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REPÚBLICA
PORTUGUESA
DÍÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
SESSÃO EXTRAORDINÁRIA N." 10-A
1013-1OJ4
EM 23 DE NOVEMBRO DE 1914
Presidência do Ex.mo Sr. Yitor HHgo de Azevedo Coutmbo
Secretários os Ex,mos Srs,
Sumário.—Feita a chamada, abre a sessão com a presença de 85 Srs. Deputados, achando-se o Governo representado pelos Srs. Ministros dos Estrangeiros (Freire de Andrade} e da guerra (Pereira de E ca).
*
£J lida e aprovada a acta da sessão anterior.
O Sr. Presidente do Ministério (JBernardino Machado} lê o relatório da proposta de lei que autoriza o Poder Executivo a intervir militarmente na actual luta armada internacional como aliado da Inglaterra e lê em seguida a nota ilucidativa desta proposta de lei, redigida de acordo entre os Governos Português e Britânico, e na qual se reconhece a vantagem desta atitude para uma e outra nação.
É aprovado que a proposta ministerial entre imediatamente em discussão. Usada palavra o Sr. Machado Santos. Segue-se no uso da'palavra o Sr. Afonso Costa. Fala o Sr. António José de Almeida. O Sr. Brito Camacho usa da palavra. O Sr. Alexandre Braga apresenta em nome do seu partido uma moção em que saúda o exército de terra e mar e que é aprovada por unanimidade. O Sr. Manuel José da Silva manda para a mesa uma declaração de voto. O Sr. Presidente do Ministério (Bernardino Machado) associa-se às palavras de saudação da moção do Sr. Alexandre Braga, associando-se igualmente a elas os Srs. Mesquita Carvalho, Machado Santos e Brito Camacho.
E a proposta ministerial aprovada por unanimidade. Interrompe-se a sessão, a Am de aguardar a resolução do Senado. Reaberta a sessão, usa da palavra o Sr. Presidente do Ministério (Bernardino Machado} que termina por saudar o Povo Português, erguendo um viva à República Portuguesa. Produz-se uma entusiástica manifestação na sala e nas galerias da Gamara, sendo aclamado o Sr. Ministro da Inglaterra em Portugal, que se achava na tribuna do corpo diplomático.
E a sessão encerrada.
Baltasar de Almeida Teixeira Alexandre Augusto de Barros
Abertura da sessão às 14 horas e ôô minutos.
Presentes 8ô Srs. Deputados.
São os seguintes:
Adriano Cromes Ferreira Pimenta.
Afonso Augusto da Costa.
Alberto de Moura Pinto.
Alberto Souto.
Albino Pimenta de Aguiar.
Alexandre Augusto de Barros.
Alfredo Ernesto de Sá Cardoso.
Alfredo Guilherme Howell.
Alfredo Maria Ladeira.
Alfredo Rodrigues Gaspar.
Álvaro Nunes Ribeiro.
Álvaro Xavier de Castro.
Américo Olavo de Azevedo.
Aníbal Lúcio de Azevedo.
António Alberto Charula Pessanha.
António Aresta Branco.
António do Carvalhal da Silveira Teles de Carvalho.
António Joaquim Ferreira da Fonseca.
António José de Almeida.
António José Lourinho.
António Maria de Azevedo Machado Santos.
António Maria da Cunha Marques da Costa.
António Maria Malva do Vale.
António de Paiva Gomes.
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Diário da Câmara dos Deputados
António Ribeiro de Paiva Morão.
António Silva Gouveia.
Augusto Cimbron Borges de Sousa.
Augusto José Vieira.
Augusto Pereira Nobre.
Baltasar de Almeida Teixeira.
Bernardo de Almeida Lucas.
Caetano Francisco Cláudio Eugênio Gonçalves.
Carlos Maria Pereira.
Carlos Olavo Correia de Azevedo.
Domingos Leite Pereira.
Eduardo de Almeida.
Emídio Guilherme Garcia Mendes.
Ernesto Carneiro Franco.
Fernando Baeta Bissaia Barreto Rosa.
Francisco Correia Herédia (Ribeira Brava).
Francisco Cruz.
Francisco Joaquim Ferreira do Amaral.
Francisco José Pereira.
Francisco de Sales Ramos da Costa.
Gastao Rafael Rodrigues,
Germano Lopes Martins.
Guilherme Nunes Godinho.
Helder Armando dos Santos Ribeiro.
Henrique José dos Santos Cardoso.
