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Sexta-feira, 8 de novembro de 2024 II Série-D — Número 14

XVI LEGISLATURA 1.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2024-2025)

S U M Á R I O

Delegação da Assembleia da República:

Relatório da participação da Delegação Portuguesa na Conferência Interparlamentar sobre a política externa e de segurança comum e a política comum de segurança e defesa (PESC/PCSD), que se realizou em Budapeste, na Hungria, nos dias 9 e 10 de setembro de 2024.

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DELEGAÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

RELATÓRIO DA PARTICIPAÇÃO DA DELEGAÇÃO PORTUGUESA NA CONFERÊNCIA

INTERPARLAMENTAR SOBRE A POLÍTICA EXTERNA E DE SEGURANÇA COMUM E A POLÍTICA

COMUM DE SEGURANÇA E DEFESA (PESC/PCSD), QUE SE REALIZOU EM BUDAPESTE, NA

HUNGRIA, NOS DIAS 9 E 10 DE SETEMBRO DE 2024

Delegação (composição):

– Deputada Liliana Reis (GP PSD) – Chefe da Delegação e membro da Comissão de Assuntos Europeus;

– Deputado José Luís Carneiro (GP PS) – Membro da Comissão de Assuntos Europeus;

– Deputado Carlos Eduardo Reis (GP PSD) – Vice-Presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros e

Comunidades Portuguesas;

– Deputado Paulo Pisco (GP PS) – Membro da Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades

Portuguesas;

– Deputado Pedro Pessanha (GP CH) – Presidente da Comissão de Defesa Nacional;

– Deputado Carlos Reis (GP PSD) – Membro da Comissão de Defesa Nacional.

A assessoria foi prestada por Elodie Rocha, assessora da Comissão de Assuntos Europeus, e Bruno Dias

Pinheiro, representante da AR junto das instituições da UE.

Reunião dos Chefes de Delegação dos Parlamentos do Sul (Grupo MED1) no âmbito da Conferência

Interparlamentar sobre a PESC/PCSD

A reunião, que decorreu no dia 9 de março, pelas 09h00, na sala Delegação da Assembleia Nacional

Húngara, foi convocada pela Delegação portuguesa e presidida pela Deputada Liliana Reis (PSD). Contou com

a presença derepresentantes das delegações dos parlamentos de Chipre, Espanha, França, Grécia, Itália,

Malta, tendo a Assembleia da República sido também representada pelo Deputado José Luís Carneiro (PS),

da Comissão de Assuntos Europeus.

A Deputada Liliana Reis (PSD) proferiu uma intervenção inicial, tendo começado por salientar a importância

da paz e estabilidade para o crescimento europeu, refletindo a ambição dos fundadores do projeto europeu.

Aludindo aos novos desafios e ameaças, como o regresso da guerra convencional, os ciberataques, as

alterações climáticas, os fluxos migratórios, a dependência energética e o crime organizado, referiu o

deslocamento do conceito estratégico da NATO e da Bússola Estratégica europeia para leste, especialmente

após a guerra da agressão russa contra a Ucrânia. Destacou, assim, a importância do Mediterrâneo para o

Atlântico e para sul global e a relevância de partilhar perspetivas sobre o receio de novas ameaças, como a crise

do Sahel, o Sudão, e a fragilidade de vários Estados africanos promovidos pela Rússia. Congratulando-se pela

nomeação de um Comissário para o Mediterrâneo, realçou o novo Pacto para o Mediterrâneo, que visa parcerias

económicas e estratégicas, tendo, de seguida, lançado para o debate questões sobre o modo de mitigar as

alterações climáticas, de tratar a migração com humanismo e de reforçar a indústria de defesa, criando

empregos nos países do Grupo MED.

A intervenção foi seguida de uma troca de pontos de vista entre as diferentes delegações dos parlamentos

dos países do Sul, tendo sido consensual a vantagem de nomear um Comissário Europeu para o Mediterrâneo

e a necessidade de clarificar as suas competências e responsabilidades, nomeadamente em matéria de

migração, com a sugestão de o convidar para uma futura reunião do Grupo. Foram ainda abordados temas

como a situação no Norte de África, as alterações climáticas, a energia, os conflitos na Líbia e no Líbano, a crise

humanitária em Gaza e a necessidade de reforçar cooperação com estas regiões.

