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conhecedor das praticas parlamentares sabe qual é o alcance de uma questão d'esta ordem. No meu discurso não me referi ao nobre deputado; sinto que o nobre deputado aproveitasse esta ocasião para fazer as declarações que fez, e que não me pareciam necessarias, visto que o nobre deputado se tinha inscripto contra. O que eu disse foi, que o illustre deputado que abrira o debate, fizera d'esta questão uma questão politica, embora declarasse o contrario.

O sr. José Estevão: — Sr. presidente, é facil de comprehender qual será a minha posição tendo acabado de ouvir a evangelisação de Iodas as verdades moraes as mais puras e edificantes. Não é licito attribuir a um homem politico, eu,o caracter é sincero, pela primeira vez que se apresenta no parlamento, e que volta á vida publica, e depois de um tão funesto e doloroso acontecimento, intenção reservada a opiniões que elle não deve ter. Eu não quero antecipar o assentamento da minha posição politica, que me cabe fazer depois de tão variados acontecimentos que têem embaralhado as opiniões, confundido as parcialidades e desvariado muitos homens; mas aproveito a occasião para dizer que não voto n'esta questão considerando-a ministerial;

Não tenho por mim senão que a votação ha de ser publica. Repito não voto como deputado da opposição, voto como uma questão de principios, e sentirei muito que os ministros se retirem diante della; n'este caso dou-lhes o meu auxilio.

O sr. Conde de Samodães (Francisco) (sobre a ordem): — Sinto muito de me ver na necessidade de pedir o cumprimento do regimento. O artigo 92.º é expresso. (Leu.)

Eu pedia a V. ex.ª que fizesse executar o regimento.

O sr. Presidente: — Eu estava a ver como o sr. deputado concluia.

O sr. Conde de Samodães (Francisco): — Peço perdão a V. ex.ª O artigo 92.° diz assim. (Leu.)

Por consequencia V. ex.ª não devia consentir que o sr.deputado fallasse sem que apresentasse a moção de ordem.

O sr. Casal Ribeiro: — Sr. presidente, custa-me entrar n'esta questão com a placidez e sangue frio que costumo conservar nos debates e que convém á dignidade do parlamento, depois do discurso proferido pelo sr. ministro da fazenda; discurso que não sei como hei de qualificar. Nós temos a rasão do nosso lado, e por consequencia não precisâmos invocar a paixão, nem fallar ao sentimento politico para faze-la triumphar aqui. Sr. presidente, a questão esta declarada ministerial: pouco importa; ministerial ou não, o meu voto está já fixado, mas como deputado da opposição era mais uma rasão para votar contra; porque tambem repilo a declaração do meu nobre amigo o sr. Fontes, de que não tenho confiança politica no governo, não porque o julgue deshonesto, não porque o julgue violador das leis, pois não preciso imitar exemplos de ninguem, nem preciso injuriar os meus adversarios para me collocar n'uma posição diversa, quando entendo que a sua politica não é boa; e para não confiar no governo, não precisava mais do que o discurso do illustre ministro. (Apoiados.) O discurso que acaba de proferir é a sua condemnação como homem publico, é a injuria não ao homem e a um partido, a uma opinião politica, mas a um poder do estado, á entidade moral governo que foi declarada n'esta casa, por um ministro da corôa, incapaz de não prevaricar.

Vozes: — Á ordem, á ordem.

O Orador: — Sustento o que digo. O discurso do nobre ministro girou lodo sobre uma idéa, sobre a abdicação da entidade governo, a declaração da sua impossibilidade. Diz o nobre ministro: «estae certo que se forem precisos tres mil operarios ha de haver seis ou oito mil, estae certo que não serão encolhidos os homens mais habeis, estae certo que a fiscalisação não será exercida como deve ser, estae certo que n'esta paiz não ha administração, que não ha justiça.» Foram proferidas similhantes expressões pelo ministro da corôa, e ousa o illustre ministro da fazenda invocar o principio de confiança, depois de desacreditar a nação em que é ministro.

Sr. presidente, rejeito completamente similhante doutrina. Não creio em similhante immoralidade. Apesar do testemunho do nobre ministro da fazenda, não posso tal admittir; e declaro francamente a V. ex.ª e á camara, que nunca ouvi proferir taes principios, nem invocar taes paradoxos para sustentar uma questão, que deveria logo ser rejeitada.

Sr. presidente, a questão esta declarada ministerial: pouco me imporia, mas, é do meu dever fazer-lhe uma opposição forte, depois do discurso que acaba de proferir o nobre ministro.

Diz-se, que seria impossivel o governo no paiz, sem o contraio do tabaco. Porque não arremataes vós tambem o rendimento das alfandegas? (Apoiados.) Porque não arremataes Iodas as contribuições do paiz?... (Apoiados) Porque não arremataes o governo do estado? (Apoiados)

Sr. presidente, digo-o por honra do paiz, que não acredito no estado de desmoralisação em que o nobre ministro da fazenda pintou a nação portugueza. Pois é impossivel o governar este paiz sem a arrematação do contrato do tabaco?... Arremata-se então o governo do estado, para quem melhor o gerir. (Muitos apoiados da esquerda.) Arrematemos o governo do estado; arrematemos as pastas dos ministros que descrêem das leis, que descrêem de todos os principios de moralidade na administração do estado; que julgam impossivel governar este paiz sem a arrematação do contrato do tabaco.

Sr. presidente, ao nobre ministro da fazenda, apesar do calôr que tomou no debate, apesar dos paradoxos que avançou, apesar da inconveniencia com que foi trazida esta questão ao terreno em que se collocou, perguntarei eu: por que rasão o governo, se estava disposto a arrematar o contrato do tabaco, não o tinha feito desde logo? Porque manteve uma reserva tão inconveniente sobre este objecto?