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Quinta-feira, 15 de outubro de 2020 II Série-E — Número 4

XIV LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2020-2021)

S U M Á R I O

Observatório Técnico Independente: Estudo técnico sobre «Recuperação da Mata Nacional de Leiria após os incêndios de outubro de 2017».

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ESTUDO TÉCNICO

Recuperação da Mata Nacional de Leiria após os

incêndios de outubro de 2017

Citação recomendada:

Observatório Técnico Independente, Castro Rego F., Fernandes P., Sande Silva J., Azevedo J., Moura J.M., Oliveira E., Cortes R., Viegas D.X., Caldeira D., e Duarte Santos F. - Coords. (2020) Recuperação da Mata Nacional de Leiria após os incêndios de outubro de 2017 Assembleia da República. Lisboa. 56 pp.

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO: A GESTÃO DA MATA NACIONAL DE LEIRIA ...........................................

2. ORDENAMENTO E GESTÃO FLORESTAL ........................................................................

PLANO DE GESTÃO FLORESTAL .................................................................................................................................... PLANO REGIONAL DE ORDENAMENTO FLORESTAL ...................................................................................................... OUTROS INSTRUMENTOS TERRITORIAIS ...................................................................................................................... PREVENÇÃO ESTRUTURAL ...........................................................................................................................................

3. RESPOSTA AO IMPACTO DOS INCÊNDIOS DE 2017 ....................................................

ESTRATÉGIA DO ICNF .................................................................................................................................................RELATÓRIO DA COMISSÃO CIENTÍFICA DO PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DAS MATAS LITORAIS ...............................PARECER DO OBSERVATÓRIO DO PINHAL DO REI ......................................................................................................

4. RESULTADOS E SITUAÇÃO ATUAL .................................................................................

PLANEAMENTO FLORESTAL .........................................................................................................................................ESTABILIZAÇÃO DE EMERGÊNCIA .................................................................................................................................GESTÃO FLORESTAL E REPOVOAMENTO DE ÁREAS ARDIDAS .....................................................................................CONTROLE DE INVASORAS LENHOSAS ........................................................................................................................CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS ............................................................................................................................ MODELO DE GESTÃO ...................................................................................................................................................

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .............................................................................

RESPOSTAS ................................................................................................................................................................. PLANEAMENTO............................................................................................................................................................. MODELOS DE SILVICULTURA ........................................................................................................................................ MONITORIZAÇÃO .......................................................................................................................................................... ESTRUTURA ................................................................................................................................................................. GESTÃO E GOVERNANÇA .............................................................................................................................................

6. REFERÊNCIAS ...................................................................................................................

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1. Introdução: A gestão da Mata Nacional de Leiria

A Mata Nacional de Leiria (MNL), Pinhal d'El-Rei ou Pinhal de Leiria, abrange uma superfície

total de 11.021 ha de domínio privado do Estado Português, correspondendo a perto de 2/3 do

concelho da Marinha Grande. Esta é uma floresta pública emblemática da história e cultura

florestal portuguesa. Foi plantada por ordem de D. Afonso III no Século XIII e expandida por D.

Dinis nos séculos XIII e XIV.

A gestão do Pinhal de Leiria, assim como a de muitos outros pinhais do litoral, tem seguido várias

etapas de acordo com a evolução dos objetivos e necessidades. O objetivo de fixação das dunas

para proteção das culturas agrícolas terá sido a razão das primeiras sementeiras de pinheiro nos

areais da costa pelos primeiros reis e da escolha do pinheiro bravo, à semelhança do que se

fazia nas landes em França.

O fornecimento de matérias primas para a construção naval foi outro objetivo importante. De

notar que para a construção de naus teria sido muito mais explorada a base florestal de pinheiro

manso que, segundo Pinto (1939), existiria na região já bem antes de D. Dinis. A crescente

escassez de madeira para a construção naval fez com que o pinhal de Leiria passasse, em 1783,

da Real Coroa para a Superintendência da Marinha. Em 1796 a conservação de todos os pinhais

reais era confiada à Real Junta da Fazenda da Marinha.

O objetivo de uma gestão mais profissional conduziu, em 1824, ainda dentro do Ministério da

Marinha, à criação da Administração Geral das Matas, funcionando com grande independência

técnica e administrativa, sendo responsável pelas receitas e despesas e pela aplicação de todos

os fundos destinados à conservação e aproveitamento das matas. E de modo a que fosse

incorporada na gestão das matas o melhor conhecimento científico, o Administrador Geral

deveria ser “munido de estudos das ciências naturais” e a reforma de 1847 explicitava até que o

cargo pudesse recair num oficial do corpo de engenharia, como aconteceu com Frederico

Varnhagen, ou “em algum dos lentes jubilados das faculdades de filosofia ou matemática tanto

da Universidade como das Academias do Reino”. A importância do conhecimento científico era

já então reconhecida. As primeiras referências em Portugal sobre a possibilidade de utilização

do fogo controlado em pinhal, por exemplo, foram feitas pelo primeiro Administrador Geral das

Matas do Reino, Frederico Varnhagen, baseado na sua experiência prática no Pinhal do Rei,

indicando ser este "um meio seguro de livrar o pinhal de ser incendiado no verão” (Varnhagen,

1836). Outro caso que demonstra a importância do conhecimento científico associado à MNL é

o do pinheiro bravo na Austrália. Introduzida no início do séc. XX, a cultura desta espécie

dependia integralmente de semente proveniente da MNL, tendo nesta mata nacional, entre 1963

a 1965, sido selecionadas 85 árvores plus que constituíram a base do programa de

melhoramento do pinheiro bravo na Austrália (Perry & Hopkins, 1967). Também em Portugal o

programa de melhoramento do pinheiro bravo se baseia em material genético recolhido

originalmente nessas árvores plus da MNL, com base no qual se constituíram os dois pomares

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clonais da Mata Nacional do Escaroupim.

Para além da construção naval muitas outras indústrias tinham necessidades crescentes de

matéria prima, o que fez com que a Administração Geral das Matas fosse transferida, em 1852,

para o recém-criado Ministério das Obras Públicas, depois também do Comércio e Indústria, mas

mantendo as mesmas características de independência técnica e administrativa.

As dificuldades financeiras do Estado aumentavam com o crescimento do deficit e da dívida e

iriam culminar com a bancarrota. As receitas das matas eram apetecidas pelo Estado central e

o modelo de gestão com autonomia que tinha dado resultados tão significativos ficou

completamente comprometido com a decisão, em 1881, de extinção da Administração Geral das

Matas e de transferência das competências da Secretaria Geral das Matas da Marinha Grande

para a Repartição de Agricultura em Lisboa. “Dificultaram-se por este modo as vendas e a

execução dos trabalhos culturais em tempo competente, ficando estes dependentes das verbas

orçamentais anualmente votas e respetivos duodécimos, quando até então as matas viviam das

suas receitas” como escreveria no início do século XX, Joaquim Ferreira Borges.

As preocupações ambientais tiveram uma primeira e importante expressão com o

estabelecimento do Regime Florestal, iniciado pelo Decreto de 24 de dezembro de 1901,

publicado no Diário do Governo n.º 296/1901. A definição do conceito de Regime Florestal é

clara, explicitando que “compreende o conjunto de disposições destinadas a assegurar não só a

criação, exploração e conservação da riqueza silvícola, sob o ponto de vista da economia

nacional, mas também o revestimento florestal dos terrenos cuja arborização seja de utilidade

pública, e conveniente ou necessária para o bom regime das águas e defesa das várzeas, para

a valorização das planícies áridas e beneficio do clima, ou para a fixação e conservação do solo,

nas montanhas, e das areias, no litoral marítimo”. Nesta sequência foi criada, em 1919, sob a

tutela governativa do Ministério da Agricultura, a Direcção-Geral dos Serviços Florestais e

Aquícolas (DGSFA), que permitiu uma nova dinâmica com a concretização da arborização das

dunas do litoral e significativas obras de correção territorial, com grande impacto no Pinhal do

Leiria.

A história dos modelos de gestão das matas do litoral passou, entretanto, por várias outras

etapas, mas nunca restaurando alguns dos princípios essenciais a uma gestão adequada do

ponto de vista técnico e administrativo. O modelo de gestão das matas litorais continuava

dependente dos serviços florestais centrais apesar das sucessivas mudanças das orgânicas dos

serviços florestais. À DGFSA sucederia, em 1975, a Direcção-Geral dos Recursos Florestais

(DGRF), depois em 1977, a Direcção-Geral do Ordenamento e Gestão Florestal (DGOGF), em

seguida em 1993 o Instituto Florestal (IF), em 1996 uma Direcção-Geral das Florestas (DGF) e

em 2003 uma nova Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF). Em todas estas estruturas

a gestão continuou sem autonomia técnica e administrativa e as receitas das matas litorais

continuaram centralizadas e sem obrigatoriedade de ser aí utilizadas.

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A questão das receitas e da sua aplicação na gestão das matas foi objeto de uma tentativa de

alguma correção, sem sucesso, em 2007. O Decreto Regulamentar n.º 10/2007, publicado no

Diário da República n.º 41/2007, sobre a nova orgânica da Direcção-Geral dos Recursos

Florestais, estabelecia, no número 2 do seu artigo 8.º, que a DGRF dispunha como receitas

próprias “as quantias provenientes da venda de produtos gerados pelo património florestal

público e comunitário” e, no número 3, que essas receitas seriam “afetas em 50% à proteção e

gestão do património florestal público e comunitário”. No entanto, esta afetação das receitas

nunca foi cumprida e logo no ano seguinte, em 2008, com a publicação da orgânica da

Autoridade Florestal Nacional, Decreto-Lei n.º 159/2008, publicada no Diário da República n.º

153/2008, esta disposição foi alterada para uma versão muito menos clara: “as receitas relativas

à gestão das matas públicas e dos perímetros florestais devem observar o princípio da alocação

por centro de custos”.

Atualmente a gestão da MNL encontra-se a cargo do Instituto da Conservação da Natureza e

Florestas (ICNF) e está submetida ao Regime Florestal por força de Decreto-Lei de 24 de outubro

de 1925, pelo DG n.º 258, II série, de 2/11, e é gerida de acordo com o Plano de Gestão Florestal

da Mata Nacional de Leiria desde 2012. A MNL integra biótopos de grande valor como é o caso

do Corine C12300073 na região do Samouco.

No dia 15 de outubro de 2017 a Mata Nacional de Leiria foi fortemente atingida por dois incêndios

originados em locais exteriores à Mata Nacional, um dos quais distante, que queimaram cerca

de 85% da sua superfície. A esta catástrofe é necessário acrescentar o impacto do Furacão

Leslie, um ciclone tropical atlântico formado a 22 de setembro de 2018, atingindo Portugal

Continental a 13 de outubro (o mais forte desde 1842), que teve na MNL uma das zonas mais

atingidas. Por sua vez, o incêndio de outubro de 2017 foi o de maior dimensão aqui ocorrido,

alterando radicalmente os ecossistemas e paisagem da mata nacional (Fig.1), já que os

incêndios de 1993 e 2003 atingiram, respetivamente, apenas um terço e um quinto da área ardida

em 2017. O Pinhal de Leiria tinha já atravessado no princípio do século XIX um período de

grande declínio, para o qual contribuíram os incêndios de 1806, 1814, 1818 e 1824, este último

de grande extensão.