No final do debate, a Deputada Liliana Reis referiu a necessidade de abordar duas questões relacionadas,

por um lado, com o convite às delegações da Croácia e da Eslovénia para integrarem o Grupo MED, à

1 Elenco dos países que participam no Grupo MED: Portugal, Espanha, Itália, França, Malta, Chipre e Grécia.

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semelhança do que ocorre a nível governamental e, por outro lado, a renovação do calendário da presidência

rotativa do Grupo, o qual foi adotado até 2025, tendo ambas as propostas recebido a concordância por parte

dos participantes.

Da agenda da Conferência sobre PESC/PCSD constavam os seguintes pontos:

Sessão de abertura

János Latorcai, Vice-Presidente da Assembleia Nacional Húngara, iniciou a sessão, dando as boas-vindas

a todos os participantes, e referiu os temas em destaque na Conferência, designadamente o futuro da Europa e

o alargamento, as prioridades da política externa e de segurança comum e a política comum de segurança e

defesa, com destaque para a guerra na Ucrânia, a proteção das fronteiras externas e a migração ilegal, e as

mudanças geopolíticas e estratégicas no mundo. Lajos Kósa, Presidente da Comissão da Defesa e da

Aplicação da Lei da Assembleia Nacional Húngara, relembrando a adesão da Hungria à UE, em 2004, salientou

a importância de reforçar a construção europeia, através de uma forte competitividade, de paz e prosperidade e

de um diálogo contínuo, sem prejuízo de haver entendimentos diferentes. Zsolt Németh, Presidente da

Comissão dos Negócios Estrangeiros da Assembleia Nacional Húngara, recordou o papel desempenhado pela

Conferência enquanto fórum de monitorização e de cooperação entre os Estados-Membros com as suas

diversidades internas, mas objetivos comuns, e referiu a necessidade de reforçar a autonomia estratégica

europeia com vista a proteger e promover os interesses e valores da UE. David Mcallister, Presidente da

Comissão dos Assuntos Externos do Parlamento Europeu (PE), felicitou a Presidência húngara pela organização

dos trabalhos e realçou a importância de a UE, no atual contexto internacional volátil, se focar em quatro

objetivos estratégicos: i) enfrentar as consequências da atual guerra de agressão russa na Ucrânia, com

destaque para a Resolução do Parlamento Europeu de 17 de julho de 2024, sobre o apoio contínuo à Ucrânia

e o apoio ao Plano de Paz apresentado pelo Presidente Zelensky; ii) defender o multilateralismo baseado em

regras, em particular as Nações Unidas e as suas agências; iii) desenvolver alianças e parcerias estratégicas

com objetivos comuns, como a da NATO; e iv) adaptar progressivamente as estruturas e os processos decisórios

da UE, aumentando a sua capacidade de ação e de forma mais eficaz. Por fim, frisou o papel essencial

desempenhado pelos parlamentos nacionais e o Parlamento Europeu na garantia da legitimidade democrática.

Sessão I: A futura Europa e os países que pretendem aderir à UE

Zsolt Németh, Presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros da Assembleia Nacional Húngara,

moderador da sessão, passou a palavra a Olivér Várhelyi, Comissário para a Vizinhança e o Alargamento, que,

após realçar a importância do alargamento para a paz, prosperidade e segurança na Europa, como um

investimento geopolítico para fortalecer e consolidar os fundamentos da paz, estabilidade, segurança e

prosperidade a longo prazo, destacou os progressos realizados no processo de alagamento da UE. Assim,

referiu o Plano de Crescimento para os Balcãs Ocidentais, com um apoio financeiro adicional de 6 mil milhões

de euros, e que visa promover o desenvolvimento socioeconómico e acelerar a convergência da região com a

UE, incentivando a integração económica regional através do mercado comum. Relembrou a criação do

mecanismo de apoio à Ucrânia no valor de 50 mil milhões de euros para o período de 2024-2027, com foco na

preparação para a adesão e na recuperação e reconstrução do país. Realçou ainda os avanços nos processos

de adesão de vários países como de Montenegro, especialmente nos capítulos 23 e 24, da Sérvia, cujo foco

está na continuação das negociações e na abertura do cluster 3 sobre competitividade e crescimento inclusivo,

da Albânia e da Macedónia do Norte, cujas conferências intergovernamentais serão para breve. Quanto à

Bósnia-Herzegovina e a Turquia, sublinhou a necessidade de uma abordagem construtiva, devendo ser evitadas

ações unilaterais que aumentem as tensões. Concluiu afirmando que o alargamento está no topo da agenda

política e que o projeto europeu não estará completo sem a adesão dos países dos Balcãs e do Leste, cumprindo

os critérios de Copenhaga, com total empenho na concretização das reformas da UE e respetivas políticas e

através de uma política de alargamento credível, previsível, dinâmica e sujeita a uma orientação política ainda

mais forte, com os vários instrumentos e apoios necessários.

