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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 1019

caminho. Infelizmente em Portugal ha muita cousa que fica no caminho.

Isto é deploravel!

A culpa de quem é?

Diz o sr. ministro que é dos proprietarios; outros dirão que é do governo; outros que é das commissões; eu creio que a culpa é de todos, é d'este desarranjo em que anda o paiz, d'esta falta em tratar das cousas a serio; não nos desculpemos uns com os outros, não joguemos n'este grave assumpto o jogo do empurra. Tratemos de remediar o mal, confessemos todos as nossas culpas, se é preciso, mas emendemo-nos e façamos alguma cousa util.

Se a peste caísse sobre nós deviam os medicos cruzar os braços e pôr-se á espera de que os tribunaes decidissem quem tinha sido o culpado de que esse flagello viesse e só depois tratar do mal?!

Fallou-se aqui com uma certa desconfiança das cepas americanas, e o digno par, o sr. Quaresma, foi de opinião que essas cepas não davam o resultado appetecido e trouxe o exemplo de umas cepas de Italia. Peço licença para dizer duas palavras a este respeito.

Está hoje reconhecido que ha um certo numero de cepas americanas que resistem á phylloxera; d'onde vem a duvida é se n'essas cepas appareceram phylloxeras. Mas o facto é que as vinhas resistem.

É verdade que mesmo as videiras reconhecidamente resistentes não vivem em todos os terrenos, nem com todos os climas, mas isso é uma questão de adaptação a que mais ou menos estão sujeitos todos os vegetaes. A bouganvillia, por exemplo, voltada para o norte morre, e voltada para o sul torna-se lindissima e cheia de vigor. Mas como todas as cepas americanas tem mais ou menos phylloxera, quando a videira morre suppõe-se que foi o parasita que a fez seccar.

Mas se é assim, porque resiste ella n'uns terrenos e não resiste n'outros, quando em todos se conserva coberta por enxames do terrivel animal?

Eu não quero cançar a camara. Agradeço a benevolencia com que me ouviu.

Peço ao sr. ministro que tome todo o cuidado no remedio que der a este grande mal; isto é uma guerra, e portanto é necessario defendermo-nos.

O sr. ministro das obras publicas deve chamar os agronomos, os homens experimentados que tenham estudado este assumpto, e perguntar-lhes o que ha de fazer; s. exa. livra assim a sua responsabilidade.

Eu creio que dou um conselho de amigo ao sr. ministro das obras publicas.

Tenho dito.

O sr. Ministro das Obras Publicas (Hintze Ribeiro): - Sr. presidente, vejo que o digno par o sr. conde de Bertiandos não está inteiramente de accordo com o digno par o sr. Quaresma, a quem eu tive a honra de responder na sessão passada.

O sr. conde de Bertiandos não descrê da efficacia do sulfureto de carbonio, nem da immersão; do que s. exa. descrê é da boa vontade e do sincero desejo que o governo tem de pôr em pratica esses meios de tratamento, para debellar o mal.

Creio que n'esta parte a descrença do digno par é baseada em informações insufficientes sobre a maneira porque o governo tem procedido n'este assumpto. O digno par descrê tambem da commissão central do Douro, e deseja que os serviços phylloxericos se organisem do mesmo modo como estão organisados em França, onde ha commissão central de París, as commissões departamentaes, as de vigilancia, emfim, onde este serviço está montado com uma certa regularidade que s. exa. deseja ver estabelecida em Portugal.

Ora nós temos a commissão central do Douro, organisada ali por ser a região mais affectada do mal; temos commissões em outros districtos e concelhos, que são as commissões de vigilancia; portanto já vê o digno par que a organisação do serviço phylloxerico em Portugal é analoga á da França.

A questão está em que todas estas commissões tomem a peito a iniciativa do governo no interesse de debellar o mal, e convirjam os seus esforços para esse fim. Mas isto não depende tanto da acção do governo como dos membros d'essas commissões, que têem de estar vigilantes para fazer denunciar o mal aos primeiros symptomas, a fim de ser logo combatido e atalhado.

O digno par suppõe tambem que o governo tem cruzado os braços em presença do flagello. É infundada essa sua supposição, pelo contrario o governo tem tratado de cumprir a lei de 1880. Logo que tem conhecimento de que o mal se manifesta em qualquer vinha, manda immediatamente proceder a uma inspecção, como fez em Leiria, Coimbra e Ourem, e em muitas partes onde tem chegado a phylloxera, para se applicar promptamente o tratamento devido.

Já se vê, pois, que não tem rasão de ser a persuasão do digno par, quando julga que o governo não tem empregado os meios necessarios para debellar o mal. Não tenho demorado um momento esta questão.

Têem sido enviados para as regiões atacadas, e tenho ordenado tudo que é necessario para que não seja por falta de tratamento prompto e rapido que a molestia progrida, indo o mais promptamente que é possivel, homens praticos ensaiar os meios mais efficazes nas regiões onde apparece a phylloxera.

O sr. Conde de Bertiandos: - Já se arrazaram os fócos em Leiria?

O Orador: - Devo dizer que em Leiria não só se tem arrazado vinhas que se acham muito atacadas, mas tem-se tambem applicado o sulfureto de carbonio em grandes doses.

Já vê o digno par que os seus desejos, muito louvaveis, são secundados pela vontade do governo, que n'esta questão não faz politica.

O governo e os homens experimentados, sem desconhecer os interesses que têem os proprietarios e viticultores, espera que todos, sem intuito partidario, hão de empregar os maiores esforços para vencer o mal.

Todos os meios de tratamento que a sciencia aconselha têem sido empregados e continuarão a ser; tanto quanto estiver ao alcance do governo, e n'este ponto não posso deixar de prestar um testemunho de louvor á commissão central do Douro, porque na verdade tem sido incansavel em applicar todos os meios de tratamento que se consideram mais efficazes, no intuito de extinguir o mal.

Creia o digno par que se forem necessarios outros meios hão de ser adoptados.

Agora mesmo estou tomando algumas providencias a fim de dotar o serviço de vigilancia e tratamento com a largueza indispensavel.

O digno par terá occasião de reconhecer pelos seus proprios olhos que o governo, longe de ter descurado este assumpto, lhe tem prestado toda a attenção.

(O orador não reviu este discurso.}

O sr. Visconde de Sieuve de Menezes: - Requeiro a v. exa. que consulte a camara se quer que se prorogue a sessão de hoje até ás seis horas.

Consultada a camara, approvou o requerimento do sr. visconde de Sieuve de Menezes por 33 votos contra 28.

O sr. Ornellas: - Tenho a honra de mandar para a mesa um parecer da commissão de negocios externos sobre o projecto de lei que eleva o consulado geral em Tanger a missão diplomatica.

Foi a imprimir.

O sr. Telles de Vasconcellos: - Mando para a mesa um parecer da commissão de administração publica sobre o projecto de lei que determina que a povoação de Barrellas, do concelho de Fraguas, passe a denominar-se