Henrique Vieira de Vasconcelos.
João Barreira.
Joào Camilo Rodrigues.
João Luís Ricardo.
Joào Pedro de Almeida Pessanha.
Joaquim Lopes Portilheiro Júnior.
Joaquim Ribeiro de Carvalho.
José Augusto Simas Machado.
José Barbosa.
José de Barros Mendes de Abreu.
José Beása de Carvalho.
José Dias da Silva.
José de Freitas Ribeiro.
José Maria Vilhena Barbosa de Magalhães.
José Miguel Lamartine Prazeres da Costa.
José Perdigão.
José Tomás da Fonseca.
José Tristão Pais de Figueiredo.
José Vale de Matos Cid.
Jovino Francisco de Gouvêa Pinto.
Luís Augusto Pinto de Mesquita Carvalho.
Luís Carlos Guedes Derouet.
Luís Filipe da Mata.
Manuel de Brito Camacho.
Manuel Gregório Pestana Júnior.
Manuel Joaquim Rodrigues Monteiro. Manuel José da Silva. Miguel Augusto Alves Ferreira. Ricardo dos Santos Covões. Severiano José da Silva. Tomé José de Barros Queiroz. Vítor Hugo de Azevedo Coutinho. Vitorino Henriques Godinho. Vitorino Máximo de Carvalho Guimarães.
Entraram durante a sessão os /Srs.:
Alberto Xavier.
Alexandre Braga.
Alfredo Balduíno de Seabra Júnior.
Álvaro Poppe.
Angelo Rodrigues da Fonseca.
Angelo Vaz.
António Barroso Pereira Vitorino.
António Caetano Celorico Gil.
António Joaquim Granjo.
António Maria da Silva.
António Vicente Ferreira.
Aquiles Gonçalves Fernandes.
Artur Rodrigues de Almeida Ribeiro.
Carlos Amaro de Miranda e Silva.
Inocêncio Camacho Rodrigues.
João Barroso Dias.
João de Deus Ramos.
João Gonçalves.
João José Luís Damas.
João Pereira Bastos.
João Teixeira Queiroz Vaz Guedes.
Joaquim António de Melo Castro Ribeiro.
Joaquim José Cerqueh*a da Rocha.
Jor^e de Vasconcelos Nunes.
José António Simões Raposo Júnior.
José Cordeiro Júnior.
José Dias Alves Pimenta.
José Maria Cardoso.
José Montez.
José Nunes Tierno da Silva.
José da Silva Ramos.
Júlio do Patrocínio Martins.
Júlio de Sampaio Duarte.
Manuel Alegre.
Manuel Pires Vaz Bravo Júnior.
Pedro Virgolino Ferraz Chaves.
Philemon da Silveira Duarte de Almeida.
Rodrigo José Rodrigues.
Tiago Moreira Sales.
Urbano Rodrigues.
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Sessão de 23 de Novembro de 1914
Não compareceram à sessão os Srs.:
Afonso Ferreira.
Alexandre José Botelho de Vasconcelos e Sá.
António Albino Carvalho Mourao.
António Amorim de Carvalho.
António Augusto Pereira Cabral.
António França Borges.
António dos Santos Silva.
Artur Augusto Duarte da Luz Almeida.
Aureliano de Mira Fernandes.
Casimiro Rodrigues de Sá.
Damião José Lourenço Júnior.
Fernando da Cunha Macedo.
Francisco de Abreu Magalhães Couti-nho.
Francisco Luís Tavares.
Henrique Ferreira de Oliveira Brás.
João Carlos Nunes da Palma.
João Duarte de Meneses.
João Fiel Stockler.
Joaquim Basílio Cerveira e Sousa de Albuquerque e Castro.
Joaquim Brandão.
Joaquim José de Oliveira.
José Botelho de Carvalho Araújo.
José Jacinto Nunes.
José Pereira da Costa Basto.
Pedro Alfredo de Morais Rosa.
Pedro Januário do Vale Sá Pereira.
Rodrigo Fernandes Fontinha.
Às 14 horas e 65 minutos.
O Sr. Presidente:—Estão presentes 85 Srs. Deputados. Está aberta a sessão. Vai ler-se a acta da última sessão.
É lida a acta.
O Sr. Presidente: —Está em discussão. Pausa.
O Sr. Presidente : — Como ninguém pede a palavra, conaidera-se aprovada. Foi aprovada a acta.
