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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

O sr. Mariano de Carvalho: — Desejava saber se o mesmo jornal ainda hoje está debaixo da direcção de v. ex.ª?

O Orador: — O que eu sei é que esse jornal, quando muitas vezes é obrigado, por força de posição, a tratar dos meus poucos discursos, tem-os julgado com tal independencia que muitas vezes discorda das minhas opiniões (apoiados). E eu preso ainda muito mais por isso o illustre redactor d'aquella folha, do que se elle subscrevesse a todas as minhas doutrinas e proposições. (Vozes: — Muito bem.)

O sr. Mariano de Carvalho: — Então já não está debaixo da direcção de v. ex.ª?

O Orador: — Eu esclarecerei esse ponto quando for preciso; e se julga que isso é muito necessario para as suas propostas ou para os discursos futuros do illustre deputado, eu digo-lhe que cada redactor que lá escreve, escreve o que quer, escreve independentemente, e escreve gratuitamente (muitos apoiados), e não recebe inspirações de ninguem; e até muitas vezes não me pede esclarecimentos sobre alguns factos que...

O sr. Mariano de Carvalho: — V. ex.ª dá-me licença?

O Orador: — Peça-a á mesa: disseram-me hontem que o sr. presidente é que dava as licenças (riso). Mas comtudo eu agradeço a deferencia e a consideração.

O sr. Mariano de Carvalho: — A minha pergunta é esta. V. ex.ª disse que no tempo da revolta de 19 de maio dirigia aquelle jornal; e eu pergunto se ainda agora o dirige.

O Orador: — Digo-lhe que se aquelle jornal louvasse a revolução, eu, com muito sentimento meu, porque era amigo do seu redactor, o despedia.

Mas continuando. Eu entrei n'aquelle ministerio e nunca louvei a revolta de 19 de maio. Ouvi já dizer aqui que um partido caracterisado pela sua moralidade tinha sido convidado para aceitar o poder entrando n'aquelle ministerio. Não aceitou, e eu creio que fez mal. Se o chefe da revolta tinha ido procurar cavalheiros tão prestantes, dava elle uma prova de que os seus actos podiam ser recebidos com respeito, porque não se podia crer que tão nobres cavalheiros iam ajudar o marechal na destruição das instituições. Acredito portanto que commetteram um erro politico.

Mas qual foi a rasão por que não aceitaram? Disseram-nos que foram elles disputar com o chefe da revolta sobre pessoas e sobre pastas!... Isto é deploravel! (Muitos apoiados.)

Pois, senhores, eu antes de aceitar uma pasta sabem sobre que disputei? Foi sobre principios (apoiados).

Procurava que os que attentaram contra as instituições voltassem á ordem (apoiados). Propunha garantias para os vencidos (apoiados). Queria que não houvesse perseguições; queria o governo parlamentar; queria que não houvesse dictadura; queria tudo isto (muitos e repetidos apoiados). Queria tudo isto; e esta triste politica mereceu a indignação dos illustres deputados! (Muitos apoiados.)

Mas clama-se «o ministro em tal epocha disse aquillo e agora diz isto»; que argumentação tão deploravel!...

Eu disputava sobre principios, litigava e pleitiava sobre meios de governo, sobre segurança e sobre liberdade (muitos apoiados), e os srs. deputados que tinham applaudido o sr. marquez de Angeja não se dignaram então sentar-se a seu lado.

(Sussurro.)

Não sei se esta é a verdade, mas acceito as declarações que fizeram os illustres deputados. Não vou folhear escriptos antigos, e sómente me retiro á discussão parlamentar.

Que achei eu no dia 19 de maio? Eu apoiava o ministerio, e qual foi o voto com que lhe faltei? Vi sumir-se esse ministerio não sei como (apoiados); não foi por certo por sua vontade, mas por seu descuido podia ser.

