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Sessão de 22, 23 e 24 de Maio de 1917 25

mentação, nem vem para a rua protestar contra a carestia da vida. (Apoiados). E apesar dêstes factos, que providências tomou o Govêrno? Absolutamente nenhumas. (Apoiados).

De resto, responde a essa falta de pão o encarecimento, absolutamente injustificado e mercê da ganância dalguns mercieiros e armazenistas, de alimentos indispensáveis às classes pobres, como seja a batata e a bolacha de baixo preço.

Não têm desculpa os gananciosos mercieiros que, tendo dentro dos seus estabelecimentos a batata, a aumentaram para um preço exorbitante dum momento para o outro. (Apoiados gerais).

Elevaram em muitos por cento os pré cos de mercadorias, o que jamais deveriam ter feito por que as tinham dentro dos estabelecimentos.

O Govêrno devia, portanto, prever os acontecimentos, se é que não tinha conhecimentos dêles, mas o lacto é que os estabelecimentos que estavam ameaçados não tiveram um elemento único de defesa, e não se tratava apenas de saquear mercearias ou armazéns, mas de inutilizar muitos géneros de alimentação que eram indispensáveis mesmo para os próprios que saqueavam. Era absolutamente indispensável que os estabelecimentos fossem defendidos, não para manter a ganância do comerciante, mas para garantir os géneros, que existiam em Lisboa e que hoje já não existem porque foram destruídos sem nenhuma espécie de utilidade em relação aos seus proprietários, o que representa um crime, e em relação a nós todos consumidores, o que representa um incitamento a novas desordens e tumultos.

A verdade é que os estabelecimentos não foram devidamente garantidos como competia por parte do Govêrno.

O Sr. Presidente do Ministério, afirmando por um lado que o movimento não era de natureza política, mas apenas uma modalidade anarquista ou sindicalista, tambêm não disse claramente que êle era pura e simplesmente um movimento de ordem económica. Pareceu-me até que S. Exa. queria arredar esta qualificação ou característica do movimento, dizendo que êste se tinha feito não para resolver o problema das subsistências, mas nem ao menos para protestar contra o modo como êle vinha sendo resolvido.

Ora é bom que se diga que movimentos desta natureza não se fazem para resolver o problema de subsistências. Os que saem para a rua, arriscando a vida, os que não tem intuitos de especulação, saem simplesmente para pôr brutalmente o problema diante dos Governos, que têm por essencial função resolvê-lo. Só pondo-o nas suas consequências mais sanguinárias, nas suas consequências mais desumanas, é que os Governos, obcecados pela política, se resolvem a encará-lo de frente e a procurar-lhe a possível solução.

A multidão pôs o problema da carestia da vida, da crise das subsistências, digamos a palavra: o problema da fome, duma maneira tam brutal, que já não é possível ao Govêrno, nem a nós, Poder Legislativo, pô-lo de parte.

E isto que a multidão tem feito sempre através da história e em todos os países do mundo.

Sr. Presidente: o Govêrno não vem anunciar ao Parlamento uma série de medidas tendentes a resolver o problema das subsistências e o Govêrno não vem dizer se tomou já qualquer providenciai que torne possível a vida, porque V. Exa. sabe que êstes movimentos não são caprichosos e espontâneos.

A um movimento como êste a solução que lhe foi dada, com aparências de lógica, foi a supressão dalguns consumidores, na impossibilidade de aumentar os géneros a consumir. (Apoiados).

Unicamente o Govêrno fornece uns restos de farinha amassados com sangue, em vez de pedir autorização para tomai resoluções que dêem começo à resolução do problema das subsistências.

O Govêrno vem pedir apenas a continuação da suspensão de garantias, somo se fôsse meio de fornecer pão a quem o pede porque tem fome! (Apoiados).

De resto, Sr. Presidente, essa autorização pode ser considerada desnecessita, pois que a ordem está restabelecia em Lisboa, neste momento, bem com era todo o resto do país, como afirma Sr. Presidente do Ministério.

Esta previdência que o Govêrno mim quanto à suspensão de garantias, se tivesse manifestado com relação às subsistências, não teríamos chegado ao eiio em que nos encontramos. (Apoiados)