O Sr. Presidente:—Tendo o Poder Executivo convocado esta sessão extraordinária, vou dar a palavra ao Sr. Presidente do Ministério para S. Ex.a expor as razões desta convocação. Tem a palavra o Sr. Presidente do Ministério.
O Sr. Presidente do Ministério (Bernar-dino Machado): —Sr. Presidente : durante anos sucessivos, lidando com ardor pela
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conquista das liberdades cívicas, fizemos amorávelmente a campanha generosa da atracção de todos os portugueses em volta da bandeira sagrada do ressurgimento nacional. Mas um momento chegou em que, até pelas próprias imposições da nossa solidariedade patriótica, fomos resolutamente para a revolução de 5 de Outubro. E é com orgulho que hoje apontamos ao mundo pára a nossa República.
Igualmente, desde o advento do novo regime, que nos restabeleceu, dentro e fora do país, a continuidade da vida histórica, temos procurado sempre fazer uma política externa de concórdia e dignidade, e nenhum ódio nos move para com qualquer outra nação.
Neste transe, porem, de angustiosa luta internacional, tam decisivo para a independência e segurança dos povos, não há ninguém, entre nós, cônscio dos deveres imperativos do nosso destino, que não sinta que o nosso glorioso património,, material e moral, corre os maiores perigos, se os não conjurarmos previdentemente, cimentando a todo o custo, ainda mesmo com sacrifício do sangue, a solidariedade secular entre Portugal e a Inglaterra, base imprescindível da nossa progressiva valorização mundial, com esse firme propósito, bem patente na expontânea declaração aqui expressa pelo Governo, em 7 de Agosto, com o assentimento solene do Congresso e do povo, concertamos com o Gro-vôrno inglês prestar-lhe, alem de todos os demais serviços ao nosso alcance, o concurso militar a que ele, significando-nos nobremente o alto apreço em que o tem, nos convida (Apoiados^.
E certos de que, seja qual for a campo onde a República Poatuguesa haja de zelar o prestígio da nação, ela não hesitará nunca, nem um só instante, em ocupar o lugar de honra que, em defesa dos nossos próprios direitos, ao lado da nossa eminente aliada, lhe pertença, vimos resolutamente também apresentar, obedecendo à Constituição, a seguinte
Proposta de lei
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cias extraordinárias que as circunstâncias de momento reclamem.
Vou ler agora a nota elucidativa do presente projecto, redigida de acordo entre os Governos Português e Britânico:
«Logo ao princípio da guerra, Portugal afirmou expontâneamente que estava pronto, como aliado da Gran-Bretanha, a dar--Ihe todo o concurso. O Governo Inglês, apreciando altamente cate claro testemunho de cordial solidariedade, convidou, com entranhável reconhecimento, o Governo Português a contribuir de facto, consoante entre ambos se estipulasse, com a sua cooperação militar. E, por ôste modo, os dois Governos assegurarão os fins da aliança há séculos já subsistente entre as suas nações, cuja manutenção tanto é do interesse comum como duma e doutra».
Sr. Presidente: pedia a V. Ex.a a fineza de consultar a Câmara sobre se dispensa, para esta proposta de lei, as formalidades do Regimento a fim de ela entrar desde já em discussão.
Tenho dito.
Consultada a Câmara,, foi autorizada a urgência e dispensa do Regimento,
O Sr. Presidente: — Esta proposta de lei contêm apenas um artigo e por isso recai sobre ela uma só votação.
Está em discussão.
Tem a palavra o Sr. Deputado Machado Santos.
O Sr. Machado Santos:—Sr. Presidente: quando o Governo do Sr. Bernardino Machado compareceu nesta Câmara, na sessão de 7 de Agosto findo, para nos pedir a larga autorização parlamentar que nós lhe concedemos por unanimidade, creio eu que foi a minha voz a única que se ergueu nesta sala do Parlamento para invocar o exemplo da Bélgica e da França, que, invadidas pelos exércitos germânicos, entenderam ser necessário que nos governos dos respectivos países se encontrassem representantes de todas as correntes da opinião piiblica.
Decorridos três meses e meio, vejo o mesmo Governo vir aqui, não para pedir que reconheçamos o cumprimento dos tratados de aliança subsistentes com a In-
glaterra, mas sim autorização para que os possa cumprir.
Cumpre-me declarar, Sr. Presidente, que dou o meu voto a essa proposta do Governo, e dou-lho em nome dos meus eleitores e em nome da corrente de opinião pública que me segue.
O Governo que termine a sua obra, já que a começou.
