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e juntamente faculdade e garantia, e entregava assim a artilheria do pensamento e da civilisação ao poder, quasi sempre inimigo das cabeças que pensam, das bocas que fallam, e das pennas que escrevem, e dos corações que se inflamam e se indignam ao aspecto da injustiça.

A Camara representava um paiz que se julgava a si proprio, e sem embargo foi ella quem despedaçou a uma eleitoral, e sacrificou a mais bella instituição que herdáramos de nossos pais, e receberamos muito aperfeiçoada das màos do Monarcha legislador. Com isso preparando a escravidão do povo purtuguez poz a Camara na sua propria gloria uma nodoa indelevel.

Verdade que o artigo vinte fatigado da opposição que soffreu na Camara electiva, caiu felizmente no estrado da Camara inamovível. Foi bem para a liberdade da nação, mas para a gloria dos Deputados foi peior que a imprensa achasse mais valentes campeões n'uma Camara nomeada pela Corôa do que nesta, que só ao povo deve a sua missão e investidura.

Verdade tambem que o ministerio o começou a enfranquecer na sua resistencia aos bons principios, porém não temos nós ainda a certeza de que os juizes ordinarios não serão immolados.

Não negarei, Srs., que a desgraçada política do ministerio teve o vosso concurso e approvação, e não sei ainda, se fosteis vós os proprios que o forçastes a adotar uma política tão prejudicial ao paiz: mas parlamentar ou não parlamentar, essa politica e desgraçada, e vós não ignoraes que a nação a tem condemnado, e por todos os meios possíveis vos exprime a sua de approvação. Como foi pois que o ministerio, carregado com o peso de tão grande responsabilidade, resistindo a todas as idéas de melhoramento, e até retrocedendo no caminho da civilisação, como é que elle poude achar aqui uma maioria segura e forte e inabalavel que assim o sustentou? Srs., eu creio, eu faço-vos a justiça de crer que foi com a melhor boa fé, e com a maior pureza de intenções, que vós aconselhastes ou sustentastes uma politica tão pouco accommodada para fazer a ventura da nação. Hoje deveis ter conhecido o vosso erro, e por um greneroso movimento de desinteresse, moderação, e patriotismo pedirdes vós mesmos a dissolução da Assembléa. Conheço que para isso é necessario uma grande dedicação é causa da patria, e um grande sacrificio d'amor proprio; mas o que vós tendes á liberdade ainda é maior, e tão grande sacrificio difficil para muitos, entendo que para vós é senão a natural e facil consequencia do muito patriotismo que vos inflamma.

Se porém não quereis convir comigo de que a vossa politica não foi a melhor, e se julgaes que a nação vos não desapprovou; para aconselhar a proposta medida da dissolução ainda me ficam muitas razões que não podem deixar de fazer muito peso em vossas consciencias.

Porei de parte a questão das bases judiciarias. Ainda que em meu entender, se o ministerio quizesse mostrar o seu sincero arrependimento, e dar provas da sua conversão á causa dos bons princípios, devia tranquillisar os animos inquietos, e dar a nação uma segurança de que o premeditado assassinio dos juizes ordinarios não seria consumado; que não entregariam o povo portuguez assim maneatado á magistratura, e que a liberdade palpitando não seria por elle lançada no sepulcro.

