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2122 I SÉRIE - NUMERO 56

Nessa participação colectiva se legitimava o 25 de Abril, se afirmava p seu sentido autêntico.
Porque a mensagem do 25 de Abril não é a de um país dividido entre uma classe política, com os seus ritos, a sua liturgia, a liberdade das suas escolhas, a teia de cumplicidades que vai tecendo e a massa imensa dos que, periodicamente, são chamados a dizer, cada vez menos aquilo que querem, cada vez mais - e não é exactamente a mesma coisa - aquilo que não querem.
Quando a isso se limitar o 25 de Abril, não haverá razão para que nos admiremos se acaso os jovens de hoje o não asumirem e não viverem.
Eles não julgam o presente em função do passado; não julgam o que somos por aquilo que fomos.
Para eles o 25 de Abril nada será, sendo apenas a negação do que existiu outrora.
O 25 de Abril, só o. viverão se for construção do futuro. Só participando nessa construção estaremos, com eles.
O 25 de Abril foi a libertação, mas foi também um desafio.
Quando olhamos o caminho percorrido, a distância entre a realidade .que se vive e a esperança que se viveu, o menos que se pode exigir de nós é a coragem de assumirmos a nossa própria crítica e de não nos escondermos por detrás desta ou daquela pretensa «perversão totalitária», que teria desviado o curso dos acontecimentos. A coragem de reconhecermos que nos. faltou, que, faltou aos dirigentes da esquerda portuguesa, após o 25 de Abril, a inteligência dê não se considerarem dirigentes e detentores de verdades absolutas; a imaginação para abandonarem os esquemas feitos, as certezas do pronto-a-vestir da política, a audácia de aceitarem e acompanharem as transformações que, um pouco por toda a parte iam sendo-tentadas; a humildade de discutirem, sem as pretenderem impor, as suas verdades parcelares.
Sem dúvida, a democracia representativa é já uma conquista. Não chega, porém, e nela não se esgota a vida democrática de um povo. A vida democrática só existe,, de facto, quando cada homem se ultrapassa e vive com os outros uma aventura comum. Não nos felicitemos por isso, beatamente, considerando o nosso dever cumprido, porque o Pais têm instituições e os cidadãos votam. É preciso também, é preciso, sobretudo, que os cidadãos vivam. Que tenham a liberdade de construir a sua vida e de participar em cada momento nas escolhas que condicionam a realidade do seu modo de viver, de participar, em cada momento, na construção dessa realidade. Foi esse o desafio de Abril. Desafio para o qual se não encontrará resposta na renúncia aos valores fundamentais que a Constituição de 1976 consagrou, nem tão-pouco nas alianças com aqueles que sempre a recusaram ou que apenas tacticamente a aceitaram. E é tão-só na medida em que saibamos empenhar-nos na resposta a esse desafio, que saberemos trazer o 25 de Abril aos jovens de hoje.
Sr. Presidente da República, Sr. Presidente da Assembleia da República, Srs. Deputados: Ô 25 de Abril, foi também uma mensagem, de generosidade e de. justiça, um acto de revolta contra um regime iníquo, feito de privilégios, de opressão e arbítrio. Não nos pode, por isso, ser indiferente o contraste entre
a generosidade com que a Revolução tratou os seus próprios adversários, os seus inimigos jurados, generosidade que a engrandece, e a intolerância com que, ao longo dos anos foi banindo muitos daqueles que com ela estiveram, por ela lutaram e nela acreditaram, intolerância que a avilta e trai.
Se os cravos, substituindo as baionetas, ficaram como símbolos da generosidade da Revolução, não podemos aceitar que por detrás dos cravos se acoberte a intolerância que discrimina e pune, tantas vezes de forma arbitrária e injusta, os que por ela combateram, ainda quando, porventura, se hajam afastado do que foi, e é, o nosso entendimento de Abril. Aceitá-lo seria negar o seu sentido mais autêntico.

é por isso que, sem cuidarmos de saber o que deles nos separou ou separa, sem cuidarmos de saber a quem agradamos ou desagradamos, a nossa voz se ergue uma vez mais, hoje e aqui, para exigir que se ponha termo às discriminações de que são vítimas tantos militares de Abril; para exigir que se respeite o que foi a vontade da Assembleia da República, que se respeite a amnista por ela decretada. Ignorar essa vontade não é, apenas, ofender frontalmente um órgão de soberania, expressão democrática da vontade popular, é trair o significado mais profundo do 25 de Abril.
O que se reclama não é um acto de demência; o quê se exige é um acto de justiça. E se a Revolução de Abril foi clemente, ela tem de ser, acima de tudo, justa.
Sr. Presidente da República, Sr. Presidente da Assembleia da República, Srs. Deputados: O ano de 1981 marcará uma etapa mais no processo de, consolidação do regime democrático.
A transferência dos poderes do Conselho da Revolução para órgãos de soberania, directamente legitimados pelo sufrágio popular, terá completado a subordinação institucional das forças armadas ao poder civil.
O Conselho da Revolução, alvo predilecto das forças reaccionárias e conservadoras, não por ser o conselho de uma revolução, mas por ser o conselho de uma revolução democrática, não por ser um conselho de militares, mas por ser um conselho onde guardaram assento alguns militares de Abril, terá cumprido o mandato que os constituintes de 1976 lhe confiaram.
Tê-lo-á cumprido, no essencial, de forma exemplar, deixando-nos instituições democráticas que, sendo uma conquista colectiva, são também obra sua.
Aos conselheiros da Revolução que foram homens do 25 de Abril devemos duplamente a nossa liberdade.

O Sr. António Vitorino (UEDS):- Muito bem!

O Orador: - Pelo contributo que foi o seu no derrube do regime fascista, porque cumpriram a missão, que era a sua, de participarem na consolidação das instituições democráticas.
Essa dupla dívida é de todos nós. Só não a reconhecem os que se não reconhecem na liberdade e na democracia, os que, quando muito, à liberdade e à democracia se vão acomodando e delas se vão servindo para as combaterem e negarem.