János Bóka, Ministro dos Assuntos da União Europeia da Hungria, referindo-se às prioridades da

Presidência húngara do Conselho da UE, salientou, em primeiro lugar, a necessidade de adotar um novo acordo

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sobre a competitividade europeia, de aprofundar o mercado interno, de apoiar as pequenas e médias empresas,

de promover a transição ecológica e digital em parceria com a indústria e os cidadãos europeus, através do

comércio e da cooperação internacionais, mencionando o relatório Draghi sobre a competitividade europeia. De

seguida, sublinhou a importância de reforçar a política de defesa europeia para garantir a sua segurança,

resiliência e capacidade de reação e de gestão de crises internacionais, através de parcerias e da cooperação

em matéria de defesa, com ênfase no reforço da base europeia de defesa, tecnológica e industrial, incluindo a

inovação e a contratação pública conjunta no setor da defesa. Aludindo à política de alargamento coerente e

baseada no mérito como instrumento de promoção da convergência, referiu o caso especial da Ucrânia, os

progressos realizados pela Moldávia, e deu nota do projeto do Corredor Verde, que visa facilitar a circulação de

pessoas e bens e a implementação do plano de crescimento dos Balcãs Ocidentais. Em quarto lugar, referiu a

questão da migração ilegal, em particular a sua dimensão externa, que exige uma cooperação eficiente com

países terceiros, regressos mais eficazes e soluções inovadoras para as regras de asilo, bem como a

importância da proteção das fronteiras externas e da utilização de fundos europeus para esse fim. Por último,

sublinhou a importância da política de coesão, da política agrícola comum e do desafio demográfico, elementos

essenciais para garantir a autonomia estratégica da UE.

Seguiu-se o período de debate, onde foram abordados temas como a importância de adotar uma política de

alargamento reforçada, credível, equilibrada e baseada no mérito, que promova a paz e a estabilidade, o respeito

pelo Estado de direito e a proteção dos valores europeus, o sinal positivo que o alargamento pode dar num

momento de conflito no continente europeu, sem prejuízo do estrito cumprimento dos critérios de Copenhaga, e

o papel de controlo desempenhado pelos parlamentos nacionais. Vários parlamentares sublinharam a

necessidade de o alargamento implicar uma reforma institucional e financeira da UE. Os eurodeputados

referiram os progressos registados por países como a Ucrânia e a Moldávia e reiteraram o apoio à Ucrânia,

nomeadamente a aceleração do seu processo de adesão e a importância da sua reconstrução e da ajuda militar

prestada através do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, com a rápida colocação de meios de combate.

O Deputado Carlos Reis (GP PSD) sublinhou a importância da paz, dos valores da unidade, da democracia

e da cooperação para o sucesso do projeto europeu, realçando a necessidade de continuar a escrever o futuro

comum, com uma Europa mais desenvolvida e mais forte, para além das suas fronteiras atuais. Destacou o

processo de adesão como uma oportunidade de desenvolvimento económico, de reforço democrático e de

acesso a um vasto mercado comum de países como a Ucrânia, a Moldávia, a Geórgia e os países candidatos

dos Balcãs Ocidentais, afirmando que o futuro da Europa será mais forte com o acolhimento de novos membros

com a mesma ambição de paz, prosperidade e democracia, especialmente no caso da Ucrânia, cuja adesão

deve ser priorizada.

Em resposta às perguntas apresentadas, Olivér Várhelyi, sublinhou o papel dos parlamentos nacionais no

processo de alargamento da UE, a importância de este se basear no mérito, de acordo com a nova metodologia

para o alargamento e os planos de reforma e crescimento como instrumento geopolítico, a necessidade de os

países candidatos cumprirem os critérios o mais rapidamente possível e de o próximo quadro financeiro

plurianual conter os fundos necessários para os novos membros. János Bóka salientou o seu empenho em

prosseguir o diálogo sobre o Estado de direito, a importância de preservar a integridade dos processos eleitorais,

de combater a interferência externa, de fazer avançar o processo de alargamento e, referindo-se às visitas do

Primeiro-Ministro húngaro a Kiev, Moscovo, Pequim e EUA, defendeu que o seu objetivo é conseguir um cessar-

fogo imediato que sirva de base para as negociações de paz, com a participação de intervenientes

internacionais.

