargamento nos
últimos anos, suscitando a necessidade de se aproveitar o momento atual para continuar a trabalhar com os
Balcãs Ocidentais e avançar com o seu processo de adesão. Nesse contexto, destacou que era preciso preparar
esses países para a integração, através de mecanismos para fomentar o aumento dessa cooperação até se
alcançar a integração total. Recordou que a Presidente Ursula von der Leyen tinha apresentado o plano de
alargamento para os Balcãs Ocidentais, baseado em quatro pilares, acrescentando que o pretendido era
trabalhar esses mesmo pilares e aumentar a sua interação. Avançou que era preciso reiterar os custos do não
alargamento, nomeadamente, a expansão dos valores europeus, alertando que era o momento para se
aumentar a importância da UE na região. Concluiu enaltecendo a necessidade de se aproveitarem as
Delegação:
– Deputado Miguel Santos (PSD) – Chefe da Delegação – Membro da Comissão de Assuntos
Europeus
– Deputada Nathalie Oliveira (PS) – Membro da Comissão de Negócios Estrangeiros e
Comunidades Portuguesas
– Deputado Rui Lage (PS) – Membro da Comissão de Assuntos Europeus
– Deputado Ricardo Sousa (PSD) – Membro da Comissão de Negócios Estrangeiros e
Comunidades Portuguesas
A assessoria foi prestada por Catarina Ribeiro Lopes, Representante da Assembleia da
República junto das instituições da União Europeia, e pelo assessor parlamentar Gonçalo Sousa
Pereira, da equipa de apoio à Comissão de Assuntos Europeus.
Página 19
26 DE JULHO DE 2023
19
oportunidades e os desafios comuns desta região, como a transição energética e as alterações climáticas, sendo
estas oportunidades reconhecidas pelos Balcãs Ocidentais como um incentivo para a integração europeia.
Na fase do debate, os parlamentares salientaram a importância de analisar os processos de alargamento
anteriores para se retirarem lições para o futuro, a necessidade de todos os países da região serem integrados
na UE, a carência de reformas da UE para absorver os países candidatos, a possibilidade de estabelecer ritmos
diferentes de integração para cada país candidato e a importância de integrar os países dos Balcãs Ocidentais
na UE para garantir uma maior estabilidade na região.
Em resposta às questões suscitadas, Michela Matuella realizou que havia bastante convergência de opinião
sobre a importância do alargamento, tendo esclarecido que, sobre as lições aprendidas e a forma como traduzir
tais lições em políticas concretas, tinham sido ajustadas as metodologias para que o processo de alargamento
fosse mais credível e para que fosse possível dar resposta à fadiga e morosidade do processo, alertando que
sem o envolvimento de todos os países, o alargamento não poderia avançar. Referiu que tinham avançado com
o plano definido, que já lidava com alguns dos pontos referidos pelos parlamentares, nomeadamente a
aceleração da integração através da criação de mercados regionais e auxílios financeiros europeus.
Concretamente sobre acelerar a integração no mercado interno, salientou que havia muitas iniciativas a que os
Balcãs Ocidentais tinham aderido como o acesso a programas financeiros da União e a integração de várias
agências europeias como a Frontex e a Europol, tendo aditado que era pretendido ir mais além nesse processo,
estando-se a concretizar um procedimento de screening com a Albânia e a Macedónia do Norte para analisar
tudo o que podia ser feito para acelerar ainda mais a integração os países desta região. Relativamente ao
Neste painel, interveioo Deputado Miguel Santos (PSD), referindo que a UE integrava novos membros quando estes cumprissem os critérios definidos, salientando que não considerava pertinente a seriação de
membros de primeiro ou segundo grau, pelo facto de tal diferenciação não encontrar sustentação nos
princípios fundadores da União. Destacou que a UE devia alargar-se e expandir os seus valores
fundamentais, nomeadamente a defesa dos direitos humanos, das liberdades e da democracia, a autonomia
dos povos e a economia de mercado, sendo necessário defender tais valores das ameaças existentes.