Neste estudo técnico faz-se o enquadramento da Mata Nacional de Leiria em termos de

ordenamento e gestão florestal (secção 2), descrevem-se as respostas dadas pelo Estado,

comunidade científica e sociedade em geral para a recuperação da área afetada pelos incêndios

de 2017 (secção 3), analisam-se os processos de resposta e as ações desenvolvidas com base

nos resultados observados (secção 4), e apresentam-se as correspondentes conclusões e

recomendações (secção 5).

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Figura 1. A Mata Nacional de Leiria no pré-fogo com a distribuição das classes de idade dos povoamentos

florestais na área, o que evidencia alguma heterogeneidade estrutural dentro da forte dominância de pinheiro-

bravo. Fonte: Lopes et al. (2018)

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2. ORDENAMENTO E GESTÃO FLORESTAL

Plano de Gestão Florestal

O ordenamento florestal da MNL está definido no Plano de Gestão Florestal (PGF) de 2010 (AFN

2010), aprovado em 2012 e ainda em vigor, apesar das transformações radicais que a área da

Mata Nacional sofreu por ação dos incêndios de 2017 e do furacão Leslie em 2018 e das

implicações destas nas orientações de ordenamento e gestão da área. Apesar desta realidade

justificar uma revisão urgente do respetivo plano de gestão, o ICNF encontra-se ainda a

desenvolver esforços para proceder à referida revisão, tendo comunicado ao OTI em agosto de

2020, por solicitação deste Observatório, que utilizará o prazo legal determinado para o efeito (3

anos), a contar da aprovação do Programa Regional de Ordenamento Florestal do Centro Litoral

(PROF-CL) revisto, o que ocorreu em fevereiro de 2019. Portanto, o PGF em vigor, já com 10

anos, não só se encontra desatualizado pelo facto da a área sobre o qual incide ter sido

radicalmente transformada, como por se basear num Programa Regional de Ordenamento

Florestal anterior ao que se encontra atualmente em vigor.

No Plano de Gestão Florestal em vigor, baseado no preconizado na Estratégia Nacional para as

Florestas (ENF) aprovada pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 114/2006 de 15 de

setembro, a MNL foi definida com a função dominante de produção lenhosa, devendo o seu

objetivo prioritário ser o aumento da competitividade. A “valorização das funções ambientais dos

espaços florestais”, era preconizado com base no aumento da “área florestal de proteção na

Zona Costeira”. De acordo com o mesmo PGF, os objetivos estratégicos para a gestão da MNL

seriam: promover uma gestão sustentável dos recursos florestais e silvestres; produzir material

lenhoso de excecional qualidade e dimensão; procurar uma aproximação à normalização da

mata; melhoria do estado ecológico e paisagístico; proteger a floresta das agressões de agentes

bióticos e abióticos; aumentar a biodiversidade; controlar as espécies invasoras; alterar o termo

de explorabilidade para os 70 anos; e proceder a uma simplificação parcelar.

Este PGF foi elaborado seguindo o enquadramento e orientações do Plano Regional de

Ordenamento Florestal do Centro Litoral (PROF-CL) então em vigor (Decreto Regulamentar n.º

11/2006, de 21 de julho), considerando que 71% da MNL se encontra na sub-região homogénea

(SRH) Gândaras do Sul e 29 %, na SRH Dunas Litorais e Baixo Mondego. De acordo com o

mesmo PROF-CL, Gândaras Sul tinha elevada apetência para o desenvolvimento de espaços

florestais vocacionados para a produção de material lenhoso com elevado valor no mercado,

capaz de proporcionar um enquadramento paisagístico para permitir o desenvolvimento de

atividades de lazer e recreio. Como aspeto secundário, no PROF-CL era considerado a proteção

do Litoral e do Solo. Assim, a importância destas potencialidades e condicionantes refletia-se na

seguinte hierarquização de funções: 1.ª: produção; 2.ª: recreio, enquadramento e estética da

paisagem; 3.ª: proteção. Neste contexto, 7.087,43ha da MNL inseriam-se numa vocação em que

a função e subfunção dominantes seriam a produção de madeira, pelo que a gestão e

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intervenções florestais consistiam essencialmente na instalação e condução dos povoamentos,

na proteção da regeneração natural ou das plantações e na manutenção da sanidade vegetal.

Por sua vez, a SRH Dunas Litorais e Baixo Mondego era considerada uma importante zona

húmida com necessidades especiais de proteção contra a erosão eólica, ambiental,

microclimática e da rede hidrográfica. Assim, a importância destas potencialidades refletia-se na

hierarquização das funcionalidades desta sub-região: 1ª: proteção; 2ª: recreio, enquadramento

e estética da paisagem; 3ª: conservação de habitats de flora e fauna. As zonas do Tremelgo,

Formosa e envolvente à Ribeira de S. Pedro de Moel, foram consideradas como alguns dos mais

belos locais da mata e até mesmo do concelho, dado que aí podiam ser encontradas diversas

espécies florestais, algumas bastante invulgares, como é o caso dos taxódios.

Em termos cinegéticos é de referir a existência na MNL da Zona de Caça Municipal da Marinha

Grande e de Vieira de Leiria.

No PGF ainda em vigor, preconiza-se nos espaços florestais de proteção da rede hidrográfica, a

substituição gradual do acacial existente através da instalação de folhosas diversas, como

amieiros, freixos, salgueiros, choupos e quercíneas. Acresce que, na área definida como espaço

florestal de proteção do cordão dunar, se previa a plantação de pinheiro manso de modo a

favorecer a fixação das areias, conferindo uma maior proteção ao solo, promovendo a

diversidade da fauna e flora associados a esse espaço.

No que se refere às normas de exploração, foi adotado o termo de explorabilidade de 70 anos,

em virtude de apresentar os melhores resultados na obtenção da normalidade, tendo sido

substituído o anterior termo de explorabilidade de 80 anos, devido à dificuldade em atingir essa

normalização. O PGF considera que na MNL, povoamentos puros de pinheiro bravo devem ser

conduzidos em regime de alto fuste regular, sendo a sua condução feita através de cortes

culturais. Quanto aos cortes de realização, preconiza-se o corte raso dos povoamentos, sendo a

sua renovação feita através da regeneração natural.

Na altura da elaboração do PGF, a MNL apresentava uma perigosidade de incêndio florestal

muito variável, o que transparece também na classificação e mapeamento do Plano Municipal

de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PMDFCI) do Município da Marinha Grande. Assim, o

PGF da MNL indica que cerca de 50% da MNL apresentaria um grau de perigosidade que ia de

baixo (25%; 2.792,20 ha) a médio (25%; 2.813,81 ha), sendo que 23% da área era indicada como

de perigosidade alta (2.514.84 ha), 18% com uma perigosidade muito alta (1.985,10 ha) e apenas

9% (939,33 ha) apresentariam um grau muito baixo de perigo de incêndio (AFN, 2010). Na

verdade, a metodologia empregue na avaliação da perigosidade de incêndio não permite

classificá-lo objetivamente e de forma fundamentada. Uma simulação do comportamento do fogo

efectuada para as condições correspondentes ao percentil 93 do perigo de incêndio histórico na

região (Botequim et al., 2017), e que corresponde àquelas verificadas durante o incêndio de

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2003, indicou que o fogo estaria acima da capacidade de extinção por meios aéreos pesados em

37% da área da MNL. Note-se que o perigo meteorológico de incêndio no dia 15 de outubro de

2017 foi o mais elevado alguma vez registado pelas estações do IPMA de Alcobaça e Leiria (CTI,

2018).

Plano Regional de Ordenamento Florestal

No Programa Regional de Ordenamento Florestal do Centro Litoral (PROF C-L) em vigor desde

2019 (Portaria n.º 56/2019 - Diário da República n.º 29/2019, Série I de 2019-02-11) é indicado

que se encontra em elaboração o Plano de Recuperação das Matas Públicas do Litoral afetadas

pelos incêndios de 2017. Mais indica que a Mata Nacional de Leiria tem especificidades de

ordenamento que advêm do seu valor cultural e simbólico e que, para o conjunto das duas SRH

que constituem a MNL, a lista de espécies a privilegiar na SRH, nas áreas mais viradas para a

produção (Dunas Litorais e Baixo Mondego), permitirá um amplo leque de opções de

ordenamento com plena compatibilidade com as opções do PROF.

Para as SRH Gândaras Sul e Dunas Litorais e Baixo Mondego, esta com superior valor

conservacionista, como indicado no PGF, é considerado que a remuneração dos serviços dos

ecossistemas se mantém como aspeto central, o qual já decorria em parte também do PROF de

2006 (Tabelas 1 e 2).

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Tabela 1. Principais sistemas e espécies a privilegiar na SRH Dunas Litorais e Baixo Mondego, segundo o atual PROF do Litoral Centro de 2019.

ESPÉCIE/SISTEMA

DIMINUIÇÃO

SUSCETIBILIDADE

AO FOGO

CONSERVAÇÃO

DOS VALORES

NATURAIS

CLASSIFICADOS

DA REDE

NATURA2000

RENDIMENTO

POTENCIAL E

VIABILIZAÇÃO

DA GESTÃO (*)

IMPORTÂNCIA

DA

REMUNERAÇÃO

DOS SERVIÇOS

DOS

ECOSSISTEMAS

IMPORTÂNCIA

DO APOIO

PÚBLICO AO

INVESTIMENTO

Povoamentos puros de pinheiro bravo

A gestão ativa deverá diminuir a suscetibilidade ao fogo

++

Médio potencial de rentabilização autónoma

-

++

Povoamentos puros de eucalipto

A gestão ativa deverá diminuir a suscetibilidade ao fogo

-

Com potencial elevado de rentabilização autónoma

- -

Povoamentos de sobreiro e carvalho-português, puros ou mistos, em regime silvopastoril e cinegético, em montado ou floresta, com aproveitamento do medronheiro

Com gestão ativa das atividades componentes é um sistema de baixa suscetibilidade ao fogo +++

Baixo potencial de viabilização autónoma

+++ +++

Galerias ripícolas com Populus spp, Fraxinus

angustifolia e outras espécies ripícolas

Elementos essenciais na compartimentação da paisagem e na diminuição da suscetibilidade ao fogo

+++

Sem potencial de viabilização autónoma

+++ +++

Na SRH Gândaras Sul foram definidas as três funções principais desta sub-região como

Produção, Proteção, Silvopastorícia e Caça e Pesca. Também se considerou no PROF que a

remuneração dos serviços dos ecossistemas seria igualmente central nesta SRH. Deste modo,

a expansão de áreas florestais deveria incidir aqui prioritariamente sobre o sobreiro, o carvalho-

português e o medronheiro, em povoamentos puros ou mistos, e nas espécies associadas à

galeria ripícola. Nas áreas ardidas de pinheiro-bravo é também estabelecido no PROF prioridade

à arborização com sobreiro, carvalho-português e valorização do medronheiro uma vez que

apresentam boa aptidão produtiva em, respetivamente, 79,5%, 83,9% e 95,7% da superfície da

SRH.

