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Terça-feira, 8 de agosto de 2023 II Série-D — Número 66

XV LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2022-2023)

S U M Á R I O

Delegação da Assembleia da República:

Relatório da participação de uma Delegação da Assembleia da República na Reunião Interparlamentar da Comissão dos Transportes e Turismo (TRAN) do Parlamento Europeu, que se realizou em Bruxelas, em 25 de maio de 2023.

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DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DE UMA DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NA

REUNIÃO INTERPARLAMENTAR DA COMISSÃO DOS TRANSPORTES E TURISMO (TRAN) DO

PARLAMENTO EUROPEU, QUE SE REALIZOU EM BRUXELAS, EM 25 DE MAIO DE 2023

A Delegação da Assembleia da República integrou os seguintes Deputados:

– Deputada Jamila Madeira (PS), Comissão de Assuntos Europeus;

– Deputado Carlos Pereira (PS), Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação;

– Deputado Hugo Martins de Carvalho (PSD), Comissão de Ambiente e Energia;

– Deputado Duarte Alves (PCP), Comissão de Ambiente e Energia.

A assessoria na reunião foi prestada por Catarina Ribeiro Lopes, Representante da Assembleia da República

junto das instituições da União Europeia. A preparação desta reunião contou também com o apoio das equipas

da Comissão de Assuntos Europeus, Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação e

Comissão de Ambiente e Energia.

Da agenda da reunião, subordinada ao tema Atingir os objetivos do setor dos transportes da iniciativa «Fit

for 55» a nível nacional – oportunidades e desafios, constavam os seguintes pontos:

Sessão de abertura

Karima Delli, Presidente da Comissão dos Transportes e do Turismo do Parlamento Europeu, deu as boas-

vindas aos colegas dos Parlamentos nacionais e referiu-se aos temas em discussão nesta reunião e à sua

atualidade.

SESSÃO I: Descarbonizar o transporte rodoviário – a implantação de infraestruturas de

carregamento de combustíveis alternativos

Ismail Ertug, relator do Parlamento Europeu AFIR, iniciou a sua intervenção referindo a importância das

infraestruturas de combustíveis alternativos e deu nota da evolução da legislação nesta área, nomeadamente a

conexão com as redes transeuropeias de transportes e criação de corredores com infraestruturas adequadas.

Deu nota dos planos para incluir, até 2025, instalações de carregamento em distâncias curtas, tendo a Comissão

optado por uma abordagem de distância mas também baseada na frota, com o objetivo de colocar mais carros

elétricos no mercado. Por outro lado, Saskia Kluit, Membro da Comissão de economia, ambiente, agricultura,

natureza e qualidade alimentar e da Comissão de infraestruturas, gestão água e ambiente do Senado dos Países

Baixos, deu nota dos progressos realizados nos Países Baixos nesta matéria, sobretudo com a criação de hubs

elétricos, que podem ajudar os ciclistas que condutores de autocarros, transformando os ambientes nas cidades

em ambientes mais habitáveis e libertando espaço nas ruas. Frisou que a mobilidade elétrica também podia

ajudar o sistema energético, apelando à necessidade de garantir a sustentabilidade das opções tomadas (como

a reutilização da energia armazenada em baterias de carros em outros aparelhos), assim como pontos de

carregamento de proximidade e regulação dos preços da energia.

Seguiu-se a intervenção de Eliana Longi, Membro da Comissão dos transportes da Câmara dos Deputados

de Itália, que focou a importância do setor dos transportes para o objetivo da descarbonização, a necessidade

de a partir de 2030 50 % dos veículos deverem ser elétricos, a importância de aumentar os postos de

carregamento, dos investimentos nesta área e as dificuldades em cumprir os objetivos partilhados com prazos

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muito curtos e modelo tecnológico único. Por fim, Ignacio López Cano, Presidente da Comissão de transportes,

mobilidade e agenda urbana do Congresso dos Deputados de Espanha, destacou que, em Espanha, os

transportes geram grande parte dos gases com efeito de estufa (sobretudo o transporte rodoviário), sendo

necessário reduzir a poluição, apostando em soluções para a deslocação dos cidadãos, tendo o PRR deixado

claro que a transformação energética e a mobilidade sustentável são essenciais. Referiu a implementação nas

cidades espanholas de zonas de baixas emissões, tornando os centros urbanos mais habitáveis, apostando em

veículos elétricos, infraestruturas de carregamento e nos transportes públicos.

