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Sessão de 6 de março de 1877

DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

e lá verá o meu nome associado a essas leis. Ha ainda um documento que o illustre deputado poderá encontrar no ministerio da fazenda, e é a resposta que dei ao presidente do conselho e ministro do reino, que me perguntou se, como ministro da fazenda, eu teria duvida de que se construísse um caminho de ferro de Lisboa á fronteira; na minha resposta favoravel, apesar das muito difficeis circumstancias do thesouro, eu alleguei algumas das rasões que hoje são dadas no sentido de aconselhar aquelles melhoramentos como outros tantos meios de augmentar a riqueza publica. (Apoiados.)

Portanto classifique-me o illustre deputado como quizer, mas eu entendo que se não pode ser conservador sem ser liberal e sem ser progressista. O conservador liberal, se não for progressista, é retrogrado, porque o mundo marcha, as instituições carecem de ser aperfeiçoadas todos os dias, á medida que progride a civilisação, e quem estiver parado recua. (Apoiados.)

Creio, com estas declarações, ter respondido ás perguntas do illustre deputado.

Quanto ás minhas idéas sobre reforma da carta, não sou opposto de modo algum a essa reforma; o que eu quero, o que eu desejo é que essa reforma se faça pelos meios estabelecidos n'ella (Apoiados.); não quero que se faça tumultuariamente, revolucionariamente. (Apoiados.)

Estimo muito que um illustre deputado tivesse levantado esta questão, porque realmente a adhesão da camara ao que eu acabo de dizer enche-me de satisfação.

A carta, ella mesma reconheceu que carecia de ser melhorada, o lá estabeleceu os meios para esse aperfeiçoamento; os illustres deputados sabem-n'o muito bem.

Quanto ao mais. como não quero cansar a camara, e estão inscriptos muitos illustres deputados, que talvez desejem tomar tambem largamente parte no debate, digo só ao illustre deputado, que não exija do gabinete a sua opinião decidida sobre certas e determinadas questões, sobre certos e determinados projectos, que ou estão submettidos ao parlamento ou ainda não vieram. O ministerio não teve ainda tempo para combinar a respeito d'esses projectos, e não se quer apresentar na camara sem um pensamento que possa dizer que é o seu, e que elle entenda que é da sua dignidade fazer triumphar. (Apoiados.)

Vozes: — Muito bem.

O sr. Thomás Ribeiro: — Sr. presidente, ao principiar esta sessão sentia necessidade de pedir a V. ex.ª a concessão de me dirigir aos illustres ministros fazendo-lhes algumas perguntas; depois julguei que seria mais conveniente, ouvido o programma do nobre presidente do conselho, esperar que. s. ex.ªs no remanso do gabinete podessem preparar os seus negocios, e responder depois ás perguntas que eu tivesse de lhes dirigir.

Fallou em nome do meu partido o meu illustre amigo, ex-ministro do reino, o sr. Rodrigues Sampaio; desde esse momento mais me convenci da desnecessidade de fallar eu, simples soldado da maioria. Peço perdão a V. ex.ª para continuar a chamar maioria aos deputados regeneradores, porque nós continuamos unidos, hoje, fóra do poder, como quando apoiávamos o ministerio passado, e nenhum de nós tem tenção de se desviai de fórma nenhuma nem do programma que sempre aqui sustentámos, nem dos principios que lhe servem de base o que têem sido até hoje apoiados por nós conscienciosamente.

Dizia eu, sr. presidente, que em vista das explicações do nobre ex-ministro e meu antigo amigo pensava que podia reservar para melhor occasião as minhas explicações meramente individuaes, quando notei que da parte da antiga opposição, hoje felizmente encorporada na maioria, ' se dirigiam ao partido regenerador allusões que me não agradaram, e entendi do meu dever responder-lhes.

