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sentadas alterações ou modificações por parte de alguns illustres deputados.

Tratarei primeiro da emenda ao § 2.°,- apresentada pelo nobre deputado por Abrantes, de um modo tão digno da sua pessoa, como digno d’esta casa. A substituição, offerecida por s. ex.ª teve por fundamento a apresentação recente de um documento diplomatico da primeira importancia, posto que não tenha relação com o ponto principal d’este debate. Toda a camara sabe a que me retiro. A reflexão do sr. Dias e Sousa n'esta parte parece-me que foi bem cabida, e que a commissão não lerá duvida em aceitar a sua emenda. Mas o illustre deputado de certo não queira fazer d'ahi derivar nenhuma censura á mesma commissão, ponderando que este projecto foi apresentado por esta em data de 26 do mez proximo passado, e que do documento alludido foi dado conhecimento á camara em 30 do mesmo mez, isto é quatro dias depois. Já se vê portanto que o projecto do resposta ao discurso da corôa não podia referir-se a um acontecimento do que ainda não linha noticia a commissão.

Relativamente ás modificações offerecidas por s. ex.ª com applicação a outra parte da resposta ao discurso da corôa, não concordarei em que as opiniões dos membros da commissão e dos membros da camara ficam antecipadamente compromettidas por esta redacção. No discurso da corôa os diversos capitulos, referidos no periodo substituido de que estou fallando, são especialmente mencionados: a commissão não fez pois senão seguir escrupulosamente a menção d’elles. A commissão entendeu que o farto dr mencionar esses capitulos era uma indicação de solicitude, o que nau podia sem descortesia deixar do a considerar como tal.

Esta consideração, porém, não antecede nem prejudica as apreciações futuras na sua opportunidade, porque o juizo da camara fica expressamente reservado para a occasião em que forem apresentadas as respectivas proporias como se vê do seguinte periodo:

« Merece-la-hão igualmente da rimara, quando as respectivas propostas lhe derem occasião do exercer o mandato que lhe foi confiado.»

Uma redacção tão cautelosa, tão condicional, não póde comprometter nenhum dos lados da camara, e creio que satisfaz a todas as exigencias que o uso consagra em casos similhante. Julgo portanto haver satisfeito n'este ponto os escrupulos de s. ex.ª escrupulos que sempre respeito, e muito mais quando são formulados em phrases Ião decorosas como as s. ex.ª empregou.

Sr. presidente, acho-me agora n'uma posição extremamente melindrosa, porque tenho de responder a um illustre deputado, que, no meio da sua expansão do amor á liberdade, soltou expressões indirectamente offensivas ao caracter dos membros da maioria d'esta camara.

O illustre deputado declarou logo que não estaria presente na sessão seguinte; e ha pouco sube que o não poderia estar hoje, por um motivo sagrado o doloroso para s. ex.ª doloroso o triste para a camara, o para o paiz. (Apoiados.) Mas s. ex.ª ora acompanhado nas suas manifestações por outros membros da camara; e por este facto julgo não offender as regras da delicadeza levantando o conluiando, não todos os seus argumentos, mas de entre elles os que é dever da minha posição não deixar como á revelia, porque d’elles poderia resultar uma impressão inaceitavel.

O illustre deputado, a quem me refiro, fez distincção entre deputados governamentaes e deputados ministeriaes. O epitheto encontra-se nos diccionarios politicos, mas não com a applicação e sentido que se lhe deu. Ouvia-a empregar, não ha muitos annos, exactamente na significação opposta, designando aquelles que s. ex.ª qualificou de ministeriaes, e tão ministeriaes n’esse tempo, que nem mesmo reconsiderações, que retiravam ou contrariavam a palavra assignada, assustaram o seu ministerialismo. A consequencia d’esta antinomia não podia deixar do ser uma admiração profunda ao ver adoptado hoje n’um significado tão opposto o mesmo vocábulo qualificativo, que os illustres deputados haviam escolhido e applicado em sentido incompativel com esse que novamente lhe déram. E para que, sr. presidente? Para insinuar que a independencia só podia estar do lado dos que votam com o governo, como d’antes só estava do lado dos que votavam pelo governo! Os governos mudam, sr. presidente, mas o valor real das palavras não póde mudar com elles. A independencia não é vesga, nem olha só para um lado. Quem se atreverá a asseverar que a consciencia deve estar sómente em quem vota contra, e não póde estar igualmente em quem vota a favor? Quem ousará, mais ou menos explicitamente, designar, á suspeição a consciencia dos que votam n'um determinado sentido, declarando isenta de igual suspeita a consciencia dos que votam n'um sentido opposto? « Mas vós votaes a favor. » Eis a rasão que nos dão. E vós que votaes sempre contra? Respeitemo-nos uns aos outros, se queremos ser respeitados de todos. Estranha inversão de palavras, que tem por alvo constante a inversão das idéas!

