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bra, e de Coimbra a Lisboa, e a primeira estrada do paiz, e por consequencia uma das primeiras necessidades o cuidarmos della, ninguem de boa fé o poderá contestar; sempre, e por todos assim se intendeu; a demonstração neste ponto seria um puro pleonasmo. Os proprios que combatem à proposta, allegando para tal fim o estar já para alli decretado um caminho de ferro, concordam tacitamente, e por este facto, na verdade da preposição que estabeleci. E se alguem a contestasse, bastaria lembrar-lhe as relações de toda a ordem, economicas, industriaes e politicas, subsistentes entre as duas capitaes e os -portos intermedios, e a circumstancia de que a barra do Porto é mais um sorvedouro de vidas e de fazenda, do que um porto de embarque e desembarque; o que faz que, mesmo na actualidade, apezar das duas companhias que entretém carreiras de barcos a vapôr, e da frequencia de viagens destes entre as duas capitaes, apezar disto, digo, uma grande parte dos viajantes prefere vir por terra, soffrendo todos os incommodos e riscos de uma jornada longa nos nossos martyrisadores meios de transporte, em pessimos alvergues, e por uma estrada semeada de precipicios, a ponto que raro será o viajante, que por ahi tenha andado, que não haja experimentado mais de uma aventura desastrada.

Mas se tudo isto assim é, o que aliàs ninguem nega, quaes são então, sr. presidente, os motivos pelos quaes nos recusam os meios para se melhorar aquella estrada? Quaes são as razões com que combatem a nossa proposta? E forçoso que sejam muito poderosas.

Sr. presidente, todas as razões, todos os argumentos dos que combatem a proposta, se reduzem a dois topicos: 50:000$000 réis é nada, dizem elles, não chegam para fazer naquella estrada coisa que se veja: 50:000$000 réis, ou qualquer outra somma que se gastar com aquella estrada, tudo será em pura perda, em desperdicio, porque está já para alli decretado um caminho de ferro. Ora, sr. presidente, primeiro que tudo, eu devo confessar que quasi me acobardo de emprehender a refutação de taes argumentos; parece-me que seria fazer grave injuria á intelligencia dos illustres membros da commissão de fazenda o crêr que estas, e só estas fossem as razões e motivos que os decidiram a dar um parecer contrario á proposta; no entanto forçoso tambem confessar, que outros não foram ainda apresentados, e que a isto se tem reduzido toda a sua argumentação.

Senhores da commissão, se com 50:000$000 réis se não póde fazer naquella estrada coisa que se veja, se não chegam para nada, votai uma somma maior; 100:000$000, 200:000$000 réis; nós acceitâmos e agradecemos esse alvitre, como já aqui declarou o meu illustre collega signatario da proposta, e eu agora confirmo. E não vê a illustre commissão, que, soccorrendo-se a um tal argumento, se colloca em contradicção comsigo mesma, com os actos que tem practicado?. Pois a estrada de Lisboa a Coimbra será concluida este anno com a somma que a commissão votou para tal fim? Pois a estrada da Regoa a Bragança, para a qual a commissão votou réis 60:000$000, poderá concluir-se com menos de réis 400:000$000? Pois a estrada do Porto a Amarante, de Villa Nova de Famalicão a Barcellos, e de Vianna a Caminha, para as quaes foram votados 200:000$000 réis, poderão concluir-se mesmo com 400:000$000 reis? Pois a estrada de Aveiro á estrada real por Mogafores, para a qual se votaram 10:000$000 réis, poderá concluir-se com menos de 60:000$000 réis? E não poderão esta e outras estradas ser prejudicadas pelo futuro caminho de ferro? Pois então para que adduz a commissão um tal argumento? Sr. presidente, a estrada do Porto a Coimbra tem lanços perfeitamente construidos e em muito bom estado, apezar de terem estado em abandono; e não é só uma ou duas legoas, são muitas; nem é tão pouco isto devido unicamente á natureza do terreno, como se tem querido indicar; pelo contrario, é devido a trabalhos que nella se executaram anteriormente ao anno de 1846; todos sabem isto, e aquellas construcções podem servir de modêlo no seu genero, porque foram muito bem executadas. Mas, entre estes lanços de estrada, medeiam porções em pessimo estado, e que apenas e impropriamente se poderão chamar estrada; são barrancos, verdadeiros precipicios. Este e o verdadeiro estado das coisas. Ora, qual é o fim. da applicação dos 50:000$000 réis que se pedem na proposta? Que é o que se pretende? É tornar transitaveis sem risco esses máos pedaços de estrada, que medeiam entre as novas construcções; é entreter ao mesmo tempo estás em estado de perfeita conservação. Não é uma construcção nova, geral, e no curto espaço de um anno, que se pretende fazer; são propriamente trabalhos de conservação e reparos, e, se tanto fôr possivel, e onde mais necessario se tornar, a construcção de algum pequeno lanço: por esta fórma penso eu que em pouco tempo teremos a estrada em estado de, sem risco, se poder andar por ella, e dentro de tres ou quatro annos transitavel mesmo para uma diligencia. (Apoiado)

Sr. presidente, os que combatem o projecto dizem-nos que esperemos pelo caminho de ferro; mas permittam-me que lhes pergunte, quando tencionam principiar, e quando esperam concluir esse caminho de ferro. E até então não terão de fazer-se obras na estrada em questão? Não haveremos de tractar nem da propria conservação do que está feito? Estaremos a respeito de tudo isto com os braços cruzados em êxtase, em adoração á espera que venha sobre nós o caminho de ferro do norte, por milagre dó nosso minguado thesouro, ou por obra e graça do omnipotente credito de alguma patriotica companhia, a que estamos tão bem acostumados? (Apoiados)

Sr. presidente, eu tambem quero o caminho de ferro do norte, tambem creio nelle. (O sr. Corrêa Caldeira: — É ter muita fé) Sim, senhor, creio e tenho muita fé, e o illustre deputado, n'este ponto, penso que tambem crê e tem fé como eu a tenho. Creio no caminho de ferro do norte, porque assim me ordena a ordem das coisas, a lei do progresso da sociedade; a minha fé nesta parte é viva e forte; mas é tambem tibia é incerta em quanto ao tempo e á occasião. (Apoiados)

Sr. presidente, os encargos das emprezas desta ordem, as despezas necessarias para estas se levarem a effeito, são muito grandes, são enormes; é notarei de passagem, que, a respeito da linha de que se tracta, deverão ellas exceder muito o termo medio que está calculado para similhantes emprezas, o que deve difficultar a sua conclusão. Ora, o estado da nossa fazenda publica não permittirá ainda por muito tempo que um tal emprego de capitaes possa ter logar.