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1120 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Aqui está como a questão devia ser posta.

Eu desculpo o sr. ministro dos negocios estrangeiros n’esta parte até certo ponto. S. exa. desejava ser agradavel ás duas nações que queriam intervir amigavelmente para solução d’esta questão.

Estava convencido de que tratava com duas nações, que, se eram poderosas, não deviam ser menos cavalheirosas. Poz a parte as negociações mesquinhas, elevou-se á altura da situação.

Confiando na dignidade e no brio d’aquellas nações, não quiz tratar o negocio sob o ponto de vista do ut des, quer desinteressadamente satisfazer aos pedidos d’aquellas nações. Assim ellas pediram-lhe que entregasse o Kilwa, e o sr. Barros Gomes promptamente entregon o Kilwa, e não pediu, como devia, a indemnisação de guerra.

A hora deu, e eu desejava concluir; permitta-me a camara que eu ainda diga duas palavras para terminar estas minhas considerações.

Eu não quero fazer obstrucionismo, mas sim tratar uma questão importantissima para Portugal, e que affecta a nossa dignidade e interesses.

Mas, sr. presidente, eu acho que esta questão que é importantissima e que diz respeito á dignidade do paiz e aos seus interesses, deve ser tratada com certa largueza.

Eu não quero censurar o sr. ministro dos negocios estrangeiros, porque se deixou illudir por aquellas duas grandes nações. S. exa. andou cavalheirosamente; o vergonhoso de tudo isto, por certo, não affecta o ministro de Portugal.

Esta lição, comtudo, deve-lhe servir para o futuro. Deve-se convencer que as nações como os individuos, deixam-se arrastar pelos interesses, a ponto de desconhecerem os sentimentos nobres e elevados que as deviam guiar.

S. exa. deve lembrar-se que a questão tinha sido retirada do campo da diplomacia para. o terreno das armas, e que posta n’este terreno, o modo de tratar e a solução devia ser outra.

Desde que se recorreu ás armas, não podiamos negociar um tratado, sem definir e marcar limites. Os limites n’este caso quem os define e marca são as armas, é o resultado da guerra.

Portanto, na hypothese dada nada mais tinha a fazer do que exigir do Sultão o reconhecimento do nosso dominio e posse do Tungue e Meningane e pedir uma indemnisação de guerra; pedido este que o sr. ministro devia ter feito immediatamente.

Apresenta se a Inglaterra e a Allemanha a quererem prestar os seus bons officios; o sr. ministro devia agradecer lhes, pôr-lhes a questão tal qual ella è, e dizer-lhes que teria grande satisfação em que ellas contribuissem com o sultão para que acceitassem as condições, sem o que continuariam as hostilidades.

Sr. presidente, sustentemos o nosso direito com a justiça que nos assiste, e firmes e inabalaveis não cedamos senão á força.

O que não julgo admissivel e o que revolta, sobretudo é, que a Inglaterra e a Allemanha venham pedir e exigir satisfações para o sultão de Zanzibar, depois de termos sido considerados por elle e depois de nos haverem aquellas potencias reconhecido direitos que contestam agora!!!

Nós é que temos direito 4e pedir ao sultão de Zanzibar uma satisfação completa e uma indemnisação pelas despezas de guerra.

Sr. presidente, a minha opinião é que devemos conservar o dominio e posse de Tungue e Meningane, e não ceder uma pollegada de territorio recuperado; a minha opinião é que nos cumpre fazer valer os nossos direitos, mostral-os bem claramente á Europa inteira, e não largar aquellas posições, excepto se formos vencidos pela força.

E necessario que se saiba em toda a parte a maneira pouco digna e nada correcta com que n’esta questão nos trataram duas nações que se dizem amigas, mas que só tiveram em vista de nos esbulhar do que nos pertencia e de fazer diminuir o nosso poder e prestigio n’essas longinquas regiões, que tantos sacrificios e sangue custaram aos nossos maiores, aos antigos portuguezes de antes quebrar do que torcer, que as descobriram e implantaram n’ellas a bandeira das quinas e religião do martyr de Golgotha.

Sr. presidente, vou concluir, aconselhando ao sr. ministro dos negocios estrangeiros que não ceda ás pretensões humilhantes de Inglaterra; que não entregue Tungue nem Meningane; e que se a Inglaterra quizer continuar á viva. forca a explorar-nos, faça um manifesto á Europa justo e serio, patenteando bem os meios baixos a que tevi descido essa nossa alliada para se apoderar de tudo quanto tornou grande e conhecido o nosso nome.

O sr. Presidente: — A ordem do dia para amanhã é a continuando da de hoje, incluindo o parecer relativo aos cereaes. A sessão deverá começar á uma hora. Em sendo hora e meia entra-se na discussão da pareceres sobre assumptos militares, que são constitucionaes e não podem soffrer adiamento. Um d’elles ha de voltar á outra camara.

Depois continuar-se-ha o presente debate, se o sr. ministro dos negocios estrangeiros poder estar presente, devendo a sessão terminar ás cinco horas.

O sr. Ministro dos Negocios Estrangeiros (Barros Gomes):— Amanhã não me será possivel comparecer antes das quatro horas; mas a essa hora aqui virei, e se a camara resolver que a actual discussão continue, estarei tambem presente nos outros dias, conforme for necessario.

O sr. Presidente: — Está levantada a sessão.

Eram cinco horas e quinze minutos da tarde.

Dignos pares presentes na sessão de 26 de junho de 1888

Exmo. sr. Antonio José de Barros e Sá; Marquez de Vallada; Condes, de Alte, do Bomfim, de Campo Bello, de Ficalho, de Linhares, de Paraty, de Castro; Viscondes, de Azarujinha, de Benalcanfor, de Bivar, de Carnide, de S. Januario, de Porto Formoso, de Valmor; Agostinho Lourenço, Ornellas, Braamcamp Freire, Antunes Guerreiro, Senna, Oliveira Monteiro, Serpa Pimentel, Costa Lobo, Bernardo de Serpa, Carlos Tenta, Sequeira Pinto, Hintze Ribeiro. Fernando Palha, Cardoso de Albuquerque, Margiochi, Barros Gomes, Candido de Moraes, Holbeche, Andrada Pinto, Gusmão, Bandeira Coelho, Baptista de Andrade, Costa Pedreira, Navarro de Paiva, Macedo Pinto, I Castro, Silva Ripado, Lobo d’Avila, Ponte Horta, José Pereira, Silvestre Ribeiro, Bocage, Camara Leme, Luiz Bivar, Vaz Preto, Franzini, Miguel Osorio Cabral, D. Miguel Coutinho, Silvestre Lima, Costa e Silva, Thomás Ribeiro.

Redactor = Fernando Caldeira.