Começo por dar aos nobres ministros os meus parabens pela quasi unanimidade (se não pela unanimidade) de boas vontades com que são recebidos n'esta casa do parlamento. E como não desejo, apesar do muitissimo respeito que consagro ao illustre presidente do conselho e amizade que lhe tributo (s. ex.ª sabe perfeitamente que eu sou sincero no que digo) e a todos os seus collegas como não desejo, repito, que o governo se persuada de que a maioria antiga d'esta casa lho dá mais votos do que realmente lhe dá, devo, com a consciencia que me acompanha sempre em todos os meus actos, fazer uma declaração que sómente a mim diz respeito.

Sr. presidente, ouvindo as declarações feitas pelo illustre deputado, o sr. Anselmo Braamcamp, em nome do partido a que s. ex.ª preside, e as que depois se lhe tem seguido, entraram no meu animo duvidas que antes não tinha.

Sinceramente, quando vejo asseverar, ou, quando menos, simolar convergências de opiniões tão divergentes, confesso a V. ex.ª que a disposição do meu animo é para se retrahir, e a prudencia ensina-me a que, sem esperar nem desesperar, aguarde os actos do governo.

N'este estado digo, pois, ao ministerio, eu singularmente, entenda-se bem, que reservo o meu voto para o modelar pelo seu procedimento. Que póde contar com o meu voto e com o meu apoio se, em geral, como devo crer, se não mostrar em antagonismo com o que tenho defendido, acompanhando o ministerio transacto, porque eu não renego o programma do partido regenerador a que tenho muita honra de pertencer. (Apoiados.)

Digo tambem, como o sr. Antonio Rodrigues Sampaio, que não se póde exigir do actual gabinete que tome por mão todas as medidas que o antigo ministerio tinha trazido ao parlamento; fóra exigir demasiado; o que, porém, não acceito, e creio que a maioria não póde tambem acceitar, é um programma que seja adverso ao nosso, accorde com aquelle que sempre temos impugnado, e que é bandeira de outro partido. (Apoiados.)

Cheguei ao ponto, por consequencia, de declarar que a minha espectativa, espectativa a que me vejo forçado, não é, nem o podia ser, malevolente, mas, com franqueza, tambem não é desde já benevolente. Confessarei, porém, com o mesmo desassombro, que a acompanha um grande desejo de poder ajudar o governo dissipadas as duvidas que se fizeram no meu espirito, e de o secundar em todas as suas aspirações, que eu julgo hão de ser justas, liberaes e patrioticas. Exceptuo d'esta reserva o illustre ministro da justiça.

Seja qual for o meu procedimento para com o ministerio actual, o illustre ministro póde contar com a minha dedicação sincera e franca. Não abdico, porém, com isso os meus sentimentos politicos nem as minhas opiniões a respeito da administração da justiça, mas ajudarei com inteiro desprendimento a s. ex.ª, a quem entendo que devo prestar coadjuvação, quanta caiba nas minhas limitadas forças. Pôde s. ex.ª contar com isso.

Feita a minha declaração tão sincera como V. ex.ª a ouviu, cumpro-me dizer aos nossos antigos adversarios politicos, e especialmente ao sr. Pinheiro Chagas, que não somos maioria arrependida, (Apoiados.)

E note V. ex.ª que não tenho nenhum horror ao arrependimento. No dia em que me parecer que vou por mau caminho hei de arrepender-me e penitenciar-me. S. ex.ª esqueceu depressa a amisade que ainda ha bem pouco tempo nos consagrava (Apoiados.); s. ex.ª esqueceu-se tambem de que tinha amigos no governo e na maioria, com quem n'este momento devia ser justo, ou, ao menos, mais benevolo.

S. ex.ª esqueceu-se ainda de que estava sendo apoiado no seu discurso, o quando fallava de arrependimentos pelo antigo partido historico, que se arrependeu de ter combatido o antigo partido reformista. (Apoiados.) S. ex.ª esqueceu-se, quando fallava de arrependidos, do que estava sendo apoiado pelo partido que foi presidido pelo illustre prelado de Vizeu, que vejo na minha frente, partido que