O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO N.° 11 DE 10 DE JULHO DE 1897 155

tradição e do tal dulce far niente, como diz Lockroi e que eu confirmo, malbaratar os recursos da patria.

Doe-me o coração, repito, porque, sendo o nosso paiz pobre e pequeno, em vez de procurarmos ter bom material naval, ainda que pouco, mas optimo, se compram navios de parada, que servem apenas para satisfazer ta pretenciosas vaidades de commando.

A força naval menciona o mesmo numero de praças da proposta do ministerio anterior; e ambas augmentam em algumas centenas de praças a força naval de 1896 a 1896.

Não ha muita rasão, não a houve então, e não a ha agora para este augmento, uma, porém, póde desculpal-o, e vem a ser a baixa nos efectivos provenientes das remissões não preenchidas por novos recrutas, precisando-se, portanto, de um contingente maior para essa eventualidade por não se poder chamar o contingente sento fixado por lei, muito embora depois no effectivo seja menor do que a mesma lei marca.

Mas no material ha uma cousa curiosa para mim.

Um dos navios que se inclue no armamento é um cruzador.

Tinha o exmo. ministro promettido ha cinco dias mandar-me um mappa com todos os detalhes, não o recebi nem o encontrei na mesa onde no principio da sessão o procurei.

Vejo por aqui como as ordens do sr. ministro se cumprem: não tendo o referido mappa, fui forçado a recorrer a um documento official, publicado e louvado.

Este processo dos louvores está muito, em uso pelos tradicionalistas do dulce far niente, etc., etc., para dar força á cotterie, para se popularisar, crear amigos, etc., etc.

Procuro na lista da armada o tal cruzador, e não o encontro!

Presumo que deve ser o Adamastor.

Mas para notar é, que tendo sido este barco mandado incluir no material naval, por portaria de 10 de março de 1895, que foi publicada na ordem da armada n.° 9 d´esse anno, não apparece inscripto, nem na lista de 1896, nem na de 1897.

Já agora incidentalmente apresentarei outra curiosidade.

A canhoneira D. Luiz, que foi lançada ao mar em 1896 apparece na lista de 1897 só com o nome, sem indicação alguma, nem da sua grandeza, nem da sua tonelagem, nem do seu armamento.

Encontro ainda na mesma lista da armada outra curiosidade, quando trata da situação dos navios ha uns poucos sem indicação alguma.

Ora, apesar da vetustez da maioria d´elles, ainda não devem ser lançados á categoria da nau Catherineta, que vogava sem destino por esses mares fóra

Ainda n´essa lista, cuja organisação teve louvor já na gerencia de que s. exa. tem a responsabilidade, apparecem officiaes inscriptos sem se saber quando nasceram, como é por exemplo, nem mais nem menos, o sr. conselheiro Custodio Borja, que toda a gente conhece em Lisboa. (Biso.)

Dos navios comprados velhos para fortalecer o nosso material velhissimo só figura um na lista, sem se saber onde para, mas sem tonelagem, nem indicação de especie alguma, apesar de se encontrarem os detalhes precisos no registos dos Loyds, e que eu tenho aqui; o outro fundeado em Lisboa nem à lista o menciona, talvez por vergonha; (Riso.)

Faço estas referencias para justificar o que ha pouco disse sobre o tradicionalismo da armada, que trata de crear as suas popularidades e, portanto, os correspondentes antagonismos commigo por ser eu o demolidor de um passado de desacertos.

Com aquella orientação teve o compilador da lista o seguinte louvor;

"Tendo já sido publicada no corrente mez a lista da armada, referida a 31 de dezembro de 1896, e que representa uma consideravel antecipação em relação á epocha em que tem sido costume publicar identicos trabalhos em annos anteriores, antecipação duvida aos esforços empregados pelo primeiro tenente, etc., louva o mencionado official pelo zêlo e dedicação com que se houve no desempenho do serviço que lhe foi commettido."

Saíu a lista em março de 1897.

Ora o governo fechando a camara em principios de fevereiro deixou a imprensa nacional desembaraçada para outros trabalhos a louvar-se alguem devia então ser o pessoal da imprensa: mas este louvor ridiculo é no fim de contas uma censura aos officiaes que anteriormente tiveram a seu cargo o mesmo trabalho e que não conseguiram tiral-o da imprensa pelos afazeres d´esta com as camaras abertas.

Aqui tem v. exa. um exemplo do nepotismo e do tradicionalismo entre nós. Podia citar outros exemplos que me justificavam por ter applicado os conceitos de Lockroi ao nosso meio.

Imagino que v. exa. não leva a mal que continue n´estas referencias fóra da materia, mas caracteristicas, alem de que eu hei acabar dentro da hora.

V. exa. quer dizer-me quanto tempo falta?

O sr. Presidente: - V. exa. ainda tem vinte minutos.

O Orador: - O caso é o seguinte.

Imagine v. exa. que mandei umas sessenta peças de artilheria para as colonias, e d´estas uma meia duzia para a ilha do Principe.

O governador ali, official de marinha, desfructava uma gratificação, sem fundamento legal, a titulo do director das obras publicas. Cortei-lh´a.

São necessarios estes pormenores para melhor apreciar os factos que vou narrar, e que significara que só se pensa em apanhar muito dinheiro ao thesouro e fazer o menos possivel.

Cada peça de artilheria pesa tonelada e meia, cousa que o governador devia saber como official de marinha e consta de tabellas, e o governador, que não estava para se incommodar e naturalmente irritado pelo córte da gratificação illegal mandou effectuar o desembarque com um um guindaste que tinha na ponte da alfandega que elle sabia que pegava apenas n´uma tonelada. É claro que o guindaste partiu.

É elementar que com duas vergonteas e um apparelho que lhe podia fornecer o transporte India, que levava a artilheria, teria feito uma cabrilha para o desembarque do material; a cabrilha podia ter de cabeça umas plumas para o mar dadas a ancorotes e outras para terra, e tendo alem d´isso uma certa inclinação de cabeça para o mar facil era fazer galgar as peças com uma retinida, a borda da embarcação, arriando-as sobre uma zorra ou sobre dois paus, rolando-as por meio de cabos pelo seio até chegarem a terreno enxuto.

É necessario explicar a simplicidade do caso, que todos comprehendem, sem serem engenheiros, architectas ou mestres de obras para ver até onde pode chegar a ignorancia audaciosa ou a negligencia propositada.

Pois como o guindaste partisse não se quiz encommodar e devolveu a artilheria!

Como eu não gostava de demoras, perguntei pelo telegrapho porque não tinha desembarcado a artilheria. Respondeu porque tendo empregado um guincho, que tinha na ponte da alfandega, que pegava só n´uma tonelada, se partira.

Respondi: "Demittido e pague o guincho". (Riso.)

V. exas. riem; pois querem saber o que se fez depois, no imperio da tal tradição de nepotismo e dulce far niente?