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1364 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Se querem que lhe diga o nome não tenho duvida nenhuma. Foi o sr. Carlos Bento.
Mas não creiam v. exas. que as observações que faço têem o intuito impeditivo. Não ha na minha vontade, na minha indole, e nos meus habitos, desejo nenhum de impedir.

Qualquer, porém, que seja a consideração que eu tenha para com os meus collegas, não posso deixar algumas vezes de cansar a sua attenção mais do que desejo.

Não julgo que esteja a dizer alguma cousa nova. O que digo podia ser dito por um grande numero de collegas, principalmente pelos que são officiaes de marinha, que se distinguem pelo talento e aptidão, e que conhecem este assumpto melhor do que eu.

Ainda não ha muitos dias um dos nossos collegas, referindo-se a assumptos do ministerio da guerra, disse que talvez os militares que faziam parte da camara, por uma noção inexacta do que era disciplina, se achassem embaraçados nas observações que houvessem de fazer com relação a esse ministerio.

Eu sou militar e não me vejo embaraçado nas observações que faço agora ao sr. ministro da fazenda nem nas que fiz a s. exa. como ministro da guerra, porque as observações que eu faço a s. exa. no uso pleno do meu direito de deputado, faço-as sem quebra alguma da disciplina, porque a disciplina não entra aqui em cousa nenhuma.

De mais a mais nas palavras que costumo usar não só não ha quebra de disciplina, mas nem quebra dos preceitos da civilidade e da cortezia. Tudo que eu digo quer como militar nas cousas militares, quer como militar nas cousas civis, tudo se podia dizer qualquer que fosse o grau da hierarquia militar ou da administração.
Portanto creio que os srs. Officiaes de marinha que estão n'esta casa poderiam com mais vantagem do que eu tomar em mão este assumpto. Mas como s. exas. não têem tomado a iniciativa relevem-me que a tome eu, sem todavia o fazer com o intuito de lhes tomar a dianteira.

Se eu tiver a fortuna de ouvir soltar a sua voz, ainda mais me alegrarei com isso, porque estou convencido de que não só s. exas. virão confirmar as minhas observações, mas hão de naturalmente ser muito mais bem recebidos visto que a autoridade de s. exas. é o grande.

Estas observações têem principalmente por fim chamar a attenção do sr. ministro da marinha para as condições especiaes em que foi chamado ministerio e que constituem para nós uma data especial e singular.

Mais de uma vez se tem dito que o ministerio da marinha é um d'aquelles que mais ou menos póde ser requestado pelos homens da politica, sem que apresentem para isso uma grande competencia. Não acontece, todavia, sempre assim, porque effectivamente alguns ministros que têem subido ultimamente áquelle logar, e que foram recommendados pelo seu talento, têem confirmado n'elle a sua aptidão e competencia. Temos d'isso exemplo no sr. ministro da justiça que ali vejo.

S. exa. já passou pelo ministerio da marinha, que foi aquelle em que fez a sua estreia como ministro, e é provavel que tivesse antes voltado para elle as suas vistas; mas se não voltou, é todavia certo que não saiu d'aquelle ministerio sem deixar assignalada a administração pelo seu labor.

S. exa. entendeu que devia reformar a administração do ultramar, e estava tão preocupado com este trabalho, que apesar de haver talvez algum impedimento legitimo, porque em fim não era urgentissima a adoptação d'essas providencias, comtudo soccorrendo-se á disposição do acto addicional, entendeu dever decretar varias medidas.

Permitta-me, porém, que diga que, sem querer desdourar o seu talento, embora pelo vigor da idade e da intelligencia os seus partidarios, e o paiz inteiro podessem depositar grandes esperanças em s. exa. como ministro da marinha, na subida do sr. Bocage ao ministerio, as cousas se passaram de outro modo. O sr. Julio de Vilhena é um moço cheio de talento e de vigor, não o contesto, e respeito-o muito, mas o sr. Bocage vinha com a auctoridade dos seus annos, com o seu talento, com a competencia especial por ter voltado a sua attenção para as cousas do ultramar não só no recesso do seu gabinete, mas cercado por aquelles cavalheiros que por habito, costume e tradição da nossa terra formavam o que se chamava entre nós parlamento do ultramar.

Por consequência um homem n'estes casos, um homem n'estas condições e com taes qualidades, elevado aos conselhos da corôa, todos só voltam para elle e esperam da sua administração alguma cousa de notavel.

Ora, o sr. Julio de Vilhena não se lembrou de adquirir navios para a armada; e o sr. Mello Gouveia, apesar de cansado em annos, ao ver que o poder lhe fugia das mãos, e que não era naturalmente para elle o gosar a fortuna da ver entrar no nosso Tejo aquella esquadra, veiu aqui trazer uma proposta, quando estava já nos paroxismos da morte, como quem diz: aqui está o meu testamento. Poucos dias depois desappareceu o sr. Mello Gouveia d'este palco ministerial; e comtudo este homem mesmo n'essa occasião queria reformar a marinha.

Agora apparece o sr. Bocage, que não tem dito uma palavra sobre a proposta do sr. Mello Gouveia, e deixa inserir as tres verbas que aqui estão, uma das quaes é para a artilheria.

E a proposito pergunto qual é o systema de artilheria que se deve empregar nos navios, e se essa artilheria é ou não para os navios a que se refere a proposta do sr. Mello Gouveia.

A outra verba é para acquisição de canhoneiras e de um rebocador.

Pergunto tambem se s. exa. vae adquirir este rebocador no estrangeiro? O que é este rebocador? Qual é a força da machina?

E n'esta occasião devo tambem fallar a respeito da escolha dos navios sob o ponto de vista de se fazerem ou não no paiz as machinas para elles.

Todos sabem que as machinas constam de um certo numero de peças, e antes de se fazerem as primeiras machinas todas as nações estavam nas mesma condições.

No nosso paiz têem sido construidas machinas pela industria particular, portanto nós temos na industria particular e no nosso arsenal meios para construir essas machinas.

Vozes: - Deu a hora.

O Orador: - Se a camara me dá licença, eu com poucas palavras mais concluo o que tenho a dizer para não ficar com a palavra reservada.

Eu resumiria as minhas considerações a fim de que o sr. ministro da marinha me respondesse na proxima sessão, para eu ou ficar satisfeito com a sua resposta, ou contestal-a, se não satisfazer.

O que eu desejo é dizer que este rebocador podia ser adquirido entre nós ainda que fosse de ferro; e lembro ao sr. ministro da marinha que não ha utilidade em adquirir um rebocador de ferro; podia fazer-se de madeira; e em vez de se fazerem as canhoneiras no estrangeiro, podiam fazer-se entre nós de madeira, e os sobejos da madeira davam para o rebocador, e resultavam umas poucas de economias; isso dava trabalho entre nós, o que é uma economia para a beneficiencia, porque quando não ha trabalho ha beneficiencia, e muito melhor é que haja trabalho do que beneficiencia; e em segundo logar os navios de madeira são melhores e mais duradouros; e assim tinhamos escolas para essas construcções.