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É ainda mencionado que o eucalipto, com 18,9% nesta SRH, apresenta aptidão produtiva

classificada como “Boa” em 95,3% do seu território, pelo que, tendencialmente, a sua superfície

deveria manter-se ou diminuir, e que o pinheiro-bravo, com 35,4% de ocupação (anterior aos

fogos de 2017), apresenta aptidão produtiva classificada como “Regular” em 95,6% do território

da SRH e “Baixa” em 4 %, podendo nas superfícies ardidas haver lugar à sua substituição pelas

espécies atrás referidas. O tipo de povoamentos a privilegiar é indicado na Tabela 2.

Tabela 2. Principais sistemas e espécies a privilegiar na SRH Gândaras Sul, segundo o atual PROF Litoral Centro

ESPÉCIE/SISTEMA

DIMINUIÇÃO

SUSCETIBILIDADE

AO FOGO

CONSERVAÇÃO

DOS VALORES

NATURAIS

CLASSIFICADOS

DA REDE

NATURA 2000

RENDIMENTO

POTENCIAL E

VIABILIZAÇÃO

DA GESTÃO (*)

IMPORTÂNCIA

DA

REMUNERAÇÃO

DOS SERVIÇOS

DOS

ECOSSISTEMAS

IMPORTÂNCIA

DO APOIO

PÚBLICO AO

INVESTIMENTO

Povoamentos puros de eucalipto

A gestão ativa deverá diminuir suscetibilidade ao fogo

-

Com potencial elevado de rentabilização autónoma

- -

Povoamentos de sobreiro ou carvalho-português, puros ou mistos, em regime silvopastoril e cinegético, com aproveitamento do medronheiro

Com gestão ativa das atividades componentes é um sistema de baixa suscetibilidade ao fogo

+++

Baixo potencial de viabilização autónoma

+++ +++

Matagais em regime, em silvopastoril e cinegético com regeneração de Quercus spp e aproveitamento de medronheiro

A gestão ativa, em particular o aumento da fração herbácea diminui a suscetibilidade ao fogo

+++

Baixo potencial de viabilização autónoma +++ +++

Galerias ripícolas com Populus spp, Fraxinus

angustifolia e outras espécies ripícolas

Elementos essenciais na compartimentação da paisagem e na diminuição da suscetibilidade ao fogo

+++

Sem potencial de viabilização autónoma

+++ +++

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Na definição dos povoamentos com especial interesse social e cultural na área do PROF C-L foi

considerado que a Mata Nacional de Leiria se reveste destas características. A sua justificação

assenta no facto de serem áreas florestais com alto valor simbólico e cultural, cuja gestão e

importância transcende largamente os objetivos produtivos, pelo que as SRH (Sub-Regiões

Homogéneas) “Dunas Litorais e Baixo Mondego” e “Gândaras Sul” devem refletir nos seus

objetivos e metas a expressão desta potencialidade. Todavia, como vimos, para as duas SRH

em que se inclui a MNL, é feita a promoção de povoamentos puros de eucalipto e também de

pinheiro-bravo, o que contradiz de algum modo a valoração desta extensa área.

Neste PROF, em termos de fatores erosivos, apenas foi considerado o risco de erosão hídrica

(considerado muito reduzido na MNL), tendo sido desprezada a erosão eólica a qual, contudo,

tem particular significado na zona costeira.

O PROF C-L analisa também o Plano Diretor Municipal (PDM) da Marinha Grande (Resolução

do Conselho de Ministros n.º 37/95 de 21 de abril, alterado pela Resolução do Conselho de

Ministros n.º 153/98 de 30 de dezembro, alterado pelo aviso n.º 1313/2017 de 2 de fevereiro,

alterado pelo aviso n.º 4419/2018 de 4 de abril), considerando que existe compatibilidade

relativamente aos Espaços Florestais (artº 15º), mas que existe omissão em relação às

condicionantes, sendo que determina que se devem acrescentar as servidões associadas aos

recursos florestais, designadamente proteção do sobreiro e azinheira, de árvores e povoamentos

de interesse público e povoamentos florestais percorridos por incêndios.

Outros instrumentos territoriais

De acordo com o Plano Diretor Municipal (PDM) da Marinha Grande em vigor desde 1995,

qualquer intervenção de gestão florestal terá de ter em conta todas as restrições a elas

associadas, nomeadamente as condicionantes inerentes à Reserva Ecológica Nacional (REN) e

à Reserva Agrícola Nacional (RAN). No que concerne a estes regimes de ordenamento do

território, o PDM da Marinha Grande inscreve cerca de 90% da área da mata em zona REN e

0,5% em zona de RAN.

A área da MNL é ainda abrangida por um Plano Especial de Ordenamento do Território (PEOT)

específico para a Orla Costeira, o Programa de Ordenamento da Orla Costeira Ovar Marinha

Grande (POOCOMG). Trata-se de um troço de 140 km com fragilidade geológica, constituído

por sistemas dunares, com baixas cotas, estruturas geológicas de origem sedimentar, com

predominância de falésias, igualmente sensíveis. Esses fatores associados a uma agitação

marítima característica contribuem para processos de erosão de grande intensidade, originando

taxas de recuo da orla costeira significativas, com frequentes avanços de mar que chegam a pôr

em risco os aglomerados urbanos mais próximos.

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Prevenção estrutural

Segundo o Planeamento Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios da Marinha Grande,

estão definidas na MNL faixas de gestão de combustível de 100 m de largura para proteção de

infraestruturas e aglomerados populacionais com uma área total de 192,21 ha e faixas de gestão

de combustível de 10 m de largura sob rede elétrica de média tensão (42,4 ha) e na envolvente

da rede viária (279,12 ha). Ou seja, o plano municipal não contempla gestão de combustíveis na

MNL propriamente dita. A Comissão Técnica Independente criada para avaliar os incêndios

ocorridos em outubro de 2017 (CTI, 2018) considerou que a prevenção estrutural na Mata

Nacional de Leira era praticamente inexistente. Proteger adequadamente a MNL do fogo

implicaria a gestão do combustível à taxa anual de 5-10% da área ao ano e na forma de mosaico,

à escala do talhão ou do sub-talhão ou, alternativamente, faixas de gestão de combustível com

redução da densidade de copas e localizadas estrategicamente, com 200 metros de largura e

ocupando 20% da área da MNL (Fonseca et al., 2018).

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3. Resposta ao impacto dos incêndios de 2017

Na sequência dos incêndios de outubro de 2017 e do seu impacto nas matas nacionais do litoral,

o governo definiu um programa de intervenção específico e uma estratégia para lidar com o pós-

fogo e a recuperação das áreas afetadas, nomeadamente através do Despacho n.º 9224A/2017

do Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural que estabelecia o ICNF como

a entidade líder de todo o processo tendo como responsabilidade as seguintes tarefas:

1 - Elaborar um relatório das ocorrências de incêndios que afetaram as matas nacionais de Leiria,

Pedrógão, Urso, Dunas de Quiaios, Dunas de Vagos, Covilhã e Margaraça, com avaliação

rigorosa da execução dos Planos de Gestão Florestal em vigor, bem como dos acontecimentos

ocorridos e danos no património florestal, natural e edificado.

2 - Apresentar um programa de intervenção para o conjunto das matas nacionais referidas no

ponto anterior, que contemple entre outras as seguintes questões:

2.1 - Medidas de estabilização de emergência e de reabilitação dos ecossistemas a executar,

no curto e médio prazo, nas áreas ardidas, nomeadamente:

a) Prevenção de erosão e proteção dos recursos hídricos;

b) Conservação e salvaguarda de espécies protegidas;

c) Controlo e erradicação de espécies invasoras;

d) Controlo fitossanitário;

e) Recuperação de infraestruturas de gestão, rede viária e divisional.

2.2 - Medidas de recuperação de longo prazo para as matas afetadas pelos incêndios,

nomeadamente:

a) Avaliação dos modelos de silvicultura e de organização territorial a privilegiar, em

articulação com a revisão em curso dos planos regionais de ordenamento florestal;

b) Revisão dos Planos de Gestão Florestal (PGF) em vigor;

c) Elaboração de programa de rearborização e acompanhamento da regeneração natural

nas áreas ardidas, a rever periodicamente em função da resposta dos ecossistemas e

do disposto nos PGF;

d) Planeamento e execução das redes de defesa da floresta contra incêndios, em estreita

articulação com os planos distritais e municipais de defesa da floresta contra incêndios

e os respetivos PGF.

3 - Elaborar um plano de cortes para extração e valorização de salvados, com prioridade para a

madeira de melhor qualidade.

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4 - Proceder à revisão do Programa de Ação para a Produção de Materiais Florestais de

Reprodução nos Viveiros Florestais do ICNF, I. P., com reforço da produção de espécies

autóctones, incluindo pinheiro-bravo.

5 - Apresentar um plano de financiamento, através das receitas obtidas na gestão das matas

nacionais identificadas no ponto 1, bem como o conjunto de projetos a executar através de

fundos comunitários, para a execução das ações referidas nos pontos anteriores.

O ICNF correspondeu a esta solicitação através da “Estratégia de intervenção para as Matas

Nacionais e outras matas geridas pelo ICNF no litoral, afetadas pelos incêndios de 15 de

outubro de 2017” (ICNF, 2017).

Ainda no seguimento do estabelecido no Despacho n.º 9224A/2017 relativamente à criação de

um programa de intervenção específico para as áreas afetadas pelos incêndios de 2017, foi

criada, por iniciativa do ICNF, a Comissão Científica do Programa de Recuperação das Matas

Litorais (CC-PRML), constituída por oito instituições nacionais de ensino superior e de

investigação científica. Esta comissão elaborou um relatório composto por 12 ações/capítulos

(Tomé, 2018). O Relatório da CC-PRML tinha como função constituir o “guia para o ICNF, I. P.,

desencadear as ações concretas de restabelecimento das áreas afetadas, tendo como objetivo

principal a rearborização de parcelas e talhões onde não fosse expectável que surgisse

regeneração natural em quantidade suficiente para garantir o repovoamento arbóreo”

(Resolução do Conselho de Ministros n.º 9/2019 de 14 de janeiro).

Paralelamente, foi constituído o Observatório do Pinhal do Rei (OBPR), através do Despacho n.º

4263/2018 de 4 de abril, com a missão de interpretar, acompanhar e monitorizar o Plano de

Recuperação do Pinhal do Rei (MNL). São atribuições do OBPR, entre outras, “Avaliar o Plano

de Recuperação do Pinhal do Rei” e “Emitir parecer sobre os relatórios de progresso do Plano

de Recuperação do Pinhal do Rei”. O OBPR apresentou em 2019 o seu parecer sobre o relatório

da Comissão Científica do Programa de Recuperação das Matas Litorais (OBPR, 2019).

Estratégia do ICNF

Após o incêndio de 2017, e no âmbito das determinações do Despacho n.º 9224A/2017 do

Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, em particular a definição de um

“programa de intervenção específico” para as matas do litoral, o ICNF apresentou a sua

estratégia num documento de novembro de 2017 (ICNF, 2017). Esta estratégia “pretende

identificar os principais objetivos e fases por que se devem nortear as ações de recuperação

sustentável das matas litorais geridas diretamente pelo ICNF” (ICNF, 2017). O documento incide

essencialmente na avaliação dos incêndios e respetivos danos, nas medidas a adotar na

estabilização de emergência e na reabilitação de ecossistemas e nos princípios a adotar na

recuperação das matas litorais a longo prazo. Nestes capítulos são apresentadas as ações

planeadas e as que foram, à data do relatório, realizadas ou a carecerem de implementação. É

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também definido o enquadramento formal e financeiro das ações a realizar.

