O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

130 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Nomeou uma commissão para estudar a grave questão operaria.

Pensou na creaçÃo de uma caixa de depositos para os operarios do ministerio das obras publicas.

Todos estes pensamentos procurara realisar sem fazer politica, e com a maior economia.

Já um digno par citou o exemplo de Magliani, o hahilissimo ministro das finanças italiano; entre nós são precisos dois Maglianis, um para a fazenda, outro para as obras publicas. Elle, orador, não pretendeu ser um Magliani, mas em todo o caso fez um poucochinho de Magliani no seu ministerio.

Não falla n'isto por vaidade, mas quer apenas mostrar que não deixou de. pôr em pratica a mais severa economia, apesar de querer levar por diante a obra dos melhoramentos do porto de Lisboa, que tanto medo tem causado, mas que na sua opinião é uma d'aquellas obras que só dão vantagens aos paizes que as realisam.

Em Italia, emquanto o sr. Magliani se empenhava em equilibrar a fazenda publica, o sr. Depretis creava escolas de agricultura, procurava desenvolver as industrias, e pedia ao parlamento que lhe votasse muitos milhões de liras para melhoramento do porto de Napoles.

Mas o sr. Vaz Preto considerava secundaria a questão do porto de Lisboa.

(Aparte do sr. Vaz Preto, que se não ouviu.)

Pois elle, orador, considera-a muito superior á das reformas politicas. Entende que os melhoramentos d'este porto hão de dar a Lisboa riqueza, prosperidade, desenvolvimento do commercio, operar, emfim, uma verdadeira transformação. (Muitos apoiados.)

Quando entrou no partido constituinte queria todas as reformas politicas, queria todo o senado electivo; pois agora não duvida dizer que prefere os melhoramentos do porto de Lisboa ao senado electivo. E até os quer como fonte de receita para pagar as despezas do senado electivo. (Riso.)

Todas as nações estrangeiras, como tem podido verificar, estão dando uma grande importancia ás obras hydraulicas de toda a especie. Por sua parte está convencido de que até o sr. Manuel Vaz prestaria o seu decidido apoio ao projecto de melhoramentos do nosso porto se fosse possivel mudar Lisboa para o districto de Castello Branco. (Riso.)

E não leva isto a mal ao sr. Manuel Vaz, antes respeita o seu amor por aquelle districto; mas permitta s. exa. que um filho de Lisboa tambem ame a sua terra.

O sr. Manuel Vaz discorda da sua opinião; tambem elle, orador, algumas vezes discordou da opinião do seu partido, quando o seu partido era genuino e puro: porque, emfim, apesar de soldado, tinha opiniões e convicções suas. Não foi pela vida politica que começou a ser conhecido no mundo.

Deixou de concordar com o seu partido quando acceitou o pariato que o sr. Braamcamp lhe offerec~era pelos seus serviços prestados ao paiz, e só por isso.

Deixou de concordar com o seu partido na questão de Lourenço Marques. E aproveita a occasião para testemunhar pela alliança ingleza a maior sympathia. Não obstante a possivel decadencia da Inglaterra, antes se quer com esta nação do que com qualquer outra. Falta-nos no governo d'aquelle paiz um homem distinctissimo, de quem é amigo, sir Charles Dilke, e que para muito nos prestava. Mas porque nos falta um homem, não póde dizer mal de uma nação. Pelo contrario, estimará sempre os inglezes, porque em todas as negociações que com elles tem tido nunca voltou para o seu paiz com os olhos baixos.

Saiu, pois, do ministerio por causa da questão do porto de Lisboa; essa foi a rasão como toda a gente sabe. E essa questão foi apenas de opportunidade, porque o sr. presidente do conselho não se oppõe em principio aos melhoramentos projectados.

Não fugiu á responsabilidade das reformas politicas, porque o seu nome está ligado a ellas.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros: - Perfeitamente.

O Orador (continuando}: - Fóra do ministerio ou dentro do ministerio toma a responsabilidade d'essas reformas, e ha de defendel-as com a sua palavra, sustental-as com o seu voto. E talvez até que melhor as possa defender d'este logar que d'aquelle.

(Apontando para as cadeiras dos ministros.)

Não acceita a doutrina de que um homem que entra para o ministerio com a idéa de realisar uma reforma, fique privado de realisar outro qualquer projecto; de que elle orador, emquanto não fossem votadas as reformas politicas, não se devia occupar dos melhoramentos do porto de Lisboa.

Tambem repelle a accusação de não ter tido com os seus collegas no ministerio todas as attenções devidas.

Quanto ao projecto do porto de Lisboa, que foi apresentado antes do dia 24 de abril, tanto elle não aspirava á gloria, que o deixou para que outrem o realisasse.

N'isto mostrou o seu desinteresse.

Não tem a vaidade de ligar o seu nome áquelle projecto; o que quer é que elle se realise.

Sacrificou-se apenas a uma idéa, o que é raro em Portugal.

O sr. Manuel Vaz dissera que elle, orador, recebia todos os dias o incenso da opposição progressista.

O sr. Henrique de Macedo: - Não está mau incenso.

O Orador (continuando): - Procure o sr. Manuel Vaz na imprensa progressista, e lá verá o incenso que recebeu.

Poucos ministros foram mais atacados com epithetos burlescos, alguns dos quaes com o risco de ficar, o que lhe não importa. (Riso.)

O que o digno par póde dizer é que elle, orador, encontrou amigos em todos os partidos, o que naturalmente procede do desejo que tem de não offender nem beliscar o amor proprio de pessoa alguma.

Encontrou no seu ministerio funccionarios progressistas que lhe prestaram o maior apoio no trabalho com relação, no projecto do porto de Lisboa.

O sr. visconde de S. Januario dedicou, durante tres mezes, a maior parte dos dias a esse projecto.

O sr. João Chrysostomo de Abreu e Sousa, respeitabilissimo membro do partido progressista, fez-lhe a honra de cooperar comsigo no seu gabinete.

Debaixo d'este ponto de vista é que foi incensado pelo partido progressista.

O sr. Vaz Preto: - Quando se tratou aqui das explicações relativas á crise politica, disse eu que achava pouco correcto o procedimento do governo, ao passo que me parecia muito leal o de v. exa., e por isso lhe queimava incenso.

O Orador (continuando): - O sr. Manuel Vae pediu explicações ao governo sobre a crise; o sr. presidente do conselho deu-as completas.

A questão dos caminhos de ferro não prejudicou as boas relações entre os ministros que compunham o gabinete. Houve uns certos factos, a que não tem necessidade de se referir, que determinaram alguma divergencia, a qual por fim se desvaneceu, Elle, orador, é completamente solidario com as resoluções do governo, não só elle, mas tambem o sr. Lopo Vaz.

Perguntou o sr. Manuel Vaz porque não mandou construir o caminho de ferro da Beira Baixa por conta do estado, e se entreteve com os negocios da companhia de norte e leste.

Estão ali pessoas que, pela sua posição official, podem, provar o contrario.

O ministerio das obras publicas achou-se n'uma certa epocha, em divergencia com aquella companhia n'um ou