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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

fuga dos tripulantes e carregadores mio causaria o transtorno que causou: a tropa alcançaria Massangano vigorosa e cheia de vida; e o mantimento vindo da metropole para dois mezes teria sobejado; ou quando viesse a faltar, transportar-se iam com facilidade para cima as provisões em de posito no Mazaro..................................

« Se s. ex.ª (o sr. ministro) tivesse mandado comprar, como lhe foi pedido, duas ou tres lanchas a vapor, pelo menos, o desembarque em Quilimane tinha sido expedito, e quando sobreveiu o temporal já o Bornéo estaria descarregado. Essas mesmas lanchas serveriam depois para a navegação no Zambeze, onde muito soffremos por falta d'ellas.

«(Pag. 32) — Após uma pequena resistencia opposta pelo inimigo em Tipué, entrou a expedição em Massangano... (13 de novembro de 1869)».

«(Pag. 33)— Quiz o commandante uma brecha para introduzir por ella a infanteria. Pediu a instantemente; aberta a brecha, era pouco o que restava fazer. Respondeu o sr. major commandante da artilheria, que de Portugal não viera bala rasa, mas sim projectos explosivos; que não podia bater de brecha com elles, mas que em seis noras a aringa seria incendiada, e 0 inimigo desalojado e entregue á infanteria.

«Mas a bateria fez fogo por seis, doze e setenta e duas horas; e comtudo nem brecha, nem incendio; a aringa permaneceu como estava.»

«(Pag. 38) — Em todos os encontros com o inimigo o geral da expedição se conduziu sempre dignamente, não desmentindo o europeu a sua proverbial coragem, é rivalisando com o seu camarada indio.

«Impossível foi renovar-se o ataque, visto os soldados se sentirem fracos, e haver falta de mantimento. Em taes circumstancias o commandante resolveu congregar um conselho de guerra, cuja acta transcreveremos.»

«(Pag. 39 — 24 de novembro de 1869)—Os srs. facultativos, resumidas as exposições que fizeram, foram de unanime opinião, que as praças da columna se achavam extenuadas de forças physicas, não só pelos muitos trabalhos e privações de commodidades, tão precisas á vida, e destruidores effeitos do clima; porém tambem pela falta dó alimentação couveniente ha dois mezes: que as fadigas que ultimamente tem soffrido os tem extenuado por tal fórma, que, em suas opiniões, se não podia contar com suas forças physicas para qualquer esforço de vigor, estando essas praças sustentadas desde a sua chegada a ésté campo apenas com uma bolaxa por dia; que o numero dos doentes era grande, e cada dia augmentava consideravelmente.»

«(Pag. 40)—Os srs. commandantes dos corpos, resumidas as opiniões que apresentaram, concordaram todos que, em vista do estado de extenuação em que se acham os corpos dos seus commandos, em vista principalmente da falta de mantimentos, e finalmente sem esperança alguma, n'es tas criticas circumstancias, de mudar de posição, e antes de chegarmos a alguma grande desgraça, julgavam arriscado um ataque á viva força em taes condições; visto que a aringa, depois de ter soffrido um vivo fogo de toda a bateria por tres dias e noites, quasi sem descanço, se conserva firme e sem brecha praticável para um ataque á bayoneta, etc.»

«(Pag. 41)—No dia 25 declarou o commissario não haver senão meia ração de bolaxa para este dia e meia para o seguinte.

«Em consequencia d'isto, e de não haverem chegado os mantimentos esperados de baixo, decidiu-se a retirada para Quilimane.»

«(Pag. A2)— Por fim, cerca da meia noite, largou tambem do acompamento esta companhia, não se deixando nem um cartuxo.

«No ataque teve artilheira 5 feridos, os caçadores da Zambezia 2, havendo ja partido na passagem da Aruanha 5 praças e o infeliz capitão Cardoso; o batalhão da India teve 2 mortos e 15 feridos.»

De tudo isto conclue-se:

Que depois de bem relaxados e indisciplinados em Lisboa os soldados da expedição, embarcaram seis mezes depois da data do decreto que a organisou em um vapor insuffíciente para aquelle serviço e insalubre, excedendo assim mesmo a 108:000$000 réis o custo do transporte n'aquellas pessimas condições, partindo de Lisboa um mez depois a barca Martinho de Mello com os viveres e petrechos que o vapor não tinha podido levar.

Que este transporte á vela chegou apenas a Moçambique a 14 de outubro de 1869, isto é, quasi quatro mezes depois da expedição ter chegado.

Que a força europea chegou a Quilimane falta de calçado e de objectos de vestuarío Sufficientes para aquella campanha.

Que a marcha das tropas pela falta de vapores de fundo chato levou quatro mezes e meio desde Quilimane até á aringa do Bonga, isto é, para transpor oitenta leguas.

Que durante essa desastrosa marcha a terça parte da força foi inutilisada pelas doenças é privações de toda a especie, chegando á desgraça á ponto que os soldados iam descalços com os pés inchados e rasgados de espinhos é quasi nús, n'aquelle clima mephitico, e Sobretudo para europeus que acabavam de chegar da Europa.

Que chegados em frente da aringa do Bonga tiveram de retirar no fim de doze dias, unicamente por causa da fome e da falta de forças physicas dos Soldados.

Que se gastou rios de dinheiro, não só em pura perda, mas com deshonra para o nome portuguez (apoiados).

Não é deshonra ser batido pelos bongas, o que indigna é que uma tal expedição, com a qual sé gastou centenares de contos de réis, chegue no fim de um anno em frente da aringa do miseravel Bonga em tal estado fie falta de recursos e com tanta fome, que teve de se retirar, não com deshonra para as tropas, mas para o ministro que de tudo tem a responsabilidade.

A causa unica de tanta desgraça e de tio estupenda quanto prejudicial despeza veiu sempre da incuria e da incompetencia do illustré deputado.

Disse s. ex.ª, que não tinha mandado os vapores para conduzir a expedição pelo Zambeze, porque não tinha tido tempo de os mandar fazer.

Isto, sr. presidente, é escarnecer com as vietimas.

O actual sr. ministro da marinha coniratou, como ja disse, a construcção de 2 Vapores de ferro com 108 pés de comprido no convez, 21 pés de bôca, demandando 2 pés e 3 pollegadas de agua, com 223 toneladas de construcção, com machinas de 35 cavallos, com rodas de pás Articuladas, com caldeiras para queimar indistinctamente lenha ou carvão, levando combustivel para seis a oito dias, com um rodízio de 12 de aço, e com ovens de ferro galvanisado; e alem d'estes vapores, 4 lanchas de ferro com 30 pés no convez e 12 de bôca, com 1 peça de 6 de aço cada uma, tendo 17 toneladas de construcção, e com toldo de madeira e lona; tudo por 10:075 libras e promptos em tres mezes é meio a contar da data do contrato.

Ora, sr. presidente, como os soldados estiveram a perder-se e desmoralisar-se em Lisboa durante quasi seis mezes, e como tres mezes é meio é muito menos do que seis mezes, não póde o sr. Latino Coelho desculpar-se com a falta de tempo para a acquisição de vapores (apoiados).

Mas, sr. presidente, como, não fallando mesmo dá importante somma perdida na comedia da força que havia de ir de Angola, nem dás importantes somaras perdidas em pagar alguns mezes aquellas praças para andarem fazendo desordene em Lisboa, nem do enorme desperdido com as despezas de transporto das tropas, é claro e evidente, que da falta dos vapores nasceram todas as desgraças que sem derrota alguma levaram as nossas tropas a um estado de completa destruição (apoiados),e o thesouro a necessidade