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SESSÃO DE 2 DE MAIO DE 1883 1363

N'outros pontos a sua competencia póde ser posta em duvida. Se se estender a competencia do official de marinha a outros pontos, póde errar com prejuizo da nação que serve, e sobretudo da sua reputação, que tem obrigação de zelar.
O official de marinha póde ser chamado a interpor o seu parecer em uma questão em que a sua competencia seja posta em duvida, e n'esse caso será collocal-o em má posição.

Um official do marinha assim póde não servir bem ao seu paiz.

Ha tambem que attender á machina. Quem é que póde fazel-o, se porventura o engenheiro constructor não estiver em condições de dirigir a sua construcção?
Todos nós sabemos que ha um grande numero de pessoas que têem conhecimento de variados assumptos, e que effectivamente, não só por esses conhecimentos, mas tambem pela sua intelligencia, podem ser chamadas para interporem parecer sobre differentes questões, mas é tambem verdade que não se lhes podem impor certas responsabilidades em materias que não constituam as suas especialidades.

Não ha duvida de que os nossos constructores navaes, assim como os nossos officiaes de marinha, em questões de machinas têem conhecimentos valiosissimos, mas estou convencido de que para a acquisicão de algumas d'ellas elles hão de ser os primeiros a pedirem para serem auxiliados por algum especialista n'esse assumpto.

Se houvesse, portanto, de se mandar executar estas construcções em Inglaterra, o que já disse e repito que lamentarei muito, seria necessario proceder por meio de concurso, e depois, quando se tratasse de as mandar vigiar, seria indispensavel que n'essa vigilancia tomassem parte estas tres entidades a que me referi, porque d'essa maneira tinha o paiz incontestavel direito a esperar que o seu dinheiro fosse muito mais bem applicado do que o seria do outro modo.
Mas quando se trata de adquirir navios, quando se trata de alargar o quadro dos navios da nossa armada, o que naturalmente occorre logo a todos é perguntar: como hão de estes navios navegar?

Este é que é o problema.

V. exa. sabe, e sabe esta camara, que em 1851 ou pouco depois foi nomeada uma commissão que foi celebre e que ainda hoje é celebrada pela fama; commissão chamada do inquerito á marinha.

Aquelle inquerito, que foi publicado em dois grossos volumes, ficou celebre nos fastos da nossa marinha e da nossa historia, porque é um trabalho que constituo um repositorio de observações utilissimas.

Se os meus collegas forem ler aquelle livro, extremamente valioso, hão de achar talvez n'elle umas certas curiosidades.

Eu conto, por exemplo, um curioso caso.

Tratava-se então de reorganisar a nossa marinha, porque, quando se chegou aquelles annos de 1849, 1850 e 1851, essa marinha tinha decaído extraordinariamente, tinha chegado á epocha a que ha pouco alludi de dizerem muitos que se tinha de queimar os restantes navios; tratava-se, digo, de reorganisar a nossa marinha e n'esse inquerito foram ouvidas muitas pessoas de grande auctoridade.

Houve uma pessoa muitissimo auctorisada que apresentou um plano de regeneração da nossa armada.

Em que consistia esse plano? Consistia, segundo a linguagem do tempo, linguagem que hoje se não poderia empregar, em fazer construir tantas naus, tantas fragatas, tantas corvetas e tantos brigues.

Depois d'aquelle cavalheiro apresentar o seu plano de reorganisação da armada todos ficaram admirados, todos ficaram pasmados, de que de um cerebro humano saísse uma obra tão completa e acabada.

Mas a gloria do auctor do plano pouco tempo durou, porque logo se chegou alguem ao pé d'elle e lhe disse - e como se ha de sustentar essa esquadra, d'onde ha de vir o dinheiro necessario para sustentar as suas guarnições?

A esquadra custava 4.000:000$000 réis a 5.000:000$000 réis, mas isso era o menos, porque se gastava de uma só vez; a questão era a conservação d'ella e o seu pessoal.

Tinha escapado aquelle espirito organisador o custo da conservação da esquadra.
É o mesmo que eu pergunto agora ao sr. ministro da marinha.

S. exa. trata de alargar o quadro dos nossos navios de guerra com a acquisição do tres novos, e eu pergunto a s. exa. - como é que estes navios são guarnecidos?

Todos sabem as difficuldades que ha em ter completas as guarnições dos nossos navios de guerra, e o sr. ministro da marinha creio que não quererá fazer reviver aquelle tempo em que só mandava içar uma bandeira n'um mastro quando havia falta de gente para a guarnição, a fim de a pedir para terra.

Portanto, é necessario que s. exa. diga o que quer fazer a este respeito.

O illustre ministro deve conhecer o que aconteceu quando se fez a acquisicão dos navios de guerra pelo emprestimo que tem este nome. Quando aquelles navios chegaram não havia gente para os guarnecer.

Ora, eu estou convencido de que os meus collegas que pertencera á armada hão de secundar-me, e não virão dizer que ficam satisfeitos com o que succedeu d'aquella epocha.

Confio na capacidade, no brio e na dignidade dos nossos distinctos officiaes de marinha, e tenho a certeza de que o seu principal enlevo é que a marinha seja digna da nossa terra, e que, em qualquer ponto que ella se encontre, nos represente condignamente.

Ora, para isto é indispensavel que os navios estejam completos nas suas guarnições, porque não se achando ellas completas não existe aquella bella confraternidade que liga a guarnição aos officiaes, e que os leva a praticar actos de verdadeiro heroismo.

Creia o illustre ministro que se houver a desattenção que houve, quando foram adquiridos os navios a que me referi; se, quando elles se concluirem, ou construidos no paiz, ou vindos de fóra, não estiverem as cousas dispostas, se não tivermos gente para os guarnecer, havemos de ter navios sem guarnições, o que é o mesmo que dizer que temos gasto improductivamente.

A camara está agora com grande pressa do votar isto, e eu estou sendo extraordinariamente impertinente para com os meus collegas; mas peço desculpa.
Embora s. exas. se irritem com o que estou dizendo, asseguro-lhes que é filho da minha consciencia, da minha opinião, que não póde esconder-se, e hei de apresentar inevitavelmente.

Pedir-lhes-hei depois desculpa de os ter incommodado e de lhes ter tornado o tempo; mas hão de ter a bondade de me ouvir, e ouvir quem falla com o coração nas mãos.

Mas para que é este afan com que a camara está agora? Ámanhã é dia santo e não nos reunimos; e, votada que seja hoje a lei da receita e despeza, na sexta feira provavelmente não temos que fazer, a não ser que venha á discussão algum grande problema do administração de que não temos noticia.

E para que havemos de resolver immediatamente? Para resolvermos mal?

Nós vimos um ministro trazer á camara uma proposta de lei para a construcção de um caminho de ferro, á ordem do telegrapho, ou porque estava a sair um paquete. E para que serviu isso? Para honrar a camara, o ministerio e o ministro, não.

Serviu para lançar um grandissimo desfavor sobre a camara, o ministerio, e o ministro, que nunca mais se levantou nem póde levantar.