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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
Gonçalves Mamede, do meu conselho, para o logar de presidente da mesma camara, e ao deputado Francisco Joaquim da Costa o Silva, para o de seu vice-presidente.
Paço da Ajuda, em 4 de janeiro de 1877. REI. Antonio Rodrigues Sampaio.
O sr. Presidente: — Convido o sr. deputado Mamede a vir prestar juramento como presidente da camara.
O sr. Mamede prestou juramento e tomou assento.
O sr. Presidente: — Em virtude da carta constitucional e pela nomeação do presidente e vice-presidente, estão concluidas as funções da mesa provisoria, e acha-se esta dissolvida.
Resta-me agradecer á camara, em nome da mesa provisoria, a sua benevolencia e efficaz cooperação.
O sr. Presidente (Gonçalves Mamede): — Convido os srs. secretarios a occuparem os seus logares.
Na ausencia de um sr. secretario passa um sr. vice-secretario a fazer as suas vezes.
Achando-se a mesa definitiva installada, continuou o sr. presidente:
Peco licença para dizer duas palavras, palavras de muito reconhecimento pela alta prova de confiança e consideração com que a camara, mais uma vez, se dignou distinguir-me.
Pelo decreto, que ha pouco foi lido na mesa, Sua Magestade El-Rei houve por bem nomear-me presidente d'esta camara, concedendo-me assim uma das maiores honras a que póde aspirar um cidadão n'um paiz livre. (Apoiados.) Para isto concorreu o voto da camara, incluindo o meu nome na lista quintupla, que, em conformidade da carta constitucional, foi presente a Sua Magestade.
Eu vos agradeço, senhores, esta nova prova da vossa confiança e muita benevolencia para commigo, que nunca esquecerei.
Prometto á camara ser fiel ao juramento que prestei ha pouco nas mãos do nosso presidente decano, empenhando-me quanto permittem as minhas faculdades para desempenhar os deveres que me impõe tão honroso cargo. Não desconheço as difficuldades da minha posição; sei por uma longa experiencia dos logares de mesa, que todos os meus esforços para corresponder devidamente aos votos da camara serão baldados, se vós não continuardes a auxiliar-me com as vossas luzes e com o vosso conselho.
É por isso que eu desde já appello para a vossa illustração, para o vosso patriotismo, e para o respeito que todos devemos á observancia das leis, e particularmente do nosso regimento. Deste modo, e só d'este, modo, poderemos conseguir que os nossos trabalhos prossigam com a necessaria regularidade.
Sinceramente afeiçoado ao systema parlamentar, hei de manter a mais ampla liberdade de discussão, tendo sempre em vista as disposições do regimento: prometto ser imparcial. (Vozes: Muito bem.) Procedendo d'este modo cumpro com os meus deveres; e creia a camara que não faço a mais leve violencia ao meu temperamento, antes obedeço aos dictames da minha consciencia. (Apoiados. Vozes: — Muito bem.)
Antes de terminar peço á camara, que se associe aos desejos da mesa, consentindo que se lance na acta um voto de louvor á mesa provisoria pelo acerto com que dirigiu os trabalhos preparatorios. (Muitos apoiados.)
Vozes: — Muito bem, muito bem.
O sr. Camara Leme: - Sr. presidente, os homens illustres da grande epopéa liberal do paiz vão desapparecendo pouco a pouco!
Ainda o anno passado lamentava a camara a morte de um dos illustres generaes, o marquez de Sá da Bandeira, que tanto concorreu para as liberdades patrias, e o telegrapho, essa maravilha do seculo, ha poucos dias transmitia nos a triste notícia da morte do primeiro general portuguez, e um dos primeiros da Europa!
Sr. presidente, nem o meu estado de saude m'o permitte, nem é meu intento roubar n'este momento o tempo á camara, fazendo o pomposo elogio do grande vulto que o paiz, cobrindo-se de luto, acaba de perder. Os relevantes serviços do vencedor de Almoster são bem conhecidos por todos. (Apoiados.) A imprensa toda os tem apreciado devidamente. (Apoiados.)
Mas não é só a imprensa portuguesa, é tambem a imprensa estrangeira.
Ainda n'um jornal que chegou hoje a Lisboa, no Times, um dos primeiros jornaes do mundo, fazendo-se a apreciação ou a resenha politica do anno, e trazendo o obituario dos homens politicos que falleceram no anno findo, n'aquella grande nação, elle que é tão parco em fazer elogios, menciona com grandes elogios a morte do cardeal Antonelli e a do duque de Saldanha. Aquelle, notavel pelo baculo, e este pela sua espada gloriosa.
Os serviços do duque de Saldanha são tão assignalados e distinctos, que seria necessaria uma voz mais eloquente do que a minha para os relatar aqui.
Portanto, serei muito breve.
Sabemos todos que á sua espada gloriosa se deve o termos ouvido n'este recinto a voz eloquente de tantos homens illustres. (Apoiados.)
Á camara popular, que acaba de se constituir, venho pedir que o seu primeiro acto seja lançar na acta um voto de profundo sentimento pela perda de tão venerando cidadão. (Apoiados geraes.)
Não me proponho, como já disse, fazer o elogio do marechal Saldanha, que conta as victorias pelas batalhas que commandou com aquella pericia e valentia que todos os seus camaradas lhe reconheciam. Esta grata missão seria, mais bem cabida, a muitas das illustrações que aqui vejo reunidas; mas a camara sabe as relações que me ligavam a tão illustre general, e a quem eu era devedor de grandes finezas e distincções. Tive a honra de ser seu ajudante de campo, e ultimamente, pela sua benevolencia, seu dedicado collega, e sempre seu dedicado amigo e humilde camarada.
O duque de Saldanha podia ser julgado com menos benevolencia por alguns, não digo dos seus inimigos, porque os não tinha aquella grande alma, aquelle nobre coração; mas o que ninguem póde contestar, é que principalmente á sua espada invencivel se devem relevantes serviços, e tantos são elles, que eu teria que occupar a attenção da camara por muito tempo. (Apoiados.)
Eu que fui depositar no seu tumulo, junto à sua corôa ducal, ornada com os louros da victoria e as palmas da beneficencia uma das feições mais caracteristicas da sua alma magnanima, um signal de respeito e saudade, venho aqui tributar-lhe no seio da representação nacional mais uma homenagem que é devida á sua memoria, enviando para a mesa a minha proposta, da qual peço a urgencia, e que é concebida nos seguintes termos. (Leu.)
O sr. Barros e Cunha: — Sr. presidente, a mim cabe especialmente n'este momento rogar a, v. ex.ª e á camara que consintam me associe á proposta apresentada pelo sr. deputado Camara Leme, e que com a permissão d'elle, que já tenho, v. ex.ª se digne mandar juntar o meu nome a essa mesma proposta.
A camara peço que não admire que, depois da manifestação que deu tão lisonjeira á memoria do illustre general, eu interrompa por momentos a execução da sua vontade, e me permitta declare, que a opposição que fiz a muitos actos politicos do duque do Saldanha, essa opposição não podia sobreviver ao homem, nem isentar-me do prestar, como todos os homens liberaes d'este paiz, completa homenagem aos grandes serviços que elle prestou á patria. (Apoiados.)
O duque de Saldanha não foi só entre os modernos o primeiro general portuguez; foi igualmente considerado um dos distinctos generaes da Europa pelos estrangeiros. (Apoiados.) A sua espada devem muito a liberdade e a