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8 DE ABRIL DE 1938 675

mazenando uns 400 milhões de metros cúbicos, e cujo regolfo se estende a 32 quilómetros em superfície de 2:300 hectares, obrigando à substituição de várias pontes e vias de comunicação; uma outra, em Gois, no Ceira, com barragem também de gravidade, para 50 milhões, com coroamento de 230 metros e altura de 85 metros; outra, em Pombeiro, no Alva, barragem de enrocamento para 60 milhões, altura 45 metros e desenvolvimento de crista de 215 metros; e, finalmente, a do Moinho do Inferno, no Dão, barragem de gravidade com a capacidade de 60 milhões, 60 metros de altura e 220 metros de coroamento.
A água das albufeiras volta ao rio depois de passar pelas turbinas e deriva mais tarde, por alturas da Portela, para um canal na margem esquerda, que, abaixo de Coimbra, dará as ramificações necessárias à rega dos campos.
No plano agora submetido à digna Câmara Corporativa já a Junta não fala em eliminar as causas produtoras das cheias.
Propõe-se com as albufeiras regularizar os caudais do rio e a conseqüente defesa dos campos e assegurar ainda o ennateiramento das terras no inverno com o objectivo fertilizador.
Poderá a regularização dos caudais por meio das albufeiras garantir, para longos períodos de chuvas e degelos, a defesa dos campos, evitando o violento transbordamento das águas e as quebradas com os enxurros de areias?
É para duvidar, Sr. Presidente.
Só nas cheias de Março de 1924, no dia 25 para 26, atingiram as águas do Mondego, em Coimbra, a altura de 6m,18, mantendo-se acima dos 5 metros durante vinte e quatro horas, a que corresponde num só dia caudal acumulado superior a 200 milhões de metros cúbicos.
Na cheia de Dezembro de 1935, que durou dezoito dias, período durante o qual a altura pluviométrica nos diversos pontos das bacias dominadas pelas albufeiras foi geralmente superior a 400 milímetros, a quantidade de água que seria retida pelas barragens, se elas existissem, teria ultrapassado 800 milhões de metros cúbicos!

Mas admitamos que a Junta conseguia com as albufeiras regularizar o caudal, de modo a manter integralmente as águas no actual leito do rio e suas derivações.
Nessa hipótese, como conseguir o ennateiramento dos campos?
Não o diz a Junta.
No entanto, parece que não poderá assegurá-lo, porque os nateiros, em grande parte, serão retidos pelas barragens das albufeiras.
E se o conseguisse, teria naturalmente que dividir o campo, por meio de diques, em tabuleiros.
Caía, então, no plano da Junta do Mondego, que a Hidráulica Agrícola formalmente condena.

Diz a Junta que as obras projectadas permitem o aproveitamento agrícola de todo o vale do Mondego durante o ano inteiro, incluído o inverno.
E ao mesmo tempo quere no inverno ennateirar os campos!
Como pode isto ser?
Para ennateirar os campos, há-de cobri-los de água - a água das cheias.
E se os cobre de água, não poderá cultivá-los.

A Junta propõe-se ainda o projecto de estações de bombagem para enxugo e drenagem dos campos mais baixos, estações elevatórias de água dos canais para regas de áreas mais altas.
Tudo isto em conjunto custa, segundo a estimativa, 162:000 contos.
Não haverá optimismo nesta cifra?
Não custarão muito mais do que isto só as barragens?
Não absorverá só a barragem de Ázere esta quantia?
Eu digo porquê.
Na França, a barragem de Sarrant, em Truyère, com a mesma altura e menor coroamento - 220 metros apenas, menos de metade da barragem de Ázere, consta-me que custou 200.000:000 de francos.
A projectada em Castelo de Bode, no Zêzere, com 100 metros de altura também e coroamento de 300 metros, ouvi já que está estimada em 200:000 contos.
Eu sei que há que ter em conta para a primeira as condições de mão de obra, que podem diferir, e por certo diferem, em Portugal e na França, e para a segunda, a do Zêzere, a constituição geológica dos fundos e outras condições locais.
Mas por maiores que se imaginem os factores de correcção, não podemos perante aqueles números surpreender-nos se o custo de tam grandioso projecto for além de 400:000 contos.
Só em estudos gastaram-se já 2:761.803§02, e estão para se gastar com mais estudos 4:438.194$98.

O Sr. Presidente: - Sr. comandante Álvaro Morna: V. Ex.ª está no uso da palavra há quarenta e cinco minutos. Como presumo que V. Ex.ª tem ainda algumas considerações a fazer, posso conceder-lhe, se assim o deseja, mais quinze minutos.

O Orador: - Muito obrigado a V. Ex.ª
Há, de facto, com as obras da Hidráulica Agrícola, uma melhoria de condições de irrigação. Mas não é este o assunto em questão. Ninguém implora a irrigação dos campos do Coimbra, porque eles são já de regadio.
Na quási totalidade dos campos, a menos de 2 melros de profundidade, brota água quanta se queira.
O que o povo pede é que lhe defendam as terras das avalanches de areia sob que elas se sepultam por efeito das cheias e que lhe assegurem o ennateiramento.
Para benefícios de irrigação em campos de regadio, em que a questão da rega não é fundamental, porque os campos se regam já a si próprios, admite-se porventura o dispêndio de tam avultada soma em que importam as obras da Hidráulica Agrícola?
E depois o assoreamento das barragens?
Como o evitar?
Não haverá demasiado optimismo ao contar com a eficiência dos órgãos de defesa das barragens em rios de tam fortes carrejos de areias?
E as vias de comunicação entre os distritos de Coimbra e Viseu submersas pelas águas do regolfo que se estendem a 32 quilómetros de Ázere?
A quanto monta a construção de novas pontes e novos troços de estradas?
A quanto monta a expropriação dos terrenos alagados pelos regolfos?
E quem paga estas despesas e mais os 162:000 contos das obras, se é que se não ultrapassa e em muito esta cifra?
Hão-de ser, ainda por cima, os desgraçados proprietários, nos termos da lei n.º 1:949, de Hidráulica Agrícola.
Há no plano da Junta um estudo económico do projecto «Zona agrícola a beneficiar, solo, arranjo cultural, produção e rendimento» com previsões que concluem haver para o Vale do Mondego o aumento de rendimento líquido global de 30.700$ por ano.
Mas que confiança podem merecer estas previsões, se se baseiam em produção contínua por todo o ano - im-