O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 15 de Agosto de 1919 13

tambêm se não preocupa, em pedir responsabilidades aos autores ou culpados do desastre da doca de Alcantara. Não se incomodam com o que as emprêsas particulares e arrendatárias prejudicam o Estado e creio que êsses prejuízos têm lesado muito mais o Estado do que as verbas que o operariado trabalhador tem recebido.
É deveras lamentável que as autoridades capitalistas só se preocupem com o bolchevismo, quando é certo que o Govêrno é que está a fazer o bolchevismo da Bolsa, e não vejam que caminhamos a passos agigantados para a bancarrota.
Naturalmente, quando a isso chegarmos, tambêm se atribui a bancarrota às classes trabalhadoras e aos operários do Parque Eduardo VII!...
Sr. Presidente: está provado, pois, que estes 3:000 contos são destinados a solver as despesas feitas com a greve ferroviária, e há-de ser o país quem há-de pagar a parte principal dos prejuízos da companhia dos caminhos de ferro. Peço, por isso, aos meus colegas de todos os lados da Câmara que reflitam bem no absurdo que vão votar, e que não tem explicação alguma.
O orador não reviu.

O Sr. Ribeiro de Carvalho:- Sr. Presidente: ouvi o Sr. Presidente do Ministério pedir, dum modo vago, mais um crédito de 3:100 contos para a manutenção da ordem pública, e eu não quero votar de afogadilho, sem ter conhecimento bastante do que vou votar.
Quero votar conscientemente, e por isso pregunto ao Sr. Presidente do Ministério qual é a questão de ordem pública que nos obriga a gastar mais êsses 3:100 contos.
Que eu saiba, a única questão existente, que poderá ligar-se a casos de ordem pública, é a greve ferroviária, e esta questão tem de ser posta na Câmara, uma vez mais, de maneira clara, porque o actual estado de cousas não pode manter-se interminávelmente.
A Companhia Portuguesa dos Caminhos de Ferro explora um serviço público, e o Govêrno não tem de intervir nas questões suscitadas entre ela e o seu pessoal senão sob o ponto de vista de manter a liberdade de trabalho.
Desde que se trata dum serviço público, o Govêrno só tem de obrigar essa Companhia a executar os serviços que lhe competem.
Se à Companhia não servem os operários antigos, arranje operários novos, mas o que não pode é deixar de fazer os respectivos serviços.
Não se pode tolerar a situação actual: o Exército a servir interminavelmente a Companhia e o público a ser prejudicado!
Tem de acabar o vexatório espectáculo que diariamente nos dá a estação do Rossio. Ali a fôrça pública - a guarda republicana- chega ao ponto de arredar violentamente o público. Nem mulheres o crianças escapam à sua fúria; quando se procura obter os bilhetes que lhes dão ingresso nos combóios.
Por que espera o Govêrno?
Quere o Govêrno que o serviço dos caminhos de ferro continue no estado desgraçado em que se encontra?
O Govêrno já tem dois ou três votos de confiança da Câmara para agir como fôr necessário ao bem público; todavia, mantêm-se na situação cómoda de declarar que não trata do assunto.
Isto não pode ser!
Aguardo as devidas explicações do Govêrno para saber como votar.
O discurso será publicado na íntegra, revisto pelo orador, quando restituir, revistas, as notas taquigráficas que lhe foram enviadas.

O Sr. Júlio Martins: - Sr. Presidente: quando o Govêrno se apresentou a esta Câmara e leu a sua declaração ministerial, chamou a atenção do país para a gravosa situação financeira em que nos encontramos. Hoje, porêm, vem êsse mesmo Govêrno solicitar do Parlamento a aprovação de dois créditos extraordinários : um de 100 contos para o Ministério do Interior; outro do 3:000 contos para o da Guerra. Na justificação do pedido de semelhantes créditos, o Govêrno afirma-nos uma cousa grave: afirma-nos a intranquilidade social em que o país se encontra. É uma afirmação grave que vem das bancadas do Govêrno. Partamos, portanto, da afirmação, feita pelo Govêrno, de que o país vive um grave período de intranquilidade pública.