Referiu, também, que a Europa estava empenhada na perspetiva europeia dos Balcãs Ocidentais através
da manutenção de relações próximas com esses países e sempre numa perspetiva de cooperação e
constante apoio e assistência financeira à região. Salientou que o futuro dos Balcãs Ocidentais era na UE,
acrescentando que a União não se podia dar ao luxo de deixar de fora esta região, reiterando que a UE
precisava do alargamento, mas com uma visão realista, i.e., com a necessária preparação política,
institucional, económica e financeira possível, razão pela qual o processo de alargamento era tão moroso e
complexo. Concluiu referindo que apenas com esta preparação seria possível tornar o alargamento da UE
num êxito, destacando que tal êxito era crucial para a União de modo a não defraudar as legítimas
expectativas dos países que pretendiam aderir ao espaço europeu e também para que a UE não se tornasse
numa desilusão para todos ao não cumprir a sua parte.
Interveio, também, neste painel,o Deputado Rui Lage (PS), referindo que, enquanto projeto de soberania de natureza supranacional, a vocação histórica da UE era o alargamento. Neste sentido, recordou
que o alargamento tinha sido uma força democratizadora nos últimos anos na Europa, pelo facto de que os
países que aderiram à UE, nomeadamente os países a leste, tiveram de adotar as mesmas regras
democráticas patentes nos países a oeste, concretamente, tiveram de cumprir com os critérios de
Copenhaga. Nessa medida, destacou que era essencial o alargamento para a estabilização desta região e
que alargar a UE era alargar a democracia e expandir o respeito pelos direitos humanos, bem como
consolidar a segurança da UE. Por outro lado, realçou que o contrário do alargamento, i.e., restringir esse
movimento era comprometer estes avanços, questionando, contudo, se a atual arquitetura institucional era
suficiente para acomodar o alargamento, tornando assim, nessa perspetiva, indissociável o tema do
alargamento e o tema da revisão dos tratados, recordando que o Parlamento Europeu, quanto a este tema,
já tinha dado um passo histórico com o voto favorável para se iniciar este processo.
Página 20
II SÉRIE-D — NÚMERO 65
20
mercado regional comum, referiu que tinha sido solicitada uma maior cooperação dos Balcãs Ocidentais nesta
matéria, mas os países tinham de estar preparados e aguentar a pressão referente à concretização de um
mercado deste género, acrescentando que se estava a considerar criar um espaço económico forte na região,
pois as economias locais, isoladas, eram pequenas, mas em conjunto ficavam mais fortes e facilitaria a posterior
integração no mercado único europeu. Com efeito, adiantou que vários acordos já tinham sido assinados para
esse efeito, mas era preciso ter em conta a parte política, como o diálogo Pristina-Belgrado, que podia afetar a
criação deste mercado regional. Sobre o apoio financeiro aos Balcãs Ocidentais, referiu que a Comissão
Europeia tinha feito uma proposta para aumentar os fundos com a ideia de fornecer mais ferramentas aos Balcãs
Ocidentais para poderem implementar as reformas necessárias. Referiu que já se encontravam em curso planos
financeiros e económicos para essa finalidade, sendo tais investimentos importantes e onerosos, que iriam trazer
benefícios aos países daquela região. Sobre os resultados do processo de alargamento e o tempo de integração,
salientou que o processo era baseado no mérito e havia critérios que eram aplicados de forma individual,
recordando que não era a Comissão Europeia que estabelecia os calendários, uma vez que os países teriam
de cumprir os critérios previamente definidos, sendo que a Comissão Europeia apenas estabelecia as condições
e delineava o plano, enquanto instrumento para a adesão. Concluiu referindo que a Comissão Europeia não
ficava apenas à espera do trabalho a realizar pelos países candidatos, ao proceder a um controlo próximo do
processo através de uma cooperação técnica alargada e de assistência financeira aos países candidatos para
cumprimento de todos os critérios de Copenhaga, recordando que estes processos eram amplamente
acompanhados pela opinião pública, pelo que o seu resultado podia ter grande impacto na perceção dos
cidadãos sobre a União Europeia.