Sou o primeiro a confessar que a política do ministerio tem um pouco melhorado, que deixada a sua primeira obstinação, já escuta conselhos mais prudentes, porem isso só não basta para conjurar a tempestade que está imminente, e salvar a nação de um diluvio de calamidades. Quem pode saldar o credito da representação nacional, que esta tão arrumado? E se não concedeis com isto, ao menos não negareis, que a esta Camara vão ser submettidas questões de tanta importancia como nunca foram ao mesmo tempo apresentadas ás deliberações de nenhum parlamento do mundo. Muitas luzes ha aqui para resolvei essas questões de uma maneira vantajosa, e feliz; porém sobram as luzes nos Deputados, e falta a confiança na nação. Os mais doutos e religiosos varões do Christianismo tremiam diante das terríveis obrigações do sacerdocio e do episcopado. Ministros e sacerdotes da liberdade, os Deputados do povo português, não perderiam nada de sua reputação se recuzassem diante de todas as difficuldades, que se apresentam no caminho parlamentar, que tem de correr nesta Sessão legislativa Ter-se-ia em muito louvor a sua modestia, e a desconfiança das suas luzes seria olhada já como um principio de sabedoria, que por isso pediam o auxilio da graça a urna eleitoral para se apresentarem de novo no senado, fortificados com o sacramento d'uma duplice eleição.

Sr. Presidente, eu não quero accusar ninguem. A diuturna e fatal suspensão do sistema representativo tinha dado occasião a muitas injustiças, ou se assim o querem, a muitos erros, os corações estavam carregados de fel, e por isso azedas e amargosas foram as nossas explicações, e terríveis os nossos combates durante a passada Sessão extraordinaria. D'ahi veio enfraquecer-se o respeito e veneração que se devia conservar sempre vivo á Representação nacional Srs. Deputados! vós sabeis o que se passou ha pouco n'uma occasião tristemente memoravel. Um Representante da nação usou d'expressões que excitaram os murmurios e a indignação dos expectadores a tal ponto, que fomos forçados a interromper as nossas deliberações. Não accuso nem os cidadãos que nos honravam com a sua presença, nem o eloquente Deputado que e então fallava. Qual é o orador que no fogo d«uma discussão abrasada e tempestuosa pode medir ao compasso todas as suas expressões? Se alguma é mal considerada só a poderá estranhar aquelle que não tiver nenhuma pratica d'assembléas deliberantes. Uma palavra escapa - essa palavra offende, e todavia nada ha mais contrario ás intenções do Deputado, do que fazer a menor offensa aos expectadores ou aos seus collegas Então tem logar as explicações que sempre são satisfatorias. Nenhum homem illustrado tem vergonha de confessar que errou, e de pedir indulgencia e perdão. Isto que eu digo não tem applicação ao nobre Deputado do Minho. A sua frase não estava dita; foi mal entendida, e excitou por isso uma tempestade de desapprovação. Mas porque motivo poderam aquellas expressões produzir um resultado similhante! É porque os espíritos se achavam profundamente irritados e offendidos. A marcha do Governo, sanccionada pela maioria desta Camara tinha lançado o desgosto e a desconfiança em todos os peitos. Sem embargo como não culpei o illustre Deputado, que então orava, tambem não culparei os espectadores. Hontem é que se quebraram os nossos ferros. É de hoje apenas que começamos a contar o primeiro dia da liberdade; que se ha de então esperar de libertos, d'escravos forros, que longo tempo viveram debaixo do açoute de seus deshumanos, senhores? Se a nação estivesse bem doutrinada para a liberdade, se tivesse a grande escola do povo inglez, então nós a veriamos usar dos direitos constitucionaes para fazer triunfar os seus desejos, e obrigar o Governo a seguir uma marcha liberal, progressiva, e mais accommodada a seus habitos, a suas necessidades e a seus pensamentos. O direito de petição é a grande espada do povo inglez. Uma nação que sabe pedir, não desce á miseria seria d'um supplicante. As súpplicas d'um povo justo são imperios de senhor. O pedir d'um povo e mandar; porque um povo que sabe peder, obtém! Mas o povo portuguez que faz? Queixa-se, amofina-se, lastima-se, nmurmura, clama e desatina Não viu a nação como os Deputados da Opposição batalhavam para segurar a liberdade d'imprensa ameaçada pela arbitrariedade do artigo vinte? Não viu os esforços que fizemos para conservar a ameaçada instituição dos juizes ordinarios? Sem duvida os portugueses simpatisa-