A posição de deputado irresponsavel seria das mais commodas e tambem das mais agradaveis. Infelizmente esses que suppõem lai irresponsabilidade possivel, seriam realmente, perante o paiz e perante o futuro, os mais responsaveis de todos. (Apoiados.)

Sr. presidente, tudo vem de um uso, ou antes de um abuso singular. Adoptou-se, no que entro nós se chama politica, pôr as idéas ao serviço das palavras, em vez de pôr as palavras ao serviço das idéas. Com isto commotte-se um dos maiores attentados, attentado contra a moralidade que algum dia amargará. D’este modo os partidos, alternando arbitrariamente o valor das palavras, têem sempre do seu lado a virtude, e n’esta facil posição dispensam-se de estar ao lado da virtude. Inventou-se uma virtude partidaria, uma virtude de duas faros, uma virtude facciosa. Será este o seu caracter?

Não accuso ninguem; supponho que todos os lados da camara votam nas questões franca e lealmente, como o entendem, como a consciencia lhes indica. Noto sómente que se queira monopolisar o que em todos se deve admittir, e desejaria que a discordancia de opiniões não fosse em alguns oradores rasão para desconhecer que nos seus collegas ha igual independencia, igual isenção do caracter, igual convicção de principios. (Apoiados.)

Fez-se já ao governo uma advertencia que me pareceu original. Disse-se: «Não ha já partidos! » E a mesma voz que soltou esta proposição, que não discutirei, acrescentou: «O governo devia cercar-se de um partido.» Confesso que não posso facilmente concordar o conselho com a affirmativa.

Se não ha partidos, de qual partido se havia de cercar o governo? Não é melhor cerrar-se da nação? O governo é para o paiz, o não para os partidos.

Mais, muito mais, teria que responder ao illustre deputado, ruja ausencia sincera o duplicadamente deploro, se não fôra essa mesma ausencia. A camara comprehenderá e apreciará n’este ponto a minha reserva.

Farei ainda algumas breves considerações relativamente á emenda ultimamente apresentada pelo illustre deputado o sr. Mártens Ferrão, cuja alta e cultissima intelligencia eu tanto respeito quanto s. ex.ª não ignora. -

Ponderou s. ex.ª, e n’esse sentido propõe a sua substituição, que o governo póde ser merecedor de reparos censórios, porque as obras publicas não têem tido tão amplo desenvolvimento como s. ex.ª desejaria.

Sr. presidente, se formos a medir as obras publicas pelos desejos do todos, qual deixaria de estar concluida? É só pela possibilidade que as podemos o devemos avaliar. E que vemos? Vemos que se tem feito quanto se podia fazer. Limitar-me-hei a citar alguns exemplos, porque me parece que n’este caso os factos importam mais, provam mais do que todos os esforços de eloquencia. Não será um facto o aterro da Boa Vista? (Apoiados.) Não será um farto a estrada do Porto? Creio que é, o tão facto que está presente, penso eu, um illustre deputado que ainda ha poucos dias foz por essa estrada, do Caminha a Lisboa, oitenta leguas em diligencia, com interrupção apenas de uma légua, a légua comprehendida entre Oliveira de Azemeis o o Pinheiro da Bemposta, ainda não concluida, posto que já aberto o leito. Não será tambem um