Discurso de Aïssata Tall Sall, Ministra dos Negócios Estrangeiros do Senegal
David McAllister, referiu que o Senegal era um parceiro-chave na relação UE-África, bem como para as
questões de segurança na região, salientando ainda que o Senegal era um parceiro viável geoestratégico para
regenerar e implementar as regras internacionais. Nesse sentido, tinha convidado a Ministra dos Negócios
Estrangeiros para dar o ponto de vista do Senegal sobre estes temas.
Aïssata Tall Sall, Ministra dos Negócios Estrangeiros do Senegal, referiu ser uma grande honra estar na
reunião para falar das relações entre a UE e o Senegal. Aquando do Fórum Schuman, recordou que uma
delegação da UE foi a Dakar e agora estava uma delegação do seu país em Bruxelas, acrescentando que o seu
país tinha uma relação de confiança com a UE de 50 anos, tendo sido essa parceria reforçada na estratégia
conjunta UE-Senegal 2018-2023. Destacou que a UE era um parceiro privilegiado e um aliado estratégico com
quem partilhavam o respeito pelos direitos humanos e, nessa área, sempre tinham recebido o apoio da UE,
agradecendo, novamente, o apoio financeiro dado pela UE na resposta à pandemia causada pela COVID-19.
Relativamente à política de migração, nomeadamente, quanto ao regresso dos migrantes aos países de origem,
referiu que tinham sido tomadas medidas processuais e administrativas para melhorar a comunicação entre os
serviços europeus e senegaleses nesta área, sendo que estes dipositivos iriam melhorar o diálogo no âmbito da
migração. Na área da paz e segurança, salientou que o Senegal partilhava as preocupações europeias sobre a
situação do Sahel, que poderia causar instabilidade na região, referindo mesmo que, no quadro da União
Africana, o Senegal continuava a envidar esforços para manter a paz na região. Sobre a situação política no seu
país, referiu a transparência no processo que ocorreu em junho de 2023 sobre uma acusação de uma jovem
contra o político Ousmane Sonko, e o ataque perpetrado por um bando armado a edifícios públicos, anunciando
que essa ação tinha sido organizada por uma entidade externa. Contudo, salientou que apesar do forte choque,
o estado senegalês resistiu a esses ataques, encontrando-se a justiça a analisar a situação onde os infratores
seriam sancionados. Concluiu apelando a tudo o que une o Senegal e a UE, solicitando que a UE continuasse
ao lado do Senegal e da sua população, destacando que o Presidente da República do Senegal estava atento
e que toda a solidariedade da Europa seria bem-vinda, uma vez que o Senegal queria ser uma democracia
exemplar e um modelo respeitoso dos direitos humanos.
Na troca de pontos de vista, os parlamentares manifestaram preocupação com os ataques terroristas no
Sahel e com a presença de soldados do Grupo Wagner no Mali, com o futuro político do Senegal,
nomeadamente, com a pretensão do atual Presidente da República do Senegal de se candidatar para um
terceiro mandato e com os problemas reportados de liberdade de comunicação, questionaram qual a posição
Página 21
26 DE JULHO DE 2023
21
do Senegal sobre a guerra da Ucrânia, interrogaram se o crescimento da China em África era uma ameaça e se
tal situação poderia ter consequências para as relações com a UE e os Estados Unidos da América (EUA) e,
por fim, suscitaram a questão de como o Governo senegalês iria lidar com a transição justa e as alterações
climáticas.