Sessão II: Prioridades e questões de política externa e de segurança comum e da política comum de

segurança e defesa

David Mcallister, Presidente da Comissão dos Assuntos Externos do PE, moderador da sessão, anunciou

a transmissão de uma mensagem de vídeo do Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a

Política de Segurança, Josep Borrell, que sublinhou a importância de a Europa, enquanto superpotência,

aprender a utilizar a linguagem do poder e a necessidade de reforçar a unidade entre os Estados-Membros, a

coerência entre as políticas internas e externas e uma maior coordenação com os seus parceiros mais próximos.

Recordando o apoio da UE à Ucrânia em termos políticos, económicos e militares, com o rápido aumento do

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orçamento da defesa e o estímulo da indústria de defesa europeia, sublinhou a importância de acelerar o

fornecimento de armas à Ucrânia. Passando ao conflito no Médio Oriente, sublinhou o apoio humanitário da UE

e o seu empenho na solução de dois Estados, alertou para as consequências que o conflito poderia ter a nível

europeu e mundial e sublinhou a necessidade de melhorar a capacidade da UE para construir um cultura

estratégica e posição face aos desafios comuns, em estreita cooperação com os parceiros internacionais.

Simon Mordue, Secretário-Geral Adjunto do Serviço Europeu para a Ação, relembrou o papel dos

parlamentos nacionais na defesa da democracia e defendeu a manutenção de um diálogo contínuo entre estes

e as instituições europeias. Referindo-se aos desafios geopolíticos e geográficos enfrentados pelo sistema

internacional, marcado por uma maior polarização e concorrência, por vezes associada a uma cooperação

reduzida e ao enfraquecimento das regras, realçou o desafio que representa para o novo ciclo institucional da

UE. Apontou como elementos essenciais para tornar a UE mais forte, mais resiliente e mais influente: uma

política de alargamento baseada no mérito, o reforço da indústria de defesa europeia, a manutenção e o

aprofundamento do envolvimento com os parceiros mediterrânicos, a região Indo-Pacífico, a América Latina e a

as Caraíbas, África, a parceria transatlântica e o reforço da credibilidade do sistema multilateral. Destacou ainda

o papel dos parlamentos nacionais na abordagem de questões-chave como a migração, a desflorestação e o

trabalho forçado, a inteligência artificial, a transformação digital e a segurança económica. Concluiu defendendo

que a UE precisa de reforçar a sua capacidade de agir coletivamente e de forma rápida como ator global.

Seguiu-se o período de debate, onde foram abordadas questões como a importância da autonomia

estratégica da UE, para a sua segurança e resiliência, com o desenvolvimento de uma política comum de

segurança e defesa, o reforço da parceria transatlântica, a continuação do processo de alargamento da UE, o

apoio à Ucrânia, nas suas diferentes vertentes, a redução da dependência europeia, designadamente ao nível

do setor energético, a importância de reforçar o combate à desinformação, às ameaças híbridas e às ingerências

externas, e de assegurar a estabilidade e segurança nos países da vizinhança europeia. Foi ainda avançada a

ideia de criar uma frota de monitorização e de vigia do Atlântico, a necessidade de combater eficazmente as

ameaças híbridas, tendo sido feita menção aos pedidos de adesão da Ucrânia e os países dos Balcãs Ocidentais

à UE, a manutenção do apoio a Ucrânia e à Moldávia, a ameaça da Turquia sobre Chipre, assim como a

importância de abordar questões noutras regiões como o Sahel e o Médio Oriente.

A Deputada Liliana Reis (GP PSD), referindo-se à guerra na Ucrânia e citando Christopher Hill no seu artigo

de 1993, realçou o desfasamento entre as expectativas e as capacidades da defesa europeias e a necessidade

de reforçar a indústria de defesa europeia, recorrendo à melhor investigação no setor industrial produzida pelas

universidades europeias, alargando a base tecnológica e outros mecanismos da PCSD, nomeadamente o

Mecanismo de Apoio à Paz e o Fundo Europeu de Defesa, assim como o desenvolvimento e a aquisição de

capacidades militares. Realçando a perceção geopolítica e cultural de Portugal, enquanto Estado europeu,

atlântico e mediterrânico, defendeu a importância de proteger os valores comuns para o futuro, como a

democracia e o Estado de direito.

