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4 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

O Sanatorio do Junqueiro está situado na posição mais apropriada para o fim a que se destina. Estabelecido num dos fortes historicos que constituem um como rosario guerreiro ao longo da margem direita do Tejo e da costa do Atlantico, tem na frente o mar infindo; á esquerda, ao nascente, uma bella praia de 1:500 metros de extensão, larga, abrigada dos ventos da terra por um espaldão natural; á retaguarda um extenso pinhal, envolvendo-o nas suas emanações sadias; á direita as altas arribas, onde se agglomeram as algas beneficiando a atmosphera.

É d'este lado, muito vizinho do antigo forte, que se está procedendo aos trabalhos de outro sanatorio, mais amplo, que se deve á iniciativa do Sr. Frederico Biester e sua esposa, e que muito está agora devendo á dedicação do nosso collega Sr. Costa Pinto.

O Sr. Costa Pinto: - V. Ex.a dá-me licença para uma interrupção? Quem está á testa d'esse estabelecimento é o distincto medico português e meu illustre amigo Sr. Gregorio Fernandes.

O Orador: - Bem sei; mas V. Exa. tomou hoje a seu cargo trabalhos concernentes a esse Sanatorio, e tenho sido testemunha de como V. Exa., pelo seu zelo e actividade, digna de todo o elogio (Apoiados), tem auxiliado esse amigo a que se refere. Não leve V. Exa. a sua modestia ao ponto de relegar da sua pessoa os seus meritos, e os louvores de que é digno.

Sr. Presidente: escrevia alguem, ao falar do Sanatorio do Junqueiro: - "O Sanatorio evita o hospital, como a escola evita a prisão. O Sanatorio previne o mal que o hospital algumas vezes allivia ou cura. Mas que rara cura e que allivio miseravel".

E assim é, Sr. Presidente! Não é quando a tuberculose empolga um fragil corpo com as suas garras terriveis, que se pode encontrar remedio salvador ao mal horrendo.

O sanatorio do Junqueiro destina-se a salvar da tisica crianças que vae receber anemicas, rachiticas, lymphaticas e escrophulosas, para as sujeitar á acção da atmosphera maritima e de uma salutar hygiene.

É, por emquanto, nas suas proporções modestas, uma tentativa, que já mereceu os suffragios de todo o país numa boule de neige, que rendeu muito mais do que ao principio se suppôs, e que já começa a receber os subsidios, e até legados de almas piedosas, que nas suas disposições testamentarias se lembram de que ali se quer constituir um abrigo seguro e um ninho tepido ás avesinhas quasi á nascença feridas e mal tratadas pelas temnporaes da vida.

Com tão bons auspicios, a sua obra promette ser larga e benemerita.

Modesto foi tambem em 1888 o inicio do hospital do Ormesson para crianças escrophulosas, e que prospero e brilhante é hoje o seu destino!

Contribuem poderosamente os sanatorios para melhorar as condições organicas da humanidade, que por toda a parte apparece gafada de males terriveis, que geralmente só se querem combater quando enraizados e irremediaveis! (Apoiados).

O sanatorio é a salvação do corpo e da alma; porque não ha espirito sadio em corpo de enfermo. Da desorganização physica provem tantas perturbações de ordem moral que agitam os homens e as sociedades. (Apoiados). É principalmente o sanatorio das creanças o que hade influir por uma fórma efficaz na melhoria das raças; não só salvará da morte individuos, guardará nações de uma ruina certa. (Apoiados).

O sanatorio recebe as crianças que, ou adquiriram, ou já mesmo do ventre materno trouxeram a predisposição para a doença e para a desgraça; entrega-as á acção do occeanico bafejo, que é como o mythico sopro de Deus, que do vil barro fez nascer o homem; envolve-as de cuidados e carinhos, e breve as restitue á sociedade, fortes e validas! Arranca-as á dor physica e á miseria moral, e restitue-as ao trabalho, ao carinho da familia, ás alegrias da vida, quando a vida dá alegrias! (Apoiados).

De quantos meios são empregados, geralmente, para combater a tuberculose, alguns d'elles meros paliativos, nenhum merece tanta attenção e a protecção, não só particular, mas dos poderes publicos, a criação de sanatorios é, incontestavelmente, o que deve ter a primasia.

Depois vem a necessidade, tambem imperiosa, de evitar as causas, muitas vezes da responsabilidade dos poderes publicos, das más condições da habitação e peores ainda da alimentação publica. Ha, alem d'isso, outras causas de Ardera social, como a que vi hoje na imprensa, fôra apontada no congresso medico, reunido em Lisboa. Refiro-me á protecção ás mães que se vêem abandonadas do cumplice que as conduziu á desgraça, deixando-lhes um filho no seio ou nos braços! Em que condições vem para a vida esse ser miseravel e espureo?

Em que condições pode essa mulher sustentar e torná-lo um ente valido? Ninguem o protege da miseria, como não protege a mãe da bestialidade e egoismo do homem. (Apoiados).

D'ahi uma geração de doentes, de desequilibrados, de degenerados, dando um aspecto de impotencia e de loucura á humanidade, por tantas fórmas soffredora. (Apoiados).

O sanatorio do Junqueiro, que é uma obra de energia, de coragem, de força de vontade, é tambem uma obra de solidariedade nacional.

E para que nada faltasse a uma instituição tão util e luminosa, até Sua Majestade a Rainha D. Amelia que é, pode dizer-se, o ideal humanado de quantas qualidades de coração e espirito se podem reunir numa mulher, (Apoiados) cuja presença, só por si encanta e attráe, (Apoiados) cuja bondade a todos se impõe e subjuga (Apoiados) e cuja alma está sempre aberta a todas as aspirações do bem, (Apoiados) até Sua Majestade a Rainha tomou sob a sua protecção esta instituição incipiente e a englobou na sua grande obra de caridade e amor. (Apoiados).

Mas Sua Majestade não quis tirar ao sanatorio do Junqueiro o que de direito lhe pertencia; isto é, a sua autonomia propria, a sua independencia, e é o seu instituidor, com as pessoas que o auxiliam na sua sympathica missão, quem tem sobre si os encargos da direcção e gerencia. Já foi muito dar-lhe a sua protecção, o seu apoio e o da obra da Assistencia Nacional, e os beneficios da sua poderosa influencia.

Nós estamos, Sr. Presidente, num país em que nos habituámos a pedir tudo aos Governos; enfermamos principalmente da falta de iniciativa; e esse é o nosso mal. Na minha opinião, a maior parte das crises que nos assoberbam, proveem d'essa falta de iniciativa. Somos aventureiros e ousados; conquistámos muito, mas não o soubemos conservar. usados guerreiros, maus administradores!

Na situação ordinaria da vida, a nossa iniciativa não se encontra onde se devia encontrar. Lá está o Governo para acudir a tudo.

Vem a crise dos vinhos, appella-se para o Governo; é o Governo que a ha de resolver; quando, ás vezes, esforços particulares podiam ter evitado e conseguido muito.

Dá-se a crise colonial, o Governo que a resolva! E no entanto, o capital português que nas colonias se podia empregar com vantagem propria e beneficio para o país, deriva mais facilmente para aventuras, como as das minas do outro lado da fronteira, que tanto dinheiro custaram a tanta gente.

A propria crise chamada religiosa, mas que é uma crise social e complexa, com manifestações tão vastas, essa mesma, por quantas formas não podia ser combatida, se a iniciativa particular contraminasse os trabalhos da reacção, com estabelecimentos de caridade, escolas, e outros meios positivos? (Apoiados).