Aïssata Tall Sall, sobre as questões suscitadas, referiu que a monitorização da ameaça terrorista na região
Sahel era uma situação fundamental pois havia movimentos que atravessavam o continente africano,
manifestando o ensejo de que a situação regressasse à normalidade, reconhecendo, contudo que era uma
situação difícil e complicada. Referiu que tinha chegado o momento de a UE e África se unirem para combater
situações deste género, pois os Estados, isoladamente, não o conseguiam fazer. Relativamente à posição do
Senegal quanto à presença do Grupo Wagner no Mali, destacou que a questão pertinente era compreender a
razão de as populações africanas hastearem uma bandeira do Grupo Wagner, sendo na esfera da opinião
pública que se devia combater esta tendência, pois era necessário demonstrar, junto da população, que grupos
armados privados não eram solução governamental, mas sim Estados legitimamente eleitos. Sobre a intenção
de o Presidente da República do Senegal cumprir um terceiro mandato, referiu que ninguém disse que era
inconstitucional, sendo que existiam diferentes posições relativas a essa questão, acrescentando que o Senegal
era um país organizado, com juízes independentes que interpretavam a Constituição, vincando que seria esse
órgão jurisdicional a arbitrar esta questão. Aditou que, na sua opinião, o Presidente da República do Senegal
tinha o direito de se candidatar e, caso assim fosse, referiu que o Conselho Constitucional tinha a competência
para decidir se aceitava ou não essa candidatura e quem não concordasse poderia recorrer dessa decisão.
Sobre a guerra na Ucrânia, referiu que no início do conflito, aquando da resolução adotada na ONU sobre esta
situação, o seu país absteve-se referindo que tinham sido criticados por essa tomada de posição, contudo,
clarificou que não tinha havido tempo suficiente para criar uma posição homogénea com os demais países da
União Africana nesse âmbito. Acrescentou, ainda, que eram a favor da soberania da Ucrânia, tendo adiantado
que tinha convidado o Ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano para se deslocar a África para falar da
situação do seu país. Destacou, também, que tinha sido debatida no Senegal a resolução deste conflito,
apelando-se ao cumprimento da carta da ONU, salientando que tinham conhecimento de que não se ia conseguir
alcançar um acordo de paz, mas podiam, pelo menos, tentar aligeirar a situação.
Relativamente à presença da China em África, referiu que o Senegal era um parceiro da China, destacando
que na condução da sua política externa não eram exclusivos, existindo, contudo, entre os parceiros, aqueles
históricos, como a UE, aditando que a cooperação UE-Senegal era crucial, mas que também cooperavam com
outros países como a China, nunca colocando em causa a relação com a Europa. Por fim, sobre a situação
política no Senegal, defendeu que seriam realizadas eleições livres e transparentes com um vencedor e um
vencido, concluindo com um pedido para que considerassem o Senegal como um país que respeitava os direitos
humanos e a democracia.
Sessão II: Reforçar a segurança e resiliência democrática através do processo de alargamento
Aude maio-Coliche, Diretora para a Comunicação Estratégica e Prospetiva do Serviço Europeu de Ação
Externa (SEAE) referiu que o tópico da sessão era o aniversario da Declaração de Salónica, salientando que a
mesma destacava a importância da democracia, dos direitos humanos e do primado da lei sendo que, no
contexto do alargamento, o SEAE trabalhava todos estes aspetos com os respetivos parceiros. Destacou que
os vizinhos da UE estavam a ser alvo de ataques híbridos, pondo em causa o caminho da sua integração na
UE, acabando, também, por colocar em causa as políticas e trajetórias desses mesmos países. Evidenciou que
os desafios dos parceiros europeus eram imensos, como a segurança e resiliência das instituições
democráticas, mas não estavam sozinhos nesse percurso, adiantando que tinha sido já elaborado um relatório
com uma metodologia para avaliar os comportamentos manipuladores perpetrados na região, referindo, ainda,
que a UE e os EUA já tinham trabalhado contra este tipo de ameaças desde há muitos anos, permitindo desse
modo a compilação de várias medidas e ferramentas úteis para combater essas ameaças. Referiu que já tinha
sido possível perceber o que estava por detrás desta manipulação de dados, estando agora a aumentar a
consciência para combater melhor este género de ataques, acrescentando que se estava a criar um centro de
análise para partilha de informação com dados comparáveis para se obter uma melhor visão dos
acontecimentos, bem como para obter uma cooperação mais alargada com os países candidatos e com os
Página 22
II SÉRIE-D — NÚMERO 65
22
países parceiros. Recordou que os líderes da região e da UE tinham-se comprometido a acabar com a
desinformação, dando nota da capacidade existente para aumentar a consciência sobre estes fenómenos, bem
como para dotar as autoridades locais com competências para estudarem e implementarem estas ferramentas
de combate à desinformação, adiantando que já existia um sistema de fact checking em funcionamento na
Bósnia e Herzegovina. Por fim, referiu que tinha havido uma Cimeira na Albânia com a presença de 200
jornalistas para se aumentar a cooperação com os media e o combate à desinformação, concluindo que era
necessário continuar a investir nas instituições democráticas para que estas fossem fortes e estáveis.