O Deputado José Luís Carneiro (GP PS), referindo-se aos grandes desafios atuais, nomeadamente a

criminalidade organizada, internacional e complexa, por um lado, e os riscos e catástrofes naturais resultantes

das alterações climáticas, por outro, onde eventos como a pandemia e a guerra na Europa e no Médio Oriente,

contribuíram para a polarização e a radicalização das sociedades, para o aumento do tráfico de armas, de seres

humanos e de droga, para além das conhecidas vulnerabilidades na fronteira externa comum, nomeadamente

do Mediterrâneo Central e Oriental e dos Balcãs. Sublinhou a importância de reforçar a cooperação com a

plataforma de diálogo UE e países MENA, bem como com os países da América Latina e, no que respeita à

proteção civil, defendeu o reforço dos seus meios humanos e materiais, bem como das capacidades europeias

de proteção consular e diplomática nos países terceiros onde haja crises humanitárias ou outros eventos

disruptivos.

O Deputado Pedro Pessanha (GP CH) referiu-se à alteração do equilíbrio de poder militar na Europa

resultante do atual cenário de guerra na Ucrânia, com o regresso da chamada «Guerra Fria reaquecida», que

representa uma grave ameaça, mas também pode servir como uma oportunidade para rever as políticas e

conquistar os corações dos cidadãos europeus. Destacou três questões para a nova era da segurança e defesa

europeias: como pode a Europa promover a consciencialização da sociedade de modo a desencadear um maior

apoio público ao investimento necessário nas Forças Armadas; como pode uma reconstrução da arquitetura

industrial promover as ferramentas de mais alto nível necessárias para uma verdadeira autonomia estratégica

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europeia, nomeadamente no quadro da tecnologia digital, das técnicas de recolha de dados e dos projetos de

inteligência artificial adaptados às soluções de segurança e defesa; e, por último, como tornar as iniciativas

europeias de desenvolvimento de capacidades de defesa mais atrativas, de modo a impulsionar a interação

entre a indústria, a academia, os centros de investigação e as Forças Armadas.

Em resposta às questões colocadas, Simon Mordue, realçou a posição consensual em torno da questão de

a Ucrânia ser a principal responsável por definir as condições de um acordo de paz justo e sustentável, de

acordo com os princípios constantes da Carta das Nações Unidas sobre a integridade territorial, devendo a UE

apoiá-los no processo. No que diz respeito à questão cipriota e às relações com a Turquia, frisou a importância

da parceria estratégica com a Turquia e a necessidade de avançar nas negociações para alcançar uma solução

no quadro das Nações Unidas. Quanto à defesa, sublinhou a necessidade de a UE reforçar este domínio, com

coerência, através de aquisições conjuntas, reforçando as capacidades de defesa e no âmbito da aliança com

a NATO. Por fim, referiu a importância de a UE conferir uma dinâmica ao processo de alargamento que permita

o acolhimento eficaz e efetivo dos novos membros.

Debate de urgência sobre uma questão de atualidade: as implicações dos ataques indiscriminados

da Rússia na economia e nas infraestruturas da Ucrânia

Costas Mavrides, membro da Comissão AFET do PE, introduziu o tema no âmbito da política externa e de

segurança e da política comum de segurança e defesa, explicitando que o pretendido era um debate orientado

para uma troca de impressões entre parlamentares, sem intervenções de fundo.

No debate que se seguiu, foi reiterada a solidariedade e o apoio coletivo e unânime à Ucrânia contra a

agressão russa, tendo sido realçada a necessidade de criar uma estratégia para a Ucrânia, em conjunto com

parceiros como os EUA, designadamente para a reconstrução pós-guerra, tendo ainda sido apontada a

necessidade de promover a ordem internacional e os direitos humanos, apoiar o setor energético ucraniano, em

especial ao inverno que se aproxima, e ao seu processo de adesão à UE.

