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848 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 46

gião abençoada, onde o infante viveu o período áureo da sua vida e faleceu a 13 de Novembro de 1460, já com os arquipélagos da Madeira, dos Açores e de Cabo Verde descobertos e a costa ocidental da África explorada até à Guiné. Entregou em testamento a espiritualidade da vila que fundou no cabo Tersanabal à sua Ordem de Cristo, testemunhando assim a estima e valor em que a tinha.
O assunto foi bastante ventilado e discutido na imprensa e no meio intelectual e artístico, mas não teve realização prática e tomou o rumo dos arquivos. A nossa sensibilidade patriótica não pode admitir que seja este o destino de tão nobre aspiração nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Deve voltar às preocupações dos homens de hoje o desejo de erguer monumento condigno, e no lugar próprio, ao infante de Sagres. Enquanto se não cria ânimo ou não se juntam os meios para o fazer, é necessário defender o pouco que ali existe e se conhece, investigar mais e reconstituir com sentido histórico e artístico o que for de aconselhar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Deve fazer-se o indispensável para que se possa dar uma ideia do ambiente de grandeza em que se desenvolveu o pensamento e a acção do infante e do muito que prezamos a sua memória.
Podia-se, talvez sem grande custo, transformar o aspecto triste e abandonado da região, assinalando-a com legendas e padrões expressivos nos seus locais mais notáveis e dotando-a com um roteiro elucidativo.
Neste meu falar trago o bom propósito de chamar a atenção para esse cantinho do Mundo, onde se forjou o braço, o saber e o ânimo dos homens que tornaram possível a época de maior poderio e esplendor de Portugal, pedindo ao Governo que o integre, com todos os direitos, na política de valorização e defesa do nosso património espiritual e histórico.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: desejo aproveitar a circunstância de estar no uso da palavra para transmitir ao Sr. Ministro das Obras Públicas os agradecimentos do Algarve pelas providências que mandou tomar, com tanta oportunidade, para recomeçarem as obras de hidráulica agrícola das campinas de Silves, Lagos e Portimão. O Algarve faz votos para que cheguem até ao fim sem nova interrupção.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Melo Machado: - Sr. Presidente: o facto de ser presidente da Câmara de Alenquer e Deputado pelo círculo obriga-me - e devo dizer que cumpro gostosamente essa obrigação - a pugnar pelos interesses do meu concelho.
A vila de Alenquer acaba de ser ferida profundamente nos seus interesses pela autorização concedida aos proprietários da fábrica da Chemina para venderem quase todos os seus teares à fábrica da Senhora da Luz, aqui em Lisboa.
Os actuais proprietários já uma vez tinham intentado transferir a fábrica para Lisboa. Era ao tempo Ministro da Economia o nosso ilustre colega Sr. Engenheiro Daniel Barbosa. A Câmara Municipal de Alenquer protestou, e porque o facto era, na verdade, contrário à orientação do Governo, a quem não convêm as grandes aglomerações industriais, mormente na área de Lisboa, a autorização pedida foi negada.
Todavia, esse facto não obstou a que os proprietários da fábrica começassem a construir na zona industrial de Lisboa o edifício para a nova fábrica.
Desta vez, porém, não pediram a transferência, pediram, sim, autorização para venderem à fábrica da Senhora da Luz, que deles é, uns tantos teares.
Esta forma de alcançarem o fim que se propunham obteve êxito, pois, certamente por inadvertência, a autorização foi concedida. Alcançada esta, sem perda de tempo as máquinas têm sido desmontadas e transferidas, não para a fábrica compradora, mas para qualquer barracão, onde aguardam poderem ser instaladas no novo edifício, ainda não concluído.
À economia da vila de Alenquer - meio pobre - o desaparecimento desta fábrica, que conta quase um século, causa, como facilmente se concebe, o maior prejuízo.
É curioso notar que se não pode parar um moinho de vento ou azenha, transferindo-se o seu proprietário para outro sítio, que se não ouça a câmara municipal sobre as vantagens ou inconvenientes de tal transferência; não se autoriza a abertura de qualquer talho sem que as câmaras sejam ouvidas, e, todavia, a transferência dum estabelecimento fabril de tão grande importância como este pode realizar-se sem que a localidade interessada e os seus representantes tenham de tal facto conhecimento.
Os proprietários da fábrica em questão não se contentam, porém, em desmontar e transferir as máquinas para tal autorizados, firmes no seu propósito de transferirem a fábrica para Lisboa; desmontam e transferem para que não têm autorização.
Parece que esses senhores se julgam superiores às leis, e não há dúvida de que praticam ostensivamente, e com o maior descaro, a política do facto consumado.
E é assim, Sr. Presidente, por este processo que se agrava em cada dia o problema da habitação em Lisboa e se criam aglomerações operárias contrárias à orientação social mais conveniente e até à economia dos operários, sempre melhor defendida nos meios rurais que nos citadinos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - No passado sábado, à minha chegada a Alenquer, mais de mil pessoas aguardavam em frente da Câmara Municipal para me apresentarem, com o seu veemente protesto, o pedido de que lhes prestasse todo o auxílio no desejo de que não fosse levada por diante uma autorização por tal forma lesiva da economia daquela linda vila.
Isso faço, Sr. Presidente, rogando a V. Ex.ª que transmita a S. Ex.ª o Ministro da Economia o pedido instante da população de Alenquer, que na verdade não deu azo a que os actuais proprietários da fábrica pretendam por tal forma prejudicá-la.
Vivo ali há mais de cinquenta anos e nunca ali houve em tão longo e acidentado período uma única greve. É, pois, lamentável que um simples capricho, que não tem nada a justificá-lo, possa levar para o desemprego duas centenas de pessoas, causando prejuízos incontáveis a toda a economia local.
Muitos outros operários que não são da região seguirão as máquinas para o seu novo destino, agravando o prejuízo económico para a vila de Alenquer, mas as operárias locais não o poderão fazer, pois não deverão abandonar a família, maridos e filhos.
Termino chamando a atenção de S. Ex.ª o Ministro da Economia para os factos acima expostos, que vêm, neste período de crise económica, agravar incomportà-