No dia 19 de maio não achei ministerio a quem apoiar, achei unicamente um Rei a quem servir (muitos apoiados); achei um paiz cujas liberdades cumpria sustentar (muitos apoiados), fossem quaes fossem os sacrificios que para isso tivesse de fazer, e fossem quaes fossem as injurias que d'ahi me resultassem (muitos apoiados).

Desejava mais o bem do meu paiz do que a coherencia e a gloria do meu proprio nome (apoiados).

Que me importava caír defendendo a liberdade! (Muitos apoiados). Dans un noble projet on tombe noblement. É essa uma gloria que ainda me resta. Disseram já que era em mim o desejo de uma pasta ou de honras que me seduziram. Eu preferi sempre a honra ás honras, e se ellas se podessem ceder, cedia-as a quem as quizesse, porque não é verdadeira a reputação a que se funda sómente n'esses ouropeis.

Mas creio que o illustre deputado que me argue d'esta ambição era o ultimo que o devia fazer. Pois elle não o sabe? Sabe-o de certo; e se se calar, é porque não o quer dizer. A mim já me tinham offerecido pastas e a elle tambem. Elle sabe que eu as rejeitei, e que elle, se as queria, não as pôde obter. Por consequencia a que vem estas recriminações?

O sr. Santos e Silva: — A mim nunca me offereceram pastas.

O Orador: — Pois se não lh'as offereceram, foi para não offender a sua modestia.

O sr. Santos e Silva: — Quem foi a pessoa que me offereceu pastas, ou quem pretendeu offerecer-m'as?

O Orador: — Eu posso saber o facto e mais nada. Não vejo como seja um crime desejar uma pasta, mesmo quando se deseje.

O sr. Santos e Silva: — Se a allusão é feita a mim, eu peço ao sr. ministro do reino que diga quem me offereceu pastas, ou de quem eu, directa ou indirectamente, as solicitei. E se v. ex.ª não rectifica este ponto, eu hei de ter a palavra ainda no debate, e hei de por isso a claro. Creio que é uma allusão a mim, e eu tenho por isso direito a uma explicação (apoiados).

O Orador: — Não vejo que seja deshonra desejar uma pasta, nem eu disse que a desejava, nem que lh'a offereceram, como não é deshonra desejar um bispado. Qui episcopatum desiderat, bonum opus desiderat. Desejo que o illustre deputado não se offenda com isto, porque eu não o julgo menos digno quando tenha esse desejo.

O sr. Santos e Silva: — Mas v. ex.ª sabe se eu tinha ou não esse desejo?

O Orador: — Eu sei que me offereceram uma pasta, e sei que estive com o illustre deputado, com cavalheiros que m'a offereceram, que, quando m'a offereceram, era porque confiavam na rainha capacidade, e ainda mais no merito do illustre deputado; e se não lh'o disseram a si directamente, foi por não offenderem a sua modestia. E isto é muito lisonjeiro para o illustre deputado, porque nem a todos os seus correligionarios deram essa prova de consideração.

O sr. Santos e Silva: — Nem me offereceram directa ou indirectamente pasta alguma, nem eu a solicitei; v. ex.ª está laborando n'um equivoco, e eu digo que faltaram á verdade os individuos que assim informaram a v. ex.ª

O Orador: — Eu posso estar enganado pelo que diz respeito aos desejos do illustre deputado, mas pelo que diz respeito a mim e pelo que diz respeito ás suas intenções, quer dizer, ás suas d'elles, é que não o posso estar; mas tenha paciencia o illustre deputado, porque a mim não me poupou as proprias intenções.

Pois quem diz que eu fôra entrar no ministerio de 19 de maio pelo desejo de conquistar uma pasta, a que é que allude? Quem lhe disse as minhas intenções? (Apoiados.) Que eu pelos proprios actos que s. ex.ª pratique, suspeite, conjecture quaes são as suas intenções, vá, mas não passo adiante. Que dados tem o illustre deputado, que me viu separar de uma reunião de homens, todos muito respeitaveis, e de todos os quaes eu sou amigo, por não querer subscrever ás suas idéas, que dados tem para asseverar que