Portugal é um país demasiado pequeno para que possa andar todos os dias a levar homens ao Capitólio e a perdê-los em. seguida, despenhando-os da Rocha Tar-peia.
O Governo do meu país pode contar com o meu esforço e com a minha vida para aquilo que for necessário.
Tenho dito (Muitos apoiados).
O orador não reviu.
O Sr. Afonso Costa: — Sr. Presidentes a proposta que acaba de ser lida na Mesa representa o corolário lógico da resolução parlamentar de 7 de Agosto findo, e o que hoje se nos pede não são palavras, nem mesmo aquelas que possa ditar o sentimento mais puro e elevado. O que hoje se nos pede não são palavras, mas actos, o primeiro dos quais — base constitucional dos outros — é o voto do Parlamento, voto que eu desejo seja unânime, para se sentir não apenas dentro das fronteiras, mas ao mundo inteiro, que Portugal cumpre sem hesitar, com serenidade e firmeza,, sem excluir o próprio entusiasmo, os seus deveres de nação livre, mas, ao mesmo tempo, aliada da Inglaterra (Muitos apoiados).
Eu trago o meu voto à proposta do Governo porque a proposta assenta sobre a base das negociações com a Inglaterra, as quais constam, em resumo, da nota que acompanha a proposta e que traduz, ao mesmo tempo, o profundo respeito, recíproco, das duas nações, e o entranhado afecto que as une e que vai consolidar-se e fortificar-se na mais perfeita e estreita solidariedade até no campo militar.
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Sessão de 23 de Novembro de 1914
fazem prenunciar que o Portugal novo que nós fundámos em 1910, com o estabelecimento da República, encontrou na hora, ao mesmo tempo trágica e convulsionada da actual guerra europeia, a base mais firme do seu desenvolvimento rápido e progressivo (Muitos apoiados}.
Não se é grande senão sofrendo, e o que se nos pede e o que estamos dispostos a fazer deliberadamente é sofrer pelo direito, é sofrer pelo dever e é trabalhar, como geração sacrificada, pela vitória, pelo progresso, pela expansão, pela cultura e pela civilização das gerações portuguesas que nos sucederem (Muitos apoiados).
Deste lugar, Sr. Presidente, e em nome do partido a que pertenço, deixe-me V. Ex.a saudar carinhosamente a nossa aliada, a Inglaterra, representada aqui peio seu ilustre Ministro em Portugal, que quis vir, com a sua presença, significar a estreita intimidade, não apenas de relações, mas de afectos, mas de compromissos, mas de obrigações mútuas e recíprocas que nos i tem unido à Inglaterra, e que agora ficam solidificadas para sempre, como a amizade que une dois irmãos. ,
Saúdo mais as outras nações que ao lado da Inglaterra, e, sob a sua superior direcção neste conflito entre o passado e o futuro, se estão batendo pelo Direito, pelo Progresso e pela Civilização, e que estão sofrendo infinitas dores que só podem ter como resgate o futuro liberto e progressivo da raça latina e anglo-saxónia, que fundaram a civilização e, com ela; a felicidade dos povos em bases indestrutíveis (Apoiados),
Sr. Presidente: Portugal foi sempre forte nas suas aspirações de progresso e prestou ao mundo, pelo seu esforço, serviços que — posso dizer sem menoscabo de ninguém e de nenhum país — ainda nenhum povo igualou. Agora é chamado a concorrer para o estabelecimento definitivo do Direito e da Paz e até — quero esperá-lo — do desarmamento universal. E com entusiasmo que o povo democrático do extremo ocidente da Europa cumpre o seu dever, sabendo bem que'o cumpre através de sacrifícios infinitos de ordem moral e também de sacrifícios de vidas que nos são caras, que farão o luto em muitas famílias, mas que terão uma compensação que nenhuns outros podem encontrar, nem igual, nem semelhante, em qualquer outro
lance da vida dum povo ou da vida dos indivíduos (Muitos apoiados').
Eu saúdo o Portugal que ressurgiu em 1910 e que conquistará as suas esporas de ouro, agora que, em frente duma grande dificuldade, a vai resolver.
Quero exprimir o pensamento de que não vejo que Portugal se afirme como ele é e como quere ser, senão tomando parte nos combates que se travam na Europa, para onde todo o mundo olha e onde o esforço de um representa o esforço de cem ou de mil, quando realizado em qualquer outra parte. E não que nós descuremos ou esqueçamos os nossos primeiros e essenciais deveres de defender o nosso território continental ou colonial, onde quer que seja ameaçado ou invadido; mas, independentemente desse nosso dever imediato, directo e instante, nós temos de realizar um outro, e esse nos campos da batalha da Europa, onde se afirmará quem existe ou não existe. (Muitos apoiados).
