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SESSÃO DE 14 DE MAIO DE 1887 557

essa reforma, e agora se insurge contra igual procedimento que embora realisado por maneira diversa, tem o mesmo pensamento que inspirou o decreto do sr. bispo de Vizeu ?! (Apoiados.)

Não percebo.

Ora, o que devo dizer a s. exa., é que esta reforma foi uma das que mais acceitação achou na opinião publica. (Apoiados.)

O sr. Lopo Vaz: - V. exa. referiu-se ao decreto dictatorial do sr. bispo de Vizeu?

O Orador: - Perdoe v. exa., mas depois d´esse decreto, depois de 1869, veiu o illustre deputado á camara, filiado no partido do sr. bispo de Vizeu, e apoiou essa politica, entendendo que nunca devia levantar a sua voz para fulminar um tal attentado. (Apoiadas.) Pelo contrario, tendo perfeita liberdade para se conformar ou não com essa politica, s. exa. entendeu dever apoial-a, applaudil-a, e por esse facto contrahiu responsabilidades...

O sr. Pinheiro Chagas: - E v. exa. combateu-a.

O Orador: - Mas isso não prova nada contra mim. E porque a combatia?

Eu apoiava n´essa occasião a politica de s. exa. e apesar d'isso, eu julgava que a reforma eleitoral em dictadura era tão contraria aos principios liberaes que fiz as minhas reservas, e se bem me recordo, disse até que protestava...

O sr. Pinheiro Chagas: - É o que devia fazer agora.

O Orador: - Ora para que está o illustre deputado, o sr. Pinheiro Chagas com essas recriminações? Eu tenho esperança de que ainda ha de ser ministro commigo. (Riso.)

O sr. Pinheiro Chagas: - Estive ao lado de s. exa. na opposição.

Orador: - Pois o illustre deputado não se lembra já de quando eramos aqui só dois: nós só os dois, contra os regeneradores. (Apoiados. - Riso.)

O sr. Pinheiro Chagas: - E v. exa. lembra-se de quando era o relator do imposto do consumo do partido regenerador?

Vozes: - Ordem, ordem.

O Orador: - Ora! Ha que tempo lá vae isso!

O sr. Pinheiro Chagas: - Desde quando é que data a prescripção ?

O Orador: - Não se trata de prescripção. Nem a invoco, nem a preciso.

E eu vou explicar a phrase que empreguei quando disse que ainda tinha esperança de que o illustre deputado fosse ministro commigo. (Riso.)

O sr. Pinheiro Chagas: - Combati na opposição ao lado de v. exa., mas afastei-me quando insultavam a corôa e e parlamento.

Vozes: - Ordem, ordem. Levanta-se grande susurro na assembléa.

O Orador: - Se eu disse alguma cousa que podesse maguar o illustre deputado, declaro que não era essa a minha intenção.

O sr. Pinheiro Chagas: - Não me magoou.

O Orador: - Então se o não offendi, para que é que v. exa. se magoa tanto?

O sr. Pinheiro Chagas: - Eu defendi-me.

O Orador: - Eu não o ataquei.

O sr. Pinheiro Chagas: - V. exa. é inexacto na sua afirmação. Eu fui constituinte, e entrei no ministerio quando o partido constituinte assim o determinou.

O Orador: - Quem perguntou a v. exa. por isso?

Quem o accusou?

(Interrupção do sr. Pinheiro Chagas.)

Vozes: - Ordem! Ordem!

O Orador: - Peço perdão. Se eu dirigi a v. exa. qualquer phrase que o podesse maguar, retiro-a. Eu não discuto o passado do sr. Pinheiro Chagas: não o censuro; não o louvo nem o applaudo; apenas disse, dirigindo-me a s. exa., que ainda tinha esperança de que viesse a ser ministro commigo.

O sr. Pinheiro Chagas: - Engana-se.

O Orador: - Quando s. exa. me interrompeu ia eu entrar na demonstração d´esta minha temeraria affirmação; e digo temeraria, porque s. exa. se escandalisou tanto.

Eu disse que eramos n´esta casa os unicos deputados opposicionistas, eu e o sr. Pinheiro Chagas. Tanto assim, que até n´essa epocha um jornal dizia: «Hoje fallou na camara o sr. Luciano de Castro, e foi apoiado pelo seu numeroso amigo o sr. Pinheiro Chagas. Outras vezes dizia: «Hoje fallou o sr. Pinheiro Chagas, e foi apoiado pelo seu numeroso amigo o sr. Luciano de Castro». (Riso.)

Ora, foi aqui que contrahimos relações, para mim muito agradaveis, porque tive occasião de conhecer de perto as suas primorosas qualidades de orador e de camarada parlamentar. Mas um bello dia, inesperadamente, quando menos o pensava, o sr. Pinheiro Chagas surgiu nos bancos do poder, ao lado do sr. Fontes, que ambos tinhamos combatido vigorosamente!

Em vista d´isto, não posso eu ter ainda esperança de que, por uma evolução politica qualquer, venha s. exa. sentar-se nos bancos do poder ao meu lado? Ha, por ventura, n´isto alguma cousa offensiva ao seu caracter? Affirmo que da minha parte não houve, nem ha, intenção alguma de maguar o illustre deputado. (Vozes: - Muito bem.)

Mas vamos á questão. Estava eu fallando dos subsidios dos deputados, e dizia que o pensamento que inspirara o actual governo foi o mesmo que inspirou o sr. bispo de Vizeu; e que, todavia, o sr. Lopo Vaz não se indignou com esse procedimento, e antes o apoiou, assumindo uma parte da responsabilidade.

Ora, sendo isto assim, não me parece que s. exa. tenha o direito de censurar agora um acto similhante áquelle que n'essa epocha approvou. (Apoiados.)

Em todo o caso, da parte do governo não houve a menor intenção de desconsiderar o parlamento. Querendo affirmar o seu pensamento economico, não podia desaproveitar o ensejo de fazer uma economia tão importante, que é approximadamente de 50:000$000 réis.

as o que se vê é que, se o governo promette fazer economias e as faz. queixam-se os illustres deputados; se promette fazel-as, e as não faz, queixam-se igualmente. (Apoiados.)

Como ha de saír o governo d'esta difficuldade?!... Logo que se faz qualquer economia insurgem-se os illustres deputados contra essa economia; se se não faz, insurgem-se do mesmo modo.

Assim não póde ser. (Apoiados.)

O illustre deputado, o sr. Lopo Vaz, tambem se referiu aos tumultos do Porto, e censurou acremente o governo pelos abusos, e arbitrariedades ali praticadas.

Está annunciada uma interpellação a este respeito pelo illustre deputado o sr. Arroyo. Eu já estou preparado para ella. Já estou munido dos documentos precisos para responder cabalmente ás accusações que s. exa. me queira fazer.

Não desejo, porém, antecipar esse debate. Direi apenas que, se o sr. Arroyo e o sr. Lopo Vaz quizerem n´essa occasião apreciar o procedimento do governo, eu espero mostrar-lhes com documentos irrefragaveis que a ordem foi mantida, mas que não foi violada a lei nem offendida nenhuma liberdade. (Apoiados.)

Aguardemos essa discussão, e então veremos se procedem as accusações do sr. Lopo Vaz contra o governo, ou se são verdadeiras e fundamentadas as palavras que acabo de proferir.

anteve-se a ordem, e não foi offendida nenhuma liberdade. (Apoiados.)

Os actos praticados pelo governo e as providencias adoptadas pelas auctoridades foram as necessarias para man-