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executivo, mas como mais auctorisado dos representantes da nação; e para este caso, eu mesmo pediria, se em serviço se tratasse de pedir, á commissão que tomasse sobre si e apresentasse á camara um parecer corrigindo, de accordo com o governo, aquellas difficuldades que por agora se sentem na divisão territorial já decretada, e em quanto ao resto, ao que falta, e que o governo calculou que ainda era necessario para completar esta divisão territorial, estou persuadido de que dentro em pouco se apresentará ás côrtes, por parte do governo e pela repartição competente, um projecto que a camara de certo tomará em contemplação, e examinará com o escrupulo, intelligencia e zêlo que a caracterisam.

Uma palavra só direi para expor a minha opinião a respeito da idéa consignada e approvada por toda a camara, e com justa rasão, idéa politica, além de administrativa, sobre a conveniencia de que os concelhos tenham uma area maior em geral, do que aquella que lêem tido absolutamente fallando: uma grande area. Não quero dizer com isto que a administração padeça, porque defeitos pôde-os haver tanto em demasia de tamanho como em demasia de estreiteza: a verdade é, comtudo, que este pensamento de symetrisar a divisão territorial de tal modo que a area dos concelhos seja sómente mais ou menos grande em toda a parte, se se attender ás circumstancias locaes ha de se ver que é uma idéa impraticavel. (Apoiados.) O governo junto com a commissão deu com estes embaraços, e ainda mais frequentes do que esperava, posto que já os esperava; deu com grandes embaraços para deixar de constituir concelhos pequenas, por ser impossivel, e muito mais damnoso ao serviço publico a constitui-los grandes, do que ficarem como estavam. Os concelhos pequenos têem o inconveniente que todos sabemos: é necessario pagar aos seus empregados, e têem muito poucos meios para isso: ha tambem falla de individuos habilitados que exerçam estes logares em uma pequena area de terreno; e o faze-los grandes tem o inconveniente de podér matar a administração, ou torna-la impossivel; e pelo que toca á segurança publica é muito serio. Isto é o ponto da experiencia.

N'estes termos digo eu, embora seja como deve ser a regra geral, que os concelhos comprehendam uma area grande, proporcionalmente a muitos que no paiz já existem, e existiam d'antes; porém não constituamos essa regra geral, sem permittir que tenham muitas excepções, e excepções que indicam a localidade e circumstancias peculiares de um outro ponto de territorio.

O sr. Presidente: — Deu a hora de passar á ordem do dia, e eu pediria aos srs. deputados que quizessem vir um pouco mais cedo. (Apoiados.)

ORDEM DO DIA.

Continuação da discussão sobre as propostas de adiamento do parecer n.º 12

O sr. Xavier da Silva: — Sr. presidente, na altura em que está a discussão, a camara deve bem avaliar quanto é difficil a minha situação, e qual deve ser n confusão das minhas idéas, tendo de fallar depois do sr. ministro da fazenda; que, com um longo e eloquente discurso, attrahio a attenção da camara durante tres sessões. Não me é possivel, nem acompanhar s. ex.ª nos rasgos da sua erudição, nem mesmo tratar todos os assumptos de que s. ex.ª se occupou. De bom grado desistiria da palavra senão fôra o cumprimento de um dever, que resultou da minha assignatura como vencido no parecer da illustre commissão de fazenda: digo de bom grado, por me ser difficil podér bem enunciar tudo quanto sinto sobre o assumpto, mas ainda mais por não ser competente para o podér devidamente avaliar. Além d'isso, tenho que lutar em questões da maior gravidade, lendo era frente não só os oradores que têem tomado a sua defeza, mas o nobre ministro da fazenda, que, como todos sabem, faz a honra da tribuna portugueza. Estas circumstancias devem ser attendidas para merecer desculpa da parte da camara, e para conseguir a sua benevolencia. O que está succedendo no dia de hoje, de ser obrigado a tomar a palavra n'este assumpto, e ter de responder ás rasões apresentadas da parte do governo, e dos illustres membros da commissão de fazenda, que constituem a maioria no parecer, é mais uma prova do grande erro que se commetteu n'este paiz nos annos de 1851 e 1852.