Relatório da comissão científica do programa de recuperação das matas litorais

Um ano volvido após o incêndio de outubro de 2017, foi concluído o Relatório para a

Recuperação das Mata Nacionais e Perímetros Florestais da Região Centro, da responsabilidade

da “Comissão Científica do Programa de Recuperação das Matas Litorais” (CC-PRML) criada

para o efeito. Este relatório deveria ter uma importância marcante para a revisão ou elaboração

do novo PGF da MNL.

O Relatório é composto por 12 ações/capítulos dedicadas às seguintes temáticas: severidade do

fogo; recuperação de Parcelas de Estudo; erosão eólica e hídrica; invasões biológicas;

problemas fitossanitários; recuperação de habitats terrestres; recuperação de ecossistemas

aquáticos e ripícolas; gestão de áreas ardidas; modelos de silvicultura; gestão das matas

públicas; participação pública e sensibilização; e museu nacional da floresta. Destes, apenas

alguns se abordarão de forma mais particular nesta secção, destacando sobretudo referências a

aspetos-chave a considerar na resposta aos incêndios e de acordo com o ponto 2 do Despacho

n.º 9224A/2017.

a. Severidade do fogo

A análise de severidade do fogo (Fernandes & Guiomar, 2018) apontou para uma predominância

das classes Severidade Extrema (37,1% da área ardida), Alta (27,4%) e Muito Alta (17,6%) na

área da MNL (Fig. 2). Severidade nas classes Baixa e Moderada observou-se apenas em 17,8%

da área ardida (9145,42ha).

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Figura 2. Distribuição ação da severidade do fogo no incêndio de Pataias-Burinhosa de acordo com a sua

classificação em classes de severidade Baixa a Extrema. Fonte: Fernandes & Guiomar (2018).

b. Habitats

O capítulo do Relatório da CC-PRML relativo à Recuperação de Habitats Terrestres (Capelo et

al., 2018) começa por assinalar a importância da MNL bem com das restantes matas litorais pela

riqueza de habitats que apresentam. Assim, tendo em conta as fichas dos habitats constante nos

Plano Setorial da Rede Natura 2000, foi possível listar os habitats presentes (Tabela 3).

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Tabela 3. Habitats presentes na MNL e constantes da Rede Natura 2000

91B0 Freixiais termófilos

91E0* Florestas aluviais de Alnus glutinosa e Fraxinus excelsior

91F0 Florestas mistas de Quercus robur, Ulmus laevis, Ulmus minor

92A0 Florestas-galerias de Salix alba e Populus alba

1150 * Lagunas costeiras

2110 Dunas móveis embrionárias

2120 Dunas móveis do cordão dunar com Ammophila arenaria (“dunas brancas”)

2130* Dunas fixas com vegetação herbácea (“dunas cinzentas”)

2150* Dunas fixas descalcificadas atlânticas (Calluno-Ulicetea)

2170 Dunas com Salix repens ssp. argentea (Salicion arenariae)

2180 Dunas arborizadas das regiões atlântica, continental e boreal

2190 Depressões húmidas intradunares

2230 Dunas com prados de Malcolmietalia

2250* Dunas litorais com Juniperus spp.

2260 Dunas com vegetação esclerofila da Cisto-Lavanduletalia

2270* Dunas com florestas de Pinus pinea ou Pinus pinaster subsp. atlantica

2330 Dunas interiores com prados abertos de Corynephorus e Agrostis

3110 Águas oligotróficas muito pouco mineralizadas das planícies arenosas

3120 Águas oligotróficas muito pouco mineralizadas em solos geralmente arenosos

3130 Águas paradas, oligotróficas a mesotróficas, com vegetação da Littorelletea

4020* Charnecas húmidas atlânticas temperadas de Erica ciliaris e Erica tetralix

4030 Charnecas secas europeias

521 0 Matagais arborescentes de Juniperus spp.

5230* Matagais arborescentes de Laurus nobilis

5230pt4 Faiais-medronhais

5330 Matos termomediterrânicos pré-desérticos

6410 Pradarias com Molinia em solos calcários, turfosos e argilo-limosos

6420 Pradarias húmidas mediterrânicas de ervas altas da Molinio-Holoschoenion

7140pt3 Turfeiras sublitorais

Em relação à restauração dos habitats destruídos pelo fogo de 2017 são propostos por Capelo

et al. (2018) os procedimentos constantes da Tabela 4.

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Tabela 4. Proposta da CC-PRML em termos de atuação genérica para os habitats destruídos pelo fogo.

Incorporação na gestão silvícola de ações facilitadoras da regeneração espontânea:

- Gestão do coberto arbóreo

- Gestão de vegetação sob coberto (reserva ou controlo; uso de pastoreio)

- Proteção ativa de regeneração de espécies arbóreas e arbustivas altas espontâneas

- Erradicação ativa de invasores (plântulas e adultas)

- Estabelecimento de modelos de Silvicultura para a gestão de valores naturais sensíveis

Restauro ativo com recurso a plantação de espécies ‘engenheiras’, i.e. estruturantes da progressão

sucessional.

- Ex. Salix arenaria, Morella faya, Quercus suber, Quercus robur, Salix atrocinerea, Arbutus unedo

Avaliação de impacte nos habitats dadores

Aplicação de técnicas de Engenharia natural: facilitação geomorfológica dos habitats (fisiografia,

hidrologia)

Facilitação hidrológica de habitats.

- Ex. Facilitação pontual de condições de drenagem interna favoráveis a turfeiras litorais

c. Estabilização de emergência e mitigação da erosão

A mitigação da erosão nas dunas em Portugal tem-se focado na redução da erosão eólica e não

na erosão hídrica e tem sido estudada através da análise do terreno utilizando técnicas de

levantamento topográfico e de modelação digital do terreno, com recurso a imagens aéreas

(André & Cordeiro, 2001, André et al., 2013).

Keizer et al. (2018), no capítulo do relatório da CC-PRML relativo à monitorização e controlo da

erosão eólica e hídrica, propuseram que fosse mapeado o risco de erosão eólica potencial na

área da MNL. A dinâmica de recuo do cordão dunar na orla costeira é visível (Fig. 3) em grande

parte consequência dos fogos de 2017, mas também do furacão Leslie de 2018.

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Figura 3. Suscetibilidade e dinâmica do cordão dunar. Foto OTI, julho de 2020.

Este capítulo do Relatório da CC-PRML tem em conta as medidas de estabilização de

emergência no pós-fogo, aplicadas em meados de dezembro de 2017, em parte das margens e

encostas drenantes para a Ribeira de S. Pedro de Moel. Estas medidas consistiram basicamente

na construção de barreiras de troncos, combinadas ocasionalmente com um acolchoado de

estilha produzido no local (Fig. 4). Keizer et al. (2018) consideraram que a formação espontânea

de um acolchoado de agulhas de pinheiro de copas parcialmente ardidas, teria sido,

provavelmente, uma medida mais eficaz na mitigação da erosão hídrica e da erosão eólica.

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Figura 4. Instalação de barreiras de troncos, combinadas com acolchoado de estilha nas margens do Ribeiro de

S. Pedro de Moel. Fonte: Keizer et al. (2018).

São sugeridas no Relatório da CC-PRML outras técnicas passíveis de serem utilizadas em vários

estádios pós-fogo como a escarificação e ripagem – tratamentos mecânicos que visam a

melhoria das taxas de infiltração em solo com repelência à água; cercas de retenção de

sedimentos (silt fences) – barreiras temporárias para reter sedimento em locais de escoamento

efémero; estruturas lenhosas alinhadas em curva de nível (countour log structures) – envolve a

instalação de material lenhoso de grande dimensão, ou fachinas, feitas de material de menor

diâmetro geralmente ramos, sacos de areia, solo ou gravilha, usados em encostas ou pequenos

canais para reter sedimento e diminuir a velocidade do escoamento superficial, ou,

eventualmente, a aplicação de poliacramidas aniónicas de alto peso molecular, para estabilizar

a estrutura do solo, sem esquecer a aplicação extensiva de Mulching e Hidromulching, os quais

consistem na aplicação de resíduos orgânicos triturados (casca, folhas, palha, ramos finos, etc.),

bem como de agregantes e nutrientes, projetados ou não.

A Ribeira de S. Pedro de Moel (Fig. 5), a mais importante zona húmida da MNL, tem particular

relevância em termos de controlo de erosão hídrica e de impactos na biodiversidade, uma vez

que se trata de uma bacia hidrográfica independente e que tem identificada a presença de

espécies de peixes com elevado estatuto de conservação nacional e internacional (IUCN, 2017),

como é o caso da lampreia-de-riacho (Lampetra planeri) e da enguia-europeia (Anguilla anguilla).

Segundo a Carta Piscícola Nacional (Ribeiro et al., 2007) existem na Ribeira de S. Pedro de

Moel, para além das espécies mencionadas, os endemismos lusitanos boga-portuguesa

(Iberochondrostoma lusitanicum) e ruivaco (Achondrostoma oligolepis), o endemismo ibérico

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escalo-do-sul (Squalius pyrenaicus), a lampreia-de-rio (Lampetra fluviatilis) e a panjorca

(Achondrostoma arcasii), todas estas espécies com um estatuto elevado de conservação.

Figura 5. A Ribeira de S. Pedro de Moel apresenta em muitos troços uma zona tampão de espécies ribeirinhas

relativamente bem preservada, além duma apreciável riqueza em vertebrados (avifauna, ictiofauna e

herpetofauna). Fotos OTI, setembro de 2020.

As linhas de água na MNL afetadas diretamente pelo fogo totalizaram 98 km, o que corresponde

a 84 % da sua extensão, ou seja, arderam mais de 90% das árvores e arbustos ribeirinhos, o

que foi evidentemente dramático para os ecótonos fluviais. No entanto, através duma visita de

campo em meados de 2018 descrita por Ferreira et al. (2018), a par da dominância de invasoras

e ruderais em alguns locais, foi assinalado que a vegetação arbustiva nativa estava, em geral, a

recuperar convenientemente a partir das touças ardidas, como por exemplo o Laurus nobilis

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(loureiro), Myrtus communis (murta), Rubus ulmifolius (silva), Arbutus unedo (medronheiro),

Ruscus aculeatus, (gilbardeira), Rhamnus alaternus (aderno-bastardo e Phillyrea angustifolia

(aderno-de-folhas-estreitas). Por sua vez, a fauna piscícola não apresentou diferenças

relativamente à composição das comunidades anteriormente aos incêndios, observada através

de capturas realizadas na área, o mesmo acontecendo com os anfíbios.

d. Invasões biológicas

O risco ambiental e a valorização dos recursos endógenos naturais implicam, segundo o relatório

da CC-PRML (Marchante et al., 2018), a monitorização e controlo de plantas invasoras, desde

as lenhosas, essencialmente as nove espécies de acácias identificadas na área, mas também

duas espécies de háqueas e, ainda, a robínia, até às invasoras não lenhosas terrestres,

principalmente o chorão-das-praias, a cana e a erva-das-pampas. As plantas aquáticas exóticas

invasoras, como o jacinto-de-água, a erva-pinheirinha, a elódea e a azola (Azolla filiculoides)

podem ter também na MNL alguma expressão (Marchante et al., 2018).