Eu desejo que Portugal cumpra também esse dever, porque quero que a República Portuguesa exista na consideração do mundo inteiro, de todos os povos, de todas as civilizações e de todos os tempos, pelo procedimento que adoptarmos. (Apoiados).
Tenho dito.
O orador não reviu.
Vozes:—Muito bem, muito bem!
O Sr. António José de Almeida: — Ouviu atentamente a mensagem presidencial e a proposta de lei que, em nome do Governo, foi presente à Câmara e se não fosse a gravidade do momento e a excepcional importância do assunto que o obrigam a proferir algumas palavras, podia sintetizar em duas a resposta que o partido evolucionista entende dever dar.
A proposta dizia simplesmente que a votava e à mensagem que a confirmava, porque o partido evolucionista entende que é uma prova de patriotismo acompanhar o Governo, e desde as suas declarações feitas na sessão de 7 de Agosto até hoje, através duma intensa campanha jornalística, nem numa linha tem de arrepender-se das opiniões afirmadas ou atenuar o que, apesar duma oposição veemente, entendeu dever dar ao Governo.
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que somos um país podre e desmantelado, entremos na fornalha ardente onde se estão caldcnndo os destinos de tantas nações o contribuamos com todo o esforço pela causa da liberdade e da justiça.
A sua atitude tem sido de patriota e se Portugal estivesse DO estado em que devia estar, entendia que o exército devia ir imediatamente tomar lugar no campo da batalha, onde haveria um pedaço de campo em que se projectasse a sombra da nossa bandeira.
Profetiza para o final da guerra uma hora festiva, porque desde que se ataca a crueldade e a chacina é preciso que ela vá até o fim para que um direito novo e uma justiça nova se firmem de maneira que não possa mais haver aventureiros para aí levados pela sua ânsia do poder, porque sabem bem que a guerra é o complemento da traição, da cobardia, da de-laccào e da crueldade.
Crê, de facto, ter estabelecido bem os seus deveres de português que compreende bem o momento histórico.
A declaração do Governo é formal, não tem que ser discutida, só tem que ser respeitada. Respeita-a e felicita o Governo pela forma como foram conduzidas as negociações, que demonstram que a Ingla^ terra não só aceita, mas deseja a nossa cooperação, porque sabe que somos alguém, que o nosso exército há-de saber honrar a sua bandeira e que ela se apresentará com brilho ao lado dos estandartes dos aliados.
Tudo isso sabe a Inglaterra e por isso mesmo nos convida a contribuir com o nosso esforço militar, e ele, orador, que viu os documentos trocados entre as duas chancelarias, pode assim afirmar que ela não só pede o nosso concurso, mas o deseja pela forca moral que esta Pátria, redimida em 1910, tem direito a dar ao lado daqueles com quem combateu em nome do direito e da justiça.
Não tem dúvidas sobre o valor dos nossos soldados, como as não tem a Ingla-terra_e as não tem a Alemanha, que, pela mão do seu imperador, colocou ao peito dum dos nossos militares uma das suas mais superiores comendas, para atestar o respeito que tinha pelo nosso exército.
O discurso será, publicado na íntegra guando o orador restituir as notas taqui-gráficas.
Diário da Câmara dos Deputados
O Sr. Brito Camacho : — Os Deputados da União Republicana votam a proposta que, em nome do Governo, foi apresentada pelo Sr. Presidente do Ministério.
Haverá que praticar, actos preparatórios duma possível intervenção militar e nós desejamos que se pratiquem todos os que forem necessários; mas se a honra da nação e a defesa dos seus interesses fossem ainda compatíveis com o statu quo, nós desejaríamos que ele se mantivesse, porquanto a situação criada em 7 de Agosto reputámo-la perfeitamente digna e de todo o ponto conveniente.
Que acima de tudo coloquemos a honra da nação e por ela façamos todos os sacrifícios, na convicção de que sempre a honra dum povo é compatível com os seus legítimos interesses.
Vozes : — Muito bem, muito bem.
O Sr. Alexandre Braga: — Como muito bem disse o Sr. Afonso Costa, o momento não é para palavras, mas para resoluções.