Se as eleições n'estes dois annos a que me referi, tivessem sido tão libérrimas como são lidas e alcunhadas, de certo estariam n'esta casa cavalheiros distinctos e importantes, que pertencem ás differentes cores politicas d'este paiz. Veríamos aqui e a meu lado o sr. Passos (José), o sr. Seabra, o sr. A. Herculano, o sr. Rebello da Silva, o sr. Silva Cabral, o sr. Marreca, o sr. Mendes Leal, e muitos outros nomes respeitaveis que não preciso agora enumerar, e que são conhecidos cio paiz pelo seu saber e serviços á patria. É porque o governo apesar de dizer que não teve parte nas eleições, não as pretendeu dirigir n'essas duas epochas a que me referi, conseguiu que só podessem merecera eleição dos povos, aquelles candidatos que aceitassem o compromisso de approvar o que estava feito. e o que o governo pretendia fazer. Não quero com isto irrogar censura a ninguem, é um facto da nossa historia, sabida de todos, e que não posso deixar de lamentar n'esta occasião, visto que a ausencia daquelles e outros cavalheiros me colloca n'esta situarão difficil, sendo obrigado a tomar parte em uma discussão que de certo melhor desempenharia qualquer desses respeitaveis cidadãos, se occupassem este logar.

O nobre ministro da fazenda, no seu longo discurso, em que pretendeu fazer acreditar quando começou, que havia responder a todos os argumentos que foram produzidos pelos seus contrarios, com a habilidade que lhe é natural, e que ninguem lhe póde disputar, lendo lançado de lado tudo em que lhe não convinha locar, veiu para o campo das generalidades, que tratou com a maior proficiencia. S. ex.ª n'este modo por que dirigiu a discussão prevaleceu-se do seu talento, attrahindo a mais séria attenção da camara, dizendo o que lhe pareceu, e comtanto mais desafogo, quanto já contava que tinha de se lhe seguir quem nem é orador, nem tem os elementos para lhe podér responder.

Sei bem que sou um homem desconhecido n'esta terra, que por isso não posso ter admiradores, e que pela minha posição politica e social, bem como pela minha diminuta fortuna não posso ser temido, ou respeitado por s. ex.ª; porém fique certo que apesar da humildade da minha pessoa, espero responder aos argumentos de s. ex.ª, se não fôr.com expressões de eloquencia, ao menos em uma linguagem chã, mas filha das mais puras convicções. (Apoiados.)

Quando acabei de ouvir o nobre ministro da fazenda, e já não é a primeira vez que assim acontece, fiquei extremamente lisonjeado por ler concorrido com o meu voto n'uma questão muito solemne, quando o illustre deputado; o sr. Antonio José d'Avila, no anno de 1849, sustentou com affinco a legabilidade da eleição de s. ex.ª, pela provincia de Cabo Verde; e s. ex.ª que n'essa; camara, que muitas vezes me parece ter alcunhado de obnoxia, achou um abrigo de que lhe resultou tornar-se conhecido do paiz, pois até ali o não era, o que lhe serviu de escola para depois occupar os altos cargos do estado, que com tanta admiração tem occupado, póde ler por seus inimigos os que então concorreram para vingar a sua eleição. Repilo, felicito-me de assim ler procedido, fazendo justiça a s. ex.ª, e um grande serviço a este paiz.

Na verdade s. ex.ª é um dos prodigios que a tribuna portugueza tem apresentado. S. ex.ª é extremamente perigoso como orador, porque de lai arte se serve, de tal modo se insinua no espirito de todos, que aquelles mesmos que o querem combater ficam perplexos. S. ex.ª corresponde como administrador ao que é como orador, tendo a habilidade de apresentar sempre os actos da sua administração, por mais nocivos que elles sejam, de um tal modo, que põe em duvida o espirito mais atilado; e quando se desce ao exame de cada uma das cousas, fica-se admirando o talento e res