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Outra vez digo: não vejo aqui senão huma pura allucinação do Cardeal Patriarcha, não vejo que com isto elle quizesse persuadir ao Povo que era contra a consciencia jurar os dous artigos das Bases.

O senhor Ferrão. - Sendo eu Parodio de huma das Freguezias de Lisboa, posso informar de officio o Soberano Congresso sobre esta materia - O Cardeal Patriarcha fez expedir pelo seu Secretario Ordem ao Vigario Geral com a copia do Aviso que recebeo da Regencia, determinando-lhe, que convocasse todas as Auctoridades Ecclesiasticas da Capital para prestarem o mencionado juramento nas mãos delle Vigario Geral na Camera Patriarchal, e que depois de o ter recebido das referidas Auctoridades, elle o hiria prestar nas mãos de Sua Eminencia ao Tojal aonde se datou a ordem - O Vigario Geral em consequencia mandou que todas as Auctoridades Ecclesiasticas que não fossem chamadas por outra li e partição, comparecessem na Camera Patriarchal pelas nove horas da manhã do dia aprazado, aonde effectivamente concorrerão, e prestarão sem restricção alguma o juramento ordenado pela Regencia.

O senhor Borges Carneiro. - Considerar como effeito de allucinação o procedimento do Cardeal Patriarcha, não o posso perceber. Eu vejo que o Cardeal Patriarcha desde o principio da Regeneração sempre obstou, e contrariou as vistas do Governo. A Bulia relativa a comer-se carne para se evitar o sahir dinheiro para Inglaterra, e tão interessante ao nosso Estado publico, o Governo, recommendou a execução della; e o Cardeal Patriarcha, não devendo reputar-se mais religioso do que os outros Prelados do Reyno, obstou á publicação desta Bulla; o que tem sido occasião de discordias entre, as familias, e discordias de que elle he o culpado. Elle se servio de argumentos cheios de ironias com o Governo, o qual da sua parte o quiz contemporizar dando-lhe respostas serias ao seu estylo emphatico, e capcioso. Elle tendia pois por meio destes factos a introduzir no Publico hum systema de discordia. Vamos aos dous artigos das Bases em que elle embirra: 1.° que a verdadeira Religião he a Catholica Apostolica Romana; é que dá a entender não querendo jurar este artigo he, que as Cortes querem que a Religião dominante não seja a Catolica; ao menos querendo que se accrescente a palavra = unica = dá a entender que o Congresso não quer que ella seja unica, quando pelo contrario o Congresso decretou que ella havia de ser a unica, e só não poz esta palavra em rasão das modificações que se hão de fazer relativamente aos Estrangeiros. O 2.° artigo que o Cardeal Patriarcha não quer jurar tambem he de natureza tal que tem relação com os pontos da Religião; delle não se póde seguir o perigo de se offender em alguma cousa o Dogma, e a Moral, o que pelo contrario o Cardeal Patriarcha pertende ensinuar. Por isso não julgo que tudo isto seja effeito de mera allucinação. Convenho, como disse, que elle não seja julgado como Reo de crime de alta traição, mas sim julgado de modo que soffra a desnaturalização, e que a Sentença se de segundo o que tenho dicto.

O senhor Ferrão. - Sou dos mesmos sentimentos do Illustre Preopinante o senhor Trigoso. - Eu não sou obrigado pessoalmente ao Cardeal Patriarcha; entre tanto, em obsequio da verdade, devo dizer que em nada disto he culpado. Sei com toda a certeza que elle faz sómente o que querem que taça as pessoas que o cercão, como tem acontecido a iodos os Patriarchas, ao menos aos do meu conhecimento - O Palacio Patriarchal foi sempre em pequeno o que era em grande o Palacio Real. Hum Illustre Deputado (o senhor Borges Carneiro) tem aqui dicto muitas vezes que os Grandes Aulicos erão culpados de todas as desordens que ha no Ministerio: outro tanto posso eu dizer dos Patriarchas. Os seus pequenos Aulicos com adulações, intrigas, e lisonjas fazem d'elles quanto querem. Os Patriarchas nunca fizerão a sua vontade. Agora aconteceo o mesmo. Os pequenos Aulicos do Patriarcha, logo que principiou esta ordem de cousas, arrancarão Sua Eminencia da Junqueira, aonde podia, como diz o senhor Trigoso ouvir o seu Collegio, e outras pessoas que sem duvida o aconselharião bem; forão sepultallo na Quinta do Tojal, aonde sopeado pelas adulações, intrigas, e lisonjas o conduzirão a tão grande desacerto - Apoyo por tanto a opinião do senhor Trigoso: o Patriarcha não he o culpado.

O senhor Soares Franco. - Ternos a examinar sobre este objecto: 1.° qual he o motivo porque procedeo o Cardeal Patriarcha: 2.° qual he o facto que elle commetteo. He Verdade que pelo que elle diz he facil conhecer que se allucinou, e as suas faculdades intellectuaes são muito pequenas. He tambem claro que ha pessoas que illudem, e creio que não serão tão faltas de entendimento como elle. O fim era introduzir dissidencia na Nação, era mostrar que as Cortes não em Religião alguma, quando elle devia saber o systema das Cortes. He preciso pois estabelecer hum Tribunal para o julgar a elle, e a outras pessoas que tambem quizerem practicar similhantes factos. Elle resistio á vontade geral da Nação, quebrantou huma Ley, Ley a que todos devem obedecer. Elle diz que não quer jurar dous artigos das Bases, e quando diz isto quer dizer, que não quer viver nesta Sociedade; e assim parece que deve ser desnaturalizado; pois quem não quer receber a ley, não deve receber os proveitos, e utilidades desta Sociedade. Devemos pois concluir que se deve formar hum Tribunal para examinar a sua conducta, ver se ha alguma Legislação sobre isto, porque o facto he indigno, e o meu parecer he que seja affastado da Sociedade.

O senhor Fernandes Thomaz. - Tem-se pertendido diminuir os procedimentos do Cardeal Patriarcha, mostrar que era huma extravagancia, e deduzir dahi que se devem olhar as suas acções como d'hum homem extravagante, que consequencia nenhuma podem ter sobre a Sociedade. Todavia deverei fazer algumas reflexões sobre isto. São differentes os modos são diversos os caminhos porque se marcha para a rebellião, e seducção. As circunstancias de cada hum as suas producções, os seus talentos, os seus caracteres fazem diversificar esta marcha. O homem ricco serve-se dos meios que he estão mais á mão, o Ecclesiastico serve-se sempre dos pretextos da Religião.

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