Sessão III: Proteção das fronteiras externas e migração ilegal

Lajos Kósa, Presidente da Comissão de Defesa e Aplicação da Lei da Assembleia Nacional Húngara,

enquanto moderador da sessão, saudou os participantes no segundo dia de trabalhos, faz um pequeno

enquadramento e anunciou a transmissão de um vídeo sobre os desafios enfrentados pela Hungria na proteção

das fronteiras externas da UE. De seguida, Bence Rétvári, Vice-Ministro do Interior do Governo húngaro,

abordou a realidade da fronteira húngara, destacando o papel da polícia e das autoridades de controlo fronteiriço

na proteção da mesma desde 2015, referindo a violência e agressividade por parte de migrantes que chegam

sem documentos, frequentemente com o apoio de traficantes, e que inclui confrontos com a polícia e o uso de

armas. Defendeu a necessidade de proteger as fronteiras externas da UE e de realizar os procedimentos de

asilo fora do seu território, conforme o Acordo de Schengen, mencionando a falta de apoio financeiro da UE,

responsabilidade que deve ser partilhada entre os Estados-Membros. János Zoltán Kuczik, Sub-Chefe da

Polícia Nacional Húngara, começou por referir que, em 2015, a Hungria enfrentou uma migração sem

precedentes, o que representou um enorme desafio para a Polícia Nacional Húngara, e levou à adaptação da

infraestrutura e do enquadramento legal para fazer face a essa situação, com a construção de uma rede de

segurança na fronteira, o recrutamento de novos agentes, e a declaração de estado de emergência migratória

pelo governo. Informou que, após 2015, houve um aumento acentuado no número de migrantes que tentavam

cruzar ilegalmente a fronteira da Hungria, com um crescimento nos ataques contra as forças de fronteira,

resultando em inúmeros incidentes e agentes feridos. Concluiu com um apelo aos Estados-Membros para

reforçarem o apoio à Hungria na proteção das fronteiras externas da UE, e agradeceu a colaboração já existente

com alguns países fronteiriços.

Seguiu-se o período de debate, onde foram abordados temas como os desafios no domínio da proteção das

fronteiras dos Estados-Membros, a instrumentalização de migrantes levada a cabo pela Rússia e pela

Bielorrússia, a construção de redes de segurança e barreiras físicas, por parte de países como a Lituânia e a

Finlândia, para proteger as fronteiras externas do Espaço Schengen, a relevância de investir num sistema de

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gestão de fronteiras mais digitalizado e integrado, com infraestrutura robusta e guardas fronteiriços bem

equipados. Referindo-se às situações de diversos Estados-Membros, vários parlamentares sublinharam a

necessidade de reforçar a cooperação, solidariedade e partilha de responsabilidades entre os Estados-

Membros, além de combater as redes de tráfico humano e abordar as causas profundas, como conflitos, pobreza

e mudanças climáticas nos países de origem, reforçando parcerias com esses países e de adotar uma

abordagem multifacetada, tendo sido ainda apontada a necessidade de reavaliar e reestruturar a organização

da Frontex para a tornar mais eficaz na resposta aos desafios migratórios e na proteção das fronteiras.

O Deputado José Luís Carneiro (GP PS) afirmou que o tratamento dado aos imigrantes reflete os valores

humanistas de uma sociedade, defendendo que as migrações devem ser reguladas e seguras na origem, no

trânsito e no destino e a relevância do apoio ao desenvolvimento sustentável nas regiões e países de origem.

Destacou o compromisso de Portugal com o Pacto europeu de Asilo e Migrações e com o Pacto global para as

Migrações das Nações Unidas, baseados na solidariedade e responsabilidade, bem como com a ambição de

reforçar as capacidades regulatórias da fronteira comum europeia e os esforços humanitários comuns no

mediterrâneo. Realçou ainda a necessidade de reforçar a rede de acolhimento tendo em vista a boa integração

nas diferentes culturas e sociedades, relembrando a importância de perceber que coexistir é diferente de

integrar, e da necessidade de promover o rejuvenescimento e suportar as funções económicas e sociais do

Estado.

O Deputado Paulo Pisco (GP PS) referiu a complexidade que representa a gestão dos fluxos migratórios e

defendeu a importância de não serem feitas concessões aos populismos e a políticas securitárias, onde a

empatia e o respeito pela dignidade humana se encontram ausentes, referindo o vídeo anteriormente

transmitido. Dando nota da sua visita ao centro de detenção de Roszke, reiterou a importância do respeito pelos

direitos humanos dos migrantes, recordando que o humanismo e a solidariedade estão na base da identidade

comum construída desde o início da criação do extraordinário projeto que é a União Europeia. Defendeu a

relevância de defender as fronteiras externas, combater os traficantes de migrantes e criar vias legais para a

imigração como defender os nossos valores comuns, sob pena de destruir a identidade e a verdadeira natureza

da União Europeia. Concluiu questionando a Presidência húngara sobre a referência feita às soluções

inovadoras para as regras sobre asilo, e o respeito pelos direitos humanos e a dignidade humana, assim como

a sua solidariedade para com os Estados-Membros da UE.