É considerado que a base da monitorização que urge realizar deveria procurar abarcar a

diversidade de espécies de plantas invasoras presentes, incorporando a cartografia base da sua

ocorrência e abundância, bem como a sua dinâmica ao longo do tempo. Marchante et al. (2018)

propõem o estabelecimento de parcelas experimentais para monitorização e reabilitação de

áreas já invadidas, a deteção remota de plantas invasoras, para se conhecer a sua evolução

temporal, recorrendo a imagens de satélite multiespectrais e de radar, e à utilização de VANT

(veículos aéreos não tripulados), neste caso para um detalhe superior. Esta informação no

conjunto serviria de base para a modelação no sentido de prever a dinâmica das invasões.

Por sua vez, segundo o mesmo Relatório, a gestão de plantas invasoras deveria ser adaptativa

(tendo em conta a competição entre plantas invasoras e autóctones), planeada a médio-longo-

prazo e articulada com os objetivos e modelos de silvicultura preconizados para cada área, o que

implica a sua deteção precoce. O Relatório da CC-PRML assinala também que as medidas de

controlo a definir para cada espécie invasora e área ocupada devem ter continuidade temporal,

de modo a lidar-se com novas fases de germinação, rebentamento de touça e/ou raiz, ou através

da propagação vegetativa de propágulos, o que é dependente de cada espécie. Além do mais,

a deteção e controlo devem incidir simultaneamente em áreas ardidas e não ardidas. De ter em

conta que o caráter invasor de espécies lenhosas, pelo seu rápido crescimento, pode

comprometer a regeneração natural ou a própria sementeira e plantação do pinhal nas zonas

ardidas (Fig. 6).

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Figura 6. O caráter invasor do acacial (em 2º plano) vai interferir com a regeneração natural dos pinheiros (em 1º

plano). Foto OTI, julho de 2010.

O relatório da CC-PRML considera ainda que não podem ser desligados destes aspetos a

necessidade de formação técnica relativa à deteção e gestão de plantas invasoras, a qual deve

ser dirigida para os técnicos das entidades envolvidas nas intervenções de controle de espécies

exóticas invasivas.

e. Problemas sanitários

As ações de médio e longo prazo propostas no capítulo do Relatório da CC-PRML por Sousa et

al. (2019) não consideram as ações de curto prazo, dado que se associam aos 2 primeiros anos

após o fogo. No entanto, consideram a necessidade da delimitação cartográfica das áreas com

maior risco de ataque de pragas/doenças, desde as zonas de pinhal verde e vocacionadas para

o lazer até às zonas com ataques notórios de pragas ou doenças, incluindo áreas onde o fogo

se propagou à superfície, mantendo-se as árvores vivas, mas que devido ao stresse poderão vir

a desenvolver ataques por insetos. Assim, defendem a instalação de armadilhas de atração

diversas para a monitorização das espécies-alvo de insetos, com uma observação periódica de

sintomas da presença de pragas e de doenças. Tal permitiria obter dados acerca do ciclo

biológico dos principais agentes nocivos e determinar a sua progressão espácio-temporal e modo

de dispersão. Paralelamente, a CC-PRML considera que deveria ser desenvolvido um plano de

monitorização e proteção que abrangesse a regeneração natural na área ardida, as zonas de

risco e de intervenção prioritária e as bordaduras (estas com 30 m). Nestas áreas deve ter lugar

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a avaliação da mortalidade das árvores ao longo do tempo (3 anos em termos de médio prazo)

e o registo do ataque de insetos e de organismos patogénicos, bem como a instalação de árvores

armadilhas destinadas a insetos desfolhantes e xilófagos.

Por sua vez, segundo Sousa et al. (2019), os métodos de controlo/ preventivos de pragas podem

ser aplicados diretamente sobre os agentes ou, indiretamente, no hospedeiro, intervenções que

visam melhorar o seu estado de desenvolvimento e de vigor da planta e, consequentemente, a

sua resistência a pragas e doenças. Estes métodos incluem: a) meios mecânicos - remoção e

destruição do material vegetal, onde o agente se encontra; b) processos culturais - intervenções

silvícolas realizadas no sentido de melhorar o vigor das árvores; c) métodos biotécnicos - de

modo a manipularem o comportamento do agente ou as interações com os hospedeiros, como

hormonas de crescimento, precocenas, feromonas, cairomonas, substâncias esterilizantes ou

inibidores de crescimento; d) meios químicos - através da aplicação de fitofármacos diretamente

na superfície do hospedeiro ou no seu interior atuando através de ingestão, contacto e

fumigação; e) biológicos - recorrendo à introdução de organismos vivos com capacidade de

controlar agentes patogénicos, como parasitoides (insetos), doenças (fungos, nemátodos, vírus,

bactérias) ou predadores (insetos, aves, mamíferos); e f) genéticos - aumento da resistência das

plantas através do seu melhoramento genético ou da seleção criteriosa da sua proveniência.

Para além destes aspetos, segundo o Relatório da CC-PRML, as novas plantações a realizar

deveriam ser acompanhadas do ponto de vista fitossanitário, em termos de espécies, formas de

povoamento – regeneração natural vs. via seminal vs. plantação tendo em conta o tipo de

material de viveiro, sua origem e qualidade, e tipos de povoamento a instalar (monocultura vs.

intercalação com outras espécies criando zonas de descontinuidade).

Finalmente, é necessário formular um Plano de Proteção para se estabelecerem os

procedimentos adequados de exploração florestal destinados à manutenção do equilíbrio entre

a dinâmica dos povoamentos e a dos agentes (pragas e doenças) que os colonizam para se

atingir a regulação das populações de agentes bióticos a níveis comportáveis.

f. Desenho da paisagem florestal e modelos de silvicultura

Lopes et al. (2018), no capítulo do Relatório da CC-PRML relativo à gestão de áreas ardidas,

consideram que, embora a história deste território esteja associada a uma espécie florestal e a

um padrão retangular dependente da organização clássica em talhões, após o incêndio ocorrido

poderiam surgir novas janelas de oportunidade para que, dentro da manutenção das linhas

mestras deste tipo de organização espacial, pudessem ser criadas dinâmicas de valorização da

Paisagem no pós-fogo. Segundo os mesmos autores, onde existirá a possibilidade de criar

processos de ordenamento mais orgânicos e apelativos será nas bordaduras florestais. Além

disso, a alteração de paisagens monótonas poderia ser alcançada com recurso a diferentes

estratos, quer arbóreo, quer arbustivo, ou subarbustivo, com base numa maior diversidade de

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espécies ou, mantendo as mesmas espécies, por alterações de densidade ou de padrões de

implantação no terreno, considerando-se que uma boa forma de privilegiar paisagens de maior

valor poderia passar pelo aproveitamento da regeneração natural e posterior acompanhamento

dos povoamentos favorecendo a irregularidade e desfavorecendo a monotonia visual.

É assim proposto por Lopes et al. (2018), a criação de buffers de vegetação junto às linhas de

água, um planeamento específico para as bordaduras junto às estradas nacionais e municipais,

e a gestão de bordaduras e diversificação de estratos arbustivos e subarbustivos em linhas de

delimitação de talhões.

Os métodos mencionados anteriormente colidem parcialmente com o expresso no capítulo do

relatório da CC-PRML relativo à silvicultura (Fonseca et al. (2018), que considera ser desajustado

do ponto de vista ecológico, económico e social uma rotura profunda com os modelos de

silvicultura e de organização anteriormente praticados, alterando radicalmente a paisagem

tradicional da região, por ter um valor de “paisagem cultural”. Assim, advogam a manutenção do

sistema de gestão florestal, embora aumentando a resistência e resiliência aos incêndios,

atendendo-se aos cenários de alterações climáticas, e continuando-se a privilegiar o pinheiro-

bravo. Assim, são preconizadas normas gerais da condução dos povoamentos de pinheiro-

bravo, quando encarados para produção de lenho (Tabela 5). Como se pode constatar, é

sugerido o aproveitamento da regeneração natural por ser menos onerosa e agressiva do meio

ambiente, por não implicar qualquer intervenção no solo, sendo o recurso a semente destinado

a auxiliar artificialmente a rearborização e a ser praticado em áreas ardidas com alguma

frequência, tal como advoga o PGF.

O Relatório da CC-PRML estabelece que a gestão adaptativa deve andar lado a lado com os

procedimentos mencionados, pretendendo-se uma silvicultura dinâmica, próxima da natureza

(SPN), considerando-se a promoção de povoamentos mistos ou de outras espécies a valorizar,

a diversidade estrutural dos povoamentos florestais e a melhoria da resistência individual das

árvores. Tal implica, também aqui, a instalação duma monitorização adequada para avaliar a

taxa de sucesso das intervenções.

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Tabela 5. Características gerais da condução dos povoamentos de pinheiro-bravo para produção de lenho na

MNL, considerando a idade dos povoamentos (Fonseca et al., 2018).

Instalação/renovação Aproveitamento da regeneração natural, com possibilidade

de adensamento por sementeira (2 a 3 anos após a

emergência das plantas), quando necessário.

Quando o banco de sementes não permitir o aproveitamento

da regeneração natural (ex. povoamento ardido, com idade

inferior a 20 anos), realizar sementeira.

Para insucessos repetidos com sementeira, recorrer à

plantação com planta de semente proveniente da mata

Condução da regeneração

natural

Entre os 5 e os 10 anos, através de corte mecânico de

vegetação (em faixas de largura variável, 1 a 2 m, em função

da qualidade da estação)

Limpeza na linha de modo a assegurar uma distância média

de 1 m entre árvores, nas classes de qualidade

dos 15 e dos 20 m e de 2 m na classe de qualidade dos 25

m. As intervenções visam obter, de acordo com os valores

expressos no PGF, uma densidade média de 5000 plantas

por hectare.

Desrama Realizada cerca dos 20 anos, até uma altura do fuste

próxima dos 2m de (não excedendo 2/3 da altura da árvore).

Controlo de vegetação

espontânea

Realizada cerca dos 20 anos, até uma altura do fuste

próxima dos 2m de (não excedendo 2/3 da altura da árvore).

Cortes culturais Realização de desbaste pelo baixo e seletivo.

Contudo, em áreas de proteção da MNL, como as faixas litorais que abrangem o POOC, numa

primeira linha junto à costa e correspondente ao início da duna arborizada, seguida da zona de

proteção mais interior, designadas como proteção I e II, a condução dos povoamentos deve ser

realizada atendendo às suas características específicas. Na orla costeira, a regeneração natural

assume uma enorme importância para permitir desenvolver um estrato baixo por forma a

constituir um sub-bosque com folhosas como o medronheiro, samouco, folhado, carvalhos,

loureiros, etc., em sob-coberto das resinosas, de modo a melhorar a biodiversidade (Fonseca et

al., 2018). Os cortes, a existirem, deveriam ser organizados em rotações longas por forma a

haver reposição de nutrientes e proteção da estação. Esta silvicultura pressupõe uma condução

com menores densidades e com limpezas fortes nas primeiras idades. A produção de madeira

nestas condições será secundária, privilegiando-se a multifuncionalidade, o que implica

frequentemente a recorrer-se a técnicas de engenharia natural para controlar os processos

erosivos.

