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10 DE DEZEMBRO DE 1953 23

O Sr. Elísio Pimenta: - Sr. Presidente: há sentimentos que só o silêncio pode exprimir.
E os sentimentos que neste momento me dominam, de profunda saudade pelo amigo inesquecível e de intensa mágoa pela perda do maior e mais qualificado defensor nesta Assembleia dos interesses da minha província, melhor ficariam do silêncio, no silêncio da meditação e da prece.
Mas ao amigo, ao companheiro do alguns anos de intenso trabalho, de luta e de esperanças, por vezos realizadas - e valeu a pena o trabalho e a luta!-, pela causa que nos uniu e cimentou uma amizade, a esse não é licito ficar no silêncio quando lhe cumpro prestar a V. Ex.ª, Sr. Presidente, o preito do seu mais sincero reconhecimento pelas palavras de condolências que V. Ex.ª quis ter a generosidade de lhe dirigir ao deixarmos no cemitério de Fafe o corpo martirizado do P.e Manuel Domingues Basto u há poucos momentos: «Aqui deixamos o seu amigo e a si devo condolências, porque perdeu um amigo», disse-me V. Ex.ª
bem haja, Sr. Presidente, por essas palavras generosas. Elas são o melhor lenitivo para a dor que me domina.
E o Deputado também não pode tirar indiferente perante as palavras de V. Ex.ª e a homenagem que o insigne Presidente da Assembleia Nacional quis prestar a um dos seus membros, indo lá longe, ao Minho, acompanhá-lo à última morada.
Sr. Presidente, meus senhores: o IV Manuel Domingues Basto, Deputado da Nação, foi acima de tudo um sacerdote, um grande sacerdote, e este será certamente o seu melhor elogio.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Como sacerdote cumpriu integralmente os votos que em tempos distantes da sua. juventude prestara a Cristo e a sua Igreja.
Ele tinha a doutrina - e na defesa das verdades da fé soube sempre ser absolutamente intransigente, até ao ponto de sofrer o exílio da Pátria; ele tinha o sentimento da sua dignidade de homem - soube sor probo e irrepreensível nos seus costumes e nunca a calúnia o maculou; ele tinha a generosidade do coração e a virtude da compreensão humana - e os humildes, os abandonados, os deserdados da fortuna choram-no, os amigos não o esquecem e foi desta vida sem deixar bens materiais.
A sua obra de apostolado, através do exemplo, da. pregação, da imprensa, do ensino, das conferencias vicentinas, das Obras dos Garotos da Rua e das Criadas de Servir, da sua igreja nova de S. José, é a grande lição do homem que vive de pé, alto e firme como coluna, «coluna de fogo para guiar os povos nas trevas do deserto», como aqueles de quem fala Papini.
Do Deputado - a quem o povo humilde do Entre Douro e Minho amou como o melhor e mais profundo conhecedor dos seus problemas, o verdadeiro protector dos seus legítimos interesses nesta Assembleia e o interpreto mais entusiástico das suas aspirações, que sentia com a paixão das almas votadas a servir-que poderei dizer?
O intenso trabalho do Deputado na passada legislatura está ainda na memória de todos os que com ele trabalharam ou o ouviram.
Apoiados.
Mas não poderei esquecer que o prestígio do Deputado junto dessa boa gente, sobretudo dos humildes, era de tal ordem que na recente campanha eleitoral, quando o pobre P.e Basto sofria as dores da doença e o desgosto de não poder acompanhar os companheiros da luta, a simples menção do seu nome levantava em toda a província verdadeiras aclamações.
A certeza de que as minhas palavras do sentimento encontram oco nesta Assembleia, que ele prestigiou como poucos, e a compreensão dos seus amigos e dos seus comprovincianos será compensação bastante para o sacrifício que fiz ao proferi-las.
Que Deus tenha na sua santa guarda quem tanto o amou e tão bem o soube servir.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Cerveira Pinto: - Sr. Presidente: precisamente na dia em que solenemente se inaugurava esta legislatura da Assembleia Nacional falecia no Porto o Prof. Marques de Carvalho, que durante muitos anos teve assento nesta Casa e que na história das instituições constitucionais há-de enfileirar, melhor dizendo, enfileirou já, ao lado dos grandes oradores que mais lustre souberam dar à tribuna parlamentar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - De origem modesta, sem protecções, sem parentolas, e começando por viver a vida difícil dos que desde a adolescência tiveram de comer o pão amassado com o suor do próprio rosto, só pelo seu esforço e pelo seu valor pessoal conquistou a cátedra universitária e ascendeu às destacadas posições que veio ocupar na vida política portuguesa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Nacionalista ardente desde os mais verdes anos, pode dizer-se que, até há pouco, não houve fasto da Revolução Nacional em que o Doutor Marques de Carvalho não tivesse aparecido com a sua personalidade forte, com o seu verbo eloquentíssimo o com o seu grande talento político.
Batalhador indefesso, implacável demolidor dos muitos políticos contrários ao génio e ao interesse português, adversário temível na luta das ideias, nunca, nem nos momentos violentos da refrega, nem na euforia do triunfo, nem depois, nas horas da sua cruel amargura, de que a morte foi uma libertação, nunca os ódios e rancores pessoais conseguiram penetrar no seu magnânimo coração.

Vozes: - Muito bem !

O Orador:- E no seio misericordioso e imortal de Deus, onde, despido da matéria transitória e imperfeita, vive o seu belo espírito, não deixará de pedir ao Senhor que faça com que na Terra haja cada vez mais caridade e humanidade e o homem seja cada vez menos o lobo do homem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Sr. Presidente: eu, que fui durante tanto tempo amigo do Doutor Marques de Carvalho e que mais amigo dele me tornei quando o vi infeliz, não podia deixar de cumprir o dever do consciência de proferir aqui estas breves e comovidas palavras sobre a sua querida memória.
Disse.

Vozes: - Muito bom, muito bem!

O Sr. Mário de Figueiredo: - Sr. Presidente desejo, numas palavras muito rápidas, afirmar que me associo às homenagens prestadas por V. Ex.ª à memória do ilustre Deputado Manuel Domingues Basto e do extraordinário político que foi Marques de Carvalho.