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SESSÃO N.° 27 DE 2 DE MARÇO DE 1904 291

metros abaixo da fluctuação podem fazer serviço.

É facto que os navios d'esta tonelagem os não usam abaixo da linha de agua mas com poucas excepções tambem o não usam acima, e recentemente uma determinação do almirantado inglez prohibiu o uso d'estes tubos acima da fluctuação mesmo nos grandes couraçados.

Na guerra chino japoneza os chinezes viram-se forcados a lançar os torpedos ao mar para que estes lhes não rebentassem dentro do navio.

O que é incontestavel é que o systema é mais prejudicial para quem o use do que para aquelles contra quem se pretende usar, admittindo-se unicamente nos torpedeiros e contra torpedeiros em que são a sua principal arma.

Já vê a Camara que o D. Amelia não merece elogio, antes bem pelo contrario.

Concluindo as suas considerações diz que o Sr. Ministro da Marinha não pode ficar callado ante esta discussão. Tem de proceder e vêr se quem tem razão são os que accusam o Sr. Croneau se pelo contrario são os que o defendem.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Digno Par o Sr. Ferreira do Amaral, mas como faltam apenas 10 minutos para a hora de se entrar na ordem do dia, é possivel que S. Exa. prefira dar começo ás suas considerações na sessão seguinte.

O Sr. Ferreira do Amaral: - Em resposta ás observações do Sr. Presidente, dirá que, por certo, occupará mais dos 10 minutos que faltam para a ordem do dia e ainda muito mais do que a meia hora destinada ás discussões antes da ordem do dia. Ser-lhe-hia por certo mais agradavel que esta discussão se realizasse n'uma sessão porque assim as considerações que tem que fazer poderiam ser seguidas e continuas; mas, como a sua intenção não é produzir um effeito oratorio, e o que tem a dizer se baseia em factos positivos e observados de visu, sobre o que se tem passado no Arsenal de Marinha, á testa do qual se encontra, sujeita-se de bom grado ás indicações do Sr. Presidente.

Se esta questão não tivesse vindo ao Parlamento, talvez se estranhasse que elle, orador, entrasse n'ella; mas mesmo na conjunctura actual, não quer deixar de observar que, aqui n'esta Camara, não é o inspector do Arsenal de Marinha.

Entretanto, e como em tudo queira observar a correcta linha de conducta .que segue na sua vida particular, dirá tambem que, emquanto o Sr. Ministro da Marinha não disse da sua justiça, entendeu que a sua obrigação era conservar se calado. Crê que nem S. Exa. nem a Camara precisam de que se explique mais para comprehenderem quanto seria inconveniente se procedesse de outra forma.

Teve esta questão Croneau principio nas considerações feitas na outra Camara por um Sr. Deputado; mas não será ás observações d'esse Sr. Deputado que elle, orador, se referirá, pois ainda é do tempo em que n'uma Camara não se faziam referencias ao que na outra se dizia, nem se reptavam oradores de uma para outra assembleia legislativa.

Desde, porem, que a questão está levantada n'esta Camara elle, orador, pode largamente discutil-a, sente-se muito á votade e, se ha occasião em que dê graças á Divina Providencia, por ter voz aqui, é certamente esta, pois crê poder demonstrar que as accusações feitas ao Sr. Croneau são desmentidas pelas factos e com o apoio de officiaes de marinha, cuja respeitabilidade está acima de toda a critica.

Se lhe perguntarem se é conscienciosa a opinião dos Dignos Pares que teem tratado esta questão, dirá que sim e não precisaria mesmo affirmal-o porque todos reconhecem a inteireza do seu caracter.

Entrando no assumpto propriamente dito, vae dizer tambem, porque n'este paiz tudo é preciso dizer; o mesmo que disse o Digno Par o Sr. Jacinto Candido. Todas as suas relações pessoaes com o engenheiro Croneau datam exclusivamente do dia em que tomou conta da inspecção do nosso Arsenal de Marinha. Dos engenheiros navaes portuguezes não tem aggravos, nem publicos nem particulares; as opiniões que tiver a respeito de um ou de outro teem o valor de uma opinião insuspeita, visto que se deixa guiar por um sentimento de absoluta justiça.

O Digno Par Sr. Jacinto Candido começou por apontar qual tinha sido a necessidade de trazer para o nosso Arsenal de Marinha uma direcção technica que tivesse por base a sciencia, a experiencia e a pratica de construir navios segundo os preceitos modernos.

O estado do nosso Arsenal de Marinha quando o Sr. Croneau veio tomar conta da direcção d'aquelle estabelecimento descreve-se em poucas palavras. Para concertar a corveta Affonso de Albuquerque e a canhoneira Rio Lima foi preciso mandal-as a Inglaterra. Não muito tempo antes, quando o couraçado Vasco da Gama bateu n'uma pedra á entrada da barra, foi preciso ir a Inglaterra para lhe cravarem uma chapa nova, mas antes teve de entrar no dique, onde se adaptou ao rombo um taboado com que elle pudesse ir ali receber fabrico.

Duas cousas lhe disse o engenheiro inglez, de duas cousas se admirou: a primeira, a perfeição com que tinha sido feito esse remendo de tabuas de modo a um navio ter atravessado o mar sem fazer agua; a segunda, que não houvesse entre nós quem soubesse cravar uma chapa no fundo de um navio.

Estes são os factos que dão ideia do estado em que estava o nosso Arsenal e não se diga que isto era devido a desacertos. Os proprios engenheiros navaes tinham esta opinião, que muito os honra, porque nada ha mais digno e mais proprio do que dizerem que não sabem, e nada menos sympathico que menos possa falar ao coração de gente de bem do que ouvir dizer: a mim não me ensinaram, mas eu sei.

Foi n'este sentido, foi n'esta absoluta carencia de meios que chegou o Sr. Croneau a Lisboa.

Mas permitta-lhe o Digno Par o Sr. Jacinto Candido, que elle, orador, aponte algumas circumstancias que se deram por occasião do contrato com o Sr. Croneau, o que se pensou quando se foi buscar aquelle senhor para vir para Lisboa. Pensou-se em transferir o Arsenal de Marinha para a margem sul, começaram-se a fazer estudos e a proporem-se obras hydraulicas que teriam de acompanhar a installação d'aquelle estabelecimento.

Prepararam-se as cousas para a construcção de um cruzador, um destroyer e de um guarda costas couraçado.

Ao effectuar-se este contrato, difficuldades de varias ordens fizeram que se reconhecesse a impossibilidade de fazer do Arsenal um estabelecimento quanto possivel á altura da missão que lhe estava destinada, e que o Sr. Croneau devia vir aqui propor quaes os melhoramentos a adoptar n'aquelle estabelecimento a fim de se poder proceder á construcção de tres navios que constituiam, n'essa occasião, os typos que os peritos indicavam mais convenientes á reconstituição da nossa esquadra.

Continua-se a affirmar que não ha planos, e a pugnar-se pela indispensabilidade de reorganizar a nossa marinha. Se o plano do Sr. Jacinto Candido é bom ou mau, isso é cousa para decidir, não n'esta Camara, mas em campo competente.

Desde o credito que começaram a ter os serviços e acção poderosa dos torpedeiros perante uma guerra naval, serviços e acção que na guerra actual em nada teem desmerecido da confiança que então se previa poderem ter essas maravilhosas machinas de destruição, guerra que terminará por uma completa revolução em todo o material naval de todas as nações do mundo, não ha me-