Durante o período de debate foram focados temas como a proveniência da energia para cumprir os objetivos

propostos, a importância da manutenção da energia nuclear, a responsabilidade dos Estados-Membros na

mobilidade descarbonizada, a relevância da ferrovia e do investimento neste transporte para o cumprimento dos

objetivos fixados, a dificuldade em alcançar o equilíbrio entre os investimentos em infraestruturas e a adaptação

das redes de energia. Vários oradores referiram que os objetivos em termos de número de postos de

carregamento são bastante ambiciosos, sendo necessário adaptar a legislação nacional, bem como a

necessidade de tornar a energia mais acessível, baixando o seu preço, e apostar fortemente no desenvolvimento

dos transportes públicos. As diferenças geográficas entre os Estados-Membros, limites económicos, apoios

extensíveis nesta área às zonas rurais, tecnologia acessível para o carregamento de veículos, assim como a

necessidade de cumprimento da legislação europeia, especificamente o pacote Objetivo 55, foram também

referidos.

Intervieram neste painel os Deputados da Assembleia da República:

SESSÃO II: Descarbonizar setores difíceis – transporte marítimo e aéreo – como impulsionar a

adoção de combustíveis sustentáveis e manter a acessibilidade e a competitividade?

Jörgen Warborn, relator do Parlamento Europeu para a iniciativa FuelEU Maritime, frisou a importância do

transporte marítimo, nomeadamente sendo o transporte com menor pegada ecológica, entendendo ser

Carlos Pereira (PS), que referiu o empenho de Portugal no combate às alterações climáticas e,

concretamente no que à descarbonização dos transportes diz respeito, deu nota dos objetivos presentes

na lei de bases do clima e no roteiro da neutralidade carbónica 2050, que identificam a mobilidade e os

transportes como um dos principais vetores de descarbonização. Partilhou assim exemplos do que foi

desenvolvido em Portugal nesta área como a transformação do transporte público num transporte mais

atrativo, tanto no conforto como no custo, tendo sido implementado um programa de apoio à redução

tarifária, a implementação de uma quota de 20 % de energias renováveis para o setor dos transportes e

o apoio à mobilidade elétrica, com o apoio significativo à aquisição de automóveis elétricos e o reforço

das infraestruturas de carregamento no espaço público e no espaço privado.

Duarte Alves (PCP) frisou que a UE coloca num mesmo plano os investimentos em infraestruturas para

aumento do número de veículos elétricos e os investimentos nos transportes públicos, sendo por isso

necessário dar um maior enfoque na mudança de paradigma do transporte individual para o transporte

público e não apenas investir em medidas de transformação do transporte individual de combustível fóssil

para elétrico. Considerou assim ser importante a redução do preço dos transportes, a melhoria da sua

qualidade, o caminho para a sua gratuitidade progressiva e uma aposta determinada na ferrovia, com

investimentos necessários e contrariando as lógicas de liberalização do setor também promovidas pela

UE. Referiu-se ainda aos investimentos em Portugal no que respeita à alta velocidade, não devendo a

Comissão Europeia criar dificuldades à concretização deste investimento, nomeadamente condicionando

o financiamento à adoção da bitola europeia, devendo os operadores públicos ibéricos articular-se para

explorar estas ligações de forma integrada com o resto da rede ferroviária ibérica. Terminou mencionando

a importância e valorização dos trabalhadores ferroviários.

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necessário promover a passagem do transporte rodoviário para o transporte marítimo. Referiu que a legislação

em aprovação faz parte do pacote Objetivo 55, promovendo uma descarbonização deste tipo de transporte e

limitando a emissão de gases de efeito de estufa emitidos pelos navios que entram nos portos da UE (redução

20 % até 2025 e 80 % em 2050). Identificou o equilíbrio como fator chave desta mudança, devendo as medidas

ter por base estudos de impacto e regulamentação que não vá além do necessário, uma vez que os transportes

devem ser economicamente acessíveis. A não dependência da UE de outros países na área dos combustíveis

e a proteção das empresas europeias foram também focadas pelo orador.

José-Ramon Bauzá Díaz, relator do Parlamento Europeu para a iniciativa RefuelEU Aviation, reconheceu a

aviação como fundamental para a liberdade de movimento e as medidas a aplicar para a descarbonizar. Referiu-

se ao SAF (Combustível Sustentável de Aviação) e à sua utilização, sem necessidade de alteração das

aeronaves, mas reconhecendo o seu custo elevado. Deu nota dos principais pontos de acordo entre o PE e o

Conselho nesta matéria: calendário com objetivos concretos em forma de percentagem, objetivos também com

percentagens concretas de fornecimento dos combustíveis sintéticos, utilização do SAF e o acordo para os 10

primeiros anos, com o fornecimento nos operadores que seja mais económico para que não se verifique impacto

no preço dos bilhetes de avião. Terminou mencionando ser fundamental que os Estados-Membros tomem

medidas de apoio que impulsionem a produção de SAF e tornem a indústria mais competitiva.

