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142 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 137

os levam a criticar as do próximo, lembramos o vasto campo onde as podem aplicar, considerando a imensidade de problemas que nos seus países aguardam solução, que ainda não foi encontrada, nem se vislumbra o seja em breve.Conscientes da grandeza do que nos legaram os nossos maiores, sabemos continuar a sua obra, engrandecendo-o, porque nos criámos no culto das suas virtudes, sempre bem vivas em nós.
Apesar de tudo, recordemos sempre as recentes palavras do Sr. Presidente do Conselho: « É preciso velar, é preciso estar-se atento».
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr Camilo de Mendonça: - Sr. Presidente prevenidos em Maio último pela palavra, a uma vez clara, serena e firme, do Sr. Presidente do Conselho acerca do alcance e intenções de uma ofensiva internacional, já então iniciada, que continuaria a desenvolver-se contra o nosso país, temos assistido dia a dia ao desenrolar dessa ofensiva multiforme, em que o nexo dos acontecimentos nem sempre terá sido, no momento em que se processam, evidente para todos.
A candura de uns, a paixão de outros, as conveniências de alguns e, por fim, a tendência generalizada para o comodismo, mas também b hábito para não sentir o perigo senão quando o incêndio deflagrou, poderá ter contribuído para que muitos não tenham compreendido inteiramente a extensão, profundidade e objectivo último desta guerra surda, morna e persistente que vem sendo desenvolvida contra o País e, talvez, consentido até que alguns se tenham julgado espectadores em toda esta campanha.
Todavia, a simples leitura da imprensa, a seriação dos acontecimentos, a ligação evidente entre os diferentes factos - dos debates na O. N. U , aos artigos em certa imprensa estrangeira, até a algumas atitudes políticas -, dão uma medida exacta da grandeza da ofensiva, definem com suficiente nitidez e objectividade os fins visados e esclarecem amplamente todos sobre o que nos espera se minimizarmes a campanha, nos desinteressarmos da luta em qualquer campo ou pormenor, nos deixarmos amortecer ou nos perdermos em questõezinhas, mexericos e inimizades pessoais.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A nossa experiência histórica, a nossa longa experiência histórica, é suficientemente esclarecedora - os Portugueses perderam-se sempre quando aos superiores interesses do País, aos objectivos da sua missão no Mundo, antepuseram ridículas questões de família, invejas ou ódios mesquinhos, gastaram energias generosas em lutas partidárias ou se prostraram em apagada e vil tristeza

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E por isso que quantos têm consciência do problema não podem ignorar o seu sentido e finalidade, têm o dever de chamar para ele a atenção dos seus concidadãos, alertando inteligências, acordando consciências, concitando energias e vontades.
Foi o que nobremente fez O Século no seu editorial de 7 do corrente, onde apresentou, com a independência que é timbre deste grande diário, a crueza própria dos termos em que o problema se apresenta e a vivacidade que reflecte o grito da consciência nacional, todas as variações desta complexa ofensiva
Outros o têm feito também - honra lhes seja - com decisão e patriotismo, mas parece-me dever destacar o referido editorial de O Século, quer porque abarcou com coragem o problema todo e não hesitou em usar uma inteira clareza, quer porque não deixou de estabelecer, com nitidez, a ligação dos acontecimentos e apontou sem reticências os objectivos imediatos, os meios e os fins últimos visados pela ofensiva internacional.
Sr. Presidente: somos um povo que talvez cause escândalo no Mundo de hoje. Um povo que causa escândalo pela sua serena coragem, pela sua firme decisão, pela sua orgulhosa independência de juízo e de acção, um povo que causa escândalo porque não cede, não abdica, não transige, não mercadeja os seus direitos, não aliena as suas responsabilidades, por maiores que sejam, um povo que persiste em seguir plàcidamente o seu destino, em cumprir impàvidamente a sua missão quando, no vendaval dos últimos lustres, uns após outros vão cedendo, abdicando, transigindo, negociando territórios, populações, pergaminhos, quando não a própria honra.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Ora, quando com violência, nunca dantes conhecida, neste caos político mundial do pós-guerra - espécie de endemia persistente por incapacidade de uns, ingenuidade de outros e conveniência de alguns -, ora, quando volta a tratar-se de ferir de morte a Europa, vencendo-a em África, quando se cuida de desapossar os países europeus dos seus territórios africanos, temos visto, com uma única excepção, cederem una após outros, cederem por falta de fé, por anemia interna, por falta de coragem, por ausência de disposição para defenderem um património material, é certo, mas principalmente, moral e espiritual - causas de tão pouca monta que nem se cotam numa bolsa de mercadorias - ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - temos visto, dizia, cederem, abdicarem, negociarem países poderosos e com pesadas responsabilidades perante a história, vimos também, a certo passo, redimir-se um país quando os políticos se preparavam para transaccionar uma pai te viva da Pátria e das suas gentes, mas vemos também que um único país não aceitou negociar, não receou sacrifícios, não renunciou, não abdicou, não transigiu nunca e em nenhum caso

Vozes: - Muito bera, muito bem!

O Orador: - Esse país, Sr Presidente, esse país - era desnecessário referi-lo, que de Moscovo a Washington toda a gente sabe bem qual é -, esse país é, por honra e glória nossa, Portugal!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Como não havia de constituir escândalo, como não havia de concitar invejas, como semelhante procedimento não havia de ferir a consciência daqueles que, prudentes ou timoratos, cederam, abdicaram, negociaram ou vêem, perante a paz nos nossos territórios, os seus sublevados, subvertidos!
E assim, é por isso, que o nosso exemplo, mesmo quando inspira funda admiração e respeito, não pode deixar de despertar invejas e ódios, mesmo entre aqueles que desejariam que os governos dos seus povos tivessem procedido pela mesma forma e com igual êxito -