Em reposta às questões colocadas e aos comentários tecidos, Bence Rétvári destacou a relevância da

proteção das fronteiras externas da UE manifestada pelas diversas intervenções, cuja resolução é complexa,

expressou a sua concordância com a necessidade apontada da solidariedade e responsabilidade partilhada,

bem como abordar as causa de fundo, nos países de origem, fazendo menção ao programa nacional «Hungary

Helps».

Sessão IV: Mudanças geopolíticas e estratégicas no mundo

Zsolt Németh, Presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros da Assembleia Nacional Húngara,

moderador da sessão, referiu que a agressão russa contra a Ucrânia ameaça os valores comuns da paz,

segurança, integridade territorial e direitos humanos, questionando sobre o papel que a Rússia deverá ocupar

no Conselho de Segurança da ONU no pós-guerra. Péter Sztáray, Secretário de Estado da Política de

Segurança e da Segurança Energética, Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Comércio da Hungria,

começou por realçar o papel que os parlamentos nacionais devem desempenhar no âmbito da elaboração das

políticas europeias e elencou os principais desafios que a UE tem enfrentado como a migração ilegal e os seus

impactos, a pandemia de COVID-19, as crises económicas e as alterações climáticas, a guerra na Ucrânia com

implicações nas cadeias alimentares e energéticas e a guerra no Médio Oriente. Referiu que, para responder a

estes desafios, a UE tem de se adaptar, mas coloca-se a questão de saber de que forma, apontando a

necessidade de tempo e vontade política para unir as posições da UE, para reforçar a competitividade interna e

com terceiros, encontrar soluções para a migração ilegal, o terrorismo, e a guerra na Ucrânia. Aludindo ao

alargamento da UE, frisou a importância de fortalecer o mercado interno e estabilizar os países da vizinhança,

especialmente no caso dos Balcãs Ocidentais.

De seguida Pia Kauma, Presidente da Assembleia Parlamentar da OSCE, abordou a transformação do

contexto global de segurança, impulsionada por novas ameaças, como a guerra cibernética, as ameaças

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híbridas e a competição entre as grandes potências, com destaque para a agressão russa contra a Ucrânia.

Recordou o papel da OSCE como uma plataforma de diálogo e negociações de paz, complementar à ação da

UE, com quem partilha objetivos comuns, designadamente no apoio à Ucrânia, salientando a cooperação em

áreas humanitárias como a repatriação de crianças levadas à força pela Rússia, referindo ainda o impacto do

conflito no Médio Oriente no agravamento do cenário global. Terminou, apelando ao reforço da confiança,

cooperação e ação decisiva pela paz e estabilidade. Por fim, Nicolás Pascual de la Parte, Membro da

Subcomissão da Segurança e da Defesa do PE, destacou o atual período de transição de uma ordem mundial

baseada em regras que é posta em causa por conflitos, a utilização de novas tecnologias disruptivas, por

competições entre grandes potências, como a China e os EUA, salientando que a primeira resolução adotada

pelo novo Parlamento Europeu foi de apoio à Ucrânia. Afirmando a importância de aprender lições com a guerra

na Ucrânia, referiu necessidade de a UE reforçar a cooperação e colaboração público-privada no domínio da

defesa, convencionais e novas, como a inteligência artificial, de uma nova abordagem com os países da

vizinhança, com destaque para o Sahel, de reforçar o investimento e o financiamento nestas áreas, através dos

recursos existentes e prevendo novos fundos. Terminou sublinhando a relevância da colaboração e parceria

com a NATO, com interoperabilidade de recursos, mobilidade militar, exercícios conjuntos e diálogo continuo.

Seguiu-se o período de debate, onde foram abordados temas como as consequências da guerra na Ucrânia

para a arquitetura securitária da UE, a necessidade de encontrar uma solução para a paz, a questão da influência

russa em diversas regiões da Europa e do mundo, como os Balcãs Ocidentais e no continente africano, o

impacto que a eleição nos EUA pode acarretar, o novo ciclo institucional da UE, o conflito no Médio Oriente, a

proteção das fronteiras externas da UE e a migração ilegal, o papel da NATO e a complementaridade entre a

PESC/PCSD e a NATO, o posicionamento face à China, a importância das relações UE com a Turquia e com

África, com a região do Indo-Pacífico, tendo sido referido o processo de alargamento da UE e a sua autonomia

estratégica.