Seguiram-se as intervenções de Gerry Horkan, Membro da Comissão conjunta de transportes e

comunicações do Senado da Irlanda, focando a necessidade de apoio a todas as medidas relativas ao

combustível mais sustentável, ao papel fundamental dos portos para a transição energética e a capacidade da

energia eólica produzida na Irlanda, bem como na necessidade de apostar nos combustíveis de aviação

sustentáveis, e de Alexandru Răzvan Cuc, Vice-Presidente da Comissão de Transportes e Infraestruturas do

Senado da Roménia, que deu nota das instalações para assegurar eletricidade aos navios nos portos da

Roménia, postos de gás natural liquefeito, inclusão de combustíveis alternativos no transporte marítimo, que

comporta desafios e um período de transição, destacando a zona estratégica ocupada pela Roménia no Mar

Negro, onde são necessários grandes investimentos nos portos e conetividade inteligente e sustentável.

A oradora seguinte, Maria Stockhaus, Membro da Comissão de Transportes e Comunicação do Parlamento

sueco, referiu a importância de os combustíveis deverem responder à variedade dos modos de transporte, da

redução dos custos de manutenção, da possibilidade de utilização de navios elétricos, movidos a energia eólica

ou híbridos e a sua importância para a Suécia, assim como a utilização de combustíveis alternativos, bio gás

liquefeito e hidrogénio. Deixou ainda quatro reflexões sobre o futuro neste tema: o aumento da procura de

biocombustíveis, eletrificação dos setores marítimo e aéreo, atualização de infraestruturas e apoios à inovação

de soluções sustentáveis.

Por fim, Kim Buyst, Membro da Comissão de Transportes e Energia do Parlamento belga, reiterou a

importância da ecologia no transporte aéreo e marítimo e suas alternativas, com destaque para a ferrovia,

devendo o seu tráfego ser duplicado, desenvolvendo cooperação a nível da UE neste campo. Destacou ainda

as vantagens da intermodalidade entre os transportes aéreos e marítimos, a fixação do preço unitário dos

combustíveis e abordagem conjunta à poluição causada pelos diferentes meios de transporte.

Durante o período de debate foram referidos temas como a necessidade de reduzir o tráfego do transporte

marítimo e aéreo, a solução de curta prazo que representam os combustíveis alternativos, manutenção da

energia nuclear, defendendo alguns intervenientes o seu abandono, o fim dos voos de curta distância, mas

também a necessidade de melhoria das infraestruturas associadas aos transportes em vários países, por forma

a torná-los mais eficientes, a aposta inequívoca nos transportes públicos e a atenção que deve ser dada às

regiões insulares e ultraperiféricas neste tema. Foi ainda referida a cooperação europeia como forma de alcançar

os objetivos climáticos, a essencialidade do transporte aéreo para algumas regiões, nomeadamente ilhas, e o

alinhamento das legislações nacionais com o pacote Objetivo 55.

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Intervieram neste painel os Srs. Deputados da Assembleia da República:

O registo vídeo da reunião encontra-se disponível aqui.

Assembleia da República, 25 de junho de 2023.

A Delegação da Assembleia da República,

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

Jamila Madeira (PS), que começou por agradecer aos relatores a partilha dos resultados destas

iniciativas e referir a dificuldade da redução de emissões no âmbito dos transportes e o desafio que

representa sobretudo para Portugal, um país periférico e com dinâmicas de grandes distâncias, onde o

transporte marítimo e aéreo tem um impacto significativo. Salientou o trabalho do país na redução das

emissões até 2050, a utilização do hidrogénio como um caminho possível, encontrando-se estabelecidas

parcerias no quadro das empresas para utilização de 39 % de SAF desde 2022. Destacou ainda as

poucas alternativas de ferrovia em Portugal, longe da realidade do centro da Europa e no que respeita a

curtas distâncias, dando nota da necessidade do esforço suplementar da Comissão Europeia para estes

países na interligação com a rede transeuropeia mas também na interligação interna, sabendo que o

processo de sustentabilidade do transporte marítimo e aéreo é longo, prevendo-se o trabalho em

sistemas de captura de carbono e ecossistema em termos de compensações enquanto a tecnologia não

permitir avançar mais nestes setores e procurando não por em causa a competitividade.

Hugo Martins de Carvalho (PSD), que destacou a partida para os desafios da sustentabilidade,

manutenção da economia competitivas e permitir o acesso equitativo aos cidadãos nesta sede, com

duas ideias: acreditar na tecnologia mas ser também tecnologicamente agnóstico, não escolhendo uma

opção em detrimento de outras e acreditando em todas. Referiu o green shipping para transporte

marítimo, a utilização de hidrogénio onde este é produzido, de mais bio combustíveis e a sua

reconfiguração em todos o país, bem como a aposta na eletrificação de muitos transportes. Deu ainda

nota que o melhor combustível para a ambiente é o combustível que não é consumido e que Portugal

tem uma circulação elevada de transporte de combustíveis, sendo ideal procurar esta redução e apostar

na ferrovia, também para o transporte de mercadorias, como um investimento para o planeta e para a

descarbonização.

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