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Parecer do Observatório do Pinhal do Rei

O OBPR no seu parecer sobre o relatório da CC-PRML (OBPR, 2019) apresenta inicialmente um

conjunto de advertências, recomendações e propostas que, por se considerar serem de

relevância e interesse para a reabilitação do Pinhal do Rei, devem constar necessariamente do

plano de recuperação da MNL a cargo do ICNF. O parecer do OBPR aponta para a necessidade

de uma melhor articulação dos modelos de silvicultura propostos pelo CC-PRML para a MNL e

os previstos no PROF-CL. Refere ainda que seria desejável uma devida sincronização entre o

processo de elaboração e aprovação do PROF-CL e o processo de recuperação desta Mata

Nacional, o que não permitiu que as recomendações do relatório da CC-PRML fossem integradas

no neste PROF.

O OBPR discorda da continuidade da produção e da produtividade e da monocultura do pinheiro

bravo, defendendo, em oposição, modelos de “floresta de usos múltiplos que privilegiem a

biodiversidade, a segurança contra incêndios, e a qualidade de vida das populações locais”.

Defende ainda uma maior atenção à orla costeira da MNL e ao cordão dunar, especialmente ao

nível da estabilização de emergência, monitorização da erosão eólica e hídrica e definição das

ações de intervenção mais eficientes.

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4. RESULTADOS E SITUAÇÃO ATUAL

Baseamos a atual análise crítica do OTI nos documentos produzidos no âmbito da resposta do

Governo aos incêndios de 2017 para as Matas Litorais, em particular no que respeita à Mata

Nacional de Leiria, nomeadamente o Documento Estratégico preparado pelo ICNF no final de

2017 no âmbito do Despacho n.º 9224-A/2017 do Secretário de Estado das Florestas e do

Desenvolvimento Rural (ICNF, 2017), o relatório da Comissão Científica (Tomé, 2018),

documentos internos disponibilizados pelo ICNF e respostas enviadas por este organismo em

agosto de 2020 a questões colocadas pelo OTI, o parecer do Observatório do Pinhal do Rei

(OPR, 2019) e, ainda, a partir de visitas de campo à MNL realizadas por membros do OTI em

julho e setembro de 2020.

Planeamento Florestal

Comprometido o PGF em vigor à data dos incêndios de 2017 (AFN, 2010) pela alteração radical

do objeto da gestão, estabelecido o enquadramento legal e financeiro para as atividades de

recuperação da MNL , que incluía a revisão do PGF (Despacho n.º 9224-A/2017), produzido o

documento preliminar de estratégia pelo ICNF, elaborado o relatório pela comissão científica

criada para o efeito, complementado pelo parecer do OBPR, e havendo necessidade de dispor

rapidamente de um instrumento de apoio e orientação de processos em desenvolvimento no

âmbito da recuperação da MNL, esperar-se-ia que a revisão do plano de gestão fosse um

objetivo prioritário da atividade do ICNF. Contudo, tal não se veio a verificar e não foi facultado

até ao momento o estado de desenvolvimento deste processo de revisão a cargo deste

organismo.

Estabilização de emergência

O OTI considera que nas linhas de escoamento superficial, de natureza temporária, deveriam ter

sido instaladas estruturas distintas (essencialmente dispositivos e materiais para dissipação de

energia, como fardos de palha ou açudes galgáveis formados por inertes ou troncos, nestes

casos para os fluxos de escoamento principais), tal como expresso no Relatório da CC-PRML,

não podendo as encostas serem tratadas de modo uniforme em toda a sua extensão. Neste

sentido, seria também de atuar de modo mais extensivo através da aplicação extensiva de

mulching projetado, de palha ou estilha (não sendo possível a hidrosementeira pelas

características arenosas dos terrenos).

A considerar ainda, em termos de correção torrencial, que deveriam ter sido priorizados os

taludes das linhas de água principais, nomeadamente um curso de água de dimensão

significativa que nasce na MNL, denominado Ribeira das Tábuas e, especialmente, a Ribeira de

S. Pedro de Moel, de grande valor ecológico, existindo ainda várias outras linhas de água

temporárias que escoam em direção ao mar ou para os cursos de água atrás mencionados que

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deveriam ter sido abrangidas. De realçar que toda a zona costeira bem como o vale desta Ribeira

são considerados no PROF C-L como corredores ecológicos. No entanto, apenas o trecho final

da bacia hidrográfica da Ribeira de S. Pedro de Moel foi intervencionado, totalizando uma área

de 4,07 ha.

O ICNF na sua atuação priorizou corretamente este curso de água, mas, neste caso concreto,

deveriam ter sido utilizadas técnicas de Engenharia Natural mais diversificadas, como aconselha

a CC-PRML, e distintas no corredor ribeirinho deste curso de água de caráter permanente

relativamente às técnicas utilizadas nas encostas desta bacia. Na faixa ripícola seriam de

considerar, por exemplo, fachinas ou entrançados, de preferência vivos. Nos troços mais sujeitos

a erosão fluvial, sugere-se pontualmente a colocação de enrocamento vegetado ou de caixas

vegetadas. Por sua vez, para evitar a propagação de invasoras e facilitar o enraizamento das

ripícolas, consideramos ser de aplicar geomantas orgânicas ou, mais corretamente, telas

tridimensionais (semissintéticas, com vários panos) também vegetadas, com espécies arbóreas

e arbustivas ripícolas.

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Figura 7. Construção e colocação deficientes das barreiras de troncos, resultando num amontoado anárquico 3

anos depois. Fotos OTI, setembro de 2020.

Na observação das técnicas utilizadas para a estabilização, que foram aplicadas nos meses

seguintes à ocorrência do incêndio de 2017, verifica-se atualmente a intensa degradação das

estruturas colocadas, quase exclusivamente barreiras de troncos, os quais nem sempre foram

colocados ao longo das curvas de nível e perpendiculares às linhas de escoamento (estamos

perante uma erosão em sulcos) (Figs. 7 e 8). Estes troncos, têm muitas vezes um comprimento

inferior aos 4 m preconizados e a sua capacidade de retenção de sedimentos é mínima, pelo que

seria conveniente a colocação a montante duma tela sintética (estamos em presença de

materiais arenosos), além de que as estacas verticais são de má qualidade. Como foi dito, seria

muito aconselhável a deposição extensiva de mulching (o qual foi distribuído, de modo localizado,

entre barreiras) ou, pelo menos, de estilha. Por sua vez, na faixa ripícola, a colocação de fachinas

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vivas de salgueiros teria sido muito conveniente.

Figura 8. Erosão por sulcos na bacia hidrográfica da Ribeira de S. Pedro de Moel. Foto OTI, setembro de 2020.

O resultado atual, do ponto de vista visual, é muito negativo, misturando-se as barreiras de

troncos queimados semidestruídas, com o restante material lenhoso ardido de menor dimensão,

como resultado da ausência de manutenção daquelas estruturas posteriormente à sua inserção

no terreno. Paralelamente, a reduzida retenção de sedimentos não permitiu a regeneração do

pinhal ou a colonização por espécies pioneiras. Todavia, existem troços onde a colocação de

ripícolas (salgueiros e amieiros) evidencia alguma vitalidade.

Note-se ainda que foi escassa a intervenção realizada para diminuir a erosão fluvial, o que teria

obrigado a retirar os troncos tombados no canal e o material lenhoso ardido aí acumulado, no

sentido de evitar o alargamento do leito de cheia (Fig. 9). Aparentemente terá havido uma

limpeza inicial deste material, mas o processo de monitorização deveria ser contínuo, dado que,

ao longo dos anos, o material ardido vai-se deslocando progressivamente ao longo das encostas

na direção das linhas de água. Note-se que a recuperação dos habitats ripícolas é essencial

tendo em conta a mencionada elevada biodiversidade de espécies piscícolas nativas.

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Figura 9. Material ardido a bloquear o canal fluvial. Foto OTI, setembro de 2020.

Embora seja indicado na documentação enviada pelo ICNF que não se observa qualquer perda

de solo, tal não é consistente com a verificação efetuada no terreno pelo OTI, especialmente nos

taludes vertentes para a Ribeira de S. Pedro de Moel.

Gestão florestal e repovoamento de áreas ardidas

De acordo com a informação fornecida pelo ICNF em agosto de 2020, por solicitação do OTI, a

área ardida identificada para ser sujeita a corte e remoção do material lenhoso totaliza 4.991 ha,

dos quais já terão sido alienados 4.724 ha (94,6%), tendo-se constituído para o efeito 166 lotes

compostos com o volume total de 622 599m3. Não obstante, há ainda uma área apreciável de

onde não foi extraído o material lenhoso queimado (Fig. 10), ou um tempo elevado de

permanência deste material em parques constituídos para o efeito, os quais, aliás, não têm a

rega adequada para a sua conservação. O ICNF (2017) considerava que estas operações

deveriam ser o mais precoces possível. Não obstante, passados 3 anos, o cronograma definido

para este fim está longe de ter sido concluído em toda a extensão da MNL, sendo de destacar,

contudo, que se verifica uma precaução especial com a limpeza dos aceiros, embora numerosos

arrifes ainda se encontrem obstruídos (Fig. 11).

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Figura 10. Material ardido em pé (em cima) e após toragem (em baixo) no setor noroeste da MNL. Fotos OTI,

julho e setembro 2020.

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Figura 11. Limpeza e conservação de aceiros na MNL. A manutenção das vias de comunicação e das faixas de

gestão de combustível tem sido também uma das preocupações do ICNF (lado esquerdo), mas é ainda possível

observar numerosos arrifes por limpar (lado direito). Fotos OTI, julho e setembro 2020.

O ICNF respondeu a questões colocadas pelo OTI, indicando que através de observação visual,

foram delimitados 1.777 ha de áreas florestais com capacidade para regeneração natural do

pinheiro bravo. Todavia, este valor corresponde apenas a cerca de ¼ da área da Mata percorrida

pelo fogo. A esmagadora maioria da germinação de sementes de pinheiro-bravo ocorre nos

primeiros meses após o fogo, ainda que se possa prolongar ao longo de dois anos, sendo que a

espécie não armazena semente no solo (Fernandes & Rigolot, 2007). Comparativamente às

restantes proveniências ibéricas, o pinheiro-bravo da MNL é referido como tendo reduzido

potencial de regeneração pós-incêndio devido à escassez de pinhas serôdias que apenas abrem

quando sujeitas à energia libertada pelo fogo (Tapias et al., 2004). Um estudo da regeneração

natural efetuado na primavera-verão de 2018 revelou densidade de plântulas de pinheiro-bravo

reduzida a moderada (cerca de 6.000/ha) e muito elevada (69.000/ha), respetivamente em pinhal

com menos de 25 anos de idade e com mais de 65 anos de idade (Rodrigues, 2019). A

amostragem foi feita com as árvores ainda em pé e a autora refere que uma visita posterior e

após a extração do material lenhoso mostrou enorme redução do número de plântulas. É

indicado que a monitorização será estendida por mais 2 anos, o que se nos afigura excessivo

dado que deveria haver maior celeridade neste processo para o repovoamento florestal. Todavia,

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esta mesma monitorização procura também conhecer onde será necessária a sementeira ou

plantação desta espécie. Nos documentos mencionados é facultada a informação que a taxa de

sucesso nas plantações já efetuadas ronda os 80%, embora não seja indicado como foi obtido

este valor.