A Deputada Liliana Reis (GP PSD), referindo-se às profundas transformações geopolíticas e estratégicas

no mundo, apontou que a sua génese e principal objetivo prende-se com a transição de poder e a ambição de

outras potências em moldar uma Nova Ordem Mundial. Defendeu que, perante as ameaças mencionadas ao

longo da Conferência, como a guerra às alterações climáticas, ao cibercrime, à desinformação e às fake news

que se espalham, de Leste a Sul, e o regresso da power politics, demonstram a importância de consolidar as

relações com os aliados e reconstruir as relações com os parceiros que se afastaram. Frisou que cada Estado-

Membro e a União Europeia devem cruzar a diplomacia bilateral e multilateral, respetivamente, e devem

aprofundar parcerias estratégicas com outros blocos regionais, com base no respeito mútuo, como o Mercosul,

a União Africana e a Índia.

O Deputado Carlos Eduardo Reis (GP PSD) identificou o Ártico como um dos novos epicentros das

mudanças no equilíbrio geopolítico global. Defendeu que o degelo acelerado, causado pelas alterações

climáticas, está a criar oportunidades, e a provocar tensões crescentes entre nações que procuram afirmar o

controlo e explorar as riquezas do território, designadamente a Rússia, que detém cerca de metade da linha

costeira do Ártico e que já investiu na sua militarização, reconstruindo e modernizando antigas bases soviéticas

e posicionando equipamentos como radares e sistemas de defesa aérea. Apontou, no entanto, que os desafios

técnicos e financeiros da Rússia levaram uma parceria sino-russa no Ártico, com o acesso privilegiado da China

às vastas reservas de recursos energéticos da região e a novas rotas comerciais, como a Rota da Seda Polar,

uma componente da ambiciosa iniciativa «Uma Faixa, Uma Rota», e a uma cooperação reforçada com

exercícios militares conjuntos no Ártico. Terminou afirmando a necessidade de a UE, juntamente com os países

nórdicos e o Canadá, intensificar a sua presença diplomática e científica na região, com abordagem multilateral,

regulando as atividades no Ártico e garantindo a exploração sustentável dos recursos e de forma pacífica, para

bem das gerações futuras.

Péter Sztáray respondeu às questões colocadas, realçando a importância de a autonomia estratégica

europeia, através do reforço das suas capacidades de defesa, a nível militar e político, complementar a ação da

NATO, em matéria de segurança militar, e a ação da UE em matérias não abrangidas, e referindo-se às recentes

visitas do Primeiro-Ministro húngaro a várias potências, salientou a importância de iniciar um processo de

negociação da paz para a Ucrânia, no qual a UE deve desempenhar um papel liderante. Sublinhou a ligação do

alargamento com a promoção e proteção dos valores comuns europeus, destacando a relevância da parceria

com a Turquia e a necessidade de a UE reforçar a sua competitividade para enfrentar países como a China. Pia

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Kauma, referiu a importância de melhorar os sistemas de alerta precoce para evitar que os desentendimentos

se transformem em crises, como no caso da Ucrânia e no Medio Oriente e referiu a próxima Presidência

finlandesa da OSCE em 2025. E Nicolás Pascual de la Parte defendeu a necessidade de a UE aumentar a sua

ambição em matéria de segurança e defesa, com o apoio e a informação adequada aos cidadãos, para o qual

é necessário reforçar os recursos financeiros realçando o papel dos Parlamentos nacionais.

Sessão de encerramento

Zsolt Németh, Presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros da Assembleia Nacional Húngara,

agradeceu a participação de todos quantos organizaram os trabalhos, resumindo as principais questões

abordadas na conferência, agradeceu o debate e a troca de experiências. De seguida passou a palavra a Andrzej

Grzyb, do parlamento polaco, que informou sobre a realização da 26.ª Conferência sobre a PESC/PCSD, nos

dias 24 e 25 de março de 2025, em Varsóvia.

A Declaração conjunta dos copresidentes da Conferência encontra-se disponível aqui.

Assembleia da República, 27 de setembro de 2024.

A Chefe da Delegação, Deputada Liliana Reis.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

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