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2.ª Se a vontade geral de todo o Brazil, demonstrada por declarações publicas, por actos solemnes, legaes, e repetidos, não fosse a de uma sincera união com Portugal, o emprego da força armada para conservarmos o vinculo politico com os nossos irmãos da America, seria um meio, além de injusto, inadquado para obter aquella união; porque dicta a justiça, dictão os primeiros principios da razão, que este vinculo politico deve ser o resultado de uma vontade livre, e espontanea, e quando assim não he, sempre a força vem por fim a succumbir. Mas se esta união he tão appetecida áquém, e além do Atlantico, já não temos que empregar a força, a não ser contra os que querem transtornar esta suspirada união de ambos os povos.
3.° Esta união não he só útil, he tambem necessaria aos dois hemisferios. Della resulta uma utilidade reciproca (exactamente reciproca) tanto ao Brazil, como a Portugal, não só no que respeita á importancia politica de ambos os povos, mas tambem pelo que respeita ás suas vantagens commerciaes, Portugal perde da sua consideração, se não se conservar unido ao Brazil; e o Brazil perde igualmente da sua importancia politica, se deixa de permanecer unido a Portugal. Da mesma união resultão vantagens reaes, mas reciprocas; no que respeita ao commercio; porque se o Brazil possue muitos elementos, que estabelecem a dependencia da Europa, nós tambem possuimos o outros de que depende, não só a commodidade da America, mas tambem a sua existencia. Na nossa mão estão cousas, de que tão depressa não poderão prescindir os Americanos. Não he tempo de estarmos contrapezando em mesquinha balança quem perde mais com a desunião; basta considerar que todos perdemos na desunião; e que todos ganhamos com estarmos unidos: particulares exames nesta materia produzem a irritação do ciume, e para nada servem.
4.º e ultimo principio. As Cortes não só devião dar, mas effectivamente tem dado aos povos do Brazil a mesma Constituição que aos de Portugal; sim a mesma Constituição, a mesma liberdade civil, a mesma liberdade politica, as mesmas garantias; e destinão além disso fazer aquellas alterações, que de accordo com os seus representantes, as Cortes acharem que convem, e que são necessarias em attenção ás differenças do território, costumes, etc.
Da evidencia destes principios ninguem póde duvidar; bem como ninguem póde mostrar que o Congresso os tenha transgredido nas medidas que tem adoptado a respeito da America. Ellas formão a carta politica da união de Portugal com o Brazil: eu os proclamo hoje á face da Nação, e da Europa, como a profissão de fé politica do Congresso, e como a profissão dos meus particulares sentimentos, e opiniões a este respeito. - E sendo assim, a qual destes principios se oppõe a remessa de forças para o continente da America? Por ventura vai esta força plantar ali o systema colonial? Quaes são as leis que o cimentão? Por ventura he para ali remettida esta força para transtornar a união do todos tão apetecida? Porventura, vai ella fazer executar ali outra Constituição?... Outras liberdades?... Outra especie de Governo?... Por ventura, estamos nós no mesmo caso, em que estava o governo da Grã-Bretanba, ou a Hespanha, a respeito das suas colonias? Acho que será difficil o mostralo. A medida de que se trata, em nada encontra aquelles sagrados principios.
Se me fizerem então a pergunta, qual he o fim a que esta força he destinada naquelle continente, darei em resposta o seguinte: (e assim estou chegalo á segunda parte do meu discurso).
Ninguem póde duvidar que a vontade geral de todo o Brazil he a união com Portugal. Um grito unanime se ouviu de repente em todas as provincias d'America. Em todos os seus actos solemnes, em todas as suas declarações publicas não houve outra clausula, senão a de união com Portugal; Constituição que fizerem as Cortes, Religião, Rei. Após estas declarações, e destes votos publicos, apparecêrão os illustres Deputados daquelles povos, e todos elles trouxerão as mais unanimes declarações; a este respeito todos elles aqui mesmo tem repetido aquclle voto universal, e ratificado aquella geral vontade de seus constituintes. Os mesmos papeis incendiarios publicados no Rio de Janeiro, que tem dito toda a casta de desproposito, e toda a casta de blasfemia politica, e que tem vomitado por cem bocas impuras toda a casta de mentira, e de calumnia, ainda se não atrevêrão a dizer, que o Brazil não queria estar unido a Portugal; bem sabem elles qual he a geral vontade a este respeito, e qual seria o summario processo daquelle que se aventurasse a contradizer esta tão pronunciada vontade do honrado povo Americano.
Mas se he certa esta vontade geral, não he tambem pela outra parte certo, e evidentissimo, que não obstante aquella geral tendencia á união, ha tambem naquelles paizes tres conhecidos elementos de social desorganização, que trabalhão por transtornar aquella união? Quem desconhece na America o espirito da independencia, o espirito da rebelião, e da inobediencia, e o espirito do anarquismo, e da convulsão popular, manobrando todos os dias, ora mais, ora menos claramente? Senhores, chamo em meu auxilio mil cartas que daquelle continente se tem escrito, chama os diversos papeis publicos, que tem sido impressos, chamo os documentos publicos, e solemnes, que assim o indicão, nada he mais verdadeiro, e notorio.
O espirito da independencia, e uma facção de independentes, existe em Pernambuco, existe na Bahia, existe no Rio de Janeiro, existe em S. Paulo, existe em Minas. A mesma representação da camara do Rio de Janeiro, dirigida a S. A. R., o diz pela boca do juiz de fóra daquella cidade em muito claros, e muito expressos termos. E quando uma corporação do Estado em um dos actos mais publicos, e mais solemnes, e na presença de um Principe, avança no paiz um facto, he preciso que este facto haja obtido um gráo de notoriedade universal, e indisputavel.
O espirito da rebellião, e d'inobediencia aos actos legislativos de uma autoridade legal, e reconhecida, he de igual, senão maior evidencia. Já se sabe que ninguem attribue este espirito a todo o Brazil: se assim fosse: estava acabada a união, porque ninguem obedecia. Ma poderá duvidar alguem que em diversas partes daquele continente se tem descoberto auto-