No debate que se seguiu, focou-se a importância de serem cumpridos os critérios de Copenhaga no processo
de alargamento, a necessidade de se encontrar soluções para a rápida adesão à UE dos Balcãs Ocidentais, a
possibilidade de se permitir, durante o processo de integração, uma maior participação dos países candidatos
em áreas como clima, energia, mercado único, formação e telecomunicações e a importância de se avançar
com novas propostas para harmonizar as adesões futuras, nomeadamente, com a instituição do estatuto de
observador, que permitisse reforçar a experiência em matéria de política europeia.
O Deputado Ricardo Sousa (PSD) interveio neste painel referindo que a Europa se confrontava com um
cenário de guerra prolongado, destacando que a opção de destabilizar a opinião pública, pela Federação
Russa, sobre a invasão da Ucrânia não tinha sido bem-sucedida. Referiu que o conflito continuava a ser um
desafio para a política de defesa e segurança comum e, por tal facto, a política de alargamento era também
um importante instrumento de defesa e segurança e de preservação dos valores democráticos. Salientou que
a entrada da Ucrânia, da Moldávia e da Geórgia na União Europeia devia assumir esse enquadramento de
preservação dos valores europeus, evidenciando que não se podia ignorar que a entrada de um país com a
dimensão da Ucrânia teria um grande impacto na UE, existindo reformas que teriam de ser levadas a cabo,
nomeadamente, através da revisão dos tratados. Acrescentou, no entanto, que não se podia conceder o
estatuto de candidato a alguns desses países e depois refugiar-se na arquitetura institucional e financeira da
União para adiar essas adesões. Referiu ainda, neste contexto, que tinha sido apresentado pela Comissão
Europeia um relatório que revelava os progressos alcançados pela Ucrânia no seu processo de adesão,
designadamente, quanto às reformas importantes a realizar, quer a nível judicial, quer a nível de regulação de
órgãos de comunicação social, merecendo o seu destaque neste âmbito, considerando o contexto de guerra
existente no país. Concluiu que estes dados eram encorajadores, referindo que não era aceitável continuar a
adiar os processos de adesão, quando se continuava a afirmar que os Estados dos Balcãs pertenciam dentro
da UE, mas, por outro lado, continuava a protelar-se a sua entrada, pelo que era necessário avançar nesta
matéria.
Interveio, ainda, o Deputado Rui Lage (PS) que destacou o facto de a invasão da Ucrânia ter aumentado
o sentimento de pertença dos europeus à Europa, provando, desse modo, que a identidade europeia não era
uma ficção, mas sim uma realidade. Referiu que era mesmo isso que provavam as sondagens que apontavam
para um apoio crescente dos europeus à UE e à Ucrânia, significando isso que os povos europeus estavam
hoje mais abertos à entrada de novos membros e seria um erro histórico desperdiçar esse momento, desde
logo do ponto vista da segurança da União. Com efeito, referiu que se a invasão da Ucrânia era a maior
ameaça à segurança da Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial, também era o maior estímulo ao
fortalecimento da segurança da Europa desde essa época. Destacou, também, que a segurança da Europa
dependia do seu alargamento e deixar os países com estatuto de candidato entregues a si mesmos ou adiar
permanentemente a sua adesão era contribuir para a insegurança europeia, acrescentando que, se era
evidente que esses países teriam de fazer as suas reformas internas, eles não podiam fazer os trabalhos
internos necessários na União, concretamente, era necessário proceder à reforma da arquitetura institucional
e à reforma do processo decisório da UE. Concluiu insistindo no papel premente do Parlamento Europeu
quando deu início ao processo da revisão dos tratados, restando agora compreender se o Conselho estaria
ou não à altura desse momento histórico.
