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3 DE ABRIL DE 1935 813

O Orador: - É evidente que os Governos que saíram da revolução de 28 de Maio encontraram o País numa situação quási ruinosa.
E certo também que muitos dos grandes problemas nacionais foram atacados por esses Governos, alguns deles tidos como insolúveis.
Não houve tempo para tudo. Considero êste como pertencendo ao número dos que ainda não foram cuidados e dos que, efectivamente, mais urgentemente necessitam a nossa atenção.
De resto, o País tem, como em muitos outros casos, uma indicação segura dada pelo Sr. Presidente do Conselho, com uma intuição que reputo notável a todos os respeitos e por todos os motivos.
Disse o Sr. Presidente do Conselho que ao Estado tem o dever de integrar a juventude no amor aos exercícios vigorosos que a preparem e a disponham para uma actividade fecunda é para tudo o que possa trazer dela a honra ou o interesse nacional».
Suponho, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que aprovar este projecto será dizer ao Governo que não li á muito tempo a perder.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem! Muito bem!

O Sr. Moura Relvas: - Sr. Presidente: quero prestar a homenagem da minha consideração ao Deputado Sr. Henrique Galvão, o grande realizador da Exposição Colonial do Porto. (Apoiados).
É mesmo a consideração que S. Exas. me merece que me determina a fazer alguns reparos à sua proposta.
Êsses reparos, portanto, não envolvem desprimor para S. Ex.ª e significam apenas, dá minha parte, o desejo que tenho de esclarecer um assunto desta magnitude, evitando contendas susceptíveis de fazer cair sem remédio um objectivo que devemos conservar imaculado. Trata-se do revigoramento físico dos jovens escolares portugueses.
Não me demorarei sôbre a apreciação das bases orgânicas do projecto. Passarei por alto quanto a alguns lapsos, como o que se encontra na composição n.º 7.
Relativamente às bases pedagógicas, o Deputado Sr. Henrique Galvão confere este significado à definição que nos apresenta da educação física.
Afinal, essa definição exprime um fim a atingir e não pode ser considerada uma base pedagógica. O mesmo reparo tenho a fazer ao n.º 2.º
De resto, ainda não vi esclarecida essa questão da moral e dos desportos.
De facto, passam-se acontecimentos graves no nosso País, que já foram até ventilados em artigo de fundo de grandes cotidianos, como O Século.
Êsses factos graves revelam uma ausência absoluta de espírito desportivo no nosso País.
Parece, portanto, que os desportos não contribuem para a formação do carácter.
O autor do projecto esqueceu uma condição fundamental ao definir a educação física, porque é preciso acentuar este ponto: na definição dada por S. Ex.ª só está compreendida a gimnástica sintética e não a analítica, porque a analítica não tem esse valor.
A gimnástica analítica é até bastante aborrecida para o aluno.
Eu sei-o por experiência própria, e isto não admite dúvida. Portanto esta definição refere-se propriamente & jogos e desportos.
Ora os jogos e desportos só poderão desenvolver a saúde, beleza, força, destreza, resistência, disciplina, etc., se o indivíduo tiver duas qualidades fundamentais anteriores à prática do desporto: a modéstia na vitória e o bom humor na derrota. A quem tiver qualidades inversas dessas o desporto só prejudica.
Ainda há dias pela T. S. F. ouvi o relato do desafio entre Cambridge e Oxford e tive ocasião de conhecer o que os vencidos diziam dos vencedores e o que estes diziam dês vencidos.
Quem, pois, não possuir aquelas duas qualidades é um mau desportista.
Mas há mais. O lado moral da questão não o vejo tratado com largueza neste trabalho e não o vejo mesmo referido particularmente.
Na Itália, por decreto de 20 de Novembro de 1927, foi organizada a grande obra «Balila», e aí exige-se uma particular e cuidadosa selecção moral que abrange não só o indivíduo mas a própria família a que ele pertence.
São estas as reflexões que tinha a fazer sobre as bases I e II.
Vejamos a base III. Diz-se no projecto que o método de educação física, caracterizado pela suas «bases» ou «princípios», deve ser uno ou unitário em todas as ocasiões de tempo e de espaço e, quando trata dos movimentos, diz: «O ensino deve ser intuitivo, activo, disciplinado, interessante».
Mas, se o ensino é activo, como pode ser unitário em todas as ocasiões de tempo e de espaço?
Depois o n.º 9.º traduz-se num desejo que todos nós temos.
A seguir o n.º 10.º diz que a duração de cada lição deve ser de 30 minutos em tempo útil.
Não quero discutir o tempo que cada lição deve ter. O que afirmo é que em 30 minutos são impossíveis de realizar porque os professores de educação física dividem a sua classe em duas turmas.
A hora escolar é de 50 minutos; portanto, metade são 25 minutos para cada turma. E, como os alunos não têm vestiário, pondo õ minutos para se despirem e õ para se vestirem, quási nada resta.
Devo também dizer que poderia citar vários argumentos contrários a as aulas de gimnástica serem de manhã.
A verdade é que é um assunto que tem sido debatido nos congressos de medicina. É uma questão de especialidade, e, exactamente porque tem sido uma questão muito debatida, não me parece prudente que ela tivesse sido aqui tratada de uma maneira tam rude.
Passo agora a referir-me à base médico-pedagógica, muito especialmente à parte que se refere aos exames médicos, etc., visto que esta diz mais directamente respeito aos médicos escolares, e, por consequência, é comigo.
Para cada aluno o exame leva uma hora.
Os professores de educação física, pelo regulamento actual - êsse regulamento tam condenado pelos oradores que me precederam -, adoptaram uma ficha de antropologia. Quais foram as consequências dessa ficha?
Houve um ano em que aqui, em Lisboa - e isto contou-me um médico escolar muito ilustre e muito distinto, o Dr. Almeida Rocha -, se deu este caso curiosíssimo de um aluno só ter tido uma única aula de gimnástica durante todo o ano lectivo.
Bem sei que nesse ano houve unia grande epidemia de gripe, mas, mesmo assim, devemos encarar o caso pelo aspecto que ele envolve.
Aquele facto foi devido principalmente ao tempo precioso que se perde em observações antropológicas.
Isso hoje já se pôs mais de parte, pois que se reconheceu que era muito mais conveniente para os rapazes que eles fizessem gimnástica do que estarem constantemente a ser medidos.