De destacar que, até ao final da época de plantação do corrente ano, segundo informação

disponibilizada pelo ICNF, foram instaladas mais de 1,3 milhões de plantas de 22 espécies

florestais, desde ripícolas a espécies arbustivas e arbóreas, muitas delas espécies pioneiras.

Estas operações de rearborização não se podem desligar das restantes matas litorais, e

abrangem uma área total de 1.483,41 hectares, distribuídas por 47 talhões (Figs. 12 e 13), onde

se preconiza a instalação de pinheiro bravo em 1.298,20 ha, de pinheiro manso em 47,86 ha e

povoamentos misto de pinheiro manso medronheiro e sobreiro em 137,47 ha, a que corresponde

um total de 2.159.817 plantas.

Figura 12. Plantação em linhas com compasso 4x2m de pinheiro bravo na zona setentrional da MNL. Note-se a

intensa regeneração natural desta espécie. Foto OTI, julho de 2020.

Numa escala de intervenção superior, a possibilidade de adotar modelos de repovoamento nas

zonas arenosas com pinheiro bravo, mas simultaneamente com pinheiro manso, deve ser

estendida relativamente à composição de monocultura que ocupava a primeira espécie. Com

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efeito, o pinheiro manso é uma espécie dotada de elevada plasticidade, além de que apresenta

um papel importante na proteção de solos e na fixação de dunas costeiras e sub-costeiras,

devendo também ser tido em conta o seu desempenho como espécie pioneira. Aliás, a maioria

dos povoamentos de pinheiro-manso ocorre em solos arenosos profundos, nomeadamente

podzóis derivados de paleodunas plio-pleistocénicas ou mesmo arenossolos de origem

holocénica. Estes são solos profundos, com boa drenagem interna, mas pobres em nutrientes,

ácidos, de textura muito grosseira e baixa capacidade de campo, situação muito semelhante ao

verificado na MNL. Tendo em consideração a posição de Pinus pinea na vegetação natural

portuguesa no que diz respeito, nomeadamente, à sua posição em relação ao pinheiro bravo,

pode presumir-se que esta última espécie estaria maioritariamente associada a comunidades

arbustivas inflamáveis e de elevada carga de combustível, com ericáceas, enquanto o pinheiro

manso teria um sob-coberto com reduzida carga de combustível e dominado por espécies menos

inflamáveis, sem (ou com poucas) ericáceas, que não ofereceria condições para a ocorrência de

fogos regulares e intensos (Costa & Evaristo, 2008). Além do mais, a produção de pinheiro

manso é fácil de realizar por via seminal, bem como a conservação da semente para posterior

utilização nas épocas apropriadas de sementeira (Antunes, 2010). Acresce que a importância

económica do pinhão e a diversificação da paisagem, são elementos adicionais importantes a

considerar.

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Figura 13. Enquadramento das áreas da MNL em que se pretende intervir. Fonte: ICNF, setembro de 2020.

As ações de voluntariado e com o apoio de mecenato implementadas na área da MNL, pese

embora a sua grande importância cívica, nomeadamente a partir da associação entre o grupo

FREUDENBERG, a ONG ZERO - e a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de

Lisboa (FCTUL), são muito localizadas e com uma extensão de poucas dezenas de hectares.

Controle de invasoras lenhosas

O controlo de invasoras lenhosas, essencialmente do género Acacia (Fig. 14) está a ser

assegurado, segundo informação de agosto de 2020, fornecida pelo ICNF, em cerca de 2.300

ha, por corte mecânico na área não ardida ou ardida e afetada pelo Leslie. Acresce a

inventariação e controlo da Cortaderia selloana, em área não especificada. Desconhece-se área

atual de controlo biológico da acácia de espigas com Trichilogaster acaciaelongifoliae (vespa

galhadora australiana), a qual era efetuada antes da ocorrência dos incêndios de 2017.

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Figura 14. Competição do acacial após a plantação de pinheiro-bravo. Foto OTI, setembro de 2020.

Controle de pragas e doenças

No âmbito do controlo de pragas e doenças florestais o ICNF informou o OTI que nas datas

indicadas foram implementadas as seguintes ações de monitorização, embora não fosse

facultada qualquer informação quantitativa, a qual é imprescindível para se conhecer a sua

extensão. Assim foram indicados os seguintes procedimentos:

2019: instalação de armadilhas em cinturas de contenção à volta dos povoamentos infestados

e no interior destes para atrair os insetos para fora dos povoamentos;

2019: utilização de diferentes feromonas, para a captura de escolitídeos em torno das áreas

afetadas pelos incêndios e para a captura do inseto vetor do NMP no interior das mesmas,

bem como, nas frentes de expansão da doença da murchidão dos pinheiros, para evitar

dispersão de insetos infetados;

2019: recolha e identificação dos insetos para fins taxonómicos (através da observação do

coletor das armadilhas);

2018, 2019, 2020: identificação, marcação, corte e extração de exemplares arbóreos não

ardidos com sinais de declínio.

Estas ações ficam aquém do que fora definido pela CC-PRML, além de que não foram fornecidos

dados que permitam analisar a sua extensão e a definição das parcelas de estudo (nas áreas

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então ardidas e nas faixas envolventes, inclusivamente nas zonas afetadas pelo furacão Leslie,

ver Fig. 15).

Figura 15. A permanência de restos de árvores afetadas pelo incêndio de 2017 e pelo furacão Leslie em 2018

potencia o aparecimento de pragas e doenças. Foto OTI, setembro de 2020.

Modelo de gestão

Os modelos mais recentes de gestão de outras valiosas áreas com significativo património

florestal público apontam para soluções diversificadas, mas com alguns pontos comuns. Em

1998, foi criada para a Tapada de Mafra, uma cooperativa de interesse público numa cooperação

entre organismos do Estado central, a Câmara Municipal de Mafra e outras entidades

representantes dos vários setores de atividades envolvidos. Em 2000, em Sintra, foi criada uma

sociedade de capitais públicos designada por “Parques de Sintra – Monte da Lua” como entidade

gestora dos principais valores naturais, arquitetónicos e museológicos da região, associando os

organismos do Estado central responsáveis pelas florestas, conservação da natureza e

património arquitetónico com a Câmara Municipal de Sintra. Em 2009, com o objetivo de gerir de

forma integrada o património florestal, histórico, cultural e religioso inserto na Mata Nacional do

Buçaco, foi criada a Fundação Mata do Buçaco, com um conselho de administração composto

por um presidente, designado pela Câmara Municipal da Mealhada, por três vogais designados

pelos ministérios da agricultura, da economia e das finanças, e por um vogal designado pelo

conselho geral da Fundação.

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Todas estas soluções são baseadas em parcerias entre organismos do Estado central e as

Autarquias locais podendo envolver outras entidades relevantes. Todas as entidades gestoras

gozam de completa autonomia técnica, administrativa e financeira garantindo que as receitas

geradas são aplicadas na gestão do património do Estado sob sua responsabilidade.

A situação atual da gestão da Mata Nacional de Leiria, incluindo o seu valioso património natural,

histórico e museológico continua a ser da exclusiva responsabilidade do Instituto da

Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) que, conforme observado na visita que o

Observatório realizou à Mata Nacional de Leiria, gere o património florestal segundo as suas

decisões, não sendo obrigado nem o fazendo de forma participada com a Autarquia nem com as

estruturas locais relevantes, como o Observatório do Pinhal do Rei, e com insuficiente recurso

aos trabalhos realizados pela Comissão Científica criada no âmbito da recuperação pós-incêndio

de 2017.

O acompanhamento do processo de recuperação tornou ainda mais evidente as fragilidades da

situação atual, o que aconselha a que se aproveite a oportunidade para alterar o atual modelo

de gestão para outro mais participativo, mais eficiente, mais integrador das competências e

valências de entidades complementares, incluindo turismo, ciência, história, ou conservação da

natureza. É com esses objetivos que se fazem as recomendações que aqui se incluem.

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5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Respostas

As respostas imediatas por parte do governo aos incêndios de outubro de 2017 na MNL foram

céleres e devidamente orientadas. O Despacho n.º 9224A/2017 do Secretário de Estado das

Florestas e do Desenvolvimento de outubro de 2017 definia com grande detalhe os passos a

seguir no processo de recuperação da mata nacional pelo organismo do Estado com

responsabilidade na matéria e na área, o ICNF. O governo foi igualmente pronto na criação de

uma estrutura de acompanhamento dos trabalhos em desenvolvimento, o Observatório do Pinhal

do Rei (OBPR), estabelecido pelo Despacho n.º 4263/2018 de 4 de abril.

A análise da concretização das respostas revela, contudo, uma condução pouco orientada do

processo por parte do ICNF. Inicialmente este organismo deu resposta imediata à solicitação do

governo com a pronta publicação do relatório da “Estratégia de intervenção para as Matas

Nacionais e outras matas geridas pelo ICNF no litoral, afetadas pelos incêndios de 15 de outubro

de 2017” (ICNF, 2017) e dinamizou a criação de uma Comissão Científica do programa de

recuperação das matas litorais, a qual apresentou em outubro de 2018, em menos de um ano, o

“Relatório para a Recuperação das Mata Nacionais e Perímetros Florestais da Região Centro”.

Foram ainda realizadas ações de estabilização de emergência em áreas particulares da MNL. O

processo parece ter-se atrasado consideravelmente a partir deste período inicial (primeiro ano

após os incêndios), quer ao nível das operações de salvados, quer nas obras de recuperação da

mata e, sobretudo, na revisão do respetivo plano de gestão florestal. Há reclamações do

município da Marinha Grande, do OBPR, de partidos políticos e de cidadãos em relação aos

atrasos verificados no processo bem como ao não envolvimento das instituições locais e da

sociedade em geral na definição dos objetivos e operações a realizar na MNL.

As ações implementadas pelo ICNF dizem respeito a uma pequena fatia de todo o território

afetado pelos fogos e pelo furacão Leslie. Tarefas essenciais estão ainda por executar, 3 anos

após o incêndio, tais como a remoção do material lenhoso ardido ou destruído, com implicações

em especial dos insetos xilófagos, a intervenção em vastas áreas onde não existe ainda qualquer

regeneração natural (Fig. 16), especialmente de pinheiro-bravo, medidas eficazes para controlar

a erosão hídrica (ex. Ribeira de S. Pedro) e a erosão eólica em toda a orla costeira. São ainda

necessárias ações diferenciadas para biótopos específicos, como é o caso do Biótopo Corine

C12300073 na região do Samouco.

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Figura 16. Ausência de regeneração natural na zona central da MNL, o que deveria implicar a mobilização do

solo e plantação. Foto OTI, setembro de 2020.

Embora tenha havido intervenção na vegetação imediatamente adjacente às vias de

comunicação, há ainda diversas áreas onde tal não aconteceu. Uma indicação de falta de

capacidade de intervenção na MNL, de acordo com o papel de um espaço florestal que era

singular e onde as atividades de lazer deveriam ser potenciadas, bem como outros serviços de

ecossistema, é a deposição disseminada de lixos urbanos e industriais (Fig. 17) e à não

recuperação do património construído. Acresce que a intervenção ao longo das linhas de água

principais foi muito limitada em extensão, enquanto que as suas vertentes apresentam sinais

acentuados de erosão, o que não permite o restabelecimento de vegetação. É de particular

importância o cordão dunar litoral, que apresenta fragilidades em alguns pontos, consequência

dos fogos e da erosão eólica, devendo as ações estar enquadradas no POOCOMG,

designadamente em termos de multifuncionalidade. Nesta faixa a intervenção tem, contudo, sido

deveras escassa.

