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12 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

quando é certo que outros mais graves assuntos ha, a tratar no Parlamento. (Apoiados).

Esses graves assuntos politicos são já do conhecimento de toda a Camara.

Poderia dizer mais e melhor. Por parte do partido progressista já foi, porem, dito pela Sr. Moreira Junior, meu illustre leader qual é a attitude do partido progressista perante o novo Gabinete. Aos leader s dos differentes partidos politicos representados nesta Camara não poderia eu responder mais e melhor e não teria a actividade do Sr. Sebastião Telles, que a todos respondeu.

Desnecessario seria, pois, vir eu falar nesta altura da discussão, e não me teria inscrito, se não fosse por ter de responder ao discurso do brilhante parlamentar, o Sr. Dr. Egas Moniz, discurso a que eu presto homenagem, como modelo de oratoria parlamentar, como attestado de um grande talento, mas contra o qual levanto o meu protesto mais energico, porque contém affirmações que são não só violentas mas descabidas.

Foi esse o motivo que me levou a pedir a palavra sobre a ordem.

Um dos pontos largamente tratados pelo Sr. Dr. Egas Moniz, e que constituiu hoje o assunto da primeira parte da ordem do dia, foi o do emprestimo contratado pelo Gabinete de que fazia parte o Sr. Conselheiro Espregueira.

Quero pois accentuar que, resolvido parlamentarmente esse assunto, o facto constatado é que sobre o empréstimo do Sr. Espregueira, com garantia do fundo dos caminhos de ferro, estão sobre as mesas da Camara dos Pares e da Camara dos Deputados documentos fornecidos ainda por esse Ministro; mais ainda: o Sr. Conselheiro Espregueira deixou convites a todos os Pares e Deputados para irem ao seu Ministerio examinar todos os documentos relativos a esta questão.

Quem assim procede, procede com lealdade e clareza. (apoiados).

O Sr. Archer da Silva: - Alguns documentos não; estavam lá. Pergunte ao Sr. Ministro da Fazenda.

O Orador: - Não tenho que perguntar cousa alguma; o que digo é que os- documentos que ali estão explicam sufficientemente a questão. (Apoiados).

Não posso, neste momento, ao ter da saudar o novo Governo, deixar de me lembrar com saudade dos Ministros que saíram d'aquellas cadeiras, porque, justiça é dizê-lo, cumpriram honradamente o seu dever. (Apoiados). Não quero esquecer ainda que o Sr. Conselheiro Espregueira saiu assinalado por uma gerencia habil e cuidadosa. (Apoiados).

Pode a politica fazer insinuações, mas o que não pode é derruir a verdade dos factos.

O nome do Sr. Conselheiro Espregueira ha de ser proferido, pelo menos onde eu estiver, com aquella consideração e respeito que lhe são devidos.

Passemos agora ao segundo ponto tratado pelo illustre Deputado Sr. Egas Moniz: a crise politica do Ministerio da Presidencia do Sr. Campos Henriques. Essa crise, como todas as crises dos ultimos tempos, deve-se, na opinião do illustre Deputado e dos seus amigos politicos, ao chefe do partido progressista.

E elle o causador de: todos os damnos e maleficios de que temos enfermado; vamos ver porque.

Quem provocou a crise da Gabinete Campos- Henriques? Foi o Sr. José Luciano? Não; foram principalmente e quasi exclusivamente os tumultos feitos propositadamente nesta casa do Parlamento.

E esta a forma como eu vejo classificar o procedimento dás opposições.

Ai de nós se esta doutrina pudesse ser acceita; não havia mais Governos nem mais Parlamento em Portugal.

A crise da ultima situação, da presidencia do Sr. Campos Henriques não foi, portanto, provocada pelo chefe do partido progressista, foi provocada por aquelles que, quando se convenceram de que na discussão do emprestimo não podiam levar de vencida o Governo e a sua maioria, firme para o defender, recorreram a um combate parlamentar desleal.

O Sr. Egas Moniz: - Desejava que S. Exa. explicasse o que quis dizer com o combate desleal das opposições.

O Orador : - Se V. Exa. me pergunta se foi parlamentarmente desleal a luta que V. Exas. fizeram contra o Gabinete do Sr. Campos Henriques, eu digo que sim; está na minha consciencia.

(Cruzam-se ápartes. O Sr. Presidente agita a campainha).

O Sr. Presidente: - Peço aos Srs. Deputados que não interrompam o orador.

O Sr. João Pinto dos Santos: - Eu calo-me, desde que seja explicada a palavra "desleal" pronunciada pelo Sr. Carlos Ferreira.

O Orador: - Eu disse que os tumultos praticados lá fora e dentro do: Parlamento foram desleaes.

Não digo a V. Exa. que tenha um caracter desleal.

O Sr. João Pinto dos Santos: - O que desejava simplesmente era saber o alcance da palavra que proferiu..

O Orador: - Fica portanto, bem esclarecido.

As opposiçSes entendem-se no direito de falarem o mais violentamente que querem, de nos dirigirem por vezes frases que, se não offendem a nossa honra, pelo menos beliscam o nosso orgulho, mas não permittem que nos defendamos da mesma forma, que tenhamos a mesma liberdade. (Apoiados).

Pois no uso do meu pleno direito, de que não prescindo, hei de responder nos mesmos termos em que a opposição se nos dirigirmos direitos são perfeitamente iguaes.

Faço esta observação em resposta e em virtude do debate que se estabeleceu.

O Sr. Dr. Egas Moniz fez um dos discursos mais violentos que aqui teem sido feitos.

Presto justiça á correcção de S. Exa., á correcção com que a seu discurso foi proferido; mas S. Exa. ha de notar tambem que durante elle, sendo nos tão amigos e alguns. muito intimos do Sr. Espregueira, todos o ouvimos, amargamente, é certo, mas sem a interromper, e essa garantia que a opposição tem, não no-la quer dar.

O Sr. Egas Moniz (interrompendo): - Quando V- Exa. me quiser interromper dar-me ha muito prazer!

O Sr. Presidente: - Peço ao orador o favor de dirigir o seu discurso para a Presidencia, e aos Srs. Deputados a fineza de o não interromperem

O Orador: - Acato as prescrições de V. Exa.: salvo se me interromperem, porque em tal caso responderei.

Começava eu, e tão suavemente, a referir-me á crise e logo: se levantou celeuma, e os apartes não me deixaram proseguir nas minhas considerações. Dizia eu que o chefe do partido progressista não tinha absolutamente nada com os tumultos que levaram o Sr. Campos Henriques a dirigir-se ao Chefe do Estado, pedindo-lhe a demissão do Gabinete.

É de justiça accentuar aqui, que a correcção do Sr. Campos Henriques foi tanta e tão extraordinaria, que o pro-