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52 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Peço a s. exa. que veja o orçamento. Examinando-o, poderá convencer-se de que o governo não tem esquecido esse dever.

Os dignos pares que representam a situação decaída, são os mais competentes para conhecerem por aquelle documento a nossa má administração. É n’este campo que eu os espero. ( Apoiados.)

Não quero provocar, não quero fazer a menor recriminação aos dignos pares representantes do ministerio que administrava o paiz antes de entrarmos no poder; mas a verdade é que não podem levantar-se diante de nós para nos dizerem que o paiz está agitado porque administramos mal; quando nós em menos de dois annos temos introduzido excellentes praticas de administração, (Apoiados.} ré- j gularisado as finanças, levantado o credito publico (Apoiados.)

Diz s. exa. que o paiz se acha agitado, quando os fundos sobem a uma alta tão grande como nunca attingiram. (Muitos apoiados.)

Ainda bem que lá fóra se não acredita no que se diz na tribuna parlamentar, ainda bem que á agitação ficticia do paiz se responde todos os dias com a subida dos nossos fundos e com a affirmação constante do credito nacional. (Muitos e repetidos apoiados.)

Sr. presidente, disse o digno par que o ministerio está salpicado de sangue! Perdoe-rne o digno par mas devo dizer a s. exa. que, se o actual ministerio está salpicado de sangue tambem os meus antecessores o estiveram. Ainda não houve nenhum ministerio n’este paiz durante cuja administração não houvesse d’estes deploraveis acontecimentos.

Pois quem é que não sabe que estes tristes e lamentaveis acontecimentos em Cantanhede, em Pombal e na Madeira foram estranhos aos actos do governo?

Sr. presidente, esses acontecimentos ninguem os deplora mais do que eu. Mas que quer v. exa. que se faça quando os desordeiros atacam á pedrada a força publica?

Pois v. exa. quer que o principio da auctoridade seja sacrificado a esse sentimento de dó para com aquelles que se insurgem contra os poderes constituidos?

Repito, ninguem mais do que eu lamenta estes acontecimentos.

Se elles salpicaram de sangue alguem, não ha governo que não tenha uma ou outra pagina salpicada de sangue na historia da sua administração.

Eu affirmo ao digno par que nada me preoccupa n’este momento mais do que conhecer o procedimento das auctoridades.

Eu dei ordem para se investigar minuciosamente quaes foram os actos das auctoridades n’estes acontecimentos, para se proceder contra quem exorbitasse. Entendo que as auctoridades administrativas, em occasiões como esta, solemnes e difficeis, em frente da multidão desvairada, devem proceder com a maxima prudencia e cordura para, com esses que, no momento da agitação, faltam ao respeito ás leis.

Sr. presidente, eu recoramendei ao sr. ministro da guerra para que fizesse levantar os necessarios processos, a fim de averiguar qual o procedimento das auctoridades militares no cumprimento do seu rigoroso dever, e creia v. exa. e a camara que se ha de dar completa e inteira satisfação á justiça.

Creio ter respondido a todas as observações do digno par. Se acaso alguma passou em claro, o digno par o dirá, e de novo pedirei a v. exa. a palavra para lhe responder.

Tenho dito.

Vozes: — Muito bem, muito bem.

(O sr. presidente não reviu.)

O sr. Thomas Ribeiro: — Vinha preparado para tudo, menos para assistir á canonisação do sr. presidente do conselho. Effectivamente, nas palavras de s. exa. só se traduzem as suas intenções impeccaveis; infelizmente porem, no fundo d’aquelle assucareiro, não era difficil encontrar-se o vinagre.

Referiu-se ao estado de agitação e desordem que se nota no paiz, indicando as suas causais, na maneira como são geridos os negocios de administração publica.

Nunca foi desordeiro, e está longe de applaudir aqui a desordem que vae la fóra; entretanto notará que faz agora oito annos os mesmos que agora no poder condemnam as arruaças e os tumultos como armas de opposição contra elles, empregavam essas mesmas armas contra o governo de então, agitando as multidões com o grito de que se queria vender Moçambique, essa valiosissirna jóia da corôa portugueza. Lembrou-se d’isso ao ouvir o sr. Gonçalves de Freitas, aconselhar que se promova a emigração da Madeira para a nossa África, corno uma medida efficaz para atalhar a doença grave da ilha, doença que o governo quer tratar, ao que parece1, pela sangria.

Quanto á melhoria do nosso credito, admirava a ingenuidade com que o sr. José Luciano attribuia ao seu prestigio a alta dos fundos.

O paiz agita-se no momento em que se reunem os poderes publicos, por que não confia na sua representação.

O governo o que tinha feito? Fez dictaduras, isto é, a desordem na governação publica a que succedeu a desordem popular.

Trata de estudar a questão agricola quando a ninguem é licito desconhecer a gravidade da crise; estudava quando devia proceder. As desordens em todo o paiz estão denunciando quanto lhe é já odioso o governo, que por isso aconselhava a retirar-se, antes que a desordem tomasse maiores proporções.

(O discurso do digno par será publicado logo que s. exa. o devolva.)

O sr. Presidente: — Tem ai palavra o sr. D. Luiz da Camara Leme.

O sr. D. Luiz da camara Leme: — Cedo por agora da palavra, e peço a v. exa. que me inscreva de novo.

O sr. Francisco de Albuquerque: — Pedi a palavra quando, ao entrar na sala, ouvi as palavras que pronunciava o digno par e meu amigo o sr. Vaz Preto.

As observações por s. exa. produzidas obrigaram-me a pedir a palavra, e ainda bem que a pedi, porque tenho occasião do me referir á brilhante oração do sr. Thomás Ribeiro.

Depois de ouvir o discurso de s. exa., fiquei plenamente convencido de que o governo tem obrigação, não de sair d’aquellas cadeiras, mas de se conservar n’ellas.

O digno par, que é um orador muito distincto, e um dos ornamentos desta casa ha muitos annos, foi infeliz na sua argumentação.

S. exa. deu conselhos ao governo, para o que tem muita auctoridade, mas realmente eu oão sei qual dos conselhos de s. exa. quer que o governo tome, se o do principio se o do fim do seu discurso.

No principio aconselhou ao governo que não caisse perante as arruaças, no fim que eira conveniente que se retirasse para não crear resistencias. (Apoiados.)

Não sei se s. exa. quer que o governo fique perante as arruaças ou se quer que o governo caia.

Sr. presidente, os arruaceiros todo o mundo sabe onde elles estão. (Muitos apoiados.)

Não é necessario andar muito entromettido nas lides politicas para saber que oram ordens para os differentes districtos para a ordem ser perturbada. Todos sabem que vieram ordens lá de baixo para ao mesmo tempo n’aquella conjunctura se fazerem meetings, perturbações e desordens.

Sr. presidente, a desordem não progride nem continua, porque não está na consciencia ido povo. (Muitos apoiados.)

As desordens que se estão fazendo não partem do desejo de remediar um mal qualquer, nem de favorecer a classe dos operarios, ou qualquer outra classe, mas sim de uma