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Figura 17. Acumulação de detritos na MNL. Foto OTI, setembro de 2020.

Em 28 de julho de 2020, a Assembleia da República, através da Resolução n.º 50/2020,

recomendou ao Governo que “aprove planos de requalificação e reflorestação das matas e

perímetros florestais litorais ardidos em 2017, em particular da Mata Nacional de Leiria, bem

como os respetivos planos de gestão florestal”. Esta recomendação inclui aspetos diversos do

processo de recuperação da MNL, entre eles a aprovação dentro de seis meses de planos de

requalificação e reflorestação das matas do litoral ardidas em 2017; a aprovação dos primeiros

planos de gestão florestal das matas e perímetros florestais litorais baseados num “processo de

participação pública, dinâmico e integrador, em cada um dos planos aprovados”; a integração

das recomendações do Relatório CC-PRML na concretização de planos; a aprovação de

recuperação da Mata Nacional de Leiria (MNL) e das matas do Litoral; a criação de “uma

estrutura orgânica de acompanhamento à reflorestação, recuperação, valorização e gestão da

Mata Nacional de Leiria”, “que integre autarquias locais, o movimento e as forças vivas da região,

em articulação com o alargamento e revitalização do Observatório do Pinhal de Leiria”; a

capacitação do ICNF com os meios financeiros e humanos necessários; e o reforço de verbas

para o Programa de Investimentos do ICNF 2018-2022 e um reforço no orçamento do Estado

para 2021 para os investimentos necessários.

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O OTI considera relevante a Resolução n.º 50/2020 na medida em que esta pode contribuir não

só para ultrapassar os atrasos e desvios do processo de recuperação previsto inicialmente em

2017 como para monitorizar a sua implementação.

Os mecanismos de monitorização da implementação das medidas de recuperação estabelecidos

para o efeito não funcionaram. O Observatório do Pinhal do Rei, criado com a missão de

interpretar, acompanhar e monitorizar o Plano de Recuperação do Pinhal do Rei (MNL)

(Despacho n.º 4263/2018 de 4 de abril), não tem sido capaz de assegurar essa missão por razões

que não conhecemos. A “comissão de acompanhamento técnico-científico” prevista em ICNF

(2017) não se veio a concretizar como tal, tendo em seu lugar sido criada a Comissão Científica

para desenvolver as bases técnico-científicas para a resposta à situação de crise. Possivelmente

o alargamento do mandato desta comissão de forma a incluir o acompanhamento do processo e

implementação de medidas de recuperação da MNL em vez dum mandato pontual de produção

de um relatório, apesar da sua grande qualidade e da oportunidade dos resultados obtidos,

poderia ter contribuído para reforçar a função de monitorização, conjuntamente com o OBPR.

Planeamento

Apesar de estabelecida como prioritária no Despacho n.º 9224A/2017 de 19 de outubro, a revisão

do PGF da MNL ainda não foi realizada. Este facto levanta dificuldades de índole técnica, mas

levanta, sobretudo, questões sobre o processo de planeamento e gestão em curso e a sua

transparência, bem como sobre o nível do envolvimento da sociedade na redefinição do conceito,

objetivos, gestão e governança das matas nacionais.

O ICNF afirma que se encontra a desenvolver esforços para a revisão do Plano de Gestão

Florestal da Mata Nacional de Leiria, resguardando-se, porém, na sua argumentação no prazo

legal de 3 anos após a aprovação do Plano Regional de Ordenamento Florestal (PROF) do

Centro Litoral.

As medidas a cargo do ICNF estão a ser realizadas sem que se conheça o plano a que

obedecem. A sua estratégia apresentada após os incêndios (ICNF, 2017) expõe linhas gerais e

princípios que defende para o efeito, mas a base de ordenamento e gestão das operações

previstas e realizadas subsequentemente não é conhecida. Decisões tomadas desde 2017 têm

subjacentes conceitos, objetivos, configuração, composição e gestão da área das quais se

desconhece o respetivo enquadramento técnico e legal. Não se conhece, por exemplo, quais as

medidas (entre as tomadas desde outubro de 2017) em relação às espécies a favorecer, a

estrutura biofísica da mata, controlo de invasoras e pragas, por exemplo, que se baseiam no

relatório da Comissão Científica e quais as medidas propostas pela mesma Comissão Científica

que não foram adotadas e as razões para essas decisões.

Uma questão importante que é imperativo discutir de forma alargada e, posteriormente, definir

em termos de planeamento e gestão, é a do modelo de floresta e paisagem (e correspondente

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gestão) que se defende para a área. O modelo que está a ser implementado na área após os

incêndios de 2017, embora não partilhado com a sociedade em geral, é aquele que mais se

ajusta à realidade biofísica, social e económica da região e do país? Os objetivos definidos

previamente (PGF de 2010) são ainda atuais considerando as expetativas da sociedade em

relação às matas nacionais e ainda as alterações sociais e ambientais, entretanto verificadas? A

composição e estrutura ecológica da mata que parecem estar a ser favorecidas são ainda

aceitáveis? É aceitável ainda que os municípios e os cidadãos não estejam envolvidos na

definição do conceito de mata nacional de Leiria para o futuro nem na sua gestão?.

Também os modelos de silvicultura a serem utilizados dependem da rápida elaboração do novo

Plano de Gestão Florestal, o que permitirá criar um documento enquadrador em vez de ações

dispersas e não integradas, desde intervenções do ICNF a outras decorrentes do mecenato e

voluntariado. Naturalmente o PROF-CL deve igualmente estar subjacente a estas ações, bem

como outros instrumentos de planeamento relevantes como são os PDM e o PMDFCI. De

qualquer modo, é muitas vezes insuficiente deixar que as dinâmicas da vegetação natural se

desenvolvam naturalmente, pela via seminal e/ou vegetativa pós-incêndios, sem ações de

restauro ativas, nomeadamente na orla costeira, devendo todo o território da MNL ser

cartografado de modo a definir a intervenção em todos os talhões.

Não queremos assim deixar de salientar a necessidade de revisão do Plano de Gestão Florestal

da Mata Nacional de Leiria (MNL), o qual tem já 10 anos, sendo a situação atual completamente

distinta daquela verificada antes do impacto combinado dos incêndios de 2017 e do furacão

Leslie, o que exige uma planificação pormenorizada em função da situação atual, tanto mais que

o PROF-CL que lhe serve de apoio foi aprovado em 2019.

A revisão do Plano de Gestão Florestal, na perspetiva do OTI, constitui uma oportunidade para

reavaliar os conceitos, funções e objetivos, ordenamento e gestão das matas nacionais litorais,

ajustando-as às expetativas da sociedade e condições biofísicas atuais, após os trágicos

acontecimentos de 2017. É igualmente uma oportunidade para melhorar processos participativos

de gestão pública com o envolvimento ativo da sociedade. Considera-se assim que a existência

de um Plano de Gestão Florestal para a MNL, mesmo que provisório, de caráter adaptativo, ou

em revisão, se reveste da maior urgência.

Modelos de silvicultura

Quer a CC-PRML (2018), quer o Observatório do Pinhal do Rei (2019) consideram que a

reflorestação da Mata Nacional de Leiria deverá ser feita favorecendo as espécies que sempre

foram dominantes neste espaço, “embora deva ser considerada a introdução de outras espécies

arbóreas que aumentem a biodiversidade e diminuam a propagação de incêndios”, o que implica

algum distanciamento em relação à situação de referência pré-incêndio, ou seja, de modo a evitar

a continuidade do modelo de monocultura de pinheiro-bravo e a presença crescente de eucalipto.

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Isto sem pôr em causa, tal como defende a CC-PRML, que o pinheiro bravo apresenta um valor

cultural e natural na MNL, o que exige que continue a ser a espécie dominante. Mas o correto

planeamento florestal implica, paralelamente e onde as condições de solo o permitirem, uma

maior promoção ou instalação de outras espécies, nomeadamente de pinheiro manso e sobreiro,

e de povoamentos mistos conduzindo a uma paisagem mais diversificada, heterogénea e

resiliente a perturbações.

Monitorização

Uma completa rede de monitorização integrada, abarcando pragas e doenças, alastramento de

exóticas invasoras e avaliação dos processos de regeneração natural e do sucesso das

plantações efetuadas é também de importância fundamental, não esquecendo a monitorização

da erosão e dinâmicas costeiras, por processos que sejam mais do que a mera observação visual

in loco. Aparentemente, com base na informação fornecida pelo ICNF em 2020, as parcelas de

estudo não estão constituídas nem se procedeu à reativação das parcelas experimentais

previamente existentes e percorridas pelo fogo.

Estrutura

A estrutura da MNL, baseada na compartimentação de talhões de malha ortogonal, representa

a conceção de espaços florestais e de ordenamento florestal do século XIX. Esta geometria

regular tem significado histórico e cultural significativo por essa razão. Contudo, após os

incêndios de 2017 que afetaram grande parte desta (e das restantes matas nacionais litorais), e

no quadro de uma transformação das matas nacionais para um conceito mais orgânico

favorecendo o aumento da heterogeneidade estrutural dos povoamentos e da paisagem, e de

fornecimento de serviços de maior aceitação social e maior valor para a sociedade e

considerando ainda a posição de Lopes et al. (2018), a manutenção desta estrutura é atualmente

questionável e deve merecer atenção por parte dos promotores do ordenamento e gestão da

MNL. O OTI propõe assim que este aspeto seja equacionado em sede de revisão do PGF da

MNL.

II SÉRIE-E — NÚMERO 4______________________________________________________________________________________________________

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Gestão e governança

O Observatório considera que, à semelhança do que já sucedeu em espaços de significativo

património florestal e histórico, deve ser criada uma entidade gestora da Mata Nacional de Leiria,

extensível a outras matas do litoral, que poderá revestir formas diversas, nomeadamente

Cooperativa de Interesse Público, Sociedade ou Fundação, que tenha as seguintes

características:

1. O património continuaria como propriedade do Estado português;

2. Deverá ser equacionada a criação de uma entidade gestora do património florestal, natural e

histórico, com uma maioria de participação conjunta de organismos do Estado central e

autarquias locais, sem que nenhuma destas entidades tenha isoladamente a maioria da

participação;

3. De forma a integrar plenamente esta estrutura e no âmbito da sua missão, devem ser

reforçados os recursos humanos e técnicos do ICNF afetos à MNL;

4. A entidade gestora deve incluir instituições de cariz científico, e organizações da sociedade

civil, em particular interessadas na conservação da natureza e do património histórico;

5. A entidade gestora deve dispor de completa independência técnica, administrativa e

financeira e dedicar as suas receitas à conservação, gestão e melhoria do património;

6. Na atual fase de recuperação da MNL, a entidade gestora deve ser dotada com as receitas

obtidas pelo Estado com as vendas do material lenhoso após o incêndio de 2017.

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A DIVISÃO DE REDAÇÃO.

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