O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

217

DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

mas tomar a sua auctorisada opinião em toda a consideração que merece (apoiados).

Não quero que se tomem resoluções por argumentos tirados exclusivamente da auctoridade das pessoas que sentenceiam no assumpto; mas o que me parece é que a camara não póde deixar de dar peso aos argumentos que são firmados com o nome de um cavalheiro tão distincto e respeitavel como o sr. Alexandre Herculano, que não é só um dos mais insignes historiadores da Europa, mas tambem um publicista distincto e um escriptor profundo em materias economicas (apoiados).

Outras pessoas tambem distinctas assignam a representação, como o sr. João de Sousa Falcão, que é o proprietario que lavra mais de 1:000 pipas de vinho n'aquelle districto. Esta circumstancia parece-me que tambem recommenda a sua auctoridade. Não digo mais nada a este respeito.

Agora pedia a v. ex.ª que declarasse se o sr. ministro do reino já se deu por habilitado para responder á interpellação que ha tempos lhe annunciei ácerca da annexação de uma freguezia do concelho de Oliveira do Bairro, ao concelho de Aveiro. Quando eu annunciei esta interpellação disse s. ex.ª que eu não havia de ter muita pressa em a realisar. Não era eu que devia declarar-me habilitado para responder a esta interpellação, mas sim o sr. ministro do reino.

Como eu em uma occasião declarei que me propunha a mostrar á camara que o sr. ministro do reino havia commettido uma falsidade, porque tinha allegado n'um documento official uma cousa inteiramente falsa, parece-me que a accusação é muito grave, e que o sr. ministro do reino devia, levado pelos sentimentos do proprio pundonor, apressar-se a dar-se por habilitado para responder-me. E, se o não faz, peço-lhe que o diga, porque quero que o paiz saiba que não é por minha culpa que se não realisa a interpellação; quero que saiba que se levantou n'esta casa um deputado da opposição a accusar de falsario um ministro, e que esse ministro se recusa a responder á accusação (apoiados).

SEGUNDA PARTE DA ORDEM DO DIA

Continua a discussão do projecto de resposta ao discurso da corôa

O sr. Saraiva de Carvalho: — Peço a palavra sobre a ordem. Muitos srs. deputados se têem inscripto sobre a ordem, fazendo por este modo cora que eu fosse preterido e não podesse usar da palavra sobre a materia no logar que me competia.

O sr. Luiz de Campos: — Também peço a palavra sobre a ordem.

O sr. Pinheiro Borges: — E eu igualmente.

O sr. Presidente: — Eu inscrevo os srs. deputados.

Tem a palavra, que lhe ficou reservada da sessão de hontem, o sr. ministro do reino.

O sr. Ministro do Reino: — No dia immediato aquelle em que o illustre deputado por Anadia me annunciou uma interpellação, fui eu dizer a v. ex.ª, sr. presidente, que desejaria que marcasse o dia mais proximo que podesse ser para se verificar essa interpellação.

Tinha eu dito ao illustre deputado que o desejo que eu tinha de que se discutisse esse negocio não era menor do que o desejo que s. ex.ª tinha de me interpellar. Não me enganei. A pergunta que o illustre deputado fez hoje podia tê la feito ha mais tempo, e eu ter lhe-ía dado esta resposta, que me justifica completamente (apoiados).

Deu hontem a hora quando eu entrava na apreciação da viagem real, e dizia que comprehendia pouco a coherencia d'aquelles, que, arguindo o ministerio por ter aconselhado a El Rei a sua viagem ás provincias do norte, porque podia d'ahi resultar desconsideração para a pessoa de Sua Magestade, d'ahi a poucos dias accusavam o governo porque salvaguardava a vida de El-Rei. Era accusado o governo pelo que fazia e pelo que não fazia.

Lembro-me de que em Roma era dia de gala o anniversario da batalha de Actium, que fóra ferida entre Augusto e Antonio. Caligula procedia de ambos elles, e declarou que puniria aquelles que celebrassem esse dia de festa, porque offendiam Antonio, que tinha sido vencido; e que puniria aquelles que não o celebrassem, porque offendiam Augusto, que tinha sido o vencedor.

Este mesmo Caligula (ainda é uma historia que se chama do baixo imperio), decretou honras divinas a Drusilla; e, depois d'este facto, castigava aquelles que choravam a morte d'ella, porque era deusa e não devia ser chorada, e aquelles que não a choravam, porque era sua irmã e devia ser lamentada.

O governo acha-se no mesmo caso; confiou no povo portuguez; applaudiu a viagem que El-Rei fez ás provincias; regosijou-se, como todo o paiz com as demonstrações de respeito que se lhe deram, e foi accusado por isso!!

D'ahi a pouco, no meio de uma revolta, tomando algumas providencias, para que algum desatinado não attentasse contra a pessoa do Rei, foi accusado, porque isso podia fazer suppor que havia alguem que attentasse contra a magestade real!!

Esta situação é agradavel para o governo, mas é pouco lisonjeira para a opposição (apoiados). Se julgavam que havia grandes receios e se nenhum mal resultou d'ahi, o que se conclue? Deviam concluir outra cousa; deviam concluir que não se offendeu a magestade por causa dos ministros; que os seus receios eram infundados, e que o ministerio não era tão impopular como diziam, que recebesse ' desfeitas de ninguem, salvando mesmo a dignidade do soberano, e advirta-se que isto não aconteceu em todos os tempos.

Houve as demonstrações que cada qual quiz fazer; houve as demonstrações da opposição apresentando requerimentos a El-Rei; ninguem obstou a isso. Ouvi dizer aqui que houvera quem se risse, fazendo se por essa occasião uma brilhante tirada a favor da democracia.

Eu, que leio alguma cousa, posso dizer agora de que é que se riu alguem, se é que se riu. Ninguém quiz menoscabar o povo, porque do povo todos somos filhos (apoiados), e todos querem ser filhos do povo, principalmente quando elle aspira á dignidade de soberano. Então o povo tem os mesmos lisonjeiros que costumam 1er os reis; e é enganado da mesma fórma que o são os soberanos.

N'um jornal que creio não pertence ao grupo regenerador, liam se estas eloquentes palavras, que não têem nada de eloquencia, mas é costume dizer-se que a tem, quando nos agrada aquillo que se diz.

O Tribuno popular de 18 de janeiro diz:

«O sr. Luiz de Campos, deputado por Vizeu, referiu-se no seu discurso de quarta feira á commissão viziense que veiu a Coimbra entregar algumas representações a El Rei, pedindo a convocação extraordinaria das côrtes, e diz que esta commissão foi aqui recebida ás gargalhadas pelos amigos do governo.

«Não é completamente exacto o illustre deputado.

«Se houve quem se risse da commissão, foi porque um dos seus membros declarava que não sabia o que vinha fazer; que lhe haviam dito que tinha de vir a Coimbra, e que lhe pagavam o seu tempo. Isto disse-se então, e não foi desmentido.

«Que assim não fosse, não se devia admirar o representante de Vizeu, visto estar n'este momento o seu órgão da mesma cidade, o Jornal de Vizeu, á chamar japoneza á commissão que foi a Lisboa levar a representação em que se pede a directriz do sul para o caminho de ferro da Beira, não obstante tratar-se de assumpto que deve ser estranho a paixões politicas. De mais a mais nunca appareceram japonezes como os da tal commissão de Vizeu.»

(Interrupção do sr. Luiz de Campos, que se não percebeu.)