Página 23
26 DE JULHO DE 2023
23
Em resposta às questões colocadas, Aude maio-Coliche referiu que as intervenções realizadas eram mais
abrangentes do que a sua área de atuação, contudo tentaria elucidar as dúvidas suscitadas. Nessa medida,
salientou que sobre a forma como se podia operacionalizar a resposta ao desafio de ingerências estrangeiras
nos países, seria o desenvolvimento de um quadro legislativo para lidar com esta manipulação, avançando que
uma recomendação prática e eficaz seria conscientizar as autoridades e a sociedade civil da região sobre estes
desafios. Com efeito, referiu que era necessário compreender o modus operandi da manipulação, sendo que,
para se combater essa realidade, já se estava a criar um sistema capaz de analisar e detetar essas situações.
Destacou que era pretendido trabalhar mais com parceiros internacionais, onde estas questões da manipulação
da informação teriam de ser abordadas de uma forma mais alargada. Concluiu referindo que era preciso construir
a resiliência dos sistemas de informação evidenciando que os mais jovens tinham mais aptidão em aceder às
redes sociais e aceder àquilo que era falso, pelo que era importante instruir as escolas sobre estas questões,
adiantando, ainda, que os Parlamentos nacionais poderiam colocar tais temas na ordem do dia.
David McAllister, Presidente da Comissão dos Assuntos Externos (AFET) do Parlamento Europeu, deu por
terminados os trabalhos, agradecendo a todos a participação na sessão, salientando que tinha sido muito
positivo o convite feito à Ministra dos Negócios Estrangeiros do Senegal para participar na reunião e poder
partilhar alguns pontos de vista.
Assembleia da República, 20 de julho de 2023.
O Chefe da Delegação, Deputado Miguel Santos.
A DIVISÃO DE REDAÇÃO.
A Deputada Nathalie Oliveira (PS) interveio, também, neste painel, referindo que a questão do
alargamento, até agora considerada como uma realização do projeto europeu, inseria-se num novo contexto
internacional, sendo que este facto estava a obrigar a UE a ultrapassar as dimensões jurídicas e geográficas
tradicionais da sua reflexão, em favor de uma abordagem verdadeiramente mais geopolítica das suas relações
com os seus vizinhos. Acrescentou que a guerra na Ucrânia teve o grande efeito de suscitar, de novo, a
questão do alargamento na agenda política europeia, que parecia ter ficado estagnada, estando a ganhar
velocidade. Neste contexto, questionou se teria o Brexit enviado o sinal errado para a dinâmica do alargamento
ou se, além disso, seria o alargamento uma dinâmica desejável e sustentável, sem pôr em causa a unidade
da UE. Destacou que o alargamento geográfico levantava questões sobre as dimensões histórica, geográfica
e institucional da integração europeia, enquanto completava o projeto europeu, que também mudava o seu
rumo. Salientou que no passado, como hoje, o princípio orientador do alargamento continuava a ser a
afirmação e a consolidação da democracia e do Estado de direito, sem esquecer que os povos tinham uma
palavra a dizer, aditando que as futuras adesões obrigariam a UE a tornar-se geopolítica e a investir ainda
mais no domínio das fronteiras externas, difíceis de controlar, e das interferências hostis a evitar. Referiu
também que o alargamento representava para a União Europeia um imperativo altamente estratégico, sendo
uma revisão dos tratados desejável e inevitável, e um imenso desafio democrático, tanto para os seus Estados-
Membros como para os seus aspirantes. Em conclusão, destacou que o impulso do alargamento aos Balcãs
Ocidentais, à Moldávia e à Ucrânia inscrevia-se numa procura de soberania europeia que obrigava a repensar
as políticas públicas europeias, o funcionamento institucional e o financiamento para preparar a integração,
talvez a um ritmo diferente, mas que garantisse a unidade na diversidade.