Estou certo de que a nossa votação vai ser unânime.
Mas, para que ela se efective em realização, um factor novo tem de intervir: o nosso exército de terra e mar.
Das suas tradições gloriosas ninguém duvida; e é ás suas mãos que nós vamos, neste momento, confiar a nossa honra, a tradição e a glória do nosso passado, e a segurança e garantia da nossa vida nobre e livre no futuro.
É um dever lembrá-lo no lance, sobre todos soberbo, em que. ele vai encontrar, como nunca, uma situação de nobreza e de glória combatendo no campo em que agora se batalha pela conquista da paz de mundo, pela defesa e pela salvação duma civilização feita à custa de tanto sangue e de tanta lágrima na sua dolorosa ascenção através da História da Humanidade.
Sr. Presidente: eu tenho a honra de propor à aprovação da Câmara e em nome do meu partido a seguinte
Moção
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integridade, a honra e o futuro da República Portuguesa.
O orador não reviu.
Lida na Mesa, foi admitida, ficando em discussão juntamente com a proposta de lei.
O Sr. Manuel José da Silva: — Sr. Presidente : é simplesmente para enviar para a mesa a seguinte declaração de voto :
Leu.
O Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior (Bernardino Machado): — Sr. Presidente : é para fervorosamente, em nome do Governo, me associar â saudação proposta pelo eminente orador, Sr. Dr. Alexandre Braga, ao exército e à armada portugueses.
Vozes : —Muito bem, muito bem. O orador não reviu.
O Sr. Mesquita de Carvalho : — Uso da palavra, Sr. Presidente, simplesmente para declarar a V. Ex.a e à Câmara que o partido republicano evolucionista, não só pe-• Io seu voto, mas como declaração expressa, se associa à proposta de saudação apresentada pelo Sr. Deputado Alexandre Braga.
O orador não reviu.
O Sr. Brito Camacho : —Não tencionava usar da palavra sobre a proposta de saudação apresentada pelo Sr. Alexandre Braga e apenas dar-lhe o meu voto quando se procedesse à sua votação. Não obstante, já que se abriu o precedente, não quero também deixar de declarar que me associo inteiramente a essa saudação.
O orador não reviu.
O Sr. Machado Santos: — E também para declarar que absolutamente me associo à proposta do Sr. Deputado Alexandre Braga.
Foi lida na mesa a proposta do Sr. Alexandre Braga. Posta à votação, foi aprovada por unanimidade.
Foi lida na Mesa a proposta ao jSr. Presidente do Ministério. Posta à votação, foi aprovada por unanimidade.
O Sr. Presidente : — Dada u, urgência da proposta, se a Câmara mo permite, vou remetê-la imediatamente para o Senado.
Vozes: — Muito bem.
O Sr. Presidente: — Está interrompida a sessão.
Eram 16 horas e õõ minutos.
Reabriu a sessão às 17 horas e lõ minutos.
O Sr. Presidente:—Está reaberta a sessão. Peço aos Srs. Deputados o favor de ocuparem os seus lugares.
Pausa.
Todo o Ministério se encontra representado.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Presidente do Ministério.
O Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior (Bernardino í\i achado) :—-Sr. Presidente: é comovidamente que me orgulho com a honra que acaba de ter o Governo.
Foi votada por unanimidade em ambas as Câmaras a proposta de lei que trouxe ao Parlamento. E creio, srs. Deputados, que podemos dizer que estando todos unidos no cumprimento do nosso dever, temos tambGm conosco todos os patriotas e todos os republicanos. (Muitos apoiados).
Sr. Presidente: já saudámos o exercito e a armada; eu, deste lugar, saúdo também, em nome do Governo, o povo português !
Viva a Eepública Portuguesa!
O orador não reviu,
(Esta saudação foi correspondida nasala e nas galerias, sendo desfraldadas na galeria do centro as bandeiras da Inglaterra e de Portugal).
(O Sr. Ministro da Inglaterra em Por-tugal, que se achava na tribuna do corpo diplomático, é saudado com palmas e vivas ao seu pais).
O Sr. Presidente : — Está encerrada a sessão.
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Diário da Câmara dos Deputados
Telegrama
Boavista, 23, às 12 h. e 27. m.—Ex.mo Sr. Presidente Câmara Deputados.—Doença grave de pessoa de família não me permite comparecer sessão hoje ; peço V.Ex.a
e Câmara relevem minha falta.= O Deputado, João